quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A importância da dimensão Supracultural em missões


 

 

Introdução:

O que vem à nossa mente quando falamos de supracultural?

Na medida em que lia os textos que falavam sobre o assunto, percebi que a maioria dos autores não chegavam a um entendimento sobre o significado real de supraculturalidade.

 

Por exemplo, na bem articulada frase de Ronaldo Lidorio, lemos:

 

“O Evangelho é supracultural, pois define e explica a cultura, não o contrário; cultural, por ter sido revelado à humanidade em seu próprio contexto e história; intercultural, por juntar ao redor de Jesus pessoas de todos os povos; multicultural, ao ser destinado a todos os povos e línguas; transcultural, quando transmitido de uma cultura a outra; e contracultural, pois sempre confronta o homem em sua própria cultura.”[1]

 

Sem dúvidas, é uma frase bem construída. Entretanto, o que Lidório estava pensando acerca de supraculturalidade? A ideia não fica clara.

 

Qual é o significado de Supra? O que é Supra? Supra é um prefixo de origem latina que dá ideia de superior. É um termo de formação das palavras que vem antes do radical. Toda palavra composta pelo prefixo “supra”, remete à concepção do que se encontra "acima", "superior". Eis alguns exemplos de palavras com prefixo supra: Supracitado – citado anteriormente ou dito acima; Supramundano – que é superior ao mundo; Supranatural – superior ao natural; Supracultural – Que está acima. Podemos afirmar, o que está por detrás?

 

Neste sentido, para melhor usar o termo, talvez fosse melhor o termo Metacultural. Parece que o termo “meta”, aponta para o metafísico, metanatural, que dá alguma ideia mais ligada a espiritualidade e sobrenaturalidade.

 

Para Ronaldo Lidorio: “O evangelho de Deus é supracultural e transtemporal. Suficiente para comunicar a verdade de Deus a todo homem, em todas as culturas, em todos os tempos e em todas as organizações sociais, seja uma aldeia remota ou uma megacidade (Mt 24.14; Jo 3.16; At 1.8). 2. O evangelho não é apenas a verdade, mas também o poder de Deus. A mensagem bíblica é profundamente confrontadora e transformadora, atingindo e transformando o homem em todos os níveis de sua existência, inclusive o cultural (Rm 1.20; At 17.18-32; At 8. 12-23; Gl 1.16).”

 

Com todo respeito e admiração que tenho por este autor, a ideia de superculturalidade como apresentada, não parece deixar claro que esteja  relacionada ao mundo espiritual? Ou talvez ele não quisesse realmente dizer isto mas esteja aponta para outra direção?

 

Normalmente ao comunicarmos o evangelho, levamos em conta três culturas implícitas:

 

-A cultura da Bíblia que precisa ser clarificada com exegese e hermenêutica;

 

-A cultura do pregador, que precisa passar por um crivo antropológico;

 

-A cultura do receptor, que precisa ser entendida pelo pregador, para que a mensagem se torne clara, tenha relevância e sentido.

 

Burce Nicholls, entretanto, faz questão de frisar a importância de considerar quatro culturas. “O fato de quatro culturas estarem geralmente envolvidas na comunicação do evangelho complica-se ainda mais, uma vez que, nos dias de hoje, muitas pessoas são produto de várias culturas — tradicional e moderna, religiosa e secular. Somente nestas duas últimas décadas é que os evangélicos têm levado essa situação a sério.”[2]

 

Gostaria, portanto, de considerar a comunicação do evangelho, levando em consideração uma quarta cultura que transcende a cultura bíblica, a cultura do missionário e a cultura do nativo que ouve a mensagem do evangelho. Existe uma cultura espiritual, que se movimenta nos bastidores do anúncio do evangelho. Alguns preferem o termo “Batalha Espiritual”.

 

Nicholls fala sobre duas barreiras culturais à comunicação eficaz do evangelho.

 

A primeira é que “às vezes as pessoas resistem ao Evangelho não por pensar que ele é falso, mas por perceber que é um ameaça à sua cultura, especialmente à base da sua sociedade, e à sua solidariedade nacional e tribal”. Os judeus do primeiro século certamente viam o evangelho como uma ameaça ao seu judaísmo.

 

A segunda barreira à comunicação do evangelho, citada por Nicholls é que ele é frequentemente apresentado às pessoas por meio de formas culturais estrangeiras. Os missionários trazem consigo modos estrangeiros de pensar e de comportar-se, ou atitudes que transmitam superioridade racial, paternalismo ou preocupação com coisas materiais, a comunicação eficaz será obstruída”. A imagem do cristianismo como uma religião estrangeira, ocidental, exclusiva de homens brancos, é hoje um dos obstáculos mais sérios à evangelização eficaz na África e na Ásia. O islamismo na África tem procurado fomentar essa imagem do cristianismo e apresentar sua própria imagem como uma religião dos negros, algo que pertence à África.

 

Entretanto, há um outro fator, supracultural ou (metacultural): A influência de agentes espirituais ou demoníacos.

 

A religião influencia profundamente as culturas, desde os intelectuais e secularizados homens e mulheres da sociedade ocidental, até às sociedades primitivas, como as culturas animistas. Quando os pressupostos da religião são antagônicos às verdades bíblicas, tornam-se forte barreira na compreensão do evangelho. Basta observar as grandes religiões ético-filosóficas, como o hinduísmo, o budismo e o confucionismo e o islamismo.

 

A presença da religião é tão arraigada na cosmovisão de um povo, que mesmo o marxismo na Rússia e na China não conseguiram eliminar o senso do sagrado apesar de forte campanha materialista e secular. Pelo contrário, há sinais de que uma forte onda de espiritualidade esteja brotando , especialmente entre os chineses e os jovens na Rússia. O misticismo e a fenomenologia das religiões  tem levado a nova geração a uma obsessão por astrologia, quiromancia e superstição acerca do mundo dos espíritos.

 

A cosmovisão cristã afirma que  os seres humanos são seres espirituais e morais; por isso, nenhuma cultura imposta é capaz de reprimir esses fatores indefinidamente.

 

A importância do supracultural

 

Os missionários precisam considerar a importância das forças sobrenaturais e a realidade e sua interação com os fatores humanos. Como a presença de agentes espirituais mesclam e moldam uma cultura social, por mais primitiva e distante que seja. Nicholls afirma: “Ao usarmos o termo “supracultural”, referimo-nos a fenômenos culturais relacionados a crenças e comportamentos que têm origem fora da cultura humana.”

 

Estamos, portanto, nos referindo à força das trevas. A Bíblia afirma que Satanás é o “deus” deste mundo (2 Co 4.4), e que o mundo inteiro “jaz no maligno” (1 Jo 5.19),  numa referência clara à influência que as forças espirituais possuem sobre a humanidade. Infelizmente muitos que saem para os campos missionários  são completamente despreparados quanto à estas angustiantes realidades. Dr. Gilberto Pickering afirma que dispendeu dez anos infrutíferos na obra missionária, por não ter qualquer noção mais profunda destas realidades espirituais. Esta é a condição de muitos obreiros.

 

É importante conhecer as sutilezas das seitas falsas, do obscurantismo religioso, do paganismo, das superstições que escravizam culturas inteiras, controlando-as pelo medo e pelo engano. São duras realidades no âmbito espiritual,

 

A Bíblia Sagrada trata profundamente desta realidade, não deixando dúvidas para qualquer estudante sério da Bíblia. Todavia, não é esta a mesma visão que podemos perceber nos antropólogos e sociólogos seculares que ignoram ou desprezam a ideia de sacralidade. Eles consideram que tais argumentos entram na categoria do mágico, do místico, da supranaturalidade, e não são temas que podem ser averiguados pela ciência, embora possam fenomenologicamente serem analisados.

