Introdução
De todos os reis de
Israel, Davi seguramente é o mais apreciado, tanto no seu estilo de vida,
relação com Deus e na liderança sobre o povo de Israel. Sua vida influenciou
diretamente toda uma geração de reis que surgiriam anos depois, isto é, ele não
apenas atuou de forma significativa em seus dias, mas delineou os rumos de
Israel por muitos anos.
Em muitos textos
bíblicos encontraremos princípios de sua liderança, mas para nossa reflexão no
momento, estaremos refletindo sobre seus princípios encontrados em um único
capitulo. Portanto, se você preferir outro titulo mais longo, ele poderia ser:
“O Estilo de liderança de Davi a partir de 1 Cr 12”.
Quais princípios podem ser encontrados neste texto?
1.
Davi estava
interessado em ter pessoas identificadas com ele - Durante 7 anos Davi
foi rei sobre uma parte de Israel, tendo sua sede em Hebrom (1 Cr 29.27), até
que, as pessoas foram aderindo e “todo
Israel se ajuntou a Davi dizendo: Somos do mesmo povo que tu és. Outrora, sendo
Saul ainda rei, eras tu que fazias saídas e entradas militares com Israel;
também o Senhor, teu Deus, te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel,
serás chefe sobre o meu povo de Israel” (1 Sm 11.1-2).
Este encontro é
importante por duas razões:
Primeiro, eles
reconhecem a importância de Davi na história, desde os dias de Saul. Eles
avaliam seu currículo e o validam;
Segundo, eles
reconhecem ainda que a unção que Samuel havia feito, muitos anos atrás, num
encontro quase secreto na casa de Jessé, quando Davi era ainda um adolescente e
derramou óleo sobre sua cabeça vinha de Deus.
Apesar de tudo, Davi
ainda encontrava forte resistência em alguns setores. Ser líder não é uma
tarefa muito fácil, mas ser reconhecido como líder é ainda mais desafiador.
Os anciãos de Israel
vieram num primeiro momento, mas uma parte importante de Israel, por não
estarem certos de que esta atitude era correta, parece ter se esquivado do encontro,
e agora, em Samuel 12.16-19, uma comitiva importante, vinda da tribo de Judá e
de Benjamin, finalmente reconhece sua liderança e aderem, pedindo para que ele
governe, chancelando o que o grupo maior anteriormente havia feito em 1 Sm
11.1-3.
Por que este registro
é importante?
Do ponto de vista político,
torna-se claro que nem todos vieram da primeira vez, e quem aparece agora para
apoiar foi a tribo de Judá e a de Benjamin (1 Sm 12.16).
Por que a adesão
destes dois grupos foi registrada separadamente e era importante?
Alguns eram de Judá, a
tribo da família de Davi. Apesar de fazerem parte do mesmo clã, curiosamente
parecem ter hesitado em apoiar Davi. Por que? O Pai de Davi, Jessé, não parecia
fazer parte da elite da tribo, o próprio Davi admite isto posteriormente. “Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é a minha
casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (1 Cr 17.16). Portanto, tais
famílias talvez tivessem dúvida sobre sua capacidade, ou mesmo inveja de não
ter sido um filho de uma família mais nobre a ser escolhido rei.
Outro aspecto
importante é que comparecem agora diante de Davi, os líderes da tribo de
Benjamin.
Esta tribo era e se
tornaria aquela que sempre mais questionaria a liderança de Davi, considerando
que o rei Saul deveria ter um herdeiro entre a sua tribo e não de outra. Havia
até mesmo herdeiros vivos como Mefibosete, que viviam na clandestinidade depois
da morte de seu pai Jônatas e seu avô Saul, e que era herdeiro legítimo e
candidato ao trono. Era natural que nesta tribo houvesse uma resistência maior
à sua liderança, afinal “muitos deles
eram pela casa de Saul”(1 Cr 12.29).
Desta forma, o texto
registra de forma intencional, a vinda dos representantes destes dois grupos,
mesmo depois do acordo tácito de todo Israel e Davi em 1 Cr 11.1-3, diante do
qual Davi havia sido novamente ungido, pelos anciãos de Israel, confirmando a
palavra anteriormente dada por Samuel, só agora eles decidem trazer também o
seu apoio.
