Introdução:
Por que a revitalização deve ser buscada?
Nossa igreja estava passando por um momento singular da história, crescendo em número de membros e em contribuição, muitos atraídos a Jesus estavam sendo batizados, pessoas outrora desinteressadas pelo evangelho, agora se aproximavam da igreja, desejosas de se envolver. O templo começou a ficar pequeno, e passamos para dois cultos, depois fomos para o terceiro. Foi quando surgiu a ideia de construir um novo templo.
Foi um momento de agitação na vida da igreja. Igrejas históricas e estabilizadas enfrentam crises quando pensam em mudanças maiores. Alguém disse que uma pequena congregação é como um pequeno barco, que pode mudar facilmente de direção, mas uma igreja maior, é como um transatlântico, precisa de um tempo maior para mudar sua rota.
Entre insegurança e anseio, com algumas críticas pontuais e pessoas empolgadas com o que estava acontecendo, recebi em meu escritório, a visita de uma pessoa muito querida, que não era de nossa igreja, e me trouxe um texto de A. W. Tozer, no qual afirmava, em linhas gerais, que uma igreja não deve ser avaliada pelo número de membros que possui e nem pelo seu orçamento, mas pela devoção a Cristo. Ela entregou o artigo, disse que não queria conversar, mas apenas me entregar este recado, virou as costas e foi embora.
Li o artigo e a mensagem era clara. Aquela irmã estava preocupada comigo e com os andamentos da igreja. Ela vinha de um contexto conservador, e certamente crescimento de igreja era alguma coisa que suscitava questionamentos em sua mente. Crescimento da igreja é uma coisa boa? Vale a pena celebrar a chegada de novos membros ou temos que ter precauções e cuidados? Não seria o crescimento um risco para a fidelidade da igreja? Será que não estava fazendo alguma coisa errada? Será que meus motivos estavam corretos?
Considerando estas coisas, entendi claramente que muito do que estava acontecendo trazia sim, certa vaidade ministerial, e eu estava sempre lembrando de um texto bíblico que diz: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido. Entretanto, Deus me tem ouvido e me tem atendido a voz da oração.” (Sl 66.18-19). Mas apesar da exortação tão clara, e de estar atento a este perigo, isto não evitava que eu construísse ídolos no meu coração e começasse a colocar meus olhos em coisas que traziam status e projeção. O risco estava presente. “Enganoso é o coração e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jr 17.9)
Este pequeno incidente provoca uma importante pergunta: Por que deveríamos pensar em revitalização de Igrejas? Quais devem ser os motivos? Por que deveríamos nos empenhar, orar, refletir sobre este assunto?
Antes de mais nada, precisamos entender que Revitalização de igrejas é importante porque tem a ver com vida. Este deve ser o ponto de partida. Quando clamamos para que Deus avive sua obra estamos desejosos de ver sua vida se manifestando entre nós.
Como podemos perceber no Salmo 80:
“Dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor. Perante Efraim, Benjamim e Manassés, desperta o teu poder e vem salvar-nos. Restaura-nos, ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.
Ó Senhor, Deus dos Exércitos, até quando estarás indignado contra a oração do teu povo? Dás-lhe a comer pão de lágrimas e a beber copioso pranto. Constituis-nos em contendas para os nossos vizinhos, e os nossos inimigos zombam de nós a valer. Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Trouxeste uma videira do Egito, expulsaste as nações e a plantaste.
Dispuseste-lhe o terreno, ela deitou profundas raízes e encheu a terra. Com a sombra dela os montes se cobriram, e, com os seus sarmentos, os cedros de Deus. Estendeu ela a sua ramagem até ao mar e os seus rebentos, até ao rio. Por que lhe derribaste as cercas, de sorte que a vindimam todos os que passam pelo caminho? O javali da selva a devasta, e nela se repastam os animais que pululam no campo.
Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos, olha do céu, e vê, e visita esta vinha; protege o que a tua mão direita plantou, o sarmento que para ti fortaleceste. Está queimada, está decepada. Pereçam os nossos inimigos pela repreensão do teu rosto. Seja a tua mão sobre o povo da tua destra, sobre o filho do homem que fortaleceste para ti. E assim não nos apartaremos de ti; vivifica-nos, e invocaremos o teu nome.
