sábado, 5 de maio de 2018

1 Co 15.12-20 Se... De Fato...





Introdução: Um dos poemas mais conhecidos da literatura é de Rudyard Kipling; escritor inglês, cujo titulo é “Se”. É um poema belíssimo pelo seu conteúdo moral e pela sua simetria. Ele diz assim:


Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho! 

Se...
O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, escreve um tratado sobre a ressurreição de Cristo, na 1 carta aos Corintios, 15. Trata-se de um dos textos mais detalhados e completos sobre este evento singular da história, em apenas 8 versículos, usa o condicional “se” em 7 vezes.
O que este texto nos encoraja a pensar é sobre a possibilidade de Cristo não ter ressuscitado. O que poderia acontecer?
Ele usa uma argumentação didática e lógica, para dialogar com a Igreja de Corinto, onde surgiram alguns questionamentos sobre a ressurreição.

Vejamos os argumentos de Paulo:
A.   Como afirmar que não há ressurreição de mortos, se Cristo ressuscitou? “Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mrtos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (1 Co 15.12). Paulo usa uma lógica simples. Se não há ressurreição, como Cristo então teria ressuscitado? A ressurreição de Cristo não teria acontecido, e assim, a mensagem pregada pela igreja era falsa...

B.    Não há possibilidade de afirmar a ressurreição de Cristo e negar a ressurreição dos cristaos. As duas estão interligadas. “E, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou” (1 Co 15.13). O ponto de partida é Jesus.

C.    Se não há ressurreição, labutamos em dois erros: No que cremos e no que pregamos. “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregacao, e vã a vossa fé” (1 Co 15.14). Nosso sistema de crença está falido porque fundamenta-se em erro, e aquilo que afirmamos é errado, porque a base não é verdadeira.

D.   Se não há ressurreição, somos passíveis de julgamento. “e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam” (1 Co 15.15). Fazer falsas asseverações num tribunal é considerado perjúrio, e é crime.

E.    Há uma relação direta entre a nossa ressurreição e a ressurreição de Cristo. Pode-se quase afirmar uma relação de causa/efeito. “Porque se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou” (1 Co 15.16).

F.     Se não há ressurreição, estamos espiritualmente em sério perigo. “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1 Co 15.17). A garantia de que as afirmações de Cristo sejam verdadeiras estão no fato de que Jesus ressuscitou. Sua ressurreição demonstra sua autoridade. Ele é o único homem que pode vencer a morte.

G.   Se não há ressurreição, fizemos a opção errada. “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Co 15.19). Paulo vivia por esta mensagem, os discípulos se sacrificavam por ela. Paulo afirma “Porque nos expomos a perigos toda hora?”(1 Co 15.30). Qual é a razão de ser perseguido, se a causa é tola? Paulo ainda diz: “Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1 Co 15.32).

Por que o martírio dos cristãos? Estima-se que 40 milhões de cristãos tenham sido submetidos a martírio na história da Igreja.
Por que castidade? santidade? Pureza moral e sexual? Se a vida vai acabar num túmulo? Se não há esperança?
Por que lutar contra uma cultura lasciva, ser chamado muitas vezes de antiquado, de estraga-prazer, de legalista? Para que defender uma vida moralmente reta e pura quando todos acreditam que a vida deve seguir orientada pelo relativismo moral? 

Irmãos, eu entendo perfeitamente uma pessoa sem fé que vive uma moral relativa, vida de pecado, luxúria e promiscuidade. Eu entendo perfeitamente o pensamento epicurista, cujo fundamento é viver o máximo de prazer e adrenalina; eu entendo o pensamento existencialista de que o que importa é o aqui agora, máximo prazer. Sem Jesus, não resta outra alternativa. Eu seria existencialista se não fosse cristão. Eu não entendo é como alguém pode viver uma vida de pecado, se tem clara convicção de sua fé e daquilo que afirma crer.
Paulo está dizendo aqui. Por que ter vida de santidade? Ter desejo de agradar a Deus, se a vida acaba num frio túmulo? No Século XX milhões de pessoas morreram por sua fé peserguidos por sistemas ateus, na Rússia e na China. Qual é o motivo disto se Cristo não ressusciotu dentre os mortos?
O argumento de Paulo, então, volta-se para isto. Por que viver prá Deus, se a nossa mensagem é falsa? Se não há ressurreição de mortos, então fizemos a opção pelo estilo de vida mais desgraçado. A saída para o homem sem fé é “comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. Qual o motivo de lutar contra uma cultura depravada, contra uma moral degradante? Prá que enfrentar as feras em Éfeso? Provavelmente uma referência ao fato de que foram acuados num estádio inteiro da cidade pelos seguidores de Diana dos Éfesos, que por duas horas gritaram freneticamente: “Grande é a Diana dos Éfesos”.  