Quando estes dois
grupos se manifestaram, torna-se claro que Davi está desconfiado dos seus
motivos e intenções. Davi não sabe se realmente poderia contar com eles, e sem
rodeios afirma: “Se vós vindes a mim
pacificamente e para me ajudar, o meu coração se unirá convosco; porém, se é
para me entregardes aos meus adversários, não havendo maldade em mim, o Deus de
nossos pais o veja e o repreenda” (1 Cr 12.17). Davi os convida para aderirem
de fato ou desaparecerem de sua presença. Davi foi bem direto e seco com eles.
Não dava para ser de forma diferente.
Davi queria ter
certeza se aquelas pessoas estavam de fato com ele, e se poderia contar com
elas. Ter alguém no time que o deixasse inseguro era muito temerário. Davi
temia até mesmo uma infiltração, traição ou conspiração, que o levasse a cair
diante de seus inimigos. Era necessário cuidado.
Desta forma, o
princípio da fidelidade era fundamental. Ele queria aliados, pessoas que
somassem com ele, não alguém que precisasse ser monitorado ou que gerasse
desconfiança.
Este é um critério
importante para aqueles que estão formando equipes de trabalhos. Escolher pessoas
com quem possam contar e que estão identificados com a instituição e com o
projeto, pessoas que inspirem confiança. Por que razão formar uma equipe com
suspeita e outras motivações se é possível ter pessoas aliada e de confiança?
2.
Davi procurou pessoas
conectadas com seu tempo – “Dos filhos de
Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos
chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens” (1 Cr 12.32).
Davi contrata de uma
vez, duzentas pessoas de uma só tribo com emprego direto, fora seus auxiliares.
O que ele achou de tão extraordinário nestes jovens? Não seria mais importante
diversificar e procurar chefes de outras tribos, dando-lhes assim senso de
pertencimento?
A resposta pode ser
encontrada no texto. Eles tinham duas características específicas: Eram
conhecedores da época e sabiam o que Israel devia fazer.
A.
Conhecedores da época – Eram jovens com
conceitos modernos de liderança, tinham informações e conhecimentos, formavam
uma rede de pessoas com informações certas sobre os fatos, tendências, riscos e
oportunidades. Eles conheciam seu tempo.
Eles eram jovens num
mundo velho. Visionários, contemporâneos, atualizados e identificados com os
fatos.
Muitas vezes somos
velhos num mundo novo.
Ignoramos o que
acontece ao redor, perdemos a perspectiva das mudanças e transformações sociais
e culturais, nos distanciamos dos desafios, não sabemos mais responder às
questões, porque ficamos muito distantes das controvérsias. Nos isolamos.
John Stott afirma que
o grande problema da igreja é que ela sempre gera uma polaridade teológica. De
um lado surgem os liberais que possuem relevância sem conteúdo; de outro, os
ortodoxos, que possuem conteúdo sem relevância. Saber levantar as questões
certas, nos ajuda a dar as respostas certas.
Os autores Martin Glen
e Gary L. MacIntosh, escreveram em 1993, um livro desafiador com o título: The
Issachar Factor: Understanding Trends that confront your church and designing a
strategy for success (O Fator Issacar: compreendendo as tendências que confrontam
sua igreja e construindo uma estratégia para o sucesso). O que eles tentam
mostrar é que os auxiliares de Davi foram enviados por Deus com habilidades
específicas. Alguns construíam armas de guerra, outros demonstravam caráter,
coragem e lealdade, mas talvez os homens mais importantes entre todos fossem
estes 200, que eram estrategistas e desenvolviam um plano mestre para o reino
de Israel. Eles foram escolhidos por causa dos seus insights e visão, eram
capazes de antecipar determinadas questões mais sutis e ter um plano de ação.
Aqueles rapazes eram
conhecedores da época.
B.
Eles tinham estratégias certas – Sabiam o que Israel
deveria fazer.
Este é o resultado de
leituras corretas. Elas dão estratégias corretas.
Eles não apenas
conheciam seu tempo mas sabiam o que Israel deveria fazer.
Não apenas levantavam
as questões corretas, mas tinham soluções corretas.
Boa parte das pessoas
não sabe o que fazer porque ignoram o que está acontecendo. Dão respostas
inadequadas porque fazem leituras equivocadas. Muitas vezes encontramos nos muros
na beira de estrada, pessoas bem intencionadas escrevendo: “Jesus é a
resposta!”. Certa vez, encontrei embaixo de uma destas frases, um comentário ácido:
“Qual é a pergunta?”
