Introdução
Estevão foi o primeiro
mártir da história. Isto por si só já nos fala muito sobre este homem notável.
Quando estudamos seu
perfil, e principalmente seu sermão, que é o mais longo sermão no livro de
Atos, descobrimos porque este homem é tão excepcional. Não apenas por ter sido
o primeiro mártir, mas pelo que aprendemos acerca dele, e pelo seu ousado testemunho até a morte.
Estevão é um homem
diferenciado e por isto faz diferença.
Pelo menos três
características marcam a vida deste homem:
Primeiro, um homem pronto para o serviço
Não é sem razão que
ele é eleito para a função diácono, e aparece em primeiro plano na lista dos
sete gregos que são eleitos para este importante tarefa da igreja. Estes homens
tinham em comum a disposição para servir.
O diaconato foi
estabelecido para “servir às mesas”, literalmente, a palavra diakonia significa “aquele que serve às
mesas”. Ele é o garçom. Não são todos que se dispõem a esta tarefa. Tenho a
mais profunda admiração pela função diaconal na vida da igreja. Diácono cumpre
as funções mais simples e comuns, mas isto traz enorme benção para a vida
daqueles são chamados por Deus e se dispõem para este ministério.
Certa feita ouvi um
comentário depreciativo sobre a função diaconal em tom de desprezo e eu
censurei imediatamente porque quando lemos sobre as qualificações do diácono em
1 Timóteo 3, uma das promessas mais fantásticas da Bíblia é dada àqueles que
cumprem o ofício diaconal: “Pois os que
desempenharem bem o diaconato, alcançam para si mesmos justa preeminência e
muita intrepidez na fé em Cristo” (1 Tm 3.13).
Que promessa
maravilhosa Deus dá aos diáconos. Todo diácono deveria ter bem claro esta
promessa em suas vidas. Você que é diácono, não se esqueça desta promessa, e
por isto desempenhe bem o serviço para o qual foi designado, Deus tem grandes
promessas para sua vida.
Segundo, um homem com intimidade com Deus
O texto faz três
comentários sobre Estevão:
A.
“Homem cheio de fé e do Espírito Santo” –
(At 6.5). O texto não descreve como eram
os outros discípulos eleitos, mas esta menção é feita em destaque, sobre
Estevão.
B.
“Cheio de graça e poder”- (At 6.8). E por
ter este poder especial de sua vida, Deus o usava para fazer prodígios e grande
sinal entre o povo. Sua vida revelava o poder de Deus sobre suas vidas.
C.
“Cheio do Espírito Santo” (At 6.55). É
fácil encontrar homens cheios de erudição e de capacidade administrativa, e até
mesmo com grande disposição para o serviço, mas quantos são cheios do Espírito
Santo?
Além destas descrições
de uma vida de intimidade com Deus, outro aspecto que observamos é que ele
conhecia profundamente as Escrituras Sagradas. Era um homem que manuseava bem o
Antigo Testamento, que era a Bíblia do povo de Deus. Podemos imaginar que ele
gastou muito de seu tempo e sua juventude, lendo as Escrituras, seu
conhecimento e citação vai da história dos grandes personagens da história de
Israel, passando pelos reis e citando profetas como Isaias.
Terceiro, um homem preparado intelectualmente
Como afirmamos, este é
o sermão mais longo do livro de Atos e todo ele baseado no Antigo Testamento.
Estevão dá uma aula de história dos judeus, ele conhecia os detalhes e como
Deus agiu no meio do seu povo. Ele fez uma brilhante defesa diante das
acusações que lhe foram feitas. Ele tem domínio do assunto que defende.
A igreja de Cristo
precisa de pessoas que possam defender os principais pressupostos da fé,
aplicando a história bíblica à realidade vivida. Ele denuncia a rejeição do
povo de Deus.
Ele é acusado de duas
coisas:
A.
Este
homem não cessa de falar contra o lugar santo e contra a lei – (At 6.13).
B.
Esse
Jesus destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deu – (At 6.14).
Como ele se defende
das acusações?
Na primeira defesa ele
cita o profeta Isaias: “Assim diz o
Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me
edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso” (Is 66.1, At 66.1). Ele
faz esta citação de memória.
Estevão demonstra que
o conceito de um lugar sagrado, era frágil e inconsistente com a visão do
Antigo Testamento. Atribuir poder e sacralidade especial a um lugar como os
judeus estavam fazendo em relação ao templo de Herodes, não cabe na teologia
bíblica, e foi exatamente isto que Deus disse a Davi quando ele decidiu
construir uma casa para o Senhor. “Em
todo lugar em que andei com todo o Israel, falei, acaso, alguma palavra com
algum dos seus juízes, a quem mandei apascentar o meu povo, dizendo: Por que
não me edificais uma casa de cedro?” (1 Cr 17.6). A ideia de um local
sagrado estava na cabeça do povo de Israel, mas não era um projeto de Deus.