Restaura-nos, ó Senhor, Deus dos Exércitos, faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.” (Sl 80.1-19).
Já no primeiro versículo o Salmista deixa claro o motivo de sua oração: “Tu, que és pastor de Israel, dá ouvidos; tu, que guias a José como a um rebanho; tu, que te assentas entre os querubins, resplandece”. Ele pede a Deus que ele resplandeça, já que é o pastor de Israel. Deus precisava se manifestar, sair da penumbra, da sua dimensão abscôndita. Precisava resplandecer.
Em seguida ele descreve o quadro deprimente que a ausência de vitalidade gerava no povo de Deus. Quando a igreja está fragilizada, parece que as orações não são ouvidas. (Sl 80.14); Falta entusiasmo e alegria (Sl 80.5); O inimigo zomba do povo de Deus (Sl 80.6); o povo de Deus parece estar desprotegido, com as cercas derribadas (Sl 80.12) e torna-se fragilizado para a ação dos inimigos. (Sl 80.13)
Diante disto o salmista ora por revitalização. Ele pede a Deus para que olhe e visite sua vinha (Sl 80.14); pede por proteção divina (Sl 80.15), ora por restauração (Sl 80.16) e pede para que Deus visite poderosamente o seu povo (Sl 80.18).
Qual o tema central das Escrituras?
Para Rick Warren, o tema central é “Relacionamentos”. Para Von Groniken, a Bíblia é um livro de alianças e pactos; para Stanley Jones, conhecido missionário metodista, o tema central é Vida. Pela opinião destes homens de Deus dá para perceber que todos estes temas são centrais, mas a igreja fria, apática, morta, não glorifica a Deus.
Como Deus é quem dá vida, entendemos que revitalização não é obra humana, não surge por esforço humano, para mas pelo ato soberano e amoroso de Deus na história do seu povo. Mais do que nunca, precisamos ser renovados para que o fogo do Espírito consuma sua obra no decorrer da história.
Avivar é um termo que é oposto de dormência, inconsciência, apatia. Muitos encontram-se adormecidos, e estarão despreparados quando Cristo vier buscar sua igreja, precisam acordar, precisam voltar à consciência, tornar a viver. Precisamos orar por isto.
Precisamos de vida abundante.
Temos tido migalhas da graça de Deus, e temos vivido uma vida cristã miseravelmente feliz. Onde estão as riquezas da vida de Deus, da obra do Espírito Santo?
Poucas pessoas têm orado pela revitalização da igreja? Normalmente nossas orações estão focalizadas em problemas emergenciais, e não consideramos a urgência de pedirmos a Deus para que ele avive a sua obra. Entretanto, não temos outra forma de viver a vida de Deus. Quando clamamos para que Deus avive sua obra estamos desejosos de ver sua vida se manifestando entre nós.
Stanley Jones faz uma comparação entre cisterna e poço artesiano. Ele afirma que na cisterna precisamos de uma bomba manual, e vamos tirando um pouco de água que dá para nossa sobrevivência, mas com poço artesiano, a água brota espontaneamente.
M. L. Jones afirma que o grande problema não é a negação da verdade cristã, mas a falta de desejo de aplicar tal verdade às nossas vidas. Precisamos não de melhores métodos e organização, mas de um poder que pode entrar em nossas almas, nos quebrantar e nos restaurar. Precisamos do poder vivo do Deus vivo.
Precisamos de vida, não da vida artificialmente comprada nas boutiques, nos salões de beleza e na fogueira das vaidades, precisamos de vida que jorre dentro da igreja. Precisamos de vida dentro de nossos lares, revelando-se na igreja de Cristo. Se entendemos isto, precisamos orar como o profeta "aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida" (Hab 3.2). Dá-nos vida plena, abundante, plena, estamos fartos de comermos migalhas e dos restos de comida espiritual, o Senhor tem vida e vida em abundância para nos dar (Jo 10.10).
Qualquer outro esquema é carnal (parte da carne). Disse João Batista: “Ele vos batizará com Espírito Santo e com fogo” (João). Disse Jesus: “Sereis batizados com poder” ( At 1.8). A igreja pode ter seus ministérios bem estabelecidos, sua rotina clarificada, as coisas andando bem, mas se estiver pensando apenas em si mesmo, no seu conforto e bem estar já não é a vida de Deus que opera nela. Só a obra de Deus capacita a igreja a viver para Deus, pois o Espírito é ruah, vento (hebraico). Ele age e impulsiona a igreja a viver para Deus.
