4.
Introdução:
Pensar em revitalização de igrejas a partir do Novo Testamento é desafiador, principalmente porque as igrejas eram relativamente novas, e o processo de erosão de liderança, perda do evangelho e mundanização não eram tão evidentes como em nossos dias. No livro de Atos dos Apóstolos, não vemos a igreja preocupada com revitalização, mas sim na plantação de novas igrejas, portanto, é mais fácil encontrar os fundamentos e métodos de Plantação que de Revitalização.
Pesquisadores traçam o seguinte panorama para descrever um pouco do avanço e declínio da igreja:
Na medida que estudamos as cartas, principalmente Gálatas, vemos a preocupação de Paulo com os rumos que aquela igreja estava tomando. “Admira-me que estais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho”(Gl 1.6). Vinte anos depois de fundada, aquela igreja já precisava de realinhamento de visão, de clarificação na teologia, e de certa forma um retorno à simplicidade do evangelho, e, portanto, de revitalização.
Encontramos ainda na Igreja de Corinto, toda influência do paganismo de uma sociedade cosmopolita, plural e portuária, além de uma forte presença religiosa pagã.
Corinto foi uma das cidades onde Paulo gastou mais tempo em seu ministério. Ali ele ficou por 1 ano e meio (At 18.11). Em Éfeso ficaria por dois anos (At 19.10) ao contrário de Filipos, Bereia e Atenas onde sua passagem foi rápida. Depois de ter saído de Atenas, a cidade intelectual do império romano, ele segue para Corinto, a capital da sensualidade. Atenas e Corinto foram afetadas de forma direta por dois grandes problemas espirituais: O orgulho intelectual e a luxúria sensual. Em Corinto, por causa de seus portos, muitas ideias e culturas conviviam juntos. Era uma sociedade plural.
Corinto ficava cerca de 100kms de Atenas e era a capital da Acaia, uma cidade portuária e centro de comércio localizado entre o mar Adriático e o mar Egeu. Era uma cidade muito bonita e também o centro do culto da deusa Afrodite, deusa do sexo. Havia um grande templo dedicado a esta deusa onde todas as noites, milhares de sacerdotes vinham da cidade para realizar cerimônias. Peter Wagner afirma que havia mil mulheres, chamadas “santas”, que iniciavam os devotos na arte do amor. Por isto Corinto era conhecida por ser um centro de sensualidade em todo Império Romano. Não muito diferente de muitas cidades modernas marcadas por sensualidade.
Corinto era completamente pagã e imoral. A cidade estava cheia de templos pagãos e na alta acrópole estava o templo de Afrodite, a deusa grega do amor. “A partir do século V a.C., a expressão “corintianizar” significava ser sexualmente imoral” (Bíblia de Genebra).
Paulo vai descrever algumas destas atitudes de licenciosidade moral e perversão, na sua primeira carta ao descrever esta cidade. A falta de significado e vazio surgiram como consequência do paganismo. Apesar de conhecer toda situação moral e espiritual da cidade, Paulo chega confiante no poder do Evangelho para alcançar e transformar as pessoas. Ali ele estabelece uma base forte do evangelho na cidade e posteriormente escreveria 3 cartas a esta igreja, sendo que uma delas se perdeu.
A perspectiva neotestamentária na revitalização de igrejas
Na medida em que abrimos o Novo Testamento, verificamos alguns princípios que ainda hoje servem como parâmetro para a reflexão sobre a Revitalização:
Primeiro, retorno constante à centralidade do Evangelho
A Igreja da Galácia é um exemplo claro desta erosão. Paulo se assusta com a realidade da igreja: “Admira-me que estais passando tão depressa”. A igreja era muito nova para já estar se envolvendo com outras doutrinas e perdendo a mensagem da graça.
Paulo precisa novamente clarificar o Evangelho. Isto é o centro de toda revitalização.
“...o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.”(Gl 1.7-9)
Paulo redefine o evangelho:
Nada é pior que falharmos em crer no Evangelho da graça, porque não há outra alternativa ou substituto ao Evangelho (Gl 1.6-7). Os cristãos de Gálatas estavam dentro da igreja, mas estavam perdendo o Evangelho. (vs. 6) Eles estavam criando “outro evangelho”.
É assustador pensar isto, porque esta igreja havia sido fundada pelos apóstolos tão pouco tempo atrás. Como conseguiram se desviar tanto? “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho”(Gl 1.6). As transições foram rápidas demais. Haviam se convertido há pouco tempo atrás e já estavam assumindo posições teológicas completamente opostas àquelas que lhes haviam sido ensinadas.