Numa viagem à Israel,
vendo milhares de pessoas orando no Muro das Lamentações em Jerusalém, uma
pessoa me perguntou: “Pastor, é válido orar neste muro?” E eu disse: “É válido
orar, não apenas neste muro, mas em qualquer lugar em que orarmos sinceramente
a Deus”. Não é o local que importa.
Este é o argumento de
Estevão quanto às acusações que lhe fizeram. Ele deixa claro que seu pensamento
estava alinhado com a visão teológica do Antigo Testamento. “Entretanto, não habita o Altíssimo em casas
feitas por mãos humanas” (At 7.48). Não dá para confinar e aprisionar Deus
em espaços sagrados, feitos por mãos humanas. Deus transcende a um local
sagrado, uma geografia delimitada. Deus é maior que o templo.
Nenhuma estrutura é
suficiente para contê-lo, Deus é maior que construções. Nenhuma construção é
casa de Deus. As pessoas que congregam são a casa de Deus.
Um local só é sagrado
porque Deus se encontra nele, no meio do seu povo. Quando as lâmpadas de um
templo se apagam, uma casa não é mais sagrada que qualquer outra. Templo é
feito de madeira, cimento, concreto. O Espírito Santo optou por morar em vida,
“ou porventura não sabeis que sois o templo do Espírito Santo?”
A casa de Deus é o
povo de Deus.
A segunda acusação feita
contra Estevão é a de que ele estava afirmando que Jesus destruiria aquele
lugar e mudaria seus costumes, e ele se defende citando o próprio Moisés: “Foi Moisés quem disse aos filhos de Israel:
Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim” (At
7.37). E demonstra como o povo de Israel não ouviu a Israel naquele tempo,
rejeitando a Deus e repelindo-o no seu coração (At 7.39), preferindo seguir
seus ídolos e assim como os pais, rejeitaram os profetas, os líderes judaicos
agora resistiam ao Espírito Santo (At 7.51), e assim, a história de rebeldia se
repetia (At 7.52).
Ora, na visão de
Estevão, o próprio Moisés estava apontando para um novo profeta. “O Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta
do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt 18.15).
E apesar da palavra de Moisés que eles precisavam seguir, eles, como os pais,
estavam ignorando. O erro, portanto, não era de Estevão, mas do povo que se recusava
a ouvir o profeta enviado por Deus.
Estas duas
argumentações estão devidamente fundamentadas nas Escrituras do Antigo
Testamento. Apenas alguém muito bem preparado, poderia fazer semelhantes
afirmações, citando os profetas, concatenando as ideias e demonstrando através
dos textos sagrados a coerência de seus argumentos. Ele estava fazendo este
discurso diante dos homens do Sinédrio, portanto, pessoas intelectualmente
preparadas, mas que “não podiam resistir
à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava” (At 6.10), e faltando a
capacidade de argumentação, o que fizeram? O que normalmente o ser humano faz.
“Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu
coração e rilhavam os dentes contra ele” (At 7.54). Não é assim que
procedemos quando perdemos a capacidade de nos defendermos? Agimos como
crianças que ficam mau humoradas e reativas.
Estevão se defende
demonstrando que no decorrer da história, Deus sempre age através de pessoas
para mudar o status quo.
Deus usou Abraão (At
7.2-8), mudando seus paradigmas, chamando-o para deixar os deuses de seus pais
e ir para uma terra que ele não conhecia, e que embora não tivesse filhos ele
creu que Deus lhe daria descendentes. Abraão, o pai da fé, teve coragem para
mudar por causa da obediência a Deus.
Deus usou José (At
7.9-16), que embora enfrentasse tantas adversidades, não resistiu a Deus, mas
submissamente o obedeceu.
Deus usou Moisés (At
7.17-29) Moisés foi um homem que até os seus quarenta anos não entendia bem sua
identidade e chamado, mas quando completou quarenta anos, algo aconteceu e
mudou sua história. Ele tentou resolveu a situação usando a força, mas ao invés
de se tornar um missionário, tornou-se um assassino. Ao invés de ser um
libertador, tornou-se um refugiado. Mas ai aconteceu algo sobrenatural e vem a
segunda parte da história (At 7.30-35). Deus lhe aparece e lhe dá poder para
libertar o povo. Estevão descreve a terceira parte da história. Após toda
manifestação de Deus a Moisés, o povo deixou de ouvi-lo, rejeitando o que ele
dizia e criando um sistema idolátrico.
Para concluir ele
afirma que da mesma forma os líderes do Sinédrio estavam agindo (At 7.51-53).
Eles estavam rejeitando a Moisés e os profetas, como seus pais fizeram.
Conclusão
Estevão demonstra que
isto estava acontecendo porque eles incorriam em três comportamentos perigosos.
