segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A Igreja na Pós Pandemia




Caso voce queira ouvir estas palestras, click nos videos acima

Foram dois dias de palestra para O Presbiterio de Itaperuna-RJ

São duas palestras complementares


 

 

Introdução:

 

Nestes tempos de pandemia, todos ficamos interessados em saber qual será o futuro da igreja. Muitas “lives” e artigos foram produzidos para falar deste assunto. O que acontecerá à igreja depois que acabar este período de isolamento social que obrigou o fechamento dos templos? Que igreja encontraremos? As pessoas ainda irão se reunir? As pessoas retornarão às suas atividades cúlticas presenciais?

 

Este é um tempo de expectativa e incertezas. Afinal, o que está acontecendo? Já que Deus é soberano e nada sai do seu controle, é interessante imaginar o que Deus pretende realizar com tudo isto que nos tem acontecido.

 

No livro de Isaias lemos: “Gritam-me de Seir: Guarda, a que hora estamos da noite? Guarda, a que horas?” (Is 21.11). Séculos depois, Cícero cunharia a famosa frase: “O tempora! O mores!” em seu discurso no Senado, nas célebres Catilinárias, bradando contra os vícios e a corrupção de Roma. “Que tempos os nossos! E que costumes!”. Mais recentemente, uma frase de Bertolt Bretcher se tornaria clássica: “Que tempos são estes em que temos que defender o óbvio?”

 

Afinal, que dias são estes, que tempos são estes, que horas são estas? Assim é a pergunta do profeta: “Guarda, a que hora estamos da noite?”. Estamos vivendo tempo de calamidade e perplexidade. Ouvi recentemente um discurso do governador de Nova York, Andrew Cuomo, dizendo que o estado deveria "começar a reabrir" administrando o isolamento, mas com um plano inteligente". Diante da insistência das pessoas em saberem quando as coisas mudariam e voltariam à normalidade,  sua resposta mais repetida foi “I don’t know".

 

O que acontecerá com a igreja? O que podemos esperar depois que tudo isto acabar. Como será este novo tempo depois de meses sem cultos presenciais? As pessoas voltarão às igrejas? O que sobrará disto tudo?


O isolamento provoca reações psicológicas diferentes em cada um de nós, dependendo da nossa forma individual e peculiar de reagir a pressões e desafios. No afã de tentar uma auto compreensão, escrevi algumas coisas sobre o que tenho aprendido na quarentena.

 

1.     Descobri que é difícil viver apenas comigo mesmo. Como disse J Quest: “quero ficar só, mas sozinho comigo eu não consigo”. Fiquei mais de dois meses vivendo solitariamente, pois minha esposa estava acompanhando o nascimento do neto e os voos foram cancelados. Descobri que a solidão não é brincadeira...

 

2.     Ficou evidente, que preciso de rotinas claras e definidas. A falta de uma agenda, de acordar e sair de casa, de saber o que fazer diariamente, de uma dinâmica pessoal, me deixou ineficaz e angustiado.

 

3.     Aprendi que tempo de sobra não me torna mais produtivo e efetivo. Tinha todo tempo para ler e escrever mas a produtividade se tornou pobre e escassa. O fato de não ter horário para dormir e acordar, pode ter sido uma das justificativas para isto.

 

4.     Conclui que tenho sede de relacionamentos, ainda que superficiais: tomar café com alguém, conversar com pessoas, sorrir, faz parte da minha natureza, vocação e formação. Estas coisas simples me fizeram muita falta.

 

5.     Percebi a fragilidade do ser humano. A grande ameaça não veio de uma bomba atômica, nem cataclisma ou hecatombes, mas num invisível e pequeno vírus que mudou hábitos, estagnou a economia de metade do planeta. Apesar de todo avanço da pesquisa e da ciência, o vírus ironizou a prepotência humana.

 

Minha esposa, também fez suas observações, que julgo importantes:

 

A.   Ter tempo não tem a ver com cronos, mas com propósito. Nunca tive tanto tempo e jamais produzi tão pouco. Quando não temos propósito, o tempo desaparece. Já dizia o velho Salomão. Há tempo pra todo PROPÓSITO.

 

B.    O fim dos cultos públicos e reuniões semanais demonstrou que muitos precisam ter um encontro real com Deus.

 

C.    Acredito também que Deus colocou os seres humanos em quarentena, para a natureza se recuperar um pouco de nós e aguentar até sua redenção. Tem até golfinhos nos antes fétidos canais de Veneza!

 

D.   Muitos descobriram o que todos já sabiam sobre seus filhos, mas ninguém podia ou tinha coragem de dizer...rsrsrs

 

A frase do profeta Isaías: “Guarda, a que hora estamos da noite?” revela a inquietude do momento em que viviam. Assim como nós, as pessoas estavam desorientadas e não conseguiam julgar corretamente o que viviam. Não sabiam discernir sua época, Não saber a hora é típico do fuso horário, no efeito jet lag, sensação de cansaço extremo ocasionado pela diferença de horário entre a origem e o destino. Isto acontece porque o  relógio biológico perde a sincronização com o horário cronológico do novo ambiente, pois o ritmo dia/noite em que a pessoa estava acostumada a viver sofre uma mudança súbita.

 

Para muitos, esta pandemia é uma forma de juízo de Deus. Certamente não podemos deixar de ver tudo o que acontece como juízo de Deus, mas é bem complexo tentar estabelecer relação de causa/efeito, entre coronavirus e o pecado do Brasil. Os amigos de Jó tentaram explicar as coisas desta forma e estavam redondamente enganados.  Para outros, esta pandemia seria uma espécie de Alinhamento Divino.  Com a suspensão das atividades industriais e do comércio, o resultado é que, a natureza estava podendo se recompor, com menos poluição e menos atividade industrial. Reportagens foram feitas para mostrar como os canais de Veneza, que são tão poluídos pela ação do turismo, estavam ficando limpos novamente, assim como a camada de ozônio estava demonstrando visível recuperação por causa da diminuição da poluição nas regiões mais industrializadas do planeta.

 

Podemos ainda pensar nesta pandemia como um tempo de avivamento e despertamento do povo de Deus. Historicamente, a igreja de Cristo sempre evidenciou muito compaixão em tempos de calamidades e desta forma o evangelho cresceu e se fortaleceu. Rodney Stark descreve o que aconteceu no ano 260 d.C., quando muitos cristãos entregaram suas vidas para socorrer os enfermos que ficavam abandonados por estarem infectados pela segunda grande epidemia, que matou quase um terço da população mundial. De acordo com Dionisio, durante esta epidemia em cada casa havia mais de uma morte. Os cristãos se mobilizaram para cuidar das pessoas e protegê-las nesta calamidade.

 

Assim se deu em outros períodos calamitosos: A peste negra, a gripe espanhola, épocas de guerra. Sempre a graça de Deus prevaleceu e se manifestou por meio da sua igreja operosa.

 

Ainda podemos ver nesta pergunta uma dimensão escatológica: Precisamos entender no tempo de Deus, qual é o seu calendário e que agenda ele tem para nossos dias. Jesus advertiu que a volta do Filho do Homem se daria quando não estivéssemos apercebidos, seria como a vinda do ladrão da noite, na hora em que não estaríamos prevenidos. Precisamos, pois, vigiar, estar atento! Que hora é esta no plano de Deus, em que hora da noite estamos?

 

Pós pandemia ou “durante” a pandemia?

 

Apesar de tudo isto, colocar os olhos no futuro, pode ser problemático se não considerarmos a realidade do presente. As pessoas ficam perguntando como estará a igreja na pós-pandemia, mas a verdade é que o grande desafio que temos é dar respostas ao momento atual que temos vivido. Igrejas estarão fortes no futuro, se se conduzirem bem no tempo atual. Portanto, embora precisemos refletir sobre as necessidades que surgirão, devemos estar ainda mais atentos ao que está acontecendo agora.  Durante a pandemia precisamos preparar, cuidar e planejar, como diz um ditado: “em tempos de paz, prepara-te para a guerra”. O grande desafio não é o futuro, mas o presente. Como estamos agora? Como a igreja está respondendo ao presente momento? Quando o futuro chegar, ele deverá apenas refletir tudo o que estamos fazendo e construindo no tempo presente.

 

A hora é agora! Durante a pandemia e não na pós-pandemia. Antes de que venha a pós-pandemia, precisamos considerar o que deve ser feita na pandemia. Podemos correr o risco de ficarmos tão centrados no “pós”, que nos esqueçamos do enfrentamento que temos hoje.

 

O ponto central é que só vai lidar bem com a pós-pandemia, aqueles que conseguirem lidar bem com a realidade atual. Prognósticos, planejamentos, perspectivas, tudo isto é importante, mas enquanto o futuro não vem, o que devemos fazer hoje? As atitudes de hoje serão responsáveis pelas consequências do amanhã. Afinal, a vida é uma mudança, e devemos tomar apenas um caminho cada vez.

 

Da mesma forma perguntar “o que será dos relacionamentos familiares amanhã?” Pode se tornar uma armadilha. Podemos nos preocupar com o que virá quando deveríamos estar observando o que está presente. O mesmo se aplica ao mundo dos negócios e finanças. Ficar perguntando o que acontecerá com minha empresa ou meu emprego amanhã, pode ser fatal. O que interessa é o que devo fazer hoje. Como me preparar melhor, servir melhor, oferecer o melhor produto, ser melhor funcionário. Desta forma também devemos considerar o futuro da igreja. Ela refletirá a forma como lidamos hoje com os desafios que encaramos. A pós-pandemia trará novos desafios, e quem pavimenta melhor seus caminhos hoje, caminhará por melhores estradas amanhã.

 

Tim Keller, numa live sobre a pandemia afirmou que as igrejas deverão ser, não apenas revitalizadas no futuro, mas deverão ser “replantadas”. Como será o retorno? Certamente gradual. Muitos não retornarão... outros virão. A igreja de hoje se torna a plataforma que estruturará a igreja de amanhã.

 

Como lidar com a Pandemia?

 

Tentando dar algumas pistas para este enfrentamento, gostaria de pensar em duas direções essenciais: No nível pessoal, e no nível eclesiástico.

 

a.     No nível pessoal

 

i.  Descubra novas dinâmicas.

 

Logo após a quarentena, me senti completamente fora do eixo. A forma como fazia as coisas simplesmente não me orientava mais. Como deveria ficar em casa, pensei que assim teria muito mais tempo para ler e escrever, entretanto, descobri que liberdade de tempo não me torna mais produtivo. Eu precisava criar uma nova dinâmica pessoal.

 

Então comecei a acordar num determinado horário, trocar de roupa como se fosse trabalhar, tomar meu café, fazer minha devocional e começar a pastorear de casa. Comecei a ligar para todos os aniversariante da igreja, e fiz uma lista de pessoas para diariamente estar ligando, entrava no meu escritório em casa e tentava estabelecer uma rotina de atividades. Era uma de organizar o meu caos, criando novas rotinas e estabelecendo novos alvos e metas.

 

ii. Cuide de si mesmo.

 

Assim como na igreja, o problema não é o que virá, mas como estou lidando com o presente. É necessário preservar a saúde física e mental. O isolamento social e o lockdown, geram efeitos psíquicos ainda não completamente diagnosticados. Mudanças de rotinas e hábitos mudam o humor. É necessário equilibrar estresse com descanso. Se quisermos revitalizar o emprego, as atividades, é necessário ter serenidade e dar equilíbrio ao corpo e à mente.

 

iii. Preserve sua família.

 

As alterações no campo familiar também foram sensivelmente percebidas. A forma de ser família, filhos estudando em casa, pais trabalhando em casa, realizar tudo pelo computador, alterou a dinâmica doméstica. Não é sem razão que até o dia 15 de julho o aumento de divórcio foi de quase 900% em Sorocaba-SP (fonte Globo1), e a procura por advogados em consultoria de família aumentou 177% no Brasil, e em Março de 2020, a procura na google para “como dar entrada no divórcio”, já havia aumentado 82%, mas em Abril, o interesse de busca que mostra as tendências para a pergunta “divórcio online gratuito”, saltou 9.900%.

 

Minha esposa afirma que a pandemia não foi culpada por isto, mas ela revelou o fato de que um grande número de pessoas não consegue mais compartilhar sua história e viver sob o mesmo teto. Os relacionamentos são superficiais e se tornam evidentes quando as pessoas são obrigadas a viver o tempo todo juntas, compartilhando o mesmo espaço.

 

i.      No nível eclesial: Oportunidade de mudanças.

 

Perceber as oportunidades

 

A Igreja de Cristo por estar vivendo nestes dias tão atípicos, poderá ampliar sua percepção e enxergar novos caminhos.

 

Na Igreja Presbiteriana de Anápolis temos 3 coisas dominicais. Uma média de 1000 pessoas participam destes eventos. Com o cancelamento das atividades presenciais, fomos para o mundo digital. Uma coisa impressionante aconteceu: geralmente temos uma assistência em torno de 700 pessoas em cada um dos nossos eventos. Resultado: Aumentamos sensivelmente o nosso público.

 

E não apenas isto: pessoas que estavam longe foram também alcançadas. Curiosamente, logo depois de um sermão dominical, duas pessoas, uma morando no Canadá e outra na Irlanda, entraram em contato comigo para declarar que tinham sido profundamente abençoadas pelo meu sermão. Como conseguiram meu telefone não faço ideia...

 

O “cardápio” oferecido pela igreja aos fieis já não servia mais. As mudanças certamente viriam, mas vieram bem mais rápido que esperamos, historicamente falando, tempos de pandemia apressam mudanças na sociedade como um todo, atinge o comércio, indústrias, e certamente a igreja.

 

Do analógico ao digital.

Temos necessidade de mudanças, e a primeira delas tem a ver com tecnologia. Os nossos cultos já estavam sendo transmitidos, mas agora precisávamos melhorar o visual, ter melhores recursos áudio-visuais, comprar novas câmaras, investir em equipamento. A apresentação do culto, realizada através de um celular não era suficiente. Precisávamos nos equipar para atender as demandas e dois cultos dominicais que seriam transmitidos onlines.

 

Igreja e Pandemia

Como afirmamos anteriormente, a igreja sempre se fortaleceu em tempos de pandemia. As calamidades e catástrofes sempre se transformaram em um tempo no qual a igreja evidenciava de maneira mais visível, seu amor e cuidado pelos da família da fé e para pessoas fora da comunidade. Tempos de sofrimento permitem à igreja dar sinais da misericórdia de Deus ao mundo, através do cuidado, serviço e generosidade. Foi isto que Jesus tentou demonstrar: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”( Mt 5.16).

 

Fazendo uma exegese do tempo

Outro aspecto importante ao considerarmos as oportunidades para a igreja, é que, ao estudarmos o avanço missionário transculturais, uma das atividades mais urgentes na expansão do evangelho é entender as diferenças culturais. É preciso entender qual é o nosso público, como as pessoas recebem e interpretam a mensagem. Neste tempo de pandemia, precisamos indagar como a mensagem pode ser relevante. O que a igreja precisa fazer para alcançar melhor as pessoas e tornar acessível o conteúdo da mensagem.

 

Os missiólogos falam que na comunicação transcultural do evangelho, devem ser consideradas três culturas

 

A cultura da Bíblia.

Em que contexto foi escrita?

Qual o significado original das palavras?

Qual era a intenção original do autor?

 

A cultura do missionário.

Nenhum pregador vai para o campo abandonando completamente sua cultura. Ele leva consigo a bagagem de seu povo, hábitos, crenças, tradições, folclore, etc. Sua grande luta é tornar-se cada vez mais desvencilhado dos seus pressupostos para ser mais efetivo e relevante na comunicação.

 

A cultura do receptor

Como o ouvinte recebe a mensagem e a interpreta?

Quais são os possíveis ruídos?

Qual sua cosmovisão, cultura, símbolos, rituais, costumes?

 

A supra cultura

Podemos falar ainda de uma quarta cultura, que não pode

ser analisada pela antropologia.

Como a cultura nativa é influenciada pelas forças espirituais?

Que tipo de oposição espiritual podemos antecipar?

 

Uma advertência final: Mesmo quando anunciamos o evangelho em nossa cultura, precisamos entender também o tempo que vivemos, o contexto histórico, os fantasmas, os desafios e a realidade entremeada no ambiente que aparentemente reflete apenas as expressões sociológicas. Precisamos igualmente indagar como o evangelho está sendo recebido no trabalho na cidade ou no bairro. Será que a mensagem possui relevância à cultura receptora? Como as pessoas estão recebendo a mensagem da salvação?

 

Colocaria três verbos que jugo ser importantes neste processo de observar as mudanças e oportunidades:

A.   Repensar

B.    Recriar

C.    Cuidar

 

Repensar

 

A pandemia acelerou os processos da história, obrigando-nos a ver a dinâmica das relações, sejam elas eclesiásticas, comerciais ou pessoais, por outro ângulo. De uma forma ou de outra, este processo seria inevitável num futuro breve, a diferença está na velocidade que as coisas andaram. O processo de home-office, e digitalização, pesquisa, informações, tudo isto se tornou rápido demais.

Alguns anos atrás,

 

Em 2005, O economista americano Thomas Friedman, lançou o livro: “O Mundo é Plano—Uma História Breve do Século XX, que foi publicado no Brasil pela Editora Objetiva. O livro analisa o progresso da globalização com particular ênfase no princípio do Secúlo XXI. O que Friedman afirma é que, geograficamente falando a Terra é redonda, porém, os negócios "achataram" essa estrutura criando um mundo quase sem fronteiras, sem diferenças, completamente plano.

 

Ele cita a facilidade de comunicação, transporte, terceirização e união de mercados que parece extinguir as barreiras político-geográficas existentes, e um dos fatores que muito contribuiu para esse “achatamento” do mundo foram as novas tecnologias de comunicação, a internet e sistemas inteligentes que permitem a troca de dados em qualquer parte do mundo. Este achatamento, impactou a política, a economia e o cotidiano das pessoas e influenciaram os costumes

 

Recriar

O resultado é que fomos forçados a olhar a dinâmica da vida com outros olhos. As coisas não podem ser mais como costumavam ser. Em inglês existe hoje uma expressão: “dot.com or die.com”. empresas que não se ajustaram, perderam seu mercado. A forma como as coisas eram feitas não estão funcionando. Há uma nova abordagem na forma de divulgar o produto. Há uma nova forma de educar, e há uma nova forma de ser igreja.

 

Durante muito tempo tivemos dificuldades com a questão da contribuição online. Lembro-me de ter visitado a igreja e não me sentir à vontade com o fato de que eles tinham um totem de cartão de crédito na entrada da igreja para aqueles que quisessem entregar suas ofertas na igreja. Hoje, 95% das ofertas da igreja chegam via online. Eu ainda uso cheque, por pura teimosia, apenas par entregar meus dízimos na igreja. “velhos hábitos demoram a morrer”.

 

A forma de ser igreja precisa ser repensada. Esta transição será mais fácil para alguns e mais difícil para outros, mas ela veio para ficar. Uma nova abordagem, para o bem ou para mau, chegou para ficar. Não há retorno.

 

Cuidar

Apesar de todas as mudanças, a igreja não tem a prerrogativa de cruzar os braços e ser displicente. Ela precisa avançar em direção ao rebanho, cuidar das pessoas. Com o advento do virtual, as pessoas se sentirão mais solitárias, podemos esperar um nível maior de depressão e ansiedade, e esta será a característica neste século. Para vocês terem uma ideia, o Reino Unido criou um “ministério da solidão”, se você procurar na internet vai encontrar muito material sobre o assunto. Eles estao preocupados com a solidão das pessoas e dos velhos, que cada vez mais tem menos filhos e netos. A ideia da casa cheia na velhice, ainda presente em nosso país, tende a se tornar uma realidade cada vez mais diluída.

 

Conclusão:

O Evangelho pregado a todo mundo

 

Jesus afirmou que um eventos fundamentais para seu retorno seria que o evangelho fosse pregado a todas as criaturas (Mt 24.14).

 

A Grande Comissão ainda não foi cumprida. O Evangelho precisa ser pregado a “todas as criaturas” (etnias) Mc 16.15, e deve chegar “até aos confins do mundo”(At 1.8). A tarefa é colossal. Como alcançar a humanidade, considerando que 2/3 das pessoas estão distanciadas da mensagem de Cristo?

 

Será que podemos imaginar que a mídia possa ser um dos meios mais poderosos para cumprirmos esta missão? Será que a pandemia não está cumprindo um propósito de Deus para a história humana e assim, estaríamos sendo impulsionados pelo próprio Deus a “apressar a vinda do dia de Deus”, conforme nos ensina Pedro? (2 Pe 3.12).

 

De qualquer forma, usar com sabedoria e bom senso a mídia, transformá-la em aliada na expansão do Evangelho, é uma das coisas mais desafiadoras para a igreja que sempre utiliza as mesmas metodologias. Será que Deus não está nos dando um novo tempo e uma nova direção?

sábado, 29 de agosto de 2020

Contextualização e sincretismo



Se quiser assistir esta palestra, clique no video acima!!!

 


 

 

Contextualização e sincretismo

 

 

 

Introdução:

 

“Existem duas maneiras extremas e errôneas em lidar com a mensagem bíblica: em nome da ortodoxia querer e pregar de modo literal, ou achar que ela tem de ser adaptada para atrair o ouvinte em nome do pragmatismo...Ambas são falsas. Como achar o meio termo: não trair a verdade e ser, ao mesmo tempo, relevante para os ouvintes”.[1]

 

O Evangelho é, por sua natureza, multi cultural e transcultural.

 

ü  A ação da igreja se dá em realidades distintas mas sócio culturalmente conhecidas. Isto tem a ver com contextualização.

 

ü  A obra de Cristo na encarnação revela seu envolvimento e engajamento com a cultura.

 

ü  Os primeiros conflitos apostólicos se deram por causa da necessidade da igreja se afirmar não como uma seita judia, mas como uma comunidade transcultural.

 

Dois relatos do livro de Atos dos Apóstolos, nos mostram como é complexa a questão da contextualização, e como isto se tornou um problema grave para a Igreja Primitiva.

 

Atos 11: Primeiro Concílio: Os judeus podem ou não participar da igreja?

 

A defesa de Pedro em Jerusalém se dá por causa do seu envolvimento com os gentios: “Quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão o arguiram, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comestes com eles”. (At 11.2-3). Pedro se encontra diante do presbitério, tendo que responder perguntas que não estavam claramente respondidas na compreensão daqueles irmãos.

 

Depois do debate, que não foi nada fácil, eles chegam à seguinte conclusão: “Ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida”. (At 11.18).

 

Pedro está defendendo o direito de todos os gentios de seguirem. Apesar do claro conteúdo missionário de Cristo dado à sua igreja, de que deveriam pregar a todas as etnias (Mc 16.15), e irem “até os confins da terra” (At 1.8), eles não conseguiam assimilar tal verdade. A cultura xenófoba judaica, do exclusivismo religioso, de serem os únicos povos do mundo eleitos por Deus, e de que não poderiam ter qualquer envolvimento com os gentios, ainda estavam presentes.

 

Este concílio se torna um marco e um diferencial para a igreja. Os gentios, assim como os judeus, faziam parte de um mesmo povo. A batalha travada era para que assimilassem sem discriminação cultural, o fato de que “Deus não faz accepcao de pessoas” (At 10.34), portanto a questão racial deveria ser dissipada, e eles compreenderam que “Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no senhor Jesus” (At 11.17), e Pedro ainda afirma: “Quem era eu para que pudesse resistir a Deus?”(At 11.17). Esta reunião amplia a compreensão da igreja e lhe dá a correta percepção. Deus ama todos os povos e deseja inserir-se em todas as culturas.

 

Este é basicamente a forma de atuação de Cristo. Quando Deus quis se comunicar com os homens, ele assumiu a sua história, andou entre eles, se identificou com eles, de tal forma que não era diferente de nenhum dos outros homens, assumindo sua completa humanidade, tornando-se identificado plenamente com a raça humana. Deus trabalha em cada cultura de forma plenamente adaptada. O evangelho é transcultural. A igreja de Cristo, finalmente dava passo significativo em relação à Grande Comissão e ao enorme desafio missionário de fazer discípulo em todas as nações.

 

Atos 15: Segundo Concílio: A segunda reunião conciliar, reunindo a liderança da igreja para tratar de assuntos teológicos registrado em Atos, era para responder uma questão que estava sendo levantada naqueles dias: Os discípulos gentios precisam ser circuncidados? O relato de Atos 15 inicia com uma explicação dos fatos que obrigaram a liderança da igreja a se reunir novamente: “Alguns indivíduos que desceram da Judeia, ensinavam aos irmãos: se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos”. (At 15.1).

 

Os cristãos primitivos eram judeus e acreditavam que todos os novos convertidos deveriam se tornar judeus, adotando seus costumes e ritos. A igreja vai se posicionar de forma segura sobre o assunto, e no final, faz apenas quatro recomendações que deveriam ser seguidas pelos judeus. Duas delas me parecem trazer aspectos culturais da religião judaica, pois estão relacionadas à dieta alimentar. Jesus considerou puros todos os alimentos (Mc 7.19), e Paulo não considerava relevante esta discussão infindável sobre comida: “Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes. Quem come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Rm 14.2,3).

 

Nestas duas narrativas, torna-se claro como é desafiador a questão de contextualizar a mensagem, de romper com nossos pressupostos pessoais e entender o que é essencial ou secundário na comunicação do evangelho.

 

O que é contextualização?

Hesselgrave afirma: “Contextualização é comunicar a mensagem, trabalho, palavra e desejo de Deus de forma fiel à sua revelação e de maneira significante e aplicável nos distintos contextos, sejam culturais ou existenciais”.”[2]

 

“o objetivo do testemunho cristãos é ver as pessoas convertidas a Cristo e integradas a grupos que chamamos “igrejas”, as quais devem ser bíblica e culturalmente adaptadas. O processo pelo qual a igreja se torna “aculturada”,  costumava ser chamado “aculturação”. Agora, porém, prefere-se o termo contextualização”[3]

 

Ronaldo Lidório procura mostrar que em Mt 24.14 há uma afirmação de que o evangelho de Jesus será pregado por todo mundo, para testemunho a todas as nações, e que há um pressuposto textual de que pregar o evangelho de forma inteligível em cada cultura e língua é essencial para o cumprimento da grande comissão e cabe a nós, “não somente viver Jesus, também proclamá-lo de firma compreensível”, e isto aponta para três pressupostos:

 

1.     A palavra é supracultural e a-temporal, portanto, viável e comunicada para todos os homens, e  todas as cultuas, em todas as gerações. Cremos assim que a palavra define o homem, e não o contrário;

2.     Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da antropologia, mas sim traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto a fim de que todo homem compreenda o Cristo histórico e bíblico.

3.     Apresentar Cristo é a finalidade maior da Contextualização. A igreja deve evitar que Jesus seja apresentado apenas como uma resposta para as perguntas que os missionários fazem, uma solução apenas para um segmento, ou uma mensagem alienígena para o povo alvo.[4]

 

“O alvo final do missionário é despertar fontes eficazes da mensagem cristã de dentro da cultura-alvo. A comunicação missionários que não tem esse alvo em mente é míope”[5]

 

Riscos na contextualização

 

1.     Sincretismo

 

O primeiro e mais imediato risco é o do sincretismo. Ele existe em todos os lugares onde o cristianismo se torna presente. Uma definição direta do sincretismo seria o fato de que as verdades do evangelho se diluem na tentativa de tornar a mensagem mais atraente ou aceitável para a outra cultura, ignorando que toda cultura precisa de redenção, e toda ela é pecaminosa na sua origem.

 

§  Na Índia, Jesus é considerado apenas como uma manifestação humana das suas divindades. Até mesmo o islamismo considera Jesus um profeta. Se a mensagem não for eficientemente comunicada, a fé cristã torna-se apenas mais uma no meio de todas outras crenças.

 

§  Na América Latina, Jesus é parecido com um xamã. As Igrejas universais, inclusive, prometem fazer exorcismo em nome de Jesus, com arruda e sal grosso, prática altamente conhecida dos terreiros de umbanda. Na cultura católica brasileira, padres e orixás facilmente se juntam para realizarem cerimonias religiosas ecumênicas.

 

§  Muitas culturas insistem em práticas anti cristãs e uma ética contrária à Escritura, para que o evangelho sejam mais facilmente aceito. A mensagem torna-se assim, diluída. É água misturada com leite.

 

Kraft afirma que há pelo menos dois caminhos para o sincretismo[6]:

 

Primeiro, importar expressões estrangeiras da fé e permitir que o povo que as recebe una sua cosmovisão a essas práticas. O resultado é um “paganismo cristão”. Em religiões animistas Jesus é claramente confundido com uma das entidades que se manifestam nas suas invocações e rituais.

 

Segundo, dominação. Quando as ideias importadas, tanto no nível da superfície quanto ao nível mais profundo, tornam-se regras. Ao se aproximar da cultura, o missionário traz toda sua bagagem de uma cultura superior, e deseja comunicar não apenas o evangelho que traz salvação, mas a liturgia, elementos de cultos e traços culturais de uma cultura “dominadora”.

 

O missionário Jacob Loewen decidiu jamais responder diretamente a qualquer pergunta dos novos convertidos, em vez disso perguntava: “O que o Espírito Santo está dizendo a vocês?”.

 

Lidório afirma que quando a igreja foi fundada entre os komkombas, eles tiveram que lidar com uma grave situação cultural: A poligamia. Quando este assunto foi trazido para a discussão, ele pediu que os lideres locais orassem a respeito e aquilo que Deus lhes respondesse deveria ser a resposta a seguir. Depois de algum tempo, os líderes nativos responderam que aqueles que já estavam casados não deveriam separar de suas esposas, mas que recomendassem aos novos, para que casassem apenas com uma esposa, e se estivessem casados com mais de uma mulher, não poderiam ser líderes, por causa do ensinamento de Paulo a Timóteo.

 

René Padilla foi um dos teólogos que rejeitou radicalmente o “cristianismo cultural”, especialmente o american way of life, na qual, o evangelho se torna um tipo de mercadoria e sua aquisição garante ao consumidor o maior valor – sucesso nesta vida agora e para sempre.

 

2.     Pragmatismo

 

Isto acontece quando somos levados a avaliar a relevância da palavra pelos resultados que ela apresenta. Quando os aspectos essenciais da fé cristã são  minimizados por aquilo que é funcionalmente efetivo. É bom considerar que nem tudo que funciona é bíblico. “O pragmatismo nos leva a valorizar mais a metodologia da contextualização do que o conteúdo a ser contextualizado. A apresentação pragmática do evangelho, portanto, privilegia apenas a comunicação com seus devidos resultados e esquece de ater-se ao conteúdo da mensagem comunicada”[7]

 

Padilla condena veemente a pregação do evangelho sem levar em conta a implicação da fé cristã. Ele afirma: “Muitas vezes ao longo da história da igreja, cristãos caíram na tentação de adaptar sua mensagem., distorcendo-a. assim foi com o liberalismo, uma tentativa de fazer o evangelho mais aceitável à mente racionalista do século XIX e ao início do Século XX, apresentaram um evangelho social de um Deus sem ira que salvaria um homem sem pecado por um Cristo sem a cruz”. [8]

 

Conclusão:

 

Santos[9] afirma que, quando avaliamos a contextualização, encontramos quatro grupos:

 

1.     Contextualização radical: Há aqueles que acreditam que a revitalização acontece quando a igreja se utiliza dos recursos disponibilizados pelo “nosso tempo” ou pela cultura. No caso dessa tendência podemos afirmar que as estratégias estão baseadas em uma contextualização radical. Essa tendência é caracterizada por uma revitalização nas estruturas teológicas, litúrgicas e administrativas, os mesmos possuem um alto apreço pela secularização e comércio da religião. Perigo: introdução de elementos pagãos.

 

 2.     Os tradicionais. O valor religioso está no passado, às coisas antigas não podem ser modificadas e nem mesmo criticadas. Acreditam que a revitalização acontece quando a igreja retorna as estruturas antigas. Os tradicionais veem novidades e a contextualização com maus olhos. Muitas igrejas seguem modelos de outros países e que foram muito úteis na época, mas com a mudança de cultura o modelo tornou-se irrelevante e rígido.

 

Há igrejas onde os líderes aprenderam a administrar e ensinar de um jeito, e tudo que aparenta ser diferente é errado ou pecaminoso, ou seja, acabam divinizando o sistema que aprenderam e nunca há um crescimento e aproximação daquilo que de fato é bíblico. Esses não entendem que a igreja deve sempre se reformar, ou seja, se adequar cada vez mais as Escrituras e não ficar presa ao sistema que muitas vezes é fruto da cultura ou de alguém especial.

 

3.     Os pós-modernos ou “emergentes”. Talvez essa tendência seja a que mais reflete e dialoga sobre o tema “relevância da igreja”.

 

Os emergentes acreditam (com exceções) que a efetividade da mensagem está no abrir mão da tradição (estilos e governos desenvolvidos historicamente) e alguns mais radicais rejeitam até mesmo algum tipo de estrutura que lembre a igreja histórica.

 

Alguns grupos emergentes se identificam bem com o pensamento evangélico conservador, vê-se uma busca saudável em entender, e realmente há um desejo de ser bíblico e contemporâneo, mas diferente.

 

4.     Pragmatismo: O grupo anterior reflete e dialoga antes de agir, este faz o que dá certo!

 

O pragmatismo é uma tendência que supervaloriza a quantidade, o ideal pragmático é se basear naquilo que funciona ou dá certo. Através da visão pragmática surgiram os modelos de crescimento, baseados na mentalidade de busca por resultados. O ponto de partida são as necessidades e gostos das pessoas e não o que a Bíblia diz.

 

O pragmatismo não respeita a história da igreja local e nem sua identidade que foi formada pela experiência e reflexão Bíblica da comunidade com o Espírito.

 

Todos estes dilemas, presentes na realidade da igreja local, podem se evidenciar também na obra missionária transcultural. É preciso discernir bem os riscos e benefícios de cada uma destas abordagens, mas nunca se esquecendo de que devemos viver “ao compasso dos tempos, mas ancorado na rocha”, como apregoa o lema da Mocidade Para Cristo.

 

Modelos bíblicos na contextualização

Em Atos, podemos ver como Paulo se preocupa em saber como o ouvinte recebe a mensagem, e por isto revela grande sensibilidade cultural na sua pregação.

 

Em Atos 13, Paulo está pregando aos judeus, embora ouvisse alguns prosélitos e simpatizantes do judaísmo, que conheciam a linguagem do Antigo Testamento. Paulo inicia com o relato do povo judeu e o Êxodo. Paulo prega Cristo a partir do Deus de Israel e se fundamenta no Antigo Testamento para falar de sua messianidade. Seu ponto de partida faz todo sentido, porque os judeus conheciam as profecias.

 

Em Atos 17, entretanto, Paulo está pregando aos gentios, em um contexto secular, distanciado da cultura judaica. Em Atenas, discursando para os epicureus e estoicos, ele inicia sua pregação, não citando o Antigo Testamento, mas a partir das evidências da criação e do anseio presente naquela cultura por um Deus que eles desconheciam. Seu ponto de partido é o Deus Criador, e não o Deus revelado aos judeus.

 

O importante, é que em nenhuma destas situações, Paulo diluiu o evangelho para que ele se tornasse aceitável. Ao pregar em Atenas foi tão direto em sua mensagem que eles zombaram do seu discurso. Para tornar-se mais compreensível, ele cita as simbologias culturais, fala dos altares e de seus filósofos.

 

Em todas estas situações percebemos que a comunicação do evangelho deve ser baseada nos princípios bíblicos, e a rejeição do evangelho, como aconteceu em Atenas, não deve ser um equivalente à má contextualização. Devemos partir do evangelho para a cultura, e não o contrário.

 

William Carey e a contextualização

 

William Carey, o “pai das missões modernas”, foi um homem admirável no seu esforço para se identificar com os nativos da Índia. Passou por grandes privações, e até mesmo fome, foi morar numa favela e trabalhou na lavoura para ganhar o seu pão. Ele se preocupava com a justiça social, igualdade e amor. Ele foi responsável pelo abandono oficial de sati (no qual as viúvas eram sempre cremadas vivas com os corpos de seu maridos), e combateu arduamente o infanticídio de crianças defeituosas, bem como a prática de deixar os idosos à margem do rio Ganges para morrerem.

 

A efetividade de seu ministério se deu porque ele lutava por uma igreja nativa e sabia que para ter igrejas fortes precisava de líderes locais. Ele estava plenamente identificado com o povo indiano e respeitava suas opiniões, entretanto nunca comprometeu as doutrinas cristãs essenciais.

 

Da mesma forma Hudson Taylor, ao chegar na China, notou que os missionários viviam em confortáveis casas e passavam a maior parte do tempo em comunidades estrangeiras fechadas. Por isto, trocou sus roupas, deixou seu cabelo crescer  e adotou o estilo chinês de vida, abrindo as portas dos corações dos chineses. Usava o meio de transporte de barcos e rinquishás. Tudo isto era um esforço par ase aproximar daquela cultura.

 

Entretanto, nenhuma contextualização será relevante se não for profundamente enraizada na teologia bíblica. Barbara Burns afirma: “Temos que perguntar: A Palavra de Deus é real para o missionário que enviamos para fazer contextualização? (...) Estamos enviando pessoas com compromisso de vida e coração ao Senhor como revelado na sua palavra? Não podemos esperar uma contextualização bíblica, se não há missionários convictos e comprometidos com o Deus da Bíblia”.[10]

 

Carriker[11] elabora o seguinte quadro para demonstrar a relação entre contextualização e sincretismo:

 

Nenhuma Identificação:

O evangelho é visto como estrangeiro. Os missionários olham a cultura à distância e sustentam certa arrogância e superioridade. O resultado é a REJEIÇÃO.

 

Ou, absoluta identificação:

O missionário está tão interessado em se identificar com a cultura, que assimila elementos contrários à palavra de Deus para ser aceito, O resultado é SINCRETISMO. Neste caso surge uma contextualização não crítica.

 

Contextualização crítica - Identificação Seletiva. À luz da palavra de Deus, o missionário avalia quais elementos são apenas expressões culturais e filtra as informações, sob a perspectiva da teologia bíblica. Ele colher as informações, submete sua compreensão à Palavra, avalia e julga sua própria cultura, e assim, com sabedoria, consegue reformular novas práticas mantendo a pureza da mensagem.

 

Conclusão:

 

Toda obra missionária comete equívocos quando o assunto é contextualização. Não existe regra fácil, mas com temor no coração, oração, sensibilidade, julgamento da sua própria cultura e da cultura à luz do Evangelho, a Palavra de Deus torna-se poderosa e transformadora.

 

Paulo afirma em 2 Co 3.5: “Não que por nós mesmos, sejamos capazes de fazer alguma coisa como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus que nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança”. Tal promessa nos torna ousados e humildes, sensíveis à Deus e à cultura. Ela coloca nossa mente e coração à disposição do Espírito Santo que faz todas as coisas através da frágil instrumentalidade destes instrumentos que somos nós.

 



[1] Lima, Silva, in Contextualização: a fiel comunicação do evangelho, org. Barbara Helen Burns, APMB, Anapolis, 2007, p. 1

[2] Hesselgrave, Paul – cit. Ronaldo Lidório in Contextualização: a fiel comunicação do evangelho. Op cit. pg. 3

[3] Kraft, Charles H. in Perspectivas no movimento cristão mundial, Org. Winter, Ralph & outros. São Paulo, Ed. Vida Nova, 2009, p. 397

[4] op. cit. pg 4,5

[5] . Hesselgrave, David J., in Perspectivas no movimento cristão mundial, op. Cit. 2009, pg. 406

[6] Kraft, Charles, Op. Cit, 2009, p. 399

[7] Lidório, op cit., p. 6

[8] . Cit. In Perspectivas, 2009, p. 57

[10] Burns, Barbara in Perspectivas no movimento cristão mundial, op. Cit. 2009, p. 61