terça-feira, 8 de maio de 2018

1 Cr 12 Princípios de liderança de Davi




Introdução

De todos os reis de Israel, Davi seguramente é o mais apreciado, tanto no seu estilo de vida, relação com Deus e na liderança sobre o povo de Israel. Sua vida influenciou diretamente toda uma geração de reis que surgiriam anos depois, isto é, ele não apenas atuou de forma significativa em seus dias, mas delineou os rumos de Israel por muitos anos.
Em muitos textos bíblicos encontraremos princípios de sua liderança, mas para nossa reflexão no momento, estaremos refletindo sobre seus princípios encontrados em um único capitulo. Portanto, se você preferir outro titulo mais longo, ele poderia ser: “O Estilo de liderança de Davi a partir de 1 Cr 12”.

Quais princípios podem ser encontrados neste texto?

1.     Davi estava interessado em ter pessoas identificadas com ele - Durante 7 anos Davi foi rei sobre uma parte de Israel, tendo sua sede em Hebrom (1 Cr 29.27), até que, as pessoas foram aderindo e “todo Israel se ajuntou a Davi dizendo: Somos do mesmo povo que tu és. Outrora, sendo Saul ainda rei, eras tu que fazias saídas e entradas militares com Israel; também o Senhor, teu Deus, te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel, serás chefe sobre o meu povo de Israel” (1 Sm 11.1-2).

Este encontro é importante por duas razões:
Primeiro, eles reconhecem a importância de Davi na história, desde os dias de Saul. Eles avaliam seu currículo e o validam;
Segundo, eles reconhecem ainda que a unção que Samuel havia feito, muitos anos atrás, num encontro quase secreto na casa de Jessé, quando Davi era ainda um adolescente e derramou óleo sobre sua cabeça vinha de Deus.
Apesar de tudo, Davi ainda encontrava forte resistência em alguns setores. Ser líder não é uma tarefa muito fácil, mas ser reconhecido como líder é ainda mais desafiador.
Os anciãos de Israel vieram num primeiro momento, mas uma parte importante de Israel, por não estarem certos de que esta atitude era correta, parece ter se esquivado do encontro, e agora, em Samuel 12.16-19, uma comitiva importante, vinda da tribo de Judá e de Benjamin, finalmente reconhece sua liderança e aderem, pedindo para que ele governe, chancelando o que o grupo maior anteriormente havia feito em 1 Sm 11.1-3.

Por que este registro é importante?
Do ponto de vista político, torna-se claro que nem todos vieram da primeira vez, e quem aparece agora para apoiar foi a tribo de Judá e a de Benjamin (1 Sm 12.16).
Por que a adesão destes dois grupos foi registrada separadamente e era importante?

Alguns eram de Judá, a tribo da família de Davi. Apesar de fazerem parte do mesmo clã, curiosamente parecem ter hesitado em apoiar Davi. Por que? O Pai de Davi, Jessé, não parecia fazer parte da elite da tribo, o próprio Davi admite isto posteriormente. “Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (1 Cr 17.16). Portanto, tais famílias talvez tivessem dúvida sobre sua capacidade, ou mesmo inveja de não ter sido um filho de uma família mais nobre a ser escolhido rei.
Outro aspecto importante é que comparecem agora diante de Davi, os líderes da tribo de Benjamin.
Esta tribo era e se tornaria aquela que sempre mais questionaria a liderança de Davi, considerando que o rei Saul deveria ter um herdeiro entre a sua tribo e não de outra. Havia até mesmo herdeiros vivos como Mefibosete, que viviam na clandestinidade depois da morte de seu pai Jônatas e seu avô Saul, e que era herdeiro legítimo e candidato ao trono. Era natural que nesta tribo houvesse uma resistência maior à sua liderança, afinal “muitos deles eram pela casa de Saul”(1 Cr 12.29).

Desta forma, o texto registra de forma intencional, a vinda dos representantes destes dois grupos, mesmo depois do acordo tácito de todo Israel e Davi em 1 Cr 11.1-3, diante do qual Davi havia sido novamente ungido, pelos anciãos de Israel, confirmando a palavra anteriormente dada por Samuel, só agora eles decidem trazer também o seu apoio.