Estas mesmas atitudes podem estar presentes na respostas que damos às verdades
de Deus ainda hoje.
Eles eram de dura
cerviz
– O que esta palavra significa? Cerviz é a parte posterior do pescoço nuca, ou
seja uma parte dura, rígida.
Significa literalmente
“obstinado” ou “teimoso”. Eram duros, resistentes, que não se curvavam e agiam
de forma irredutível, rebelde. Pessoas
de dura cerviz não "abaixam a cabeça". A expressão “cerviz”
aparece 23 vezes no Antigo Testamento e isto demonstra quão facilmente não
curvamos a nossa nuca diante de Deus.
A Revista Ultimato fez
o seguinte comentário sobre a dura cerviz: “ponha uma dobradiça no pescoço.
Baixe a cabeça, submeta-se. A cerviz dura é um problema realmente sério: “O
homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de
repente sem que haja cura” (Provérbios 29:1). Somente a dobradiça na parte
posterior do pescoço resolve esta questão. Você precisa se abaixar. Todos
precisam se abaixar. Sobretudo diante de Deus. Por causa da glória dEle e por
causa da miséria nossa. Este foi o pedido de Josué ao povo de Israel, depois da
ocupação e da partilha da Terra Prometida: “Inclinai o vosso coração ao Senhor
Deus de Israel” (Josué 24:24)”.
Eles tinham corações
incircuncisos
– a circuncisão no AT era um sinal feito no órgão sexual masculino, dias (Gn
17.12) . Era uma forma de marcar o povo de Deus e sua descendência. No NT, este
sinal é substituído pelo batismo (Cl 2.11-12).
No NT, Deus não está
interessado num corte na pele, mas na marca feita no coração, simbolizando a
obra de Deus no seu povo (Rm 2.25). Deus deseja fazer circuncisão no coração,
sinais que reflitam sua obra em nós. Deus quer descobrir a pele do nosso
coração que não permite que ele faça sua obra em nós. Os líderes judaicos precisavam circuncidar o coração e os ouvidos.
Da mesma forma o povo de Deus ainda hoje.
Desde o AT, Deus
demonstrava que seu propósito era a mudança do coração, e não do exterior. “Circuncidai, pois, o vosso coração espiritual;
retirando toda a obstrução carnal, e deixai de ser insubmissos e teimosos!”(Dt
10.16). “Purificai-vos ao Senhor,
circuncidai os vossos corações, homens de Judá e habitantes de Jerusalém”
(Jr 4.4). Deus estava apontando através dos profetas que sua obra precisava
aprofundar nos corações.
Eles resistiam ao
Espírito Santo
– A atitude deles não era apenas algo exterior, mas apontava para algo mais
profundo: Eles resistiam ao Espírito de Deus.
Resistir ao Espírito é
abandonar a possibilidade de arrependimento, se tornar insensível ao pecado e
resistente à santificação pessoal. Resistir ao Espírito Santo é recusar, de
forma consciente, a vontade divina transmitida.
Estevão afirma que a
atitude deles não era isolada, mas eles estavam continuamente resistindo ao Espírito Santo. Recusando de forma
deliberada, a obra de Deus em suas vidas. O verbo resistir usado no texto
originalmente vai além de uma mera resistência passiva e significa lutar
contra.
Por isto é apropriado
pensar na exortação bíblica: “Hoje, se
ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação”(Hb
3.15).
Depois destas denúncias,
a reação deles provou que eram verdadeiras.
Eles o apedrejaram
enquanto Estevão faz duas declarações importantes:
Primeiro, ele
presenciou a glória de Cristo junto ao Pai. “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé a direita de Deus”
(At 7.56). Ray Stedman acredita que todo mártir tem esta antecipação e gozo
celestial antes de sua morte. “Tenho a convicção de que todo mártir tem esta visão
e quando a morte se aproxima, eles tem uma visão antecipada da glória celestial”.
James Kennedy afirma que cerca de 40 milhões de pessoas já foram martirizadas
na história por se tornarem discípulos de Cristo.
Segundo, ele intercede
pelos algozes: “Senhor, não lhes imputes
este pecado! Com estas palavras, adormeceu”.
Tertuliano afirma que “o
sangue dos mártires é a semente da igreja”. Quando o povo de Deus é
martirizado, a igreja sempre cresce exponencialmente.
Vendo de perto a morte
de Estevão se encontrava seu promotor, sob cujos pés foram colocadas suas
roupas. Seu nome era Saulo, de Tarso. Ali Deus estava começando a trabalhar no coração
daquele que se tornaria o maior apóstolo de todos os tempos na história da
igreja cristã.
A morte de Estevão não
foi em vão.
Seu martírio era
semente.
Estevão foi um grande exemplo para nós diácono, temos que aprender muito com Esse Herói, amém!!!🙏🙏🙏
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