quarta-feira, 7 de junho de 2017

2 Tm 1.3-14 Três pilares da espiritualidade cristã

Resultado de imagem para imagens colunas

Em 2007 começamos a construir um prédio para abrigar o Edifício de Educação Cristã da Igreja Presbiteriana de Anápolis. A obra teria ao todo, seis pavimentos de 450 M2 cada um (incluindo a garagem), para abrigar as atividades da igreja. Depois de gastarmos uma fortuna na fundação, algo em torno de R$ 170 mil reais (valor não corrigido), orgulhoso da conquista convidei minha esposa para olhar o que já havia sido feito. Depois de olhar os enormes blocos de ferro e concreto, tudo absolutamente ainda informe, brincando comigo ela disse: “Gastamos todo deste dinheiro para fazer isto...?” É óbvio que o fundamento, apesar de ser a coisa mais importante em termos de segurança para um prédio deve ser o aspecto mais sólido de uma construção. Se algum dia, alguém decidir construir outra coisa onde atualmente temos este prédio, deve lembrar que temos pilastras de 18 metros de profundidade. Qualquer mudança na estrutura, exigirá enorme esforço. Fundações são perenes.

Toda construção precisa de alicerces sólidos para enfrentar as intempéries e tempestades. Por isto se gasta tanto tempo analisando o solo onde o edifício será construído, o material a ser utilizado, e os cálculos de engenharia para que se saiba a quantidade exata de ferros, cimentos e concretos. Uma obra exige um longo processo de cálculos, engenharia, estudos para que os alicerces sejam solidamente edificados.

A fé cristã é construída sobre muitos pilares, mas neste texto de Timóteo, Paulo fala de três aspectos fundamentais para uma fé cristã com saúde.

1.       Consciência pura

Nas cartas a Timóteo e Tito, que são pastorais em seu conteúdo, isto é, foram escritos a pessoas que estavam começando a exercer o ministério, Paulo fala muito da consciência.

A consciência enfrenta alguns perigos:

A.      Consciência não iluminada – Este é um sério problema, porque pessoas que não estão debaixo da orientação do Espirito Santo, correm sérios riscos de serem orientadas pela razão, emoção, ou até mesmo espíritos malignos. Para pessoas debaixo de influência de filosofia pagãs e demônios, culpa, confissão, perdão, reconhecimento de pecado, não é alguma coisa natural, podendo soar até estranha. Mesmo uma cultura moralmente legalista pode estar muito distanciada de Deus.

No livro de Jonas, Deus fala de pessoas que não sabiam discernir a mão direita da mão esquerda (Jn 4.11), e que estavam sendo destruídas por isto.

B.      Consciência contaminada – trata-se de pessoas que foram atingidas por uma cultura ou filosofia, e não acham errado aquilo que a Palavra de Deus considera errado. É muito comum vermos pessoas dizendo que não acham errado determinado comportamento, quando as Escrituras Sagradas são frontalmente contrárias a tais práticas. Numa época de moral relativa, onde as pessoas acham que a verdade encontra-se dentro delas, e não são definidas por Deus, é muito fácil vermos este processo de contaminação.

O profeta Isaias fala de pessoas que chamavam a luz trevas, e às trevas luz (Is 5.20). São mentes afetadas pelo pecado, pelo distanciamento de Deus, e que não conseguem mais ter pureza na sua consciência.

C.      Consciência cauterizada – A Bíblia fala deste tipo de pessoas que “pela hipocrisia dos que falam mentira e tem cauterizado a própria consciência” (1 Tm 4.2). Cauterizar é queimar um determinado lugar, criando um calo. A pessoa se torna insensível naquele ponto. De tanto ferir a consciência fazendo aquilo que é errado, a pessoa pode finalmente fazer tudo aquilo que anteriormente reprovava, achando que está justificada e que nada do que está fazendo é errado. Isto é reforçado por uma cultura que se coloca contra Deus e até mesmo por “espíritos enganadores e ensino de demônios” (1 Tm 4.1).
Passos para manter uma consciência pura:

1.       Coloque sempre sua vida sob o crivo da Palavra de Deus- O que conta não é o que você “acha certo”, mas aquilo que a Bíblia diz que é certo.

Neste ano comemoramos os 500 anos da reforma. Lutero, seu idealizador afirmou diante do tribunal que o acusava: “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir. "A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém."(...) "Diante da Palavra, todos precisam ceder."

não confie em seu coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?"

2.       Incline-se sempre ao arrependimento e à confissão – Há sempre o perigo do endurecimento das coronárias, e de nos acostumarmos ao pecado sem termos consciência de quão distante estamos de Deus.

Quando Jesus manda a carta à igreja de Laodicéia, ele a censura porque ela estava perdendo o primeiro amor, se julgando segura, rica e abastada, mas Jesus afirma que ele deveria comprar vestes brancas para se vestir a fim de que não fosse manifesta a vergonha de sua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que pudesse ver com clareza (Ap 3.15-18).

O apostolo João escreve à uma comunidade, que provavelmente se julgava boa demais para perceber seus erros. “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está me nós (...) Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1.8,10). Dá pra perceber a insistência do velho pastor em relação a uma igreja que não parecia perceber o risco de suas almas?

3.       Esteja sempre diante de Deus para experimentar a alegria de uma consciência perdoada e redimida – A questão não é “se pecamos”, mas se fomos perdoados e temos sido purificados pelo sangue do Cordeiro.

Estas coisas vos escrevi para que não pequeis, se, todavia alguém pecar, temos advogado junto ao Pai” (1 Jo 2.1).

Se por um lado temos a tentação de vivermos insensíveis e com a consciência cauterizada, por outro lado podemos viver uma existência que não experimenta o perdão de Deus, e desta forma vive constantemente acusada pelo diabo (Ap 12.10). “Ora, o Senhor é Espírito, e onde está o Espirito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3.17). A maravilhosa verdade é que somos pecadores de fato, e Deus nos perdoa de fato.

2.       Fé sem Fingimento

Este é um segundo pilar da espiritualidade cristã citada neste texto. Se o primeiro fala da consciência pura, este segundo toca na integridade e no caráter.

Uma fé sem fingimento é aquela que possui profunda coerência entre aquilo que afirma crer e aquilo que se vive. O perigo da hipocrisia, de uma vida teatralizada, é sempre muito presente naqueles que buscam uma espiritualidade autêntica. Podemos falar do que não cremos, manter as aparências, criar um círculo falsa de fé e assim vamos vivendo de máscaras e véus.

Dois riscos podem ser apontados aqui:

A.      Falsa fé – Podemos colocar nossa fé em pessoas, conceitos e até mesmo em ídolos, substitutos de Deus. A maior tentação do povo de Deus no AT foi sempre a idolatria. O apóstolo Joao, um velho e tarimbado pastor, quando está encerrando sua primeira carta, de forma aparentemente desconecta afirma: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.19). Uma exortação aparentemente isolada, como se fosse uma nota de rodapé, como se Joao tivesse querendo afirmar: “Antes de encerrar... por favor, guardem seus corações das armadilhas da idolatria”. O que nos impressiona é que ele estava falando ao povo crente, não aos pagãos... Paulo fala em 2 Tm 1.9 sobre “A fé verdadeira”.

B.      Dissimulada fé – Já não se trata de uma falsa fé, mas a fé verdadeira vivida de forma falsa. Dá a impressão de crer, prega aquilo que não pratica, vive uma vida dupla, do tipo médico e monstro. Pastores e líderes não raramente surpreendem suas comunidades com um comportamento duplo e perigoso. Vida dissimulada.

Que cuidados devemos ter?

1.       Uma fé clarificada pelo Evangelho nos livra da “falsa fé” – Muitos afirmam que não importam a fé que você professa, mas o que importa é crer. Esta afirmação é equivocada. Podemos crer naquilo que gera uma falsa segurança e é falso. Milhares são consumidos por crendices e superstições, espiritualidades distorcidas pelo engano do coração, por sistemas filosóficos e pelo diabo. Corre-se grave risco quando se coloca a fé naquilo que é falso. Só a Palavra de Deus pode nos livrar dos falsos conceitos e das mentiras dos homens como afirma Paulo em 1 Tm 4.1-4.

2.       Rejeitar a tentação da dissimulação – Não fomos chamados para viver uma vida dupla. “Integridade não é um ingrediente da vida cristã, mas a essência da vida cristã” (Warren Wiersbe). Uma vida dicotomizada é uma agressão ao Deus que vê todas as coisas.

O fascínio de Moisés
Em 2 Co 3.12-18 vemos a narrativa trágica de um grande líder cristão que correu grande risco com a dissimulação. Este texto nos revela um grande líder sendo desmascarado. Seu nome: Moisés. Sem dúvida um grande homem de Deus. Aqui ficamos sabendo de algo que o AT não menciona. Ao descer do monte, depois de passar 40 dias com o Senhor, Moisés foi envolvido por um brilho tão imenso, que os filhos de Israel não podiam fitá-lo. Isto o obrigou a usar véu para conversar com o povo. Com o passar dos dias, o brilho acabou, mas Moisés continuou com o véu, para que os filhos de Israel continuassem pensando que o seu rosto ainda brilhava.
Por que? Medo. Medo de que os israelitas descobrissem que sua posição privilegiada diante de Deus estava desaparecendo. Então, fez o que milhões de pessoas já fizeram: Colocou um véu! Não deixou que ninguém visse o que se passava no seu interior.
A mesma realidade pode ocorrer hoje. Podemos ter um véu sobre as formas mais variadas, mas que na essência são a mesma coisa. Representam uma imagem ou fachada que queremos mostrar aos outros, e por trás da qual ocultamos nossa verdadeira imagem. A atitude de Moisés trouxe um efeito danoso nas próximas gerações. Por ter optado por viver uma vida de máscara o povo de Israel não mais conseguia entender o Evangelho. Paulo responsabiliza Moisés pela cegueira do povo (2 Co 3.15). Em outras palavras, sua atitude hipócrita endureceu o coração dos filhos.
A incapacidade de sermos autêntico, genuínos, obscurece o poder do Evangelho, nos nossos filhos fazendo com que os sentidos das novas gerações sejam endurecidos. Por que filhos não se convertem? Alguns frequentam a igreja anos a fio, mas não se rendem a Cristo. Paulo afirma que a dificuldade dos filhos de Israel em se converterem e terem o “véu removido” estava diretamente relacionado à atitude de Moisés, em manter as aparências e continuar com suas máscaras espirituais. Não seria esta a razão de tantos filhos de crentes terem também dificuldade em crer?  
Paulo fala da experiência de Timóteo, cuja vó Eunice e a mãe Loide, tiveram uma vida de integridade e “fé sem fingimento”.  Esta autenticidade estava marcando agora a vida de Timóteo. Quando se vive a fé de forma transparente, sem máscaras, o efeito é libertador nas próximas gerações.

3.       Total confiança na obra de Cristo
...E, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu deposito até aquele Dia” (2 Tm 2.12).
Paulo não diz “em que”, mas “em quem”. Este é o terceiro pilar da vida cristã autentica que podemos observar neste texto. Paulo afirma: “Porque ninguém pode lancar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.11). Paulo afirma “si em quem tenho crido”, e diz ainda “estou certo”. Determinadas verdades são essenciais para a caminhada com Cristo. Não podemos ficar inseguros sobre quem estamos firmando nosso fé e esperança. Precisamos saber e estar bem certo disto.

Muitas vezes encontramos pessoas inseguras quanto a aspectos essenciais da sua vida espiritual. Paulo, porém, coloca sua inteira confiança na obra de Cristo, não apenas para sua salvação, mas também para a perseverança na fé. Se você não tem convicções bem claras no seu coração sobre Jesus Cristo, certamente viverá sempre inseguro.

Paulo fala que Deus “é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia”.
Aqui aprendemos alguns princípios importantes:

Número 1: A obra da salvação está totalmente centrada naquilo que Deus faz, não nas nossas realizações. “Sei em quem tenho crido”

Número 2: A obra da salvação está nas mãos de alguém que é poderoso. “...Estou certo de que ele é poderoso”

Número 3: A obra da salvação é garantida pelo próprio Deus.  “...Poderoso para guardar o meu deposito”.

Número 4: A obra está ainda incompleto, mas temos a garantia de aquele que tem poder vai completa-la cabalmente. “Ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia”.

Conclusão:
Recordando, Estes são os três pilares da fé autêntica:
Consciência pura
Fé sem fingimento;
Total confiança na obra de Cristo.
Para concluir este texto, Paulo faz duas recomendações a Timóteo. Esta é uma forma de responder ao desafio da fé:
1.       Mantém o padrão – (2 Tm 1.13)
2.       Guarda o bom depósito – (2 Tm 1.14)





Um comentário: