sexta-feira, 4 de maio de 2018

Atos 6.1-7 Como lidar com crises internas da Igreja





Introdução:

Uma das perguntas que geralmente formulamos é a seguinte: Por que as igrejas perdem seu impacto? Por que comunidades outrora saudáveis, empolgantes, missionárias, eventualmente definham e até mesmo desaparecem? Experts afirmam que em 60 anos uma igreja pode deixar de existir, para isto basta apenas que não atraia pessoas novas e os filhos não permaneçam na igreja. 
igrejas passam por ciclos, e muitas vezes definham pela incapacidade de lidar com seus conflitos internos. muitas igrejas vivem num estilo novelesco: brigas intermináveis, conflitos históricos, suspeitas infindáveis, luta pelo poder e assim vivem num ciclo auto destrutivo e maligno. 

Veja este exemplo:  

Jim Bakker, foi um dos pastores de maior ascensão na história dos EUA. Em 1973, iniciou seu próprio ministério, com o Clube PTL, em cinco anos criou uma rede de satélite de 24 horas, que no seu auge entrava em 14 milhões de lares nos EUA, e em muitos outros países.
Ele ensinava que fé gerava fortuna, e que a prosperidade era sinal do favor de Deus, e  sua mensagem deu resultados. A popularidade e a audiência cresceram exponencialmente. Em 1975, adquiriu um terreno no estado de Carolina do Sul, em 1979 já estava inaugurando Heritage USA, um centro de conferências e retiros que contaria com um grande hotel cinco estrelas com mais de quinhentos apartamentos, um parque temático de diversões aquáticas (treze milhões de dólares), centro comercial, e muitas outras atrações. No seu auge em 1986, este parque atraiu 6,2 milhões de visitantes, ficando atrás apenas da Disneylândia e do Disney World como atrações turísticas nos EUA. Com 2.200 empregados, o orçamento anual da Heritage era de U$30 milhões. Havia até 80 cultos por semana e o hotel ficava superlotado.
Mas este grande império, apesar de todos seus tremendos frutos, estava edificado sobre a areia, e começou a ruir em 1987. Jim caiu em adultério e apesar de ter confessado seu pecado a um conselheiro cristão, foi obrigado a renunciar a presidência da PTL Denúncias e investigações posteriores sobre a administração financeira do ministério levaram Bakker a um julgamento e a sentença do juiz foi de nada menos do que 45 anos de prisão! Naquela época ele estava com 49 anos, era uma sentença de prisão perpétua. Tempos depois sua esposa com quem esteve casado por 30 anos, Tammy Faye, pediu  divórcio: perdeu ministério, casamento, reputação, posses, liberdade,
Jim Bakker, apelou da sentença e hoje é um homem livre novamente. seu tempo de prisão foi reduzido, e em 1994, depois de quase cinco anos na prisão, pôde sair em condicional.

O que levou tal instituição à morte? Quais foram os germes e vírus que se infiltraram nesta tão promissora instituição? A verdade é que toda igreja tem problemas, mas quais são os vírus da morte que podem destruí-la?

A Igreja primitiva é descrita como idílica, perfeita, e vive num clima de euforia até o capítulo quatro, sendo visitada pelo Espírito Santo, tendo grandes manifestações espirituais, curas, milagres e resistindo à perseguição de forma ousada e fiel. O capítulo cinco, porém, mostra a realidade dos fatos. Era uma igreja vitoriosa sem triunfalismos. Aquela igreja tem na sua membresia pessoas com Ananias e Safira. No capítulo seis, surge outro problemas. A minoria grega, chamada aqui de "helenistas" sente-se discriminada, surgem acusações de discriminação e preconceitos, suspeita de favorecimento. Havia um murmúrio de que as viúvas de tradição hebraica estavam sendo privilegiadas. Crises, comentários, fofocas, diz-que-me-diz, falatório, boatos. A Igreja enfrenta sua primeira crise interna e precisa agir imediatamente.
Este texto nos ensina como a igreja precisa fazer quando surge alguma dificuldade interna.

Como lidar com as crises internas?

1.     Antes de mais nada, precisamos entender que problemas internos são os únicos que realmente ameaçam a igreja.

No capítulo cinco, após serem ameaçados e açoitados, saem do Sinédrio sem medo (At 5.40,41). As ameaças do Sinédrio não lhes impunha medo. As pressões externas não incomodam a igreja, antes a fortalece. Mas no capítulo seis, a língua dos fofoqueiros faz a igreja tremer.

A verdade é que as guerras internas ameaçam mais que qualquer coisa externa. 

A Igreja só morre por suicídio
Não é a oposição, nem os ataques do diabo que destroem a igreja. Ela sucumbe pelo peso de suas próprias falhas. Jesus afirma que “as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja”, portanto, oposição do diabo não destrói a igreja.

Temos aqui uma noticia boa e uma notícia ruim. A notícia boa é que o maior inimigo da Igreja não é o diabo; A notícia ruim é que seu maior inimigo é ela mesma. O povo de Deus nunca foi destruído pelos inimigos, por mais poderosos que fossem, mas Israel foi destruído por causa da infidelidade.
Muitas crises, na verdade, não deveriam ser vistas como ameaça, mas como oportunidades para descobrir novos valores. Esta crise vai revelar pessoas escondidas na comunidade como Filipe, que se desponta no capitulo 8 de Atos como poderoso evangelista, e Estevão se tornaria o primeiro mártir da história, dando poderoso testemunho de sua fé diante das autoridades que o apedrejam. Estes homens surgiram de uma crise.
Deus é soberano. O problema não era para destruir, mas para ajudá-los a perceber novas necessidades e oportunidades que estavam surgindo. A igreja precisava se adequar aos novos tempos, e novos líderes surgiram exatamente por causa de uma crise doméstica.

Desta crise em Atos 6, dois fatos novos se tornam marcantes:

Primeiro, a igreja descobre um novo modelo eclesiástico, deixa de ser apostólica e passa a funcionar num modelo de presbíteros e diáconos. Jesus não instituiu nenhum destes ofícios, mas a Igreja Primitiva organizou-se dentro desta nova forma de ser igreja 

Segundo, surgiram dois novos líderes que se tornarão personagens centrais no Livro de Atos, nos capítulos subsequentes: Atos 7 e 8: Estevão, o primeiro mártir do cristianismo e Filipe, ousado evangelista. 

Segundo, 
2.     Nossos problemas são resolvidos quando identificamos as prioridades.

A Igreja Primitiva estava lidando com reais problemas internos. Ela precisava agir. O que deveria fazer?
Os apóstolos decidem reformular e reestruturar sua estratégia de ação, e uma das decisões cruciais foi repensar a estrutura da Igreja. Nesta mudança, a liderança decide se ater a dois ministérios: Oração e Palavra.
Uma das grandes dificuldades da Igreja diante das crises é valorizar demais as crises, e se perder nas críticas, não se assentar para reformular e repensar. Uma das melhores formas de responder às críticas, é criar uma nova estratégia. Muitas vezes a crise demonstra a necessidade de mudança. Temos que parar de nos defender e perguntar: O que este esta crise tem de verdadeira? Quais as bases da crítica? Onde vamos colocar nossas atenções?  O que deve ser mudado?
A liderança precisava definir suas prioridades. Se todos saíssem para resolver o problema das viúvas, esquecendo-se de outras áreas, perderiam as prioridades. A crise não pode ser exacerbada nem deve maximizar seu ponto vulnerável. É preciso tratar deles, sem esquecer que outras coisas importantes devem acontecer.
Eles percebem suas limitações, sabem que "cimento fino, racha". Não iam poder alcançar tudo, era preciso estabelecer prioridades.

3.     Diante dos problemas, quando intenções estão sendo questionadas, os atos devem ser radicais.

O que a liderança faz? Ela radicaliza.
Elegem sete homens: Estevão, Prócoro, Filipe, Timão (e não tem nada a ver com o Corinthians), Nicanor, Pármenas e Nicolau. O que é curioso é que todos eles são gregos, nenhum é judeu, embora a liderança da Igreja até ali tenha sido toda judia. Quem estava reclamando? Não eram os gregos? Portanto, eles deveriam assumir a coordenação desta área, eliminando assim toda a suspeita e fofoca.
Os apóstolos não tinham obsessão por controle. O que fizeram? Definiram as prioridades: “quanto a nós nos dedicaremos ao ministério da palavra e da oração”, e a administração dos recursos passa então a ser realizada pelo novo ministério que é criado agora: A diaconia.

Isto se chama de reação radical. Quando a liderança for acusada de não orar, o que deve fazer?  Orar com mais intensidade. Se acusada de displicência? Deve responder com atitude santa e trabalho. Se for acusada de desorganizada? Deve reestruturar, planejar, reorganizar.
Nenhuma comunidade terá saúde maior que a da liderança, e jamais pode exigir atitudes maiores do que a que está vivendo. Nenhuma igreja vai além de sua liderança. Por isto é que quando presbíteros e diáconos são envolvidos na obra, a igreja cresce junto. Se são sérios na palavra, a igreja também será; se são homens de oração, a igreja também será de oração; se é uma liderança comprometida com recursos, generosa com seus bens, a igreja assim será. Nenhuma igreja vai além de sua liderança.

Sintetizando podemos afirmar que três posições radicais foram tomadas:

Descentralização do poder em torno dos apóstolos
Mudança das estruturas de governo
Eleição de líderes não judeus.

4.     A solução de problemas requer pessoas com duas virtudes que embora distintas, não podem andar separadas: Eles escolhem homens Cheios do Espírito Santo e cheios de sabedoria.

Pode alguém ser cheio e não ter sabedoria?
Pode alguém ser sábio sem ser cheio do Espírito?
Este é um desafio constante da igreja. Muitas vezes a grande crise, não é se o Espírito está ou não agindo, mas é a crise do bom senso, da sensatez, da sabedoria. Muitas igrejas agem de forma infantilizada, imatura, sem senso crítico.

Muitos líderes pecam por falta de sabedoria.
Suas decisões conspiram contra o bom senso.

Por outro lado, muitos pecam por falta da superficialidade na sua vida de devoção, tornam-se líderes secos espiritualmente, bons professores e pregadores, sem deixarem suas almas serem tocadas pelo  Espírito Santo. Bons teólogos, porém corações áridos.

Não é fácil equilibrar a fórmula: Ser cheio do Espírito Santo e cheio de sabedoria. 

5.     Crises precisam ser administradas com reverência.

O surpreendente do texto é que os apóstolos tratam toda a questão com reverência. Não se sentem ameaçados como líderes. Depois de deixarem a igreja escolher os sete irmãos que cuidariam da situação, eles demonstram que não estão irritados com o problema, pelo contrário, e depois de seguirem o processo eles são oficialmente apresentados perante os apóstolos, “e estes, orando, lhes impuseram as mãos (At 5.6). Ao impor as mãos eles tratam a questão com santidade e não perdem a autoridade.
A questão foi resolvida e não perdem o respeito da comunidade. Na solução dos problemas deve-se preservar o temor a Deus. Liderança tem que ter reverência pela Igreja, pelo Corpo de Cristo.

Conclusão
Igrejas sempre enfrentarão crises internas. O processo de amadurecimento não pode ser demorado.
Muitas vezes a igreja é lenta para resolver suas crises, e enquanto isto, perde o poder de atração daqueles que buscam respostas, porque muitos por razões compreensíveis e justificáveis, não toleram entrar numa igreja em crise, ou uma comunidade constantemente tentando descobrir o que é chamada a fazer.
A verdade é que, nem a igreja primitiva, no auge de sua expansão e avivamento estava isenta de dificuldades e questionamentos. Para resolver a crise, a igreja debaixo da orientação do Espírito Santo, muda até mesmo sua estrutura de ministério, deixando de ser apostolar, para ser diaconal.
A crise trouxe um novo e dinâmico modelo de funcionamento eclesiástico. Deixa de ser regida pelos apóstolos e passa a ser regida pelos presbíteros e diáconos. É também a primeira eleição na história da igreja. Os apóstolos permitiram que sua liderança fosse compartilhada. Ainda eram os líderes, mas a igreja podia se manifestar e escolher líderes de outras áreas Este modelo tem sido ainda hoje adotado pelas igrejas reformadas no mundo inteiro.
A crise interna, ao invés de trazer divisão, trouxe união.
Ao invés de gerar estagnação, trouxe nova dinâmica;
ao invés de transformar os apóstolos em pessoas defensivas, os levou a permitir uma maior participação da comunidade no processo de administrar a comunidade local.
Eles deram a orientação, e a igreja aceitou. Não perderam a liderança, mas a conquistaram numa base muito mais eficiente.
Crise de igrejas bíblicas devem sempre redundar em crescimento, novas possibilidades, e expansão do reino. Este texto termina com a seguinte afirmação: “Crescia a palavra de Deus, em Jerusalém se multiplicava o número dos discípulos, também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7).
A crise redundou numa nova forma de organizar e liderar a igreja. Estruturas não podem ser maiores que o Reino de Deus. Jesus não estabeleceu diáconos, mas os apóstolos decidiram sobre este tema. A metodologia da igreja não era sagrada.
A crise permitiu o surgimento de novos líderes como Filipe e Estevão. Problemas internos não podem ser vistos como ameaças, mas como oportunidade de crescimento e descoberta de novos líderes.
A crise não impediu o avanço do Evangelho. O número dos discípulos se multiplicava e até mesmo muitos lideres religiosos se convertiam.
E assim avançava a igreja de Cristo. No meio de pressões externas, crises internas, mas com temor e santidade.

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