Este texto pode levar muitas
questões sobre como interpretar a Bíblia. Ele usa o nascimento dos dois
filhos de Abraão – Ismael e Isaque - como alegoria. Devemos interpretar a
Bíblia da mesma forma? Uma das regras que adotamos para interpretar
corretamente a Bíblia é discernindo o propósito original do autor. Quando
dissemos: quebrei a cara! Não necessariamente estamos dizendo que
sofremos uma fratura na nossa mandíbula, ou que sofremos um acidente, mas podemos
estar usando isto para se referir ao fato de que fizemos alguma coisa tola, ou
tomamos uma decisão equivocada. Quando Paulo lê esta passagem, no entanto, ele
alegoriza uma história real, um fato acontecido.
Em geral, a Igreja Reformada
rejeita a interpretação alegórica, preferindo o método histórico gramatical.
Isto é, resgatar o contexto geográfico, cultural e da história e analisar
gramaticalmente o significado da frase, buscando entender, o mais próximo possível,
qual era a ideia do autor ao usar o termo e a frase que usou.
O que este texto nos ensina?
Primeiro, há duas formas de se aproximar de Deus: Pela lei ou pela graça.
Como foi Ismael (Agar), e como foi Isaque (Sara).
Dos versículos 21-23, começamos
entender o que aconteceu. Deus disse a Abraão
e Sara que eles deveriam ter uma criança de forma sobrenatural no entanto, o
que fizeram? Confiaram nos seus recursos humanos para gerar um filho, através
de Agar.
Agar e Sara, falam de Sinai
e Sião, representam dois caminhos para aproximar-se de Deus. Um, confiando na
capacidade humana outro depositando sua confiança nos atos sobrenaturais de Deus.
De forma prática, o que
disseram com suas atitudes?
ü “Não precisamos
de Deus” ... Isto é autonomia
ü “Podemos
fazer do nosso jeito!” ... Isto é independência.
ü “Quem
precisa de Deus?” ... Isto é orgulho.
O que fez Sara?
Deus fizera uma promessa,
mas os anos vao se arrastando e as palavras de Deus começam não mais a criar esperança,
mas gerar desilusão. Os anos se passam, Sara agora está com 90 anos. Vendo-se
deprimida, começa a bolar um plano para Deus ou interpretar a palavra de Deus
do seu jeito. “-Será que Deus realmente disse que ´eu´ geraria filhos ou está
falando disto simbolicamente?”. “Eis que
o Senhor me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e
assim me edificarei com filhos por meio dela” (Gn 16.1). Sara resolve o
problema. A palavra de Deus não iria se cumprir, mas ela dá um “jeitinho” na
promessa de Deus.
O que fez Abraão?
Na conversa com Sara, o
texto responde laconicamente: “E Abrão
anuiu ao conselho de Sarai” (Gn 162).
Sara realmente queria que
seu marido se envolvesse com uma escrava jovem? Que mulher, em sã consciência faria
isto? Se não queria, porque fez a proposta.
Na verdade, Sara faz o que
comumente as mulheres fazem: Elas dizem sim quando querem dizer não e não quando
querem dizer sim.
O que Abraão deveria ter
feito?
- Como
marido, cuidar afetivamente de Sara. O que ela queria é ouvi-lo dizendo
que não faria isto, que ela a amava, e que tudo daria certo, e apenas a
abraçasse afetuosamente.
- Como
crente, ele deveria ter reafirmado o que tão claramente ouviu: “Deus falou
que me daria um filho por meio de você. Vamos manter firme a nossa confiança,
porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Se
ele assim procedesse, reafirmaria a fé de sua esposa. Não fazendo isto,
ele reforçou sua suspeita. “-Será que Deus realmente falou com meu marido?”
Portanto, Agar e Sara
apontam dois diferentes caminhos: Um confiança nos recursos humanos e o outro, confiança
plena na promessa de Deus. Independentemente das circunstâncias.
No caminho das “obras
humanas”, somente pessoas férteis como Agar podem gerar frutos, mas no caminho
da graça, mesmo pessoas estéreis como Sara, podem ser produtivas. A graça nos
faz produzir frutos independentemente de nosso passado ou condição, e de forma
muito mais frutífera que o esforço humano pode fazer.
Segunda lição:
O texto afirma que “Como, porém, outrora, o que nascera segunda
a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora” (Gl
4.29). O filho da escrava perseguia o filho da promessa. Paulo estava vendo
isto acontecer novamente na igreja da Galácia. Os judaizantes estavam impondo
rituais, fazendo exigências desnecessárias, praticando bullying com aqueles que aprenderam a confiar apenas na graça. A dependência
apenas da graça os levava a serem acossados pelo legalismo judaico.
É isto que faz a religião quando
distanciada da graça.
Agar agride Sara. Ismael
humilha e rejeita Isaque.
Os filhos da graça serão sempre
incompreendidos e sofrerão ataques dos filhos da religiosidade de escravidão, aqueles
que ainda se firmam naquilo que podem fazer, isto é, nas suas obras, sempre cobrarão
dos filhos da graça, mas isto não pode nos fazer retornar novamente à
escravidão.
Paulo mostra como estavam
sendo acusados:
Gl 5.8: “Esta persuasão não vem daquele que vos chama”
Gl 5.9: “Um pouco de fermento, leveda toda a massa”. O
fermento do legalismo é contagiante.
Gl 5.10: “...Aquele que vos perturba...” A Lei
pressiona de todos os lados. Ela perturba, é reincidente. Faz exigências. Acusa.
Resultados:
Optar por viver debaixo da
Lei (Agar), ou da aliança da graça (Sara), fará uma enorme diferença na nossa adoração
e na forma de viver.
ü O da
escrava vive de acordo com a carne. Baseia-se no recurso, na competência,
naquilo que a carne pode fazer e nas soluções que ela apresenta: “Eu mesmo faço!” Quem vive na graça,
baseia-se na promessa e não na habilidade humana. “Se Deus não fizer, ninguém fará; é impossível!”
ü Agar gera
escravidão (Gl 4.23). Sempre dependendo do que devemos fazer, oscilando entre
conquistas pessoais e fracassos. O da graça, vive na dependência daquele que
pode fazer muito mais, porque “para Deus não haverá impossíveis em todas as
suas promessas”. Sara riu quando soube da notícia. Ela, como nós, somos mestres
em confiar nas nossas estratégias: “Vá, e possua Agar!”, ao invés de confiar
nas promessas (Gn 18.10-15).
ü Agar
resulta em auto glorificação: “Yes, we can!”. Graça resulta em louvor: “Yes, He
can!”
ü Agar não precisa
da promessa. “Por que depender de Deus se temos nossas soluções?” Se
necessário, é só providenciar um atalho para Deus e chamar Agar. Ela pode
gerar. Quem precisa de Deus? Mas os que vivem sob a graça, são filhos da
promessa. São surpreendidos pelo Deus maravilhoso que pode todas as coisas (Gl
5.28).
Conclusão:
“Lança fora a
escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com
o filho da livre!” (Gl 5.30). Os dois filhos não podem coexistir, nem
compartilhar o mesmo espaço. A Graça não transige com a lei.
Abraão teve que confiar nas promessas.
“Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça!”
Enquanto Abraão caminhou firme nas promessas, Deus fez
o sobrenatural.
Quando Abraão decidiu fazer seus próprios caminhos, isto
resultou no conflito milenar entre judeus e árabes que perdura até hoje.
A rebeldia de Abraão resultou em fracasso
A fé nas promessas (graça), resultou em milagre.
Estudo muito edificante
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