Se não sabemos o que
está acontecendo, vamos investir recursos em projetos inadequados, as
estruturas e prédios da igreja serão inapropriados ou obsoletos, as propostas
de ação serão pouco atraentes e relevantes, os sermões estarão distante das
questões contemporâneas e que afligem o coração daqueles que buscam resposta. Boa parte da ineficiência pastoral não surge
por causa de má vontade ou preguiça, mas pelo simples fato de não saberem o que
está acontecendo ao redor. Os problemas desta geração não são identificados e a
resposta na Palavra de Deus não são aplicadas com sabedoria.
Empresas e
instituições precisam se atualizar, conhecer as regras do mercado, descobrir
novos produtos, fazer de forma inteligente e diferente, observar as tendências
dos consumidores e exigentes clientes. Igrejas e ministros precisam entender a
sua época para desenvolverem ministérios aplicados à realidade, criarem
estruturas adequadas, e pregarem sermões com mais relevância.
A Igreja precisa saber
o que deve fazer, que direção seguir, que estratégias adotar num mundo em
transformação. Foi por isto que Davi contratou estes 200 jovens da tribo de
Issacar.
3.
Davi procura pessoas
motivadas – “Dos filhos de Zebulom,
dos capazes de sair à guerra, providos com todas as armas de guerra, cinquenta
mil, destros para ordenar uma batalha com ânimo resoluto” (1 Cr 12.33).
Davi tinha muitos
guerreiros à sua disposição, seu exército era gigantesco, chegando a quase um
milhão de homens. A menção aos 50 mil homens de Zebulom é interessante por
causa dos detalhes: além de desenvolverem armas de guerra, eles não demonstravam
atitude de desânimo e negligência, mas ordenavam a batalha com “ânimo
resoluto”. Não tinham mau humor nem faziam corpo mole.
Davi descobriu este
aspecto nas conversas que teve com os chefes daquela tribo. Eram pessoas
empolgadas, falavam destemidamente, estavam prontos para sair e enfrentar o que
tivessem diante deles. Nada abatia o ânimo e a disposição. Eram homens
encorajados.
Trabalhar com equipes
desmotivadas é fracasso antecipado.
Muitas igrejas encontram-se
deprimidas e desanimadas e os pastores ficam tentando encorajar pessoas que não
querem se dispor, porque estão abatidas. Tenho afirmado que é mais difícil trabalhar
com 100 pessoas de uma igreja desanimada, que com 30 pessoas corretamente
desafiadas e empolgadas, a chance de eficácia será maior com este último e
pequeno grupo. Motivação é a chave da eficiência.
Davi encontrou na
tribo de Zebulom pessoas que tinham ânimo resoluto. Como é bom estar ao lado de
pessoas que estão motivadas para um determinado projeto. A
melhor condição para manter alguém numa liderança criativa é entusiasmo, isto
acontece quando a pessoa sente-se viva. Ninguém que se sinta desmotivado vai
produzir bem. Sentimentos como insatisfação, indiferença, passividade, apatia e
rotina não estão associados à pessoas vitoriosas. As palavras chaves são
empolgação e paixão. Atividades que não geram entusiasmo, não promovem boas
performances.
O fator
motivacional intrínseco
No mundo dos negócios, coisas como dinheiro,
ações, prestígio, posições, são fortes fatores. Contudo, hoje se tem
questionado o que pode colocar o coração da pessoa em fogo. Por que pessoas
sacrificam suas vidas por ideologias, obras de ações social, missões? Os pesquisadores tentam encontrar uma
explicação para tais ações e a resposta tem sido surpreendente.
Pessoas no mundo dos negócios não são
voluntárias, mas pagas. Entretanto, a conclusão que se chega é que se a
motivação é apenas financeira, e nunca uma fonte de satisfação, as pessoas
ignorarão outras necessidades fundamentais, como aprendizado por prazer,
orgulho, competência e serviço aos outros. O fator motivacional será
exclusivamente utilitarista, e o resultado desastroso para as organizações.
Quando contratamos apenas a força de trabalho das pessoas, mas a mente e o
coração delas não estão envolvidos, perdemos o mais precioso retorno que existe
na vida humana: a motivação.