Aviva a tua obra Senhor!
É possível levar as coisas, por certo período de tempo, na base da tradição, costume ou hábito, mas chega a hora que não teremos mais reservas sobrando e compreenderemos que estamos enfrentando algo absolutamente básico e fundamental. É a necessidade da vida em si, este poder e vigor essencial na igreja de Cristo, em nossa família e dentro de nós. Gloriosos períodos de avivamento e despertamento foram precedidos de grande secura, indiferença e entorpecimento na história da igreja. Para que a obra de Deus seja novamente avivada, é necessário um retorno à Palavra de Deus.
Segundo, Revitalização é importante, porque sem a vida que jorra do trono de Deus, a igreja não avança.
Como um corpo vivo, a igreja precisa ter saúde para resistir. O sistema imunológico precisa ter resistência para reagir aos ataques de vírus e bactérias. O único poder para proteger a igreja vem de Deus. É a vida que sai diretamente de Deus para sua igreja, dando-lhe estabilidade e resistência para enfrentar o mundo e o diabo.
No Salmo 80, o salmista contempla o povo de Deus prostrado, desprotegido, desemparado e pede por três vezes:
“Restaura-nos ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos”. (Sl 80.3).
“Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Trouxeste uma videira do Egito, expulsaste as nações e a plantaste.” (Sl 80.7)
“Restaura-nos, ó Senhor, Deus dos Exércitos, faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.” (Sl 80.19).
É o apelo de um homem de Deus para que algo aconteça. Algo precisa acontecer e precisa ser feito por Deus. Nenhum esforço humano, seria capaz de gerar saúde para que o povo de Deus, combalido e fragilizado, pudesse sobreviver. Sua oração é clara: “Restaura-nos Senhor!”.
Um antigo hino, escrito por Samuel Trevor Francis (1834-1925), poeta e evangelista inglês, pregador em campanhas evangelísticas ao ar-livre, diz o seguinte:
Fortalece a tua Igreja,
Oh! Bendito Salvador!
Dá-lhe tua plena graça,
Oh! Renova seu vigor.
Vivifica, vivifica
Nossas almas, ó Senhor! Amém.
Sem tua graça, ela murcha
Ficará, sem vigor.
Revitalização é importante, porque sem a vida que jorra do trono de Deus, a igreja não avança.
Terceiro, a Igreja precisa de revitalização, para glorificar a Deus.
Quando a Reforma Protestante fala do Soli Deo glori, estabelece um dos mais importantes princípios e razão da existência da igreja: Ela existe para a glória de Deus. A igreja não existe para sua auto manutenção e sustentação, mas para glorificar a Deus. Da mesma forma, todos os atos missionários da igreja. O povo de Deus faz missão porque anseia que Deus seja glorificado entre as nações. Este é o objetivo da obra missionária.
Apesar de entendermos que a obra missionária trará graça e alegria às nações pagãs, o alvo principal da obra missionária é promover a glória de Deus.
O profeta Isaias afirma:
“As nações verão a tua justiça, e todos os reis a tua glória; e serás chamado por um nome novo, que a boca do Senhor designará” (Is 62.2)
“Olhe! A escuridão cobre a terra, densas trevas envolvem os povos, mas sobre você raia o Senhor, e sobre você se vê a sua glória. As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu” (Is 60.2,3).
Por isto o Salmo 67 afirma: “louvem-te os povos; ó Deus, louvem-te os povos todos” (Sl 67.3). O desejo é que o Deus verdadeiro seja glorificado entre todas as nações. Que a glória de Deus se torne manifesta.
Não raramente pensamos que a principal tarefa da igreja é a obra missionária, afirmamos que se a Igreja não é missionária, não é Igreja. Sem dúvida, missões é uma prioridade da Igreja, mas não é o seu objetivo último. Adoração a Deus, na verdade deve ser sua razão de existir. A igreja existe para a glória de Deus. John Piper afirma que quando esta era terminar e todas as raças, tribos e nações estiverem diante do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais terá razão de existir, mas o culto, continuará existindo. Missões é apenas uma atividade temporária da Igreja, mas o culto a Deus permanecerá para todo o sempre.
O Salmo 67 faz a relação entre a adoração e missões: “para que se conheça na terra o teu caminho”.
A glória de Deus deve ser a razão da obra missionária. O objetivo das missões, em última instância, não é só abençoar os povos que recebem a mensagem, mas trazer glória ao nome de Deus. O alvo final não é a humanidade mas a promoção do nome de Deus. Amor a Deus deve ser o motivo missionário. Adoração é o objetivo central, e a obra missionária é resultado da adoração e do amor a Deus.
John Piper afirma que “a paixão por Deus no culto precede a oferta de Deus na pregação”. Faz missão quem ama o Senhor e tem interesse na glória dele. O que está em foco é o culto. Quem deseja adorar a Deus fará missão, mas missão é consequência do amor e do anseio pela glória de Deus.
Andrew Murray no seu famoso sermão sobre Adoração e Missões, pregado há mais de cem anos atrás afirmou: “Quando buscamos saber por que, com tantos milhões de cristãos, o verdadeiro exército de Deus que está enfrentando os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é: falta de coração e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando, porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei”.
A prioridade última do povo de Deus é glorificar a Deus e como resultado desta adoração, a obra missionária será realizada.
Uma igreja com vitalidade experimenta a vida que jorra do Espírito e é liberta do cinismo religioso e moral. Quando Deus se revela, sua história muda. Quando o avivamento ocorre, algo de extraordinário acontece, e surge a tristeza segundo Deus. Arrependimento genuíno. Somente a obra de Deus renovando sua igreja pode capacitá-la a um testemunho autêntico e a luta contra as trevas. É Deus operando nas profundezas do coração, desmascarando as defesas e artifícios fugazes, a religiosidade cheia de vícios e artimanhas. Avivamento é Deus colocando um novo princípio de vida em nós, que resulta em um novo homem, "criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade" (Ef 4.24).
Conclusão:
No livro de Habacuque, o profeta ora por avivamento e revitalização. "Tenho ouvido, ó senhor, as tuas declarações e me sinto alarmado; aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida" (Hab 3.2).
Este texto aponta para a revitalização em quatro direções importantes:
1. Revitalização é obra exclusiva de Deus. Somente Deus pode gerar. Por isto o profeta ora: "Aviva a tua obra Senhor". É Deus quem aviva. Não se trata, portanto, de obra humana. Nunca emocionalismo, artificialismo, nem manipulações sentimentais redundaram em avivamento. No máximo, produziram super-crentes e pessoas admiradas e veneradas pela sua super-espiritualidade, mas isto é o oposto do avivamento, pois está centralizado no homem, na sua habilidade de gerar reações humanas. Portanto, trata-se da carnalidade travestida de espiritualidade.
2. Revitalização demonstra que a obra é de Deus - "Aviva a tua obra". A obra é de Deus, portanto, tem a ver com o próprio Deus. É Jesus quem edifica sua igreja, é Deus quem cuida da sua obra. É dele, e somente dele, sua obra na história. "Quem tem a noiva é o noivo", como bem afirmou João Batista. A obra é de Deus.
3. Revitalização atinge as próximas gerações - "Aviva a tua obra, Senhor, e no decurso das gerações, torne-a conhecida". O alvo primordial de todo avivamento, tem a ver com o impacto nos filhos e nos filhos dos filhos. Vejo muitas pessoas buscando uma religiosidade para si, despreocupados com o que acontecerá a seus filhos. A doutrina do Pacto da família, vem nos lembrar que Deus está interessado não apenas em nós, mas nos nossos filhos. "Farei uma aliança entre ti e a tua descendência". Precisamos orar por avivamentos que transformem a história das próximas gerações.
4. Revitalização impacta a sociedade. "Aviva a tua obra, Senhor, e no decurso das gerações, torne-a conhecida". A obra de Deus vai atingir as pessoas, vai se tornar conhecida daqueles que ainda não a conhecem. Vai atingir amigos e a sociedade. Vai impactar culturas e povos diferentes. Se você ora por revitalização precisa ter os olhos focados em evangelismo e missões. Não é apenas um evento que vai nos tornar mais desejosos de Deus e com desejo de santidade, o que já seria maravilhoso, mas vai alcançar pessoas periféricas e distantes do evangelho. Vai atingir a cosmovisão de um povo.
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