segunda-feira, 12 de junho de 2017

Ec 4.9-12 Melhor serem dois do que um- Realmente???

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Introdução:

Você realmente acredita nesta afirmação bíblica de que “é melhor serem dois do que um?”
Muito bem, antes de responder sim ou não, pense no seguinte: somos hábeis em dar resposta que as pessoas esperam de nós, ou as respostas politicamente corretas, ou, se preferirem, teologicamente corretas.
Afirmamos confiar em Deus mas quando as coisas se fragilizam, somos facilmente desestruturados. Isto revela nossa falta de confiança em Deus e nossa confiança na força dos nossos braços.
Afirmamos crer na Bíblia, mas quando confrontados com versículos como: “trazei todos os dízimos à casa do Senhor”, ficamos em dúvida se isto realmente se aplica à nossa vida ainda hoje.
Então, antes de responder afirmativamente, pense seriamente: Você realmente crê que “é melhor serem dois do que um?”

Você me dá azar!
Talvez não!
Talvez você acredite que “seria melhor estar sozinho”, como a história daquele homem internado no hospital depois de um infarto que começa a dizer à sua esposa: “Querida, tenho refletido muito sobre nossa vida e chegado à compreensão de que todos os momentos difíceis da minha vida você está ao meu lado. Quando meu pai quase levou à empresa da família à falência, você estava ao meu lado. Quando sofri aquele grave acidente de carro, você estava ao meu lado. Quando perdi o emprego, estava agora lembrando, você estava ao meu lado. Sabe minha conclusão? Mulher, você me dá azar!”

As raízes do meu fracasso
Você nunca culpa seu cônjuge por não ser bem sucedido, não ser feliz, ou não ganhar dinheiro? Muitas vezes acreditamos que não tivemos sucesso, nem somos prósperos ou felizes, porque “o outro”, atrapalha a nossa vida. Seria melhor sem ele (a). O outro é o meu problema.
Não é difícil empregar todos os possíveis mecanismos de defesa nesta hora: Deslocamento, projeção, transferência de culpa. Responsabilizamos o outro. É menos dolorido.
Esta realidade é adâmica.
No Éden, ao se ver numa situação embaraçosa diante de Deus, ele respondeu de imediato: “A mulher que me deste!” Não apenas culpa a mulher, mas responsabiliza Deus por ter colocado aquele estorvo e encosto ao seu lado. Sem ela, nada errado teria acontecido. Se Deus tivesse um pouco mais de cuidado, estaria agora livre deste problema.
Alguém até chegou a afirmar que “marido é alguém que você convida para resolver problemas que você não teria se não fosse casado”. Mark Grougor, comediante cristão americano, afirma que há um texto claro da Bíblia sobre como evitar problemas, e que poucos o colocam em prática. Se ao menos considerássemos aquilo que a Bíblia ensina, jamais teríamos problema no casamento: “Queres ficar livre de preocupação? Não te cases!” (1 Co 7.32).  
Adão culpou Eva pelo seu fracasso. O seu problema era Eva.
Raquel culpou a Jacó pela sua esterilidade. “Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve ciúmes de sua irmã e disse a Jacó: Dá-me filhos senão eu morro! Então, Jacó se irou contra Raquel e disse: Acaso estou eu lugar de Deus, que ao teu ventre impediu de frutificar?” (Gn 30.1,2). Não é este um comportamento comum? Acusar o outro pela nossa esterilidade, pela depressão que temos, pelo insucesso?

Relacionamentos permeados pela amargura
Qual o resultado disto?
Desenvolvemos amargura nos relacionamentos
Col 3.19 afirma: “Maridos, amai vossas mulheres e não as trateis com amargura”. Curioso como a falta de amor, desenvolve amargura no outro.
Sempre vi este texto na seguinte perspectiva: Quando o marido não trata bem sua esposa, ele gera amargura no seu coração. O amor do homem, é capaz de trazer cura e terapia na alma feminina. Ainda acredito que este princípio é verdadeiro. Recentemente, porém, minha esposa me mostrou um ângulo diferente a este texto, e que acredito seja talvez muito mais próximo do sentido deste texto. Ela chamou a atenção de que o marido pode fazer as coisas para sua esposa, eventualmente até de forma “positiva”, mas ainda assim, com amargura. Então, o resultado será, todo tratamento passará pelo filtro da raiva, rancor, ira, ressentimento. O tratamento assim se torna carregado de amargura, e assim, as respostas quase sempre serão repletas desta carga pesada. Assim, o marido se torna reativo, ferino, sem sensibilidade. Acho que esta análise tem um profundo sentido.

Andréia e o marido culpado
O nome acima é fictício, mas a situação é real.
Recentemente acompanhei o caso de uma mulher profundamente magoada com seu marido, e ressentida porque seu filho estava envolvido com drogas, e ela achava que ele nada fizera para impedir. Em outras palavras, ela está convencida de que a culpa para rebeldia de seu filho era responsabilidade dele. Ele era o problema.
Por causa de sua ira e hostilidade, ela vomitou ininterruptamente por quase meia hora, acusando-o de forma agressiva e triste. Ela realmente estava com raiva. Tentei interpor e argumentar, mas era inútil, ela estava no limite. Depois de um determinado tempo, pedi ao marido que saísse da sala para ver se encontrávamos um ponto de razoabilidade naquele diálogo. Tentei mostrar-lhe que “as emoções distorcem a realidade”, ela foi se tornando mais razoável, mas não estou certo de que consegui convencê-la de nada do que argumentamos.
Ela realmente pensa que o fracasso de sua família seja responsabilidade do seu marido. Ele é o estorvo! Sua indiferença, apatia, silêncio, tudo isto estaria gerando este caos, embora sua família, apesar desta luta pontual com seu filho adolescente, se encontre num estágio relativamente pacifico.
O que fazer quando achamos que o outro é o problema?
Será que realmente cremos que ““é melhor serem dois do que um?”