Quando estes dois grupos se manifestaram, torna-se claro que Davi está desconfiado dos seus motivos e intenções. Davi não sabe se realmente poderia contar com eles, e sem rodeios afirma: “Se vós vindes a mim pacificamente e para me ajudar, o meu coração se unirá convosco; porém, se é para me entregardes aos meus adversários, não havendo maldade em mim, o Deus de nossos pais o veja e o repreenda” (1 Cr 12.17). Davi os convida para aderirem de fato ou desaparecerem de sua presença. Davi foi bem direto e seco com eles. Não dava para ser de forma diferente.
Davi queria ter certeza se aquelas pessoas estavam de fato com ele, e se poderia contar com elas. Ter alguém no time que o deixasse inseguro era muito temerário. Davi temia até mesmo uma infiltração, traição ou conspiração, que o levasse a cair diante de seus inimigos. Era necessário cuidado.
Desta forma, o princípio da fidelidade era fundamental. Ele queria aliados, pessoas que somassem com ele, não alguém que precisasse ser monitorado ou que gerasse desconfiança.
Este é um critério importante para aqueles que estão formando equipes de trabalhos. Escolher pessoas com quem possam contar e que estão identificados com a instituição e com o projeto, pessoas que inspirem confiança. Por que razão formar uma equipe com suspeita e outras motivações se é possível ter pessoas aliada e de confiança?

2.     Davi procurou pessoas conectadas com seu tempo – Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens” (1 Cr 12.32).

Davi contrata de uma vez, duzentas pessoas de uma só tribo com emprego direto, fora seus auxiliares. O que ele achou de tão extraordinário nestes jovens? Não seria mais importante diversificar e procurar chefes de outras tribos, dando-lhes assim senso de pertencimento?
A resposta pode ser encontrada no texto. Eles tinham duas características específicas: Eram conhecedores da época e sabiam o que Israel devia fazer.

A.   Conhecedores da época – Eram jovens com conceitos modernos de liderança, tinham informações e conhecimentos, formavam uma rede de pessoas com informações certas sobre os fatos, tendências, riscos e oportunidades. Eles conheciam seu tempo.

Eles eram jovens num mundo velho. Visionários, contemporâneos, atualizados e identificados com os fatos.
Muitas vezes somos velhos num mundo novo.

Ignoramos o que acontece ao redor, perdemos a perspectiva das mudanças e transformações sociais e culturais, nos distanciamos dos desafios, não sabemos mais responder às questões, porque ficamos muito distantes das controvérsias. Nos isolamos.
John Stott afirma que o grande problema da igreja é que ela sempre gera uma polaridade teológica. De um lado surgem os liberais que possuem relevância sem conteúdo; de outro, os ortodoxos, que possuem conteúdo sem relevância. Saber levantar as questões certas, nos ajuda a dar as respostas certas.

Os autores Martin Glen e Gary L. MacIntosh, escreveram em 1993, um livro desafiador com o título: The Issachar Factor: Understanding Trends that confront your church and designing a strategy for success (O Fator Issacar: compreendendo as tendências que confrontam sua igreja e construindo uma estratégia para o sucesso). O que eles tentam mostrar é que os auxiliares de Davi foram enviados por Deus com habilidades específicas. Alguns construíam armas de guerra, outros demonstravam caráter, coragem e lealdade, mas talvez os homens mais importantes entre todos fossem estes 200, que eram estrategistas e desenvolviam um plano mestre para o reino de Israel. Eles foram escolhidos por causa dos seus insights e visão, eram capazes de antecipar determinadas questões mais sutis e ter um plano de ação.
Aqueles rapazes eram conhecedores da época.

B.    Eles tinham estratégias certas – Sabiam o que Israel deveria fazer.

Este é o resultado de leituras corretas. Elas dão estratégias corretas.
Eles não apenas conheciam seu tempo mas sabiam o que Israel deveria fazer.
Não apenas levantavam as questões corretas, mas tinham soluções corretas.

Boa parte das pessoas não sabe o que fazer porque ignoram o que está acontecendo. Dão respostas inadequadas porque fazem leituras equivocadas. Muitas vezes encontramos nos muros na beira de estrada, pessoas bem intencionadas escrevendo: “Jesus é a resposta!”. Certa vez, encontrei embaixo de uma destas frases, um comentário ácido: “Qual é a pergunta?”

Se não sabemos o que está acontecendo, vamos investir recursos em projetos inadequados, as estruturas e prédios da igreja serão inapropriados ou obsoletos, as propostas de ação serão pouco atraentes e relevantes, os sermões estarão distante das questões contemporâneas e que afligem o coração daqueles que buscam resposta.  Boa parte da ineficiência pastoral não surge por causa de má vontade ou preguiça, mas pelo simples fato de não saberem o que está acontecendo ao redor. Os problemas desta geração não são identificados e a resposta na Palavra de Deus não são aplicadas com sabedoria.
Empresas e instituições precisam se atualizar, conhecer as regras do mercado, descobrir novos produtos, fazer de forma inteligente e diferente, observar as tendências dos consumidores e exigentes clientes. Igrejas e ministros precisam entender a sua época para desenvolverem ministérios aplicados à realidade, criarem estruturas adequadas, e pregarem sermões com mais relevância.
A Igreja precisa saber o que deve fazer, que direção seguir, que estratégias adotar num mundo em transformação. Foi por isto que Davi contratou estes 200 jovens da tribo de Issacar.

3.     Davi procura pessoas motivadas – “Dos filhos de Zebulom, dos capazes de sair à guerra, providos com todas as armas de guerra, cinquenta mil, destros para ordenar uma batalha com ânimo resoluto” (1 Cr 12.33).

Davi tinha muitos guerreiros à sua disposição, seu exército era gigantesco, chegando a quase um milhão de homens. A menção aos 50 mil homens de Zebulom é interessante por causa dos detalhes: além de desenvolverem armas de guerra, eles não demonstravam atitude de desânimo e negligência, mas ordenavam a batalha com “ânimo resoluto”. Não tinham mau humor nem faziam corpo mole.
Davi descobriu este aspecto nas conversas que teve com os chefes daquela tribo. Eram pessoas empolgadas, falavam destemidamente, estavam prontos para sair e enfrentar o que tivessem diante deles. Nada abatia o ânimo e a disposição. Eram homens encorajados.

Trabalhar com equipes desmotivadas é fracasso antecipado.

Muitas igrejas encontram-se deprimidas e desanimadas e os pastores ficam tentando encorajar pessoas que não querem se dispor, porque estão abatidas. Tenho afirmado que é mais difícil trabalhar com 100 pessoas de uma igreja desanimada, que com 30 pessoas corretamente desafiadas e empolgadas, a chance de eficácia será maior com este último e pequeno grupo. Motivação é a chave da eficiência.
Davi encontrou na tribo de Zebulom pessoas que tinham ânimo resoluto. Como é bom estar ao lado de pessoas que estão motivadas para um determinado projeto. A melhor condição para manter alguém numa liderança criativa é entusiasmo, isto acontece quando a pessoa sente-se viva. Ninguém que se sinta desmotivado vai produzir bem. Sentimentos como insatisfação, indiferença, passividade, apatia e rotina não estão associados à pessoas vitoriosas. As palavras chaves são empolgação e paixão. Atividades que não geram entusiasmo, não promovem boas performances.

O fator  motivacional intrínseco

No mundo dos negócios, coisas como dinheiro, ações, prestígio, posições, são fortes fatores. Contudo, hoje se tem questionado o que pode colocar o coração da pessoa em fogo. Por que pessoas sacrificam suas vidas por ideologias, obras de ações social, missões?  Os pesquisadores tentam encontrar uma explicação para tais ações e a resposta tem sido surpreendente.

Pessoas no mundo dos negócios não são voluntárias, mas pagas. Entretanto, a conclusão que se chega é que se a motivação é apenas financeira, e nunca uma fonte de satisfação, as pessoas ignorarão outras necessidades fundamentais, como aprendizado por prazer, orgulho, competência e serviço aos outros. O fator motivacional será exclusivamente utilitarista, e o resultado desastroso para as organizações. Quando contratamos apenas a força de trabalho das pessoas, mas a mente e o coração delas não estão envolvidos, perdemos o mais precioso retorno que existe na vida humana: a motivação.