Outra coisa a considerar. Se a única
recompensa para os funcionários é econômica, eles nunca contribuirão mais que o
mínimo, mas sentir-se-ão alienados e deixarão seu trabalho por outro igual ou
que pague melhor. Pesquisas têm demonstrado que quando se tem apenas recompensas
monetárias isto pode até mesmo diminuir o desejo de realizar a tarefa.
Obviamente isto não é um argumento para exploração do trabalho mal remunerado.
Certamente devemos dar salários justos e benefícios, contudo incentivos
meramente externos, limitam as pessoas na sua criatividade. As pessoas devem
sentir que seu projeto desafia, e ao mesmo tempo, dá prazer.
Davi encontrou na tribo de Zebulom o elemento
fundamental para ter um exército aguerrido. Ele encontrou pessoas encorajadas,
desafiadas e animadas. Feliz o líder que encontra pessoas assim. O que
impulsiona meu ministério são desafios novos, portas que se abrem,
perspectivas. Quando a motivação se perde pelo caminho, o impulso propulsor
enfraquece e a eficiência desaparece.
Motivação é a chave propulsora para grandes
conquistas.
Os
efeitos da motivação
O final deste capítulo que estamos estudando é
vigoroso. Ele afirma que “havia regozijo
em Israel”. Isto é motivação. As pessoas fazem as coisas e estão alegres em
fazê-las. Elas contribuem e se envolvem porque se sentem parte daquilo e isto
traz alegria aos seus corações.
A motivação gera dois resultados espontâneos:
a. Atrai
recursos – “Estiveram ali com Davi três
dias, comendo e bebendo; porque seus irmãos lhes tinham feito provisões. E
também seus vizinhos de mais perto, até Issacar, Zebulom e Naftali, trouxeram
pão sobre jumentos, sobre camelos, sobre mulos e sobre bois, provisões de
farinha e pastas de figos, e cachos de passas, e vinho, e azeite, e bois, e
gado miúdo em abundância; porque havia regozijo em Israel”.
Quando há motivação, os recursos surgem.
Os americanos afirmam que “money follows
vision” (dinheiro segue visão). Podemos da mesma forma afirmar que “motivação
atrai recursos”. Pessoas motivadas se tornam liberais com seu tempo e bens.
Elas querem participar.
O texto mostra como surgem as provisões.
Demonstra como acontece a mobilização, diferentes tribos envolvidas, animais
carregados de provisão trazendo comida, e porque tudo isto acontece? “Porque havia regozijo em Israel”.
“Liderança é a capacidade de fazer com que o indivíduo faça aquilo que
você quer, quando você quer, do jeito que você quer, porque ele quer fazê-lo”
(Dwight D. Eisenhover).
Não haverá falta de recursos, se houver
abundância de alegria e motivação.
b. Traz
alegria – “havia regozijo em Israel”. Vocês
acham que as pessoas ficarão tristes em contribuir e doar? Não! Elas querem
fazer isto. Motivação traz alegria, servir traz alegria. Por todos os lados
encontraremos pessoas dispostas ao sacrifício, desde que tenham a motivação
adequada.
Não há falta de recursos – o que encontramos é
falta de motivação.
Certo tesoureiro trouxe o seguinte recado para
a igreja:
Irmãos, temos uma notícia para dar a igreja, e
ela tem três componentes: O negativo, o positivo, e o outro, talvez.
O negativo é: O telhado da igreja está
colocando em risco nossas vidas e precisa ser imediatamente reparado;
O positivo é: Já temos os recursos para a
reforma.
O talvez é: O dinheiro ainda está no bolso dos
irmãos.
Pessoas motivadas fazem as coisas porque tem
alegria em fazê-lo. Se as pessoas debaixo de sua liderança e não tem feito as
coisas com alegria, certamente isto se dá porque não estão suficientemente
motivadas.
4. Davi procura pessoas dispostas a apoiar
seu projeto – “Todos
estes homens de guerra, postos em ordem de batalha, vieram a Hebrom, resolvidos
a fazer Davi rei sobre todo Israel; também todo o resto de Israel era unanime no
propósito de fazer a Davi rei” (1 Cr 12.38).
Qual era o projeto central deste momento da
vida de Davi? Sua efetividade no reinado. Portanto, seus aliados precisavam
estar focados nisto. O reino de Davi precisa ser estabelecido em bases sólidas
e definitivas. Ele precisava de pessoas engajadas neste projeto.
Davi sabia que existiam focos de resistência
de pessoas e grupos, principalmente da tribo de Benjamin, “porque até então havia ainda muitos deles que eram pela casa de Saul”
(1 Cr 12.29). O processo de transição do reinado estava sendo questionado, e na
verdade nunca deixou de ser questionado, mesmo após muitos anos de sua função
de rei.
A realidade é que toda liderança encontra
oposição, velada ou declarada. Por isto precisamos de pessoas na liderança que
estejam “resolvidas”, como o texto afirma, a apoiar o projeto. Se sua liderança
for isolada, certamente ela não se firma diante da oposição e nos dias de
questionamentos. É preciso considerar como é o nosso desempenho como líder. Os
resultados da equipe dependem da forma como o grupo é conduzido e se as pessoas
apoiam a sua liderança.
Quando a liderança é muito questionada, ela
enfraquece seu poder de aglutinação. Davi queria se certificar de que aqueles
homens que caminhavam ao seu lado estavam dispostos a seguir sua liderança.
Davi se cercou de homens que o apoiavam.
Muitas teorias de liderança afirmam que é
fundamental que você tenha pessoas que, não apenas o apoiem, mas que questionem
a sua liderança. Naturalmente opiniões diferentes e até mesmo divergentes podem
fortalecer o projeto, quando o grupo está alinhado e as divergências acontecem
no campo técnico ou profissional, ou mesmo de estilo, mas quando a liderança
enfrenta oposição no nível pessoal, fica difícil alcançar efetividade. Os auxiliares
de Davi estavam alinhados e dispostos a apoiar o projeto.
5. Davi se cerca de homens valentes - A expressão “homens valentes”, chama a atenção
porque aparece 5 vezes apenas neste capítulo (1 Cr 12.1, 8, 21, 28, 30). Ela
pode ainda ser encontrada em 1 Cr 11 e 2 Sm 23.8-39 quando surge a lista dos
valentes de Davi.
Homens valentes possuem pelo menos três
características:
Primeira, homens valentes não recuam diante da
oposição. Não tem medo da baioneta, não correm quando veem a espada, não
amarelam. Homens fracos fogem diante do primeiro embate, não perseveram quando
o calor da guerra se intensifica.
“Quando o comandante demonstrar fraqueza, não
tiver autoridade, suas ordens não forem claras e seus oficiais e tropas forem
indisciplinados, o resultado será o caos e a desorganização absoluta” (Sun
Tzu).
Segunda, homens valentes assumem riscos.
Nem todos estão dispostos a saírem da sua zona
de conforto em busca de novos desafios. É fácil acomodar, tornar-se medíocre,
perder sonhos. Mas só conseguem grandes vitórias aqueles que não temem correr
risco. Um ditado japonês afirma que “o medo de perder não deixa a gente
ganhar”.
Paulo afirma a Timóteo: “Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de amor, poder e
moderação”. É preciso ter coragem
para ultrapassar os limites e desafiar o status quo. É importante considerar
que “existe o risco que você não pode jamais correr, e existe o risco que você
não pode deixar de correr” (Peter Drucker).
Terceira, homens valentes valem mais que
muitos homens ordinários.
Por isto a expressão “homens valentes” aparece
cinco vezes apenas neste capítulo. A melhor definição para estes homens surge
no vs 14: “o menor valia por cem homens,
e o maior, por mil”.
Poucos homens valentes valem mais do que um
grande número de pessoas infantilizadas e inseguras.
Todos desejamos aumentar
o raio de influência, ter liderança mais expressiva, mas talvez o segredo seja
ter menos pessoas, com mais ousadia. Ter pessoas que valham por cem e até mesmo
por mil, como nos afirma o texto. Atribui-se a Machado de Assis a seguinte
frase: “Espere o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para
escalar até o topo da árvore”.
6.
Davi procura pessoas com qualificações
específicas - Todo liderança precisa de aparelhamento. Por
isto ele buscava, não apenas homens valentes, mas se cercou de homens que
sabiam construir “armas de guerra”, não apenas estrategistas, mas
técnicos; não apenas teóricos, mas
práticos.