Tentando encontrar o eixo
É bom considerar que, por mais que julguemos o outro responsável pelo caos e fracasso, o outro não é o meu problema, nem a minha solução! Por isto não é possível culpar o outro pelo meu fracasso.
Só há crescimento emocional num quando não precisamos do outro para nossa própria sobrevivência. “Se não conseguirmos abraçar nossa própria solidão, simplesmente usaremos o outro como escudo contra o isolamento. Nossa relação será sufocante. Se você é incapaz de desistir do casamento, então o casamento está condenado”.
Quando acontece o oposto, surge o que Erich Fromm chama de “simbiose incestuosa” que pode ser ilustrado na figura de uma trepadeira que suga da ceifa da árvore, até exaurir toda sua energia. Quando a árvore morre, morre também a trepadeira, porque depende completamente da árvore para sua sobrevivência.  Só amadurecemos quando entendemos quando atacamos o inimigo real ao invés de atacar o outro. Diante do fracasso pessoal, depressão, envelhecimento, precisamos observar que o outro não é salvador nem adversário, nem vitima nem algoz, mas alguém que enfrenta o mesmo ciclo de vida, com suas lutas e desafios.

O caminho passa pela confissão, auto compreensão e auto percepção. O problema é que muitas vezes é mais fácil apodrecer que amadurecer. Quando não olhamos para nossas próprias lutas com reflexão desenvolvemos co-dependência e amargura.
Em Lc 15.17 vemos que o filho pródigo “caiu em si”. O problema é que, geralmente caímos no outro. Deslocamos, acusamos, culpamos, transferimos responsabilidade. Luta pelo poder, não necessariamente para mandar, mas como Jorge Maldonado chamou de “poder para saber quem tem razão”.
Na relação abusiva e patológica há sempre a possibilidade de que o sádico se encontre com o masoquista. Ai neuroticamente encontramos o que sente prazer em machucar e o outro que sente prazer em ser machucado, em sofrer a dor. Na violência domestica não é raro encontrarmos a mentalidade opressora convivendo com a mentalidade do oprimido. Um é o que fere, o outro, o que se deixa ferir, conscientemente ou não.

 “Melhor é serem dois do que um”
Ec 4.9-12


Neste texto de Eclesiastes, encontramos um elemento surpresa. Por varias vezes vemos a ênfase em duas pessoas caminhando juntas. “Dois”, é o termo que mais aparece (3 x), entretanto, quando o texto está no fim, o autor faz uma menção sutil e curiosa: “O cordão de três dobras não se rebenta com facilidade”.
O que é esta “terceira dobra”? Este “terceiro elemento” se imiscuindo na dualidade.
Na verdade, podemos entender esta “terceira dobra” como aquela que dá consistência aos dois cordões. Aqui temos uma terceira realidade.  Sem esta “terceira presença”, as dobras são frágeis, mas com a terceira dobra, o cordão não se rebenta com facilidade.
Esta é a presença invisível, “sacramental”(usando este termo na dimensão de Ef 5.32: “Grande é este mistério, mas me refiro a Cristo e a igreja”, já que a palavra misterium, foi traduzida por Jeronimo, do grego para a Vulgata Latina, como sacramentum).
Tim Keller no livro, O significado do casamento, pergunta: Por que achamos que duas pessoas narcisistas, pecaminosas e auto centradas, e que querem ser o centro e serem agradadas, entrariam num casamento para servir o outro? Ele chama isto de Idealismo fantasioso.
O outro não é perfeito, mas o outro revela a dimensão de Deus na minha história. Keller afirma ainda que o alvo de Deus para o marido é que este ajude a mulher na sua caminhada de fé em direção a Deus, assim como Cristo fez pela igreja, sacrificando-se para apresentá-la diante de Deus.
Jesus é a terceira dobra neste cordão.
Sua presença empodera casamentos como os nossos, de pessoas frágeis e pecadores, incapazes de refletir o caráter de Deus.

Não raras vezes já me vi diante de minha esposa, admitindo para Deus minha absoluta incapacidade de entendê-la, de ajudá-la. Facilmente acho que “melhor é serem um que dois”, que a vida seria mais fácil sem ela, e Deus, de forma misteriosa nos ajuda para que saiamos do ciclo da mesquinhez, insensibilidade e confusão para adentrar o misterium que ele desejou estabelecer em nosso relacionamento.

É graça divina operando.
É quando o Evangelho entra em ação.
Não que por nós mesmos sejamos capazes de pensar alguma coisa como se saísse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).
só desta forma seremos capazes de perceber a maravilhosa presença de Deus, que nos leva à compreensão de que “melhor é serem dois do que um”.

  

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