De Fato...
No vs. 20, Paulo sai do campo das suposições e adentra o espaço da realidade. Ele sai da argumentação do “se” para a ênfase no “De fato”.

Fato pode ser averiguado...
A primeira observação a ser feita é que ressurreição não está no campo hipotético, mas no campo da história. “Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos” (1 Co 15.20).
Este é um dos mais fortes pontos de Schaeffer ao afirmar que a fé cristã não é um “salto no escuro”, como a filosofia moderna tenta afirmar. Quando o homem moderno afirma “fé é um salto no escuro”, está querendo dizer que ao crer, você está fazendo uma aposta em algo que você não pode ter certeza se é ou não verdadeiro.
Paulo se contrapõe a este pensamento ao afirmar: A fé cristã é um fato...
Um fato possui componentes históricos, podem ser colocados sob o escrutínio da arqueologia, da ciência e da história. Fato pode ser averiguado, mensurado, não se trata de uma abstração.
Paulo usa esta argumentação para convencer alguns incrédulos menbros da igreja de Corinto. Ele afirma que o Cristo ressurreto, “apareceu a Cefas, e depois aos doze. Depois, foi visto por mais de qinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém, alguns já dormem. Depois, foi visto por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto por mim, comopor um nascido fora de tempo” (1 Co 15.5-8). Ele desafia os irmãos a pesquisarem e conversarem com as pessoas que foram testemunhas oculares. Falar com aqueles que presenciaram o evento e foram testemunhas oculares. Ele os desafia a um trabalho jornalístico: vamos aos fatos!
Paulo não diz: “creia somente!”, pelo contrário, os desafia a comprovar a veracidade dos fatos. Ressurreição não fica no campo da hipótese, e do “se”, mas penetra o campo da ciência: “Fato”.

Duas ilustrações:

A.   O Filme ressurreição – 2016. Direção de Kevin Reynolds
Tendo como elenco entre outros, Peter Firth, retrata uma situação às vésperas de um levante em Jerusalém, quando surgem rumores de que um Messias judeu ressuscitou. As autoridades romanas destacam um centurião romano agnóstico e cético (Joseph Fiennes) que é enviado por Pôncio Pilatos para investigar a ressurreição e localizar o corpo desaparecido do já falecido e crucificado Jesus de Nazaré, a fim de subjulgar a revolta eminente. Conforme ele apura os fatos e ouve depoimentos, suas dúvidas sobre o evento milagroso começam a sumir. É um filme inspirador. Depois de apurada investigação, perseguição e trama envolvente, o centurião romano, se rende às evidencias históricas.

B. O Livro “Quem moveu a Pedra” – (1930) Albert Henry Ross era um cético advogado e jornalista inglês que adotou o pseudônimo de Frank Morison, e decidiu provar que a fantástica história da ressurreição era apenas um mito e assim tirar as crenças primitivas e superstições dogmáticas, usando o método de pesquisa jurídica e jornalística, atendo-se aos fatos em si. Na medida em que avançou na sua pesquisa ao invés de permanecer cético descobriu a validade do registro bíblico de forma pessoal e o resultado foi que ao invés de escrever um relato pormenorizado do mito, escreveu uma primorosa defesa da ressurreição que se transformou num clássico livro chamado "Quem Moveu a Pedra?"  
Muitas pessoas têm se tornado cristãs, depois de lerem o livro, e é uma das referências mais citadas quando se pesquisa o tema ressurreição. 

Como se comprova um fato?
Para comprovação usa-se pelo menos três métodos:

Primeiro, testemunhas orais. Paulo tenta convencer os céticos sobre a ressurreição para conversarem com aqueles que foram testemunhas. Boa parte deles ainda estava viva, portanto não era dificil averiguar;

Segundo, documentos. A fase documental envolve quaquer coisa que se relacione ao evento. Os tribunais buscam tais provas para autenticar as denúncias.

Terceiro, encadeamento dos fatos. Muitas vezes um fato isolado não serve para comprovação, mas na medida em que outros fatores se associam, torna-se evidente o fato. Os judeus afirmam isto ao ver a ousadia dos discipulos de Cristo. “Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se e reconheceram que haviam estado com Jesus” (At 4.3). O Sinédrio percebeu que, aqueles galileus, gente simples, não correriam o risco de serem executados se algo excepcional não tivesse acontecido. “É manifesto a todos os habitantes de Jerusalém que um sinal notório foi feito por eles, e não o podemos negar” (At 4.16). Aqueles homens estavam dispostos a morrer pelo que afirmavam ter presenciado.
A pergunta retórica é a seguinte: Alguém morreria por uma mentira? A resposta imediata que damos é Não! Na verdade esta resposta é equivocada. Milhares de pessoas já morreram sustentando uma mentira, e estando firmados em uma tese mentirosa. A resposta certa deveria ser: Ninguém morre por uma mentira, quando sabe que é uma mentira. Morre-se por uma mentira quando acredita-se que ela é verdade.
Então, se os discipulos estavam mentindo, ainda assim morreriam por uma mentira? Ninguém morre por uma farsa quando sabe que não faz sentido. O historiador e teólogo Joachim Jeremias afirma que a história deve ser analisada não apenas como evento em si, mas com as conseqüências que ela gera. Se a ressurreição pudesse ser provada como falsa, a fé cristã não se sustentaria.


Conclusão
Se a ressurreição é um fato, isto tem implicações eternas.

Um veredito exige uma sentença.
Duas linhas de respostas podem ser dadas:

A.   indiferença, incredulidade ou ironia. Na indiferença, resposta possível, eu simplesmente ignoro fato e sigo a minha vida como se isto não tivesse importância para minha vida. Na incredulidade, eu continuo não concordando e não aceitando as evidências, ainda tenho dúvidas e não quero comprometer minha vida e saúde em algo que não me convence. Por que o faria? Na ironia, eu desprezo todas as evidências e ainda zombo delas e das pessoas que a aceitam.

B.    Adoração, rendição e compromisso. Na adoração, fico perplexo e encantado com estas tremendas realidades. Isto me atinge em cheio e enche meu coração de surpresa. Diante disto eu me rendo. Quero seguir a este Jesus. É isto que Paulo revela: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.57). A rendição me leva a assumir um compromisso com esta verdade. Paulo afirma que por causa da ressurreição ele lutou com feras em Éfeso (1 Co 15.32). Eu estou disposto a morrer por esta verdade, a proclamar, a me entregar sem restrições a esta maravilhosa verdade que me alcançou.

Esta noite, vamos jantar com Cristo...
O pastor e escritor sul-coreano, Paul Yongi Cho, conta no seu livro A Quarta dimensão um episódio dramático ocorrido com um pastor e sua família na cidade de Inchon, na Coréia. Os comunistas sempre viram os pastores como inimigos de suas ideias, por isso, na guerra pela implantação do seu regime, eles foram, muitas vezes, cruéis para com os obreiros de Deus e suas famílias. 
Em Inchon, um pastor foi preso juntamente com a sua família. Levado para um tribunal improvisado, onde tudo o que o governo propunha era indiscutivelmente aprovado, o pastor e sua família foram convidados a abandonar a sua fé em troca de sua liberdade. É claro que a resposta foi não. Os comunistas tentaram de novo, e vendo que seus esforços de convencimento não surtiam efeito, mandaram cavar um buraco onde a família toda seria enterrada viva. 
Cavou-se o buraco na terra. O oficial ainda tenta demover a família Cristã de sua fé, insistindo em que eles abandonem as superstições dos Cristãos. E de novo a resposta é negativa. O pastor e sua família são lançados no buraco. Enxadas e pás afoitas começam a lançar terra para dentro do buraco. Neste instante, um dos filhos levanta a voz e diz: - Papai, por favor, pense em nós! 
Este inesperado apelo do filho faz o pai, por um momento, indeciso e confuso. Quem é pai pode entender perfeitamente os sentimentos desse homem nesse momento. Mas então uma outra voz se fez ouvir naquele instante. A mãe interveio enérgica e enfaticamente: - Nossa resposta é não. 
E, voltando-se para os filhos, essa heroína da fé ordenou-lhes: - Fiquem quietos, filhos. Então vocês não sabem que esta noite vamos jantar com o Rei dos reis e Senhor dos senhores? E a estas palavras ajuntou um cântico que falava do céu (algo como eu avisto uma terra feliz...). 
A família prosseguiu cantando enquanto as pás ferozes da intolerância religiosa lançavam terra sobre seus corpos vivos. Cantaram, cantaram, até suas vozes sumirem completamente sob o monturo. Entre a multidão de testemunhas, um silêncio indescritível. 
Paul Yongi Cho conclui o relato afirmado que muitas pessoas que presenciaram a cena dramática ali, em silêncio, depois se tornaram crentes profundamente comprometidos com o Senhor. “Muitos – diz Cho – são membros de minha igreja”. (Cho, Paul Yongi. A Quarta Dimensão. Belo Horizonte: Betânia, 1985, p. 91). 

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