Dois grupos com estas
características se destacam no texto: Zebulom
(1 Cr 12.33) e Manassés (1 Cr 12.37). Davi se cercou de homens que tinham
capacidade de criar armas bélicas, que tinham estruturas de montagem, oficinas.
Ir para a guerra com armas eficientes, dá condições. Não adianta ter apenas boa
vontade, é necessário ter estruturas para alcançar resultados.
Observem as igrejas que
crescem. Um dos fatores positivos é o fato de que possuem ou geram estrutura de
crescimento. É claro que estruturas por si só, não geram crescimento, mas elas
são fundamentais para acomodar o crescimento. É impossível expandir sem que se
crie estruturas adequadas, e a falta de tais estruturas torna-se fator
impeditivo para a expansão. Já viram como as igrejas crescem até o tamanho de
seu espaço? Não é um fator curioso?
A falta de logística, de boas
dependências, de adequação de espaço, móveis pode estancar o processo e
asfixiar o avanço. Quando uma igreja cresce ela precisa de mais estrutura para
crianças, berçários, salas adequadas, estacionamento.
Davi traz para perto de
si as tribos que se equiparam com armas de guerra. Não bastavam homens
dispostos a guerrear, era necessário ter poderio bélico que se traduzia por
armas, estruturas. Falta de logística pode atrasar e impedir a efetividade da
obra.
7. Davi
resgata valores espirituais – “E Davi tomou conselho com os
capitães dos milhares, e das centenas, e com todos os líderes. E disse Davi a
toda a congregação de Israel: Se bem vos parece, e se isto vem do Senhor nosso
Deus, enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as
terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levitas nas suas cidades e nos seus
arrabaldes, para que se reúnam conosco; E tornemos a trazer para nós a arca do
nosso Deus; porque não a buscamos nos dias de Saul. Então disse toda a
congregação que se fizesse assim; porque este negócio pareceu reto aos olhos de
todo o povo” (1 Cr 13.1-4).
Davi não apenas pensa na logística, nas estratégias, nos
recursos humanos e tecnológicos, mas coloca em pauta a questão que certamente
era a mais crucial e necessária: Deus no centro de tudo.
Durante 390 anos a arca ficou nas tendas de Shiloh, o mesmo
local onde Deus se manifestou a Samuel e que era o centro religioso de Israel.
A arca simbolizava a presença de Deus, era diante dela que o povo invocava o nome
do Senhor (1 Cr 13.6), e Davi, num ato ousado e resoluto, decide trazê-la para
perto do palácio. A arca não pode ficar longe do rei. A presença de Deus não
pode estar longe das decisões da liderança. Deus precisa ser acessível aos líderes.
Davi resgata e define o que era essencial. Nos dias de Saul a
arca não estava no centro das decisões, “nos
dias de Saul não nos valemos dela” (1 Cr 13.3). Isto mostra que
infelizmente é possível liderar sem considerar Deus e sem se importar com ele. Para
Saul, Deus era uma presença periférica. Agora, Davi decide colocá-la novamente
no centro da vida de Israel. Deus não poderia ficar distanciado da liderança e
das decisões que precisavam tomar.
Isto coloca diante de nós uma questão fundamental: qual o lugar
que a arca tem ocupado em nossas vidas? Temos nos valido dela ou a desprezamos
como fez Saul? Davi entendeu que liderar implicava num ato de dependência
diante de Deus. Não dava para fazer isto sem a presença de Deus, ao seu lado,
para ser consultada. Por isto Davi vai com toda a liderança a Quiriate-Jearim,
de onde trazem a arca.
Conclusão
A estratégia de Davi e seus princípios são
desafiadores ainda hoje. Naturalmente suas necessidades eram diferentes das
nossas, sua cultura e universo demandavam atitudes diferentes, mas os
princípios ainda são os mesmos.
Princípios são universais, valem em qualquer
cultura e ultrapassam gerações. Por isto Victor Hugo afirmou: “Mude suas
opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes”.
Princípios jamais perdem seus valores. Por isto é que, se aplicados e quando
aplicados, produzem resultados semelhantes.
Que os princípios de liderança de Davi sejam
eficientes e aplicáveis em nossa vida, para produzirmos os frutos que Deus
deseja através de nossas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário