terça-feira, 18 de agosto de 2020

O Espírito Santo na Revitalização da Igreja

 

Restauração de Igreja no Espirito Santo possui equipamentos SH

 

 

Introdução:

 

Eu tinha acabado de receber o convite para pastorear a Igreja Presbiteriana de Anapolis, em meados de Agosto de 2002, retornando ao Brasil depois de quase 9 anos morando nos EUA. Um dos presbíteros, que estava encabeçado meu convite, me ligou empolgado e afirmou: “Samuel, aceite o convite, nós vamos estourar a boca do balão aqui em Anápolis”. Aquela frase, que deveria ser uma frase de encorajamento, na verdade soou como um grande perigo. Eu sabia o que aquele irmão estava dizendo, conhecia seu coração e respeito pelo meu ministério, mas ela me soou como algo muito “self-centered”, e eu me assustei.

 

Um versículo das Escrituras veio imediatamente à minha mente: “Se o Senhor se agradar de nós, ele nos fará entrar nessa terra, onde manam leite e mel, e a dará a nós. Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. (Nm 14.9,10). Esta frase foi dita no meio do desânimo do relatório dos espias que voltaram para dar o relatório sobre a terra de Canaã. A questão para Josué e Calebe não era se tinham competência ou não, se estavam bem equipados ou não, se o exército deles era ou não superior. A questão tinha a ver com Deus. Se Ele quiser... algo notório acontecerá... Somente Deus pode fazer.

 

Isto se torna o foco de nossa atenção quando refletimos sobre a obra do Espírito Santo na Revitalização da igreja.

 

Jesus sabia que os discípulos seriam incapazes de realizar a obra a não ser que algo de excepcional acontece nas suas vidas. Eles precisavam de algo que não era deles, que não estavam neles, e que não seriam capaz de realizar. Eles precisavam da poderosa obra do Espírito para realizar a missão que lhes fora designado.

 

Por esta razão, Pentecoste  é um evento cuidadosamente anunciado e preparado por Deus (At 2.16). Jesus deixou muito claro aos seus discípulos que algo de extraordinário precisava acontecer para o estabelecimento de sua igreja (Lc 24.29; At 1.8), mas além de Jesus, outros profetas falaram deste acontecimento:

 

Þ    “Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto. Então o deserto se tornará um pomar, e o pomar será tido por bosque” (Is 32.15)

 

Þ    Derramarei meu espírito sobre vós, vossos jovens sonharão e vocês velhos terão visões” (Jl 2.28-32)

 

Þ    “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e darei coração de carne”  (Ez. 36.26).

 

Jesus sabia que eles precisavam de poder, por isto lhes advertiu a que não saíssem de Jerusalém antes desta capacitação. Ele sabia que o evento Pentecostes seria imprescindível para a igreja existir. Isto é o que precisamos quando pensamos em plantação e na revitalização das igrejas. Precisamos da vida que sai do trono de Deus.

Não precisamos de mais estrutura eclesiástica, mais publicidade, propaganda, marketing, organização e nem mesmo de mais dinheiro, precisamos de mais poder.

 

Quando a igreja de Cristo tenta fazer a obra sem a capacitação de Deus, o resultado é o fracasso. Crentes sem poder são crentes que fracassam, como lemos em Marcos 9.22, o desabafo do pai de um menino possesso de um espirito maligno que diz a Jesus: “Roguei a teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. Diante disto, o pai roga a Jesus: “Se tu podes fazer alguma coisa, ajuda-nos”.

 

Sem o poder glorioso do Espírito Santo, fracassamos. E fracassos comprometem a Deus. Por isto precisamos entender a importância do Espírito Santo sobre nossas vidas. Jesus falou de uma capacitação, de um poder imprescindível. Eles não poderiam sair de Jerusalém enquanto não o recebessem (Lc 24.49), e seriam incapazes de realizar a obra missionária (At 1.8)

 

Precisamos entender a Natureza do Poder:

 

A.   Poder não é organização. Podemos ter uma boa estrutura denominacional. Os departamentos estarem ajustados, mas sem o poder do Espírito a igreja continua morta. Cemitério é o lugar que possui uma organização impecável, mas infelizmente não tem vida.

 

B.    Não é capacidade intelectual . Muitos obreiros fracassam na liderança da igreja porque confiam em sua capacidade e erudição. São pessoas com muito conhecimento e boa formação, mas sem o Espírito Santo, não acontecerá. (Jr 9.23,24; 1 Co 1.20).

 

C.    Não tem a ver com recursos financeiros- igrejas ricas, estão perdendo sua vitalidade, porque se esquecem de que dinheiro não produz os resultados maravilhosos que o Espírito Santo produz. Pedro disse ao mendigo na porta do templo: “Não temos prata nem ouro, mas o que temos, isto te damos: em nome de Jesus, levanta-te, toda o teu leito e anda.” (At 3.6)

 

Conta-se que quando Tomás de Aquino visitou o Papa em Roma, o Papa Inocêncio IV, mostrou-lhe todos os tesouros de Roma, afirmando com orgulho: “Felizmente não precisamos dizer como Pedro: não temos ouro nem prata”. E Tomás de Aquino teria replicado: “Entretanto, lamentavelmente não podemos dizer como ele: “Levanta-te, toma teu leito e anda”.

 

D.   Não é Prestígio político- A Igreja de Cristo não depende de poder político. Aliás, historicamente falando, na maioria das vezes que ela tem poder humano na sua mão ela se perverte, e insiste em crescer mesmo quando todos os poderes políticos conspiram contra ela.

 

“...pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;
a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. (1 Co 1.27-29)

 

E.    Não tem a ver com barulho emocional – Infelizmente, durante muito tempo as pessoas confundiam agitação no culto e barulho com coisas espirituais. Igrejas frias são liturgicamente conservadoras, e igrejas “cheias do Espírito”, são agitadas na sua essência. Este falso conceito tem trazido muito engano e confusão. Na experiência de Elias, Deus não se manifestou por vento forte, terremoto, fogo, mas se manifestou num cicio tranquilo e suave.

 

Muitos estudiosos tem discutido a questão de quando teria surgido a igreja de Cristo. Para alguns, o advento, instaura um novo tempo. Seu nascimento revela o kairos de Deus, de acordo com Gl 4.4; para outros seria a morte de Cristo, quando ele pagou nossa dívida derramando seu sangue precioso para remissão de nossos pecados, a obra da cruz marca o inicio de um povo redimido. Ali Jesus pisou a cabeça da serpente, despojando principados e potestades (Col 2.14-15).

 

Para outros é o Pentecostes, quando o Espírito foi derramado sobre a igreja os discípulos foram capacitados para o testemunho e foram capazes de estabelecer as novas igrejas tanto em Jerusalém, até os confins da terra.

 

Estritamente falando, porém, a igreja de Cristo começou nos tempos eternos, quando a Trindade fez o pacto da redenção, quando em conselho decidiu que o filho de Deus morreria na cruz pelos pecados dos homens. Ap 13.8 fala que o Cordeiro foi morte antes da fundação do mundo. É Exatamente ai que começa a igreja de Cristo.

 

E. Stanley Jones, no seu livro, “O Cristo de todos os caminhos”, um clássico sobre o Pentecostes, afirma que apesar de toda convivência e aprendizado com os três anos de caminhada com Jesus, os discípulos se “recolheram ao cenáculo e ali ficaram de portas fechadas, com medo dos judeus” (Jo 20.19). Tinham a mensagem que o mundo precisava, a única mensagem capaz de curar as feridas do mundo atingido pelo pecado e, contudo, aquela mensagem estava presa...o único poder que seria capaz de arrancá-los daquela situação e que, de fato, o fez... era o Pentecostes... só o Pentecostes realizou o milagre”[1].

 

Jones ainda afirma que “a igreja tem-se esquivado do Pentecostes. Está com medo dele. O ensino a respeito do Espírito é vago e a coisa mais incerta na vida da igreja. É o pais desconhecido do cristianismo, o Continente Negro da vida cristã... o território onde se encontra as fontes da nossa vida espiritual, mas fontes que jazem inexploradas”[2].

 

Ele afirma que isto se dá, frequentemente, porque as pessoas pensam no pentecostes como emocionalismo e cenas de calafrio... “A indumentária do dom que foi derramado no Pentecostes tem dificultado sua aceitação... não sei de outra coisa mais urgente do que a necessidade de despirmos o Pentecostes dos seus fenômenos e apegar-nos ao fato, ao seu valor e sentido real. Qual é este fato?”[3] Pergunta Jones.

 

Ao considerarmos a condição da Igreja Primitiva, sabemos que ela era uma antes da visitação e se transformou em outra depois do derramamento. O testemunho que passaram a dar era resultado do que haviam recebido, fruto da experiência pessoal e imediata da presença de Deus em suas vidas.

Jones relata a experiência que teve com um motorista de carro dos Himalaias que era Hindu. Antes de viajarem na excursão ele postou-se em frente do motor do carro de mãos postas e repetindo orações dirigidas à máquina. Depois de alguns quilômetros, o motor falhou, porque ele havia esquecido de colocar gasolina no tanque. Stanley Jones afirma que é isto que acontece com a igreja. Todo o paramento, a liturgia, os ritos, a liturgia estão no seu devido lugar, mas falta o combustível capaz de manter a máquina andando.

 

Pentecostes é mover do Espírito. Tentamos plantar igrejas e exercer nosso ministério na base do esforço pessoal, esquecendo-nos do maravilhoso motor que Deus nos deu para impulsionar nossa vida: O Espírito Santo, o Deus que habita em nós.

       

Jones faz outra afirmação importante sobre aquele evento e nossos dias:

“Não sei de outra coisa mais urgente do que a necessidade de despirmos o Pentecostes dos seus fenômenos e apegar-nos ao fato, no seu valor e sentido real”[4] os tradicionais, por não saberem lidar com as emoções evitam o pentecostes. Os pentecostais, por serem atraídos ao emocionalismo e serem fascinados por sinais se perdem na busca destes sinais que foram dados para marcar um momento especifico da sua história e plano”. Os sinais do Pentecostes são descritivos, não normativos. Apontam para algo, não são a essência do fato em si.

 

Fico impressionado com a forma artificial com que pregadores tentam parecer espirituais e impressionar plateias. Gestos caricaturais e frases de efeito são ditas, determinados tons de voz são usados, para criar clima de espiritualidade. Na verdade, não precisamos nada disto. Quando Deus faz, o que Ele faz é permanente e gera todo impacto que artificialismo algum é capaz de realizar.

 

Como pastores, tentamos controlar comportamentos das pessoas com sermões inflamados, posturas legalistas e disciplinas rígidas, mas isto não gera efeito no coração do pecador, no máximo o transforma em um legalista. Apenas o sopro do Espírito pode mudar nossa natureza. Somente o fogo santo pode gerar os efeitos de uma vida transformada.

 

Por isto precisamos ser visitados com o verdadeiro Pentecostes, porque por ele, a vida de Deus brota na igreja. Nele os desertos são transformados em fontes... não estaria ai o entusiasmo da igreja? A revitalização e o vigor que tanto aspiramos? A capacitação para sermos uma igreja ousada e intrépida?

 

 Ao lermos o relato sobre a Igreja Primitiva, percebemos que os discípulos foram marcados pela ousadia, intrepidez e autoridade espiritual, mas um olhar mais rigoroso nos mostra que AS COISAS, PORÉM, NEM SEMPRE FORAM ASSIM. Antes do Pentecostes, a Bíblia mostra uma comunidade frágil, medrosa e sem ousadia espiritual. Veja como era a vida deles antes do revestimento do Espírito. Basta uma pequena lida no livro de Marcos para vermos como estas coisas são complexas na vida dos apóstolos.

 

  1. Tinham dificuldade de entender a Palavra de Deus - Mc. 4:13

 

  1. Eram impotentes, sem autoridade espiritual - Mc. 9:17-18

 

  1. Eram incrédulos -  Mc.9:19; 20-27

 

4.  Buscavam posições e primeiros lugares - Mc. 9:33-34

 

5. Eram exclusivistas -  Mc. 9:38-40

 

6. Eram pretenciosos e egoístas - Mc. 10:35-37

 

7. Eram rixosos e bringuentos - Mc. 10:41

 

8.  Tinham dificuldade de orar -  Mc.14:33-38

 

9. Eram covardes e medrosos – Mc 14.27-31

 

10. Eram fracos e inconstantes -  Mc. 14:50

 

11. Eram iracundos e violentos e agressivos- Lc. 9:51-56.

 

Definitivamente não era um quadro muito animador. Mas quando observamos o relato da vida destes homens em Atos, vemos outra dimensão de suas vidas. Homens frágeis se tornam ousados e intrépidos, confrontando o sistema e morrendo por sua fé. O que aconteceu?

 

Em Atos 2 eles experimentaram o poder do Espírito Santo, foram transformados quando se deu o derramamento do Espírito. O livro de Atos nos mostra que o que os fez mudar foi a operação maravilhosa do Espírito em suas vidas.

 

Jesus disse que lhes daria poder (dinamis). Que espécie de poder é este?

Político?

Social?

                        Reconhecimento e aclamação?

 

Não!

Antes poder para testemunhar! Pagar o preço da fé até a morte.

 

Sem este poder, o testemunho da igreja é fraco, titubeante, pecaminoso, humilhada pelo diabo, sem autoridade e poder espiritual. Por isto, para testemunhar e evidenciar ao mundo que Jesus é Senhor, a igreja precisa do pentecostes, a maior força do mundo! Esta força é produzida pelo Espírito Santo, o Deus que habita em nós. Sem este poder, reproduziremos o tipo de vida espiritual que os cristãos primitivos estavam vivendo: sem entusiasmo, sem alegria, com medo, cheios de inveja, orgulho e vaidade.

 

A vida dos apóstolos foi transformada porque algo novo aconteceu em seus corações. Stanley Jones afirma que o problema da igreja é que hoje ela vive entre o pentecostes e a ressurreição, ainda não tem experimentado o poder do Espírito. Poder é percebido pela capacidade da igreja viver uma vida de testemunho, que atrai os pecadores e glorifica a Deus. Este poder faz as pessoas desejaram a vida que Deus nos tem dado.

 

A igreja de Cristo, apesar de todo tipo de fraqueza: exclusivismo, egocentrismo, segregacionismo, foi transformada em uma comunidade ousada, intrépida, amorosa, zelosa, cuidadosa. Para que uma mudança radical acontecesse, só mesmo uma obra excepcional. Algo se deu em suas vidas que alterou seu modo de viver. A experiência do Pentecoste é o marco que diferencia a vida cristã.

 

Revitalização de Igrejas é obra de Deus.

 

Fogo e vento são símbolos da purificação e poder de  Deus  e indicam a sua irresistível força que não é produto da história  antes os símbolos da revelação de Deus no Sinai. O Espírito é força do alto que opera na história dos homens. Por isto não pode ser imitado, nem reproduzido.

 

O Profeta Isaias sente esta necessidade de um impacto dos céus sobre a vida do povo de Deus em seus dias. Era um pastor suplicando a Deus que algo diferente, fresco, renovado e santo acontece no meio do seu povo:

 

Oh! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença, como quando o fogo inflama os gravetos, como quando faz ferver as águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que as nações tremessem da tua presença. Quando fizeste cousas terríveis, que não esperávamos, desceste, e os montes tremeram à tua presença” (Is 64.1-3).

 

Muitos tentam revitalizar a igreja com emocionalismo, músicas especiais, artifícios humanos, indumentária. Contudo, precisamos entender que se é obra de Deus, o que devemos fazer é clamar e esperar, nunca imitar. Portanto, se Deus não fizer, porque ele tem um propósito histórico nestas coisas, ele faz, mas se Ele não fizer, não devemos ser tentados a reproduzir, tentar reproduzir o Sagrado. Se algo acontecer, tem que ser do Alto. Nenhuma interferência ou manipulação humana. Isto será inconfundível mas nunca devemos tentar reproduzir coisas de Deus, porque corremos o risco de trazer fogo estranho para o altar.

 

Muitas vezes ficamos angustiados por não vermos os frutos que desejamos se manifestando na vida da igreja que pastoreamos. Precisamos nos lembrar sempre: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito. Diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). quem estabelece a sua igreja é Cristo. Quem vocaciona e santifica é Cristo. Quem edifica a igreja é Cristo, e quem revitaliza é Cristo, através do seu Espírito Santo. O que Deus que habita em nós.

 

Conta-se que um pastor insistia com seu vizinho para que ele viesse a igreja, por anos a fio, porém, este vizinho jamais atendeu o convite. Um dia, a pequena comunidade teve um incêndio e todos se puseram a ajudar a apagar o fogo, inclusive o vizinho. O pastor surpreso olhou para ele e lhe disse: “Até você por aqui? Você nunca pisou na igreja antes e vem nos ajudar agora?”. E o vizinho respondeu: “É pastor, mas também sua igreja nunca pegou fogo antes”.

 

 

 



[1] Jones, E. Stanley – O Cristo de todos os caminhos, São Paulo, Imprensa Metodista, 2ª. Edição, 1968, pg. 27.

[2] Op. cit, pg 45

[3] Op cit. Pg 51

[4] Idem, pg 50.

Nenhum comentário:

Postar um comentário