Vários desvios podem ser assumidos pelos que seguem o evangelho:
A. Evangelho, menos algumas coisas – Isto acontece quando acreditamos que podemos aceitar determinadas verdades e rejeitar outras, não nos submetendo às exigências do Evangelho. “Creio ao meu modo” ou “faço do meu jeito”. Assim, suprime-se determinadas verdades para não serem incomodados, principalmente àquelas que estabelecem exigências morais, a importância da santidade e de compromisso com o reino;
B. Evangelho, mais algumas coisas – Isto é muito comum. Paulo enfrenta este problema com esta igreja da Galácia. Alguns judeus, queriam submeter os cristãos a determinadas regras do judaismo, como “guardar dias, meses, e tempos e anos” (Gl 4.10), e Paulo afirma que isto seria voltar, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, os tornaria escravos (Gl 4.9).
É muito comum encontrarmos acréscimos ao Evangelho
Eis alguns exemplos:
Evangelho + o sábado;
Evangelho + ritual;
Evangelho + ascetismo;
Evangelho + um profeta.
Desta forma, perde-se o evangelho. Os cristãos da Galácia estavam perdendo o evangelho para “outro evangelho”. O “outro”, é o “anti evangelho”, já que não existe “outro evangelho”, mas apenas pessoas que tentam perturbar e perverter o evangelho (Gl 1.7).
Assim surge o evangelho segundo os homens, ou “o evangelho dos santos evangélicos”, como afirmou Juan Carlos Ortiz. Pessoas que tentam “reinventar a mensagem”, dar uma roupagem nova ao conteúdo, sempre alterando sua essência, já que “o novo em teologia é quase sempre a negação do velho”(Robinson Cavalcante).
O que precisamos aprender sobre o Evangelho?
1. O Evangelho é simples
A mensagem de Cristo é objetiva e direta. Ele a deixou claro no inicio de sua pregação logo depois do seu batismo: “Arrependei-vos, e crede no Evangelho” (Mc 1.15), e quando Marcos está fechando o conteúdo do evangelho que leva seu nome, ele registra a mesma enfase que sempre esteve presente no ministério de Jesus, desde o princípio: “Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crê ja está condenado!”(Mc 16.16). Sua mensagem é simples e direta, sem mudança ou variação.
2. O evangelho não tem substituto
Ele é único e pode ser comparado a um vácuo. Se você coloca alguma coisa no vácuo, ele deixa de ser vácuo. “Ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue egangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8). Qualquer abordagem além do Evangelho, conduz-nos à morte e à maldição. A palavra “anátema”, citada duas vezes, significa maldição (Gl 1.8-9). Abandonar o Evangelho é abandonar a Jesus e trazer condenação sobre si mesmo.
Infelizmente, nosso natural desejo é construir um mundo à parte das “boas novas”, e focarmos nas nossas habilidades espirituais e morais, mas a Palavra de Deus é clara: “Sabendo contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também nós temos cridos em Jesus Cristo, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16-17)
Qualquer outro caminho nos conduz à morte e nos distancia de Deus.
3. O Evangelho vem diretamente de Deus
Paulo inicia este texto dizendo: “Paulo, apóstolo, não da parte de homens nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus o Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1). Deus inicia o processo, tudo vem dele. Isto é chamado em teologia de monergismo. “Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).
Num debate entre diversos líderes religiosos em Londres, perguntaram a C.S.Lewis qual era o diferencial do cristianismo em relação às demais religiões, e ele respondeu: A graça! Ele argumentou que muitas religiões pagãs, falam da ressurreição de seus heróis ou líderes, outras asseveram que eles tiveram um nascimento sobrenatural, algumas declaram sua divindade, mas o específico no cristianismo é o fato de que o homem não salva a si mesmo, mas é salvo por Deus. O diferencial é a graça. Tudo vem de Deus!
“Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. (Gl 1.11,12).
Isto é o evangelho.
Segundo, Santidade inegociável
É fácil permitir que o mundo avance na Igreja e isto não foi diferente nas igrejas do Novo Testamento. Basta uma igreja para perceber como o secularismo e paganismo podem penetrar sorrateira ou descaradamente sobre a igreja.
A Igreja de Corinto foi a Igreja mais problemática do Novo Testamento e a que mais aborreceu a Paulo como pastor. Para quem vê as igrejas primitivas como idílicas, basta uma leitura mais séria das Escrituras para entender que elas tinham problemas seriíssimos:
1. Uma Igreja centrada em predileções humanas emocionais- (I Co 1.12) “divisões” Paulo (intelectuais); Apolo (carismáticos); Cefas (tradicionais) e Cristo (super-espirituais);
2. Uma igreja carnal: cheia de contendas, competição e ