Em 2007 começamos a construir um
prédio para abrigar o Edifício de Educação Cristã da Igreja Presbiteriana de Anápolis.
A obra teria ao todo, seis pavimentos de 450 M2 cada um (incluindo a garagem),
para abrigar as atividades da igreja. Depois de gastarmos uma fortuna na fundação,
algo em torno de R$ 170 mil reais (valor não corrigido), orgulhoso da conquista
convidei minha esposa para olhar o que já havia sido feito. Depois de olhar os
enormes blocos de ferro e concreto, tudo absolutamente ainda informe, brincando
comigo ela disse: “Gastamos todo deste dinheiro para fazer isto...?” É óbvio
que o fundamento, apesar de ser a coisa mais importante em termos de segurança para
um prédio deve ser o aspecto mais sólido de uma construção. Se algum dia, alguém
decidir construir outra coisa onde atualmente temos este prédio, deve lembrar
que temos pilastras de 18 metros de profundidade. Qualquer mudança na
estrutura, exigirá enorme esforço. Fundações são perenes.
Toda construção precisa de
alicerces sólidos para enfrentar as intempéries e tempestades. Por isto se
gasta tanto tempo analisando o solo onde o edifício será construído, o material
a ser utilizado, e os cálculos de engenharia para que se saiba a quantidade
exata de ferros, cimentos e concretos. Uma obra exige um longo processo de
cálculos, engenharia, estudos para que os alicerces sejam solidamente
edificados.
A fé cristã é construída sobre
muitos pilares, mas neste texto de Timóteo, Paulo fala de três aspectos
fundamentais para uma fé cristã com saúde.
1. Consciência pura
Nas cartas a Timóteo e Tito, que
são pastorais em seu conteúdo, isto é, foram escritos a pessoas que estavam
começando a exercer o ministério, Paulo fala muito da consciência.
A consciência enfrenta alguns
perigos:
A. Consciência
não iluminada – Este é um sério problema, porque pessoas que não estão
debaixo da orientação do Espirito Santo, correm sérios riscos de serem
orientadas pela razão, emoção, ou até mesmo espíritos malignos. Para pessoas
debaixo de influência de filosofia pagãs e demônios, culpa, confissão, perdão,
reconhecimento de pecado, não é alguma coisa natural, podendo soar até
estranha. Mesmo uma cultura moralmente legalista pode estar muito distanciada
de Deus.
No livro de Jonas, Deus fala de
pessoas que não sabiam discernir a mão direita da mão esquerda (Jn 4.11), e que
estavam sendo destruídas por isto.
B. Consciência
contaminada – trata-se de pessoas que foram atingidas por uma cultura
ou filosofia, e não acham errado aquilo que a Palavra de Deus considera errado.
É muito comum vermos pessoas dizendo que não acham errado determinado
comportamento, quando as Escrituras Sagradas são frontalmente contrárias a tais
práticas. Numa época de moral relativa, onde as pessoas acham que a verdade
encontra-se dentro delas, e não são definidas por Deus, é muito fácil vermos
este processo de contaminação.
O profeta Isaias fala de pessoas
que chamavam a luz trevas, e às trevas luz (Is 5.20). São mentes afetadas pelo
pecado, pelo distanciamento de Deus, e que não conseguem mais ter pureza na sua
consciência.
C. Consciência
cauterizada – A Bíblia fala deste tipo de pessoas que “pela hipocrisia dos que falam mentira e tem
cauterizado a própria consciência” (1 Tm 4.2). Cauterizar é queimar um
determinado lugar, criando um calo. A pessoa se torna insensível naquele ponto.
De tanto ferir a consciência fazendo aquilo que é errado, a pessoa pode
finalmente fazer tudo aquilo que anteriormente reprovava, achando que está
justificada e que nada do que está fazendo é errado. Isto é reforçado por uma
cultura que se coloca contra Deus e até mesmo por “espíritos enganadores e
ensino de demônios” (1 Tm 4.1).
Passos para manter uma
consciência pura:
1. Coloque
sempre sua vida sob o crivo da Palavra de Deus- O que conta não é o que
você “acha certo”, mas aquilo que a Bíblia diz que é certo.
Neste ano comemoramos os 500 anos
da reforma. Lutero, seu idealizador afirmou diante do tribunal que o acusava: “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande
visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras
Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto
para esta vida quanto para o que há de vir. "A menos que vocês provem para
mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me
retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha
consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que
eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém."(...) "Diante da Palavra,
todos precisam ceder."
não confie em seu coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?"
2. Incline-se
sempre ao arrependimento e à confissão – Há sempre o perigo do
endurecimento das coronárias, e de nos acostumarmos ao pecado sem termos
consciência de quão distante estamos de Deus.
Quando Jesus manda a carta à
igreja de Laodicéia, ele a censura porque ela estava perdendo o primeiro amor,
se julgando segura, rica e abastada, mas Jesus afirma que ele deveria comprar
vestes brancas para se vestir a fim de que não fosse manifesta a vergonha de
sua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que pudesse ver com
clareza (Ap 3.15-18).
O apostolo João escreve à uma
comunidade, que provavelmente se julgava boa demais para perceber seus erros. “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a
nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está me nós (...) Se dissermos que
não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em
nós” (1 Jo 1.8,10). Dá pra perceber a insistência do velho pastor em
relação a uma igreja que não parecia perceber o risco de suas almas?
3. Esteja
sempre diante de Deus para experimentar a alegria de uma consciência perdoada e
redimida – A questão não é “se pecamos”, mas se fomos perdoados e temos
sido purificados pelo sangue do Cordeiro.
“Estas coisas vos escrevi para que não pequeis, se, todavia alguém
pecar, temos advogado junto ao Pai” (1 Jo 2.1).
Se por um lado temos a tentação de
vivermos insensíveis e com a consciência cauterizada, por outro lado podemos
viver uma existência que não experimenta o perdão de Deus, e desta forma vive
constantemente acusada pelo diabo (Ap 12.10). “Ora, o Senhor é Espírito, e onde está o Espirito do Senhor, aí há
liberdade” (2 Co 3.17). A maravilhosa verdade é que somos pecadores de
fato, e Deus nos perdoa de fato.
2.
Fé
sem Fingimento
Este é um segundo pilar da
espiritualidade cristã citada neste texto. Se o primeiro fala da consciência
pura, este segundo toca na integridade e no caráter.
Uma fé sem fingimento é aquela
que possui profunda coerência entre aquilo que afirma crer e aquilo que se
vive. O perigo da hipocrisia, de uma vida teatralizada, é sempre muito presente
naqueles que buscam uma espiritualidade autêntica. Podemos falar do que não
cremos, manter as aparências, criar um círculo falsa de fé e assim vamos
vivendo de máscaras e véus.
Dois riscos podem ser apontados
aqui:
A. Falsa
fé – Podemos colocar nossa fé em pessoas, conceitos e até mesmo em
ídolos, substitutos de Deus. A maior tentação do povo de Deus no AT foi sempre
a idolatria. O apóstolo Joao, um velho e tarimbado pastor, quando está
encerrando sua primeira carta, de forma aparentemente desconecta afirma: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo
5.19). Uma exortação aparentemente isolada, como se fosse uma nota de rodapé,
como se Joao tivesse querendo afirmar: “Antes de encerrar... por favor, guardem
seus corações das armadilhas da idolatria”. O que nos impressiona é que ele
estava falando ao povo crente, não aos pagãos... Paulo fala em 2 Tm 1.9 sobre
“A fé verdadeira”.
B. Dissimulada
fé – Já não se trata de uma falsa fé, mas a fé verdadeira vivida de
forma falsa. Dá a impressão de crer, prega aquilo que não pratica, vive uma vida
dupla, do tipo médico e monstro. Pastores e líderes não raramente surpreendem
suas comunidades com um comportamento duplo e perigoso. Vida dissimulada.
Que cuidados devemos ter?
1. Uma fé clarificada pelo Evangelho nos livra
da “falsa fé” – Muitos afirmam que não importam a fé que você professa, mas
o que importa é crer. Esta afirmação é equivocada. Podemos crer naquilo que
gera uma falsa segurança e é falso. Milhares são consumidos por crendices e
superstições, espiritualidades distorcidas pelo engano do coração, por sistemas
filosóficos e pelo diabo. Corre-se grave risco quando se coloca a fé naquilo
que é falso. Só a Palavra de Deus pode nos livrar dos falsos conceitos e das
mentiras dos homens como afirma Paulo em 1 Tm 4.1-4.
2. Rejeitar a tentação da dissimulação –
Não fomos chamados para viver uma vida dupla. “Integridade não é um ingrediente
da vida cristã, mas a essência da vida cristã” (Warren Wiersbe). Uma vida
dicotomizada é uma agressão ao Deus que vê todas as coisas.
O fascínio de Moisés
Em 2 Co 3.12-18 vemos a narrativa
trágica de um grande líder cristão que correu grande risco com a dissimulação. Este texto
nos revela um grande líder sendo desmascarado. Seu nome: Moisés. Sem dúvida um
grande homem de Deus. Aqui ficamos sabendo de algo que o AT não menciona. Ao
descer do monte, depois de passar 40 dias com o Senhor, Moisés foi envolvido
por um brilho tão imenso, que os filhos de Israel não podiam fitá-lo. Isto o
obrigou a usar véu para conversar com o povo. Com o passar dos dias, o brilho
acabou, mas Moisés continuou com o véu, para que os filhos de Israel
continuassem pensando que o seu rosto ainda brilhava.
Por que? Medo. Medo de que os
israelitas descobrissem que sua posição privilegiada diante de Deus estava
desaparecendo. Então, fez o que milhões de pessoas já fizeram: Colocou um véu!
Não deixou que ninguém visse o que se passava no seu interior.
A mesma realidade pode ocorrer
hoje. Podemos ter um véu sobre as formas mais variadas, mas que na essência são
a mesma coisa. Representam uma imagem ou fachada que queremos mostrar aos
outros, e por trás da qual ocultamos nossa verdadeira imagem. A atitude de
Moisés trouxe um efeito danoso nas próximas gerações. Por ter optado por viver
uma vida de máscara o povo de Israel não mais conseguia entender o
Evangelho. Paulo responsabiliza Moisés pela cegueira do povo (2 Co 3.15). Em
outras palavras, sua atitude hipócrita endureceu o coração dos filhos.
A incapacidade de sermos
autêntico, genuínos, obscurece o poder do Evangelho, nos nossos filhos fazendo
com que os sentidos das novas gerações sejam endurecidos. Por que filhos não se convertem? Alguns frequentam a
igreja anos a fio, mas não se rendem a Cristo. Paulo afirma que a dificuldade
dos filhos de Israel em se converterem e terem o “véu removido” estava
diretamente relacionado à atitude de Moisés, em manter as aparências e
continuar com suas máscaras espirituais. Não seria esta a razão de tantos filhos
de crentes terem também dificuldade em crer?
Paulo fala da experiência de Timóteo,
cuja vó Eunice e a mãe Loide, tiveram uma vida de integridade e “fé sem
fingimento”. Esta autenticidade estava
marcando agora a vida de Timóteo. Quando se vive a fé de forma transparente,
sem máscaras, o efeito é libertador nas próximas gerações.
3.
Total
confiança na obra de Cristo
“...E, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me
envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso
para guardar o meu deposito até aquele Dia” (2 Tm 2.12).
Paulo não diz “em que”, mas “em quem”. Este é o terceiro pilar da
vida cristã autentica que podemos observar neste texto. Paulo afirma: “Porque ninguém pode lancar outro fundamento,
além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.11). Paulo afirma “si
em quem tenho crido”, e diz ainda “estou certo”. Determinadas verdades são essenciais
para a caminhada com Cristo. Não podemos ficar inseguros sobre quem estamos
firmando nosso fé e esperança. Precisamos saber e estar bem certo disto.
Muitas vezes encontramos pessoas
inseguras quanto a aspectos essenciais da sua vida espiritual. Paulo, porém,
coloca sua inteira confiança na obra de Cristo, não apenas para sua salvação,
mas também para a perseverança na fé. Se você não tem convicções bem claras no
seu coração sobre Jesus Cristo, certamente viverá sempre inseguro.
Paulo fala que Deus “é poderoso para guardar o meu depósito até
aquele Dia”.
Aqui aprendemos alguns princípios
importantes:
Número 1: A obra da salvação está
totalmente centrada naquilo que Deus faz, não nas nossas realizações. “Sei em quem tenho crido”
Número 2: A obra da salvação está
nas mãos de alguém que é poderoso. “...Estou
certo de que ele é poderoso”
Número 3: A obra da salvação é
garantida pelo próprio Deus. “...Poderoso para guardar o meu deposito”.
Número 4: A obra está ainda
incompleto, mas temos a garantia de aquele que tem poder vai completa-la
cabalmente. “Ele é poderoso para guardar
o meu depósito até aquele Dia”.
Conclusão:
Recordando, Estes são os três pilares
da fé autêntica:
Consciência
pura
Fé sem
fingimento;
Total confiança
na obra de Cristo.
Para concluir este texto, Paulo
faz duas recomendações a Timóteo. Esta é uma forma de responder ao desafio da
fé:
1. Mantém
o padrão – (2 Tm 1.13)
2. Guarda
o bom depósito – (2 Tm 1.14)
Muito bom esse estudo...
ResponderExcluir