 

Estudiosos seculares, e missionários liberais, podem equivocadamente supor que o mundo é um sistema fechado e que todos os fatores da formação cultural, inclusive o religioso, estão contidos nesse sistema. A supranaturalidade ou é negada, ou é explicada de forma contrária à visão da teologia bíblica. Todas as culturas são influenciadas por esta notória ação das trevas, basta ler atentamente o Antigo Testamento, os evangelhos, ou o livro de Atos dos Apóstolos que narra as primeiras viagens missionárias.

 

A Antropologia missionária será capaz de traçar uma linha divisória clara sobre aquilo que é próprio da cultura pagã numa determinada sociedade ou aldeia primitiva, e aquilo que é decorrente da ação direta dos espíritos malignos e das potestades espirituais. Onde houver pregação clara da Palavra de Deus e anúncio do evangelho, haverá oposição.

 

Desta forma, o missionário que se dispõe às Missões transculturais, precisa se preparar para lidar com oposição maligna. o Evangelho, por sua natureza espiritual, sempre gera reações ruidosas de forças malignas. Em Atos lemos: Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos” i(At 14.2). expressão, “tinham se recusado a crer”, literalmente significa mais do que não crer. Eles literalmente “não se deixavam persuadir”, e sequer deram uma chance ao evangelho ou consideraram a mensagem. Trata-se da atitude de alguém que não quer ouvir o argumento do outro, por mais razoável e coerente que seja. Quando isto ocorre, existe um “fechamento” e distanciamento em relação à mensagem. Os habitantes de Icônio não apenas se recusaram a ouvir, como ainda envenenaram a mente das pessoas contra os discípulos de Cristo. O inimigo contra atacava.

 

A oposição espiritual pode vir em forma de rejeição e ameaça. Quando a obra missionária é feita de forma romântica, ou ingênua, o obreiro facilmente se desencanta e desencoraja. As frustrações e a oposição são reais e doloridas. Não é sem razão que João Marcos deixou a obra missionária no meio da jornada e retornou para sua casa (Jo 13.13). Muitos se atiram na obra missionária pensando que é uma viagem de turismo. Se você sente chamado para um determinado campo, prepare-se para grandes batalhas espirituais.

A primeira forma de oposição que os apóstolos tiveram em Icônio, foi a incitação do povo contra os apóstolos, criando uma rejeição da cidade contra Paulo e Barnabé. As pessoas os maldiziam, acusando-os, mas eles continuaram firmes fazendo o que foram chamados a fazer. O texto não afirma quanto tempo ficaram ali, mas podemos pensar que foram meses, e apesar de toda resistência continuaram anunciando a mensagem da salvação. Não é fácil estar num campo sob ameaça constante e risco de vida. O texto relata que apesar de terem sido usados poderosamente para curar um coxo de nascença, isto não impressionou os moradores do lugar, que não hesitaram em apedrejar Paulo ao ponto de acharem que ele estava morto.

Quando Paulo chega a Filipos, diariamente vinha atrás deles uma jovem vidente, que dava muito lucro às pessoas, gritando em voz alta: “Estes homens são servos do Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação!” (Ay 16.17). Que propaganda aparentemente oportuna... Paulo deve ter ficado inicialmente feliz com isto, porque a Bíblia afirma que aquela jovem possessa fez isto vários dias, sem que Paulo percebesse que havia um agente espiritual por detrás daquele ato. E olha que Paulo era experimentado neste assunto. Tudo parecia bem, a não ser pelo fato de que aquela jovem estava possessa de um espirito de adivinhação. Era o próprio demônio que fazia isto. Aparentemente promovendo a mensagem, mas quem deseja fazer a obra de Deus tendo o diabo como garoto propaganda?

Quando Filipe chega a Samaria, o líder espiritual mais influente da região, chamado de Simão, o mágico, aderiu à igreja, chegou a ser batizado, até ser desmascarado quando demonstrou seus verdadeiros motivos. Do ponto de vista do marketing, quem poderia ajudar mais a Filipe e seu ministério que a adesão deste homem carregado de uma aura de espiritualidade que todos admiravam? Entretanto, aquele homem esteve na igreja, sem ser da igreja. Quais eram, de fato, seus motivos? Por que Satanás adotara esta estratégia? A única razão me parece causar confusão no rebanho e dispersar o poder do evangelho.

Todas estas forças descritas no livro de Atos, presentes em diferentes cidades, estavam associadas à cultura local, mas transcendiam à cultura local. Não eram ações meramente humanas, transcendiam, e apontavam para elementos espirituais que governavam e dominavam os habitantes locais. Muitas vezes estas ações são confundidas com expressões folclóricas, mitos e tabus. Determinadas simbologias parecem pitorescas e até mesmo cômicas, é comum encontrarmos pessoas que investem dinheiro em turismo macabro para verem expressões espirituais demoníacas em pessoas que se tornam possessas em terreiros de umbanda, ou nos rituais do candomblé e rituais vodus, uma tradição religiosa baseada no culto dos ancestrais e invocação de espirito de pessoas que já morreram. As cenas bizarras não assustam nem impressionam a juventude que já acostumou a ver todo tipo de manifestação a partir dos cinemas e interpretam tais fenômenos antropológica ou fenomenologicamente, apenas.

Tais fontes são consideradas supraculturais, porque transcendem a esfera do culturalmente observável, mas tais fontes dos fenômenos são inegavelmente demoníacas, quando as interpretamos à luz das narrativas e ensinamentos das Escrituras Sagradas. Não sem razão Jesus chama por três vezes Satanás de “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Trata-se de um poder que governa estrutura sociais e politicas de uma determinada etnia ou nação. Será que Jesus estava equivocado quando se refere desta forma às forças sobrenaturais?

 

Assim a Igreja Primitiva condicionava e subordinava as atitudes humanas e a forma de crer ao crivo da sobrenaturalidade. Os apóstolos levaram a sério a realidade supracultural. A cosmovisão bíblica é permeada por forças espirituais, potestades do mal, principados das trevas. Paulo se refere a Satanás como aquele que seduz os pagãos incrédulos para que não creiam (2 Co 4.4). Se refere às forças espirituais como “o príncipe do potestade do ar e do espírito que atua nos filhos da desobediência” (Ef 2.2). Menciona os “principados e potestades e aos dominadores deste mundo tenebroso e as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Em todas essas passagens, a referência aos poderes cósmicos demoníacos é inconfundível. A supranaturalidade se torna manifesta e explicita na análise que ele faz das culturas e sociedades às quais ele está anunciando a salvação.

 

Trata-se então de um mundo, cujo sistema fechado não é fechado, mas nele interagem forças das trevas, movendo-se e articulando entre as forças históricas. Em Apocalipse 13, vemos como o mundo como realidade visível, se desloca do plano cósmico e se aproxima da dinâmica da história, sai do âmbito do eterno e invade os meandros da temporalidade, penetra os eventos da raça humana e se manifesta num contexto político e humano.

 

Na visão bíblica, o sobrenatural não se distancia do natural e vice-versa. A história dos homens, é, em última análise, a história da intervenção de Deus na terra e a oposição dos poderes aparentemente neutros, a tudo aquilo que é verdadeiramente divino. A cosmovisão do Velho e do Novo Testamentos é permeada por toda uma compreensão da intervenção do sobrenatural no mundo aparentemente secular. O mundo espiritual e o físico, não são distanciados uns dos outros, não são compartimentalizados, divididos, antes complementares, vivendo uma relação na qual, mesmo quando achamos que os eventos são puramente naturais, eles estão recheados de espiritualidade. Por mais humanos que os eventos históricos possam parecer, em última instância, a luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades, nas regiões celestes.

 

Os dramas cósmicos e terrenos se tocam constantemente. Não existe interlúdio ou espaço entre eles, antes se encontram em movimentos sincrônicos, existe ingerência real entre os “dois-mundos”, que na verdade formam uma unidade. Este é um conceito bíblico, a história de Deus está sempre se inserindo na história dos homens, con-fundindo-se com ela. Vemos isto claramente na história de Israel, mas de forma ainda mais radical e profunda, na vinda de seu Filho que veio que veio morar entre nós. (Jo. 1.14)

 

O grande desafio nosso é distinguir o falso do verdadeiro. As forças espirituais possuem apelos fortíssimos.  Tem aparência de poder operando grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra diante dos homens, seduzindo os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta. Este apelo pelo mágico, pelo misticismo, pelos sinais exteriores são extremamente fortes. “O problema com o falso profeta é que ele não representa apenas a religião formal, mas representa o verdadeiro poder de Satanás”[3]

 

Nenhuma missiologia cristã pode ignorar a oposição do diabo à mensagem do Evangelho. Onde uma igreja bíblica e evangélica está sendo plantada, uma capela está sendo erguida para confundir. “A realidade do conflito entre o supracultural e o cultural é de extrema importância para qualquer compreensão adequada das questões da comunicação transcultural. A cultura nunca é neutra. Cada cultura reflete esse conflito. A religião nunca é meramente uma questão humana, mas sim um encontro entre o reino de Deus e o reino de Satanás dentro do âmbito supracultural. (Nicholls)

 

A cosmovisão de uma cultura pode e deve ser modificada pelos valores universais do Evangelho, sem destruir os seus valores culturais. Mas indubitavelmente o evangelho será sempre confrontativo quando as questões da espiritualidade que interpenetraram tal cultura forem opostas às verdades de Deus.

 

Quando o Criador deu o mandato cultural aos nossos pais, para que cuidassem e guardassem o jardim, colocou em cada alma, a capacidade de julgar, estabelecer normas, criar a lei e a justiça na terra. AS bases da cultura foram claramente humanas, entretanto, a cultura é o campo onde intervêm as forças divinas e forças satânicas continuamente. Ela é o objeto da ação do supracultural divino e do supracultural demoníaco. Trata-se de uma guerra contínua entre as potestades das trevas e os anjos de Deus. O missionário se interpõe exatamente neste campo, onde a superstição e o misticismo precisam ser desmascarados e as verdades de Deus possam libertar as pessoas das trevas. Para isto ele precisa estar investido da armadura de Deus (Ef 6.10-17),

 

Satanás é uma realidade espiritual, e não um mito, que influenciava (as culturas pagãs. Muitos povos vivem dominados por este mundo tenebroso, que gera pobreza, miséria, morte e sofrimento. Nem tudo pode sociologicamente ser atribuído ao diabo, mas não podemos igualmente ignorar sua presença e sua força. Em muitas animistas, onde grupos étnicos creem e são controlados pelos feiticeiros, com sua hierarquia de deuses, espíritos e demônios, as pessoas estão presas à escravidão do animismo e do sincretismo e da feitiçaria.

 

A cosmovisão bíblica é permeada pelo elemento sobrenatural, sempre presente nas interações culturais.  Os fenômenos religiosos não podem ser atribuídos apenas a uma questão da cultura, mas transcendem a esfera do natural e da cultura humana. A crença na supracultura está profundamente identificada com as verdades de Deus. o mundo bíblico estava bem consciente da existência do mal, não apenas como resultados de escolhas humanas erradas e de uma leitura inadequada da natureza, mas de um mal sobrenatural, personificado no diabo e seus anjos. A batalha espiritual é real e Satanás faz uso das práticas culturais (amuletos, ritos de passagem, sacrifícios etc) e da banalização da corrupção como forma de tornar o povo resistente ao Evangelho.

 

“Onde não houver qualquer interação genuína entre o supra-cultural e a cultura nacional na comunidade cristã, pode-se duvidar seriamente se o reino de Deus está em qualquer sentido no seu meio.” (Nicholls).

 

O Pacto de Lausanne afirma: “Porque o homem é criatura de Deus, parte da sua cultura é rica em beleza e bondade. Porque ele caiu, a totalidade dela está manchada com o pecado e parte dela é demoníaca. O Evangelho não pressupõe a superioridade de qualquer cultura sobre outra, mas, sim, avalia todas as culturas de acordo com seus próprios critérios de verdade e justiça, e insiste nos absolutos morais em cada cultura” (Paragrafo 10). As implicações pessoais e sociais da Queda afetam radicalmente todas as pessoas e todas as culturas.

 

Por causa disto, no anúncio do Kerigma, não podemos prescindir da obra do Espírito Santo, dando iluminação, revelando o coração do pecador, desmascarando as mentiras colocadas em formas de ritos e como se fossem meras expressões culturais.

 

Kane afirma: “(A Batalha espiritual)... é especialmente verdade em relação aos missionários pioneiros em regiões dominadas pelas trevas nos cantos mais distantes da terra. Eles são particularmente vulneráveis como pioneiros, porque nenhuma base de operação tinha sido estabelecida. Os ataques podem ser físicos, mentais, ou espirituais em seu caráter. Pode envolver diretamente o missionário ou os primeiros convertidos. Em qualquer caso, o ataque pode ser devastador nos estágios iniciais da ação missionaria”.[4]

 

Lidório, comentando o texto de Ef 6.12 que fala dos “dominadores deste mundo tenebroso”, afirma que o termo “dominadores” vem do grego “kosmokratoras”, que literalmente significa estrategistas do mal. Trtava-se de um grupo de homens treinados em guerra que se reuniam com o objetivo de traçar planos de sabotagem contra o exercito inimigo. Este é o termo usado por Paulo. São seres malignos que traçam planos de sabotagem contra a igreja e contra o reino de Deus. “funcionalmente, kosmokratoras designa um grupo maligno organizado contra a expansão do evangelho e não um desatinado grupo de demônios voando aleatoriamente para todos os lados, com atitudes impensadas” [5]

 

Conclusão: “Ide! Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10.3).

 

Sempre me sinto desconfortável com esta afirmacao de Jesus. Acho a batalha muito desigual. Ele nos envia como cordeiros, para enfrentar uma alcateia. Uma ovelha, animal adulto, já seria incapaz de se defender, quanto mais um cordeiro, um filhote de ovelha. Nenhuma chance. Eu preferia que a ordem fosse invertida: “Eis que vos envio como lobos para o meio de cordeiros”, acho que assim teria mais garantia de vitória. Neste cenário apontado por Jesus, não há qualquer chance...

 

A não ser...

A não ser que o pastor esteja conosco. Com a presença do pastor, a vitória está certa. Não há perigo nem ameaça. O pastor nos protege.

 

Jesus queria demonstrar nossa completa impossibilidade de vitória por nós mesmos. Não podemos obter vitória contra principados e potestades, se o fizermos baseado nos recursos que temos. Entretanto, a igreja de Cristo segue vitoriosa, a obra missionaria tem avançada, milhões tem sido tirados das superstições e das garras do diabo, por causa do poder da palavra de Deus, pela operação do Espírito Santo e pela presença do pastor entre nós.

 

Assim a igreja segue vitoriosa...

 

 



[3] Ladd, George , Exposicao de Apocalipse 1980. Pg. 136

[4] . Kane, J. Herbert – Christian Missions in Biblica Perspective.  Bker Book house, Grand Rapids, MI, 1976, Pg. 274

[5] Lidório, Ronaldo - in Perspectivas no movimento cristao mundial, Org. Ralph Winter. São Paulo, Ed. Vida Nova, 2009, Pg 208.

Nenhum comentário:

Postar um comentário