Outra coisa a considerar. Se a única recompensa para os funcionários é econômica, eles nunca contribuirão mais que o mínimo, mas sentir-se-ão alienados e deixarão seu trabalho por outro igual ou que pague melhor. Pesquisas têm demonstrado que quando se tem apenas recompensas monetárias isto pode até mesmo diminuir o desejo de realizar a tarefa. Obviamente isto não é um argumento para exploração do trabalho mal remunerado. Certamente devemos dar salários justos e benefícios, contudo incentivos meramente externos, limitam as pessoas na sua criatividade. As pessoas devem sentir que seu projeto desafia, e ao mesmo tempo, dá prazer.
Davi encontrou na tribo de Zebulom o elemento fundamental para ter um exército aguerrido. Ele encontrou pessoas encorajadas, desafiadas e animadas. Feliz o líder que encontra pessoas assim. O que impulsiona meu ministério são desafios novos, portas que se abrem, perspectivas. Quando a motivação se perde pelo caminho, o impulso propulsor enfraquece e a eficiência desaparece.
Motivação é a chave propulsora para grandes conquistas.

Os efeitos da motivação
O final deste capítulo que estamos estudando é vigoroso. Ele afirma que “havia regozijo em Israel”. Isto é motivação. As pessoas fazem as coisas e estão alegres em fazê-las. Elas contribuem e se envolvem porque se sentem parte daquilo e isto traz alegria aos seus corações.

A motivação gera dois resultados espontâneos:

a.     Atrai recursos – “Estiveram ali com Davi três dias, comendo e bebendo; porque seus irmãos lhes tinham feito provisões. E também seus vizinhos de mais perto, até Issacar, Zebulom e Naftali, trouxeram pão sobre jumentos, sobre camelos, sobre mulos e sobre bois, provisões de farinha e pastas de figos, e cachos de passas, e vinho, e azeite, e bois, e gado miúdo em abundância; porque havia regozijo em Israel”.

Quando há motivação, os recursos surgem.

Os americanos afirmam que “money follows vision” (dinheiro segue visão). Podemos da mesma forma afirmar que “motivação atrai recursos”. Pessoas motivadas se tornam liberais com seu tempo e bens. Elas querem participar.
O texto mostra como surgem as provisões. Demonstra como acontece a mobilização, diferentes tribos envolvidas, animais carregados de provisão trazendo comida, e porque tudo isto acontece? “Porque havia regozijo em Israel”.
“Liderança é a capacidade de fazer com que o indivíduo faça aquilo que você quer, quando você quer, do jeito que você quer, porque ele quer fazê-lo” (Dwight D. Eisenhover).

Não haverá falta de recursos, se houver abundância de alegria e motivação.

b.     Traz alegria – “havia regozijo em Israel”. Vocês acham que as pessoas ficarão tristes em contribuir e doar? Não! Elas querem fazer isto. Motivação traz alegria, servir traz alegria. Por todos os lados encontraremos pessoas dispostas ao sacrifício, desde que tenham a motivação adequada.

Não há falta de recursos – o que encontramos é falta de motivação.

Certo tesoureiro trouxe o seguinte recado para a igreja:
Irmãos, temos uma notícia para dar a igreja, e ela tem três componentes: O negativo, o positivo, e o outro, talvez.
O negativo é: O telhado da igreja está colocando em risco nossas vidas e precisa ser imediatamente reparado;
O positivo é: Já temos os recursos para a reforma.
O talvez é: O dinheiro ainda está no bolso dos irmãos.

Pessoas motivadas fazem as coisas porque tem alegria em fazê-lo. Se as pessoas debaixo de sua liderança e não tem feito as coisas com alegria, certamente isto se dá porque não estão suficientemente motivadas.

4.     Davi procura pessoas dispostas a apoiar seu projeto – “Todos estes homens de guerra, postos em ordem de batalha, vieram a Hebrom, resolvidos a fazer Davi rei sobre todo Israel; também todo o resto de Israel era unanime no propósito de fazer a Davi rei” (1 Cr 12.38).

Qual era o projeto central deste momento da vida de Davi? Sua efetividade no reinado. Portanto, seus aliados precisavam estar focados nisto. O reino de Davi precisa ser estabelecido em bases sólidas e definitivas. Ele precisava de pessoas engajadas neste projeto.

Davi sabia que existiam focos de resistência de pessoas e grupos, principalmente da tribo de Benjamin, “porque até então havia ainda muitos deles que eram pela casa de Saul” (1 Cr 12.29). O processo de transição do reinado estava sendo questionado, e na verdade nunca deixou de ser questionado, mesmo após muitos anos de sua função de rei.

A realidade é que toda liderança encontra oposição, velada ou declarada. Por isto precisamos de pessoas na liderança que estejam “resolvidas”, como o texto afirma, a apoiar o projeto. Se sua liderança for isolada, certamente ela não se firma diante da oposição e nos dias de questionamentos. É preciso considerar como é o nosso desempenho como líder. Os resultados da equipe dependem da forma como o grupo é conduzido e se as pessoas apoiam a sua liderança.
Quando a liderança é muito questionada, ela enfraquece seu poder de aglutinação. Davi queria se certificar de que aqueles homens que caminhavam ao seu lado estavam dispostos a seguir sua liderança. Davi se cercou de homens que o apoiavam.

Muitas teorias de liderança afirmam que é fundamental que você tenha pessoas que, não apenas o apoiem, mas que questionem a sua liderança. Naturalmente opiniões diferentes e até mesmo divergentes podem fortalecer o projeto, quando o grupo está alinhado e as divergências acontecem no campo técnico ou profissional, ou mesmo de estilo, mas quando a liderança enfrenta oposição no nível pessoal, fica difícil alcançar efetividade. Os auxiliares de Davi estavam alinhados e dispostos a apoiar o projeto.

5.     Davi se cerca de homens valentes -  A expressão “homens valentes”, chama a atenção porque aparece 5 vezes apenas neste capítulo (1 Cr 12.1, 8, 21, 28, 30). Ela pode ainda ser encontrada em 1 Cr 11 e 2 Sm 23.8-39 quando surge a lista dos valentes de Davi.

Homens valentes possuem pelo menos três características:

Primeira, homens valentes não recuam diante da oposição. Não tem medo da baioneta, não correm quando veem a espada, não amarelam. Homens fracos fogem diante do primeiro embate, não perseveram quando o calor da guerra se intensifica. 
“Quando o comandante demonstrar fraqueza, não tiver autoridade, suas ordens não forem claras e seus oficiais e tropas forem indisciplinados, o resultado será o caos e a desorganização absoluta” (Sun Tzu).

Segunda, homens valentes assumem riscos.
Nem todos estão dispostos a saírem da sua zona de conforto em busca de novos desafios. É fácil acomodar, tornar-se medíocre, perder sonhos. Mas só conseguem grandes vitórias aqueles que não temem correr risco. Um ditado japonês afirma que “o medo de perder não deixa a gente ganhar”.
Paulo afirma a Timóteo: “Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de amor, poder e moderação”.  É preciso ter coragem para ultrapassar os limites e desafiar o status quo. É importante considerar que “existe o risco que você não pode jamais correr, e existe o risco que você não pode deixar de correr” (Peter Drucker).

Terceira, homens valentes valem mais que muitos homens ordinários.
Por isto a expressão “homens valentes” aparece cinco vezes apenas neste capítulo. A melhor definição para estes homens surge no vs 14: “o menor valia por cem homens, e o maior, por mil”.
Poucos homens valentes valem mais do que um grande número de pessoas infantilizadas e inseguras.
Todos desejamos aumentar o raio de influência, ter liderança mais expressiva, mas talvez o segredo seja ter menos pessoas, com mais ousadia. Ter pessoas que valham por cem e até mesmo por mil, como nos afirma o texto. Atribui-se a Machado de Assis a seguinte frase: “Espere o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore”.

6.     Davi procura pessoas com qualificações específicas  - Todo liderança precisa de aparelhamento. Por isto ele buscava, não apenas homens valentes, mas se cercou de homens que sabiam construir “armas de guerra”, não apenas estrategistas, mas técnicos;  não apenas teóricos, mas práticos.

Dois grupos com estas características se destacam no texto: Zebulom (1 Cr 12.33) e Manassés (1 Cr 12.37). Davi se cercou de homens que tinham capacidade de criar armas bélicas, que tinham estruturas de montagem, oficinas. Ir para a guerra com armas eficientes, dá condições. Não adianta ter apenas boa vontade, é necessário ter estruturas para alcançar resultados.
Observem as igrejas que crescem. Um dos fatores positivos é o fato de que possuem ou geram estrutura de crescimento. É claro que estruturas por si só, não geram crescimento, mas elas são fundamentais para acomodar o crescimento. É impossível expandir sem que se crie estruturas adequadas, e a falta de tais estruturas torna-se fator impeditivo para a expansão. Já viram como as igrejas crescem até o tamanho de seu espaço? Não é um fator curioso?

A falta de logística, de boas dependências, de adequação de espaço, móveis pode estancar o processo e asfixiar o avanço. Quando uma igreja cresce ela precisa de mais estrutura para crianças, berçários, salas adequadas, estacionamento.

Davi traz para perto de si as tribos que se equiparam com armas de guerra. Não bastavam homens dispostos a guerrear, era necessário ter poderio bélico que se traduzia por armas, estruturas. Falta de logística pode atrasar e impedir a efetividade da obra.

7.    Davi resgata valores espirituais – E Davi tomou conselho com os capitães dos milhares, e das centenas, e com todos os líderes. E disse Davi a toda a congregação de Israel: Se bem vos parece, e se isto vem do Senhor nosso Deus, enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levitas nas suas cidades e nos seus arrabaldes, para que se reúnam conosco; E tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque não a buscamos nos dias de Saul. Então disse toda a congregação que se fizesse assim; porque este negócio pareceu reto aos olhos de todo o povo” (1 Cr 13.1-4).

Davi não apenas pensa na logística, nas estratégias, nos recursos humanos e tecnológicos, mas coloca em pauta a questão que certamente era a mais crucial e necessária: Deus no centro de tudo.
Durante 390 anos a arca ficou nas tendas de Shiloh, o mesmo local onde Deus se manifestou a Samuel e que era o centro religioso de Israel. A arca simbolizava a presença de Deus, era diante dela que o povo invocava o nome do Senhor (1 Cr 13.6), e Davi, num ato ousado e resoluto, decide trazê-la para perto do palácio. A arca não pode ficar longe do rei. A presença de Deus não pode estar longe das decisões da liderança. Deus precisa ser acessível aos líderes.

Davi resgata e define o que era essencial. Nos dias de Saul a arca não estava no centro das decisões, “nos dias de Saul não nos valemos dela” (1 Cr 13.3). Isto mostra que infelizmente é possível liderar sem considerar Deus e sem se importar com ele. Para Saul, Deus era uma presença periférica. Agora, Davi decide colocá-la novamente no centro da vida de Israel. Deus não poderia ficar distanciado da liderança e das decisões que precisavam tomar.

Isto coloca diante de nós uma questão fundamental: qual o lugar que a arca tem ocupado em nossas vidas? Temos nos valido dela ou a desprezamos como fez Saul? Davi entendeu que liderar implicava num ato de dependência diante de Deus. Não dava para fazer isto sem a presença de Deus, ao seu lado, para ser consultada. Por isto Davi vai com toda a liderança a Quiriate-Jearim, de onde trazem a arca.

Conclusão

A estratégia de Davi e seus princípios são desafiadores ainda hoje. Naturalmente suas necessidades eram diferentes das nossas, sua cultura e universo demandavam atitudes diferentes, mas os princípios ainda são os mesmos.

Princípios são universais, valem em qualquer cultura e ultrapassam gerações. Por isto Victor Hugo afirmou: “Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes”. Princípios jamais perdem seus valores. Por isto é que, se aplicados e quando aplicados, produzem resultados semelhantes.

Que os princípios de liderança de Davi sejam eficientes e aplicáveis em nossa vida, para produzirmos os frutos que Deus deseja através de nossas vidas.

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