quinta-feira, 22 de junho de 2017

Gálatas 4.21-31 Sara e Agar: Alegorias do Evangelho



Este texto pode levar muitas questões sobre como interpretar a Bíblia. Ele usa o nascimento dos dois filhos de Abraão – Ismael e Isaque - como alegoria. Devemos interpretar a Bíblia da mesma forma? Uma das regras que adotamos para interpretar corretamente a Bíblia é discernindo o propósito original do autor. Quando dissemos: quebrei a cara! Não necessariamente estamos dizendo que sofremos uma fratura na nossa mandíbula, ou que sofremos um acidente, mas podemos estar usando isto para se referir ao fato de que fizemos alguma coisa tola, ou tomamos uma decisão equivocada. Quando Paulo lê esta passagem, no entanto, ele alegoriza uma história real, um fato acontecido.
Em geral, a Igreja Reformada rejeita a interpretação alegórica, preferindo o método histórico gramatical. Isto é, resgatar o contexto geográfico, cultural e da história e analisar gramaticalmente o significado da frase, buscando entender, o mais próximo possível, qual era a ideia do autor ao usar o termo e a frase que usou.

O que este texto nos ensina?
Primeiro, há duas formas de se aproximar de Deus: Pela lei ou pela graça. Como foi Ismael (Agar), e como foi Isaque (Sara).

 Dos versículos 21-23, começamos entender o que aconteceu.  Deus disse a Abraão e Sara que eles deveriam ter uma criança de forma sobrenatural no entanto, o que fizeram? Confiaram nos seus recursos humanos para gerar um filho, através de Agar.

Agar e Sara, falam de Sinai e Sião, representam dois caminhos para aproximar-se de Deus. Um, confiando na capacidade humana outro depositando sua confiança nos atos sobrenaturais de Deus.
De forma prática, o que disseram com suas atitudes?
ü  “Não precisamos de Deus” ... Isto é autonomia
ü  “Podemos fazer do nosso jeito!” ... Isto é independência.
ü  “Quem precisa de Deus?” ... Isto é orgulho.

O que fez Sara?
Deus fizera uma promessa, mas os anos vao se arrastando e as palavras de Deus começam não mais a criar esperança, mas gerar desilusão. Os anos se passam, Sara agora está com 90 anos. Vendo-se deprimida, começa a bolar um plano para Deus ou interpretar a palavra de Deus do seu jeito. “-Será que Deus realmente disse que ´eu´ geraria filhos ou está falando disto simbolicamente?”. “Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela” (Gn 16.1). Sara resolve o problema. A palavra de Deus não iria se cumprir, mas ela dá um “jeitinho” na promessa de Deus.

O que fez Abraão?
Na conversa com Sara, o texto responde laconicamente: “E Abrão anuiu ao conselho de Sarai” (Gn 162).
Sara realmente queria que seu marido se envolvesse com uma escrava jovem? Que mulher, em sã consciência faria isto? Se não queria, porque fez a proposta.
Na verdade, Sara faz o que comumente as mulheres fazem: Elas dizem sim quando querem dizer não e não quando querem dizer sim.
O que Abraão deveria ter feito?
  1. Como marido, cuidar afetivamente de Sara. O que ela queria é ouvi-lo dizendo que não faria isto, que ela a amava, e que tudo daria certo, e apenas a abraçasse afetuosamente.

  1. Como crente, ele deveria ter reafirmado o que tão claramente ouviu: “Deus falou que me daria um filho por meio de você. Vamos manter firme a nossa confiança, porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Se ele assim procedesse, reafirmaria a fé de sua esposa. Não fazendo isto, ele reforçou sua suspeita. “-Será que Deus realmente falou com meu marido?”

Portanto, Agar e Sara apontam dois diferentes caminhos: Um confiança nos recursos humanos e o outro, confiança plena na promessa de Deus. Independentemente das circunstâncias.

No caminho das “obras humanas”, somente pessoas férteis como Agar podem gerar frutos, mas no caminho da graça, mesmo pessoas estéreis como Sara, podem ser produtivas. A graça nos faz produzir frutos independentemente de nosso passado ou condição, e de forma muito mais frutífera que o esforço humano pode fazer.

Segunda lição:
O texto afirma que “Como, porém, outrora, o que nascera segunda a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora” (Gl 4.29). O filho da escrava perseguia o filho da promessa. Paulo estava vendo isto acontecer novamente na igreja da Galácia. Os judaizantes estavam impondo rituais, fazendo exigências desnecessárias, praticando bullying com aqueles que aprenderam a confiar apenas na graça. A dependência apenas da graça os levava a serem acossados pelo legalismo judaico.
É isto que faz a religião quando distanciada da graça.
Agar agride Sara. Ismael humilha e rejeita Isaque.  
Os filhos da graça serão sempre incompreendidos e sofrerão ataques dos filhos da religiosidade de escravidão, aqueles que ainda se firmam naquilo que podem fazer, isto é, nas suas obras, sempre cobrarão dos filhos da graça, mas isto não pode nos fazer retornar novamente à escravidão.
Paulo mostra como estavam sendo acusados:
Gl 5.8: “Esta persuasão não vem daquele que vos chama”
Gl 5.9: “Um pouco de fermento, leveda toda a massa”. O fermento do legalismo é contagiante.
Gl 5.10: “...Aquele que vos perturba...” A Lei pressiona de todos os lados. Ela perturba, é reincidente. Faz exigências. Acusa.

Resultados:
Optar por viver debaixo da Lei (Agar), ou da aliança da graça (Sara), fará uma enorme diferença na nossa adoração e na forma de viver.

ü  O da escrava vive de acordo com a carne. Baseia-se no recurso, na competência, naquilo que a carne pode fazer e nas soluções que ela apresenta: “Eu mesmo faço!” Quem vive na graça, baseia-se na promessa e não na habilidade humana. “Se Deus não fizer, ninguém fará; é impossível!”
ü  Agar gera escravidão (Gl 4.23). Sempre dependendo do que devemos fazer, oscilando entre conquistas pessoais e fracassos. O da graça, vive na dependência daquele que pode fazer muito mais, porque “para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Sara riu quando soube da notícia. Ela, como nós, somos mestres em confiar nas nossas estratégias: “Vá, e possua Agar!”, ao invés de confiar nas promessas (Gn 18.10-15).
ü  Agar resulta em auto glorificação: “Yes, we can!”. Graça resulta em louvor: “Yes, He can!”
ü  Agar não precisa da promessa. “Por que depender de Deus se temos nossas soluções?” Se necessário, é só providenciar um atalho para Deus e chamar Agar. Ela pode gerar. Quem precisa de Deus? Mas os que vivem sob a graça, são filhos da promessa. São surpreendidos pelo Deus maravilhoso que pode todas as coisas (Gl 5.28).

Conclusão:
Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho da livre!” (Gl 5.30). Os dois filhos não podem coexistir, nem compartilhar o mesmo espaço. A Graça não transige com a lei.
Abraão teve que confiar nas promessas.
“Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça!”
Enquanto Abraão caminhou firme nas promessas, Deus fez o sobrenatural.
Quando Abraão decidiu fazer seus próprios caminhos, isto resultou no conflito milenar entre judeus e árabes que perdura até hoje.
A rebeldia de Abraão resultou em fracasso
A fé nas promessas (graça), resultou em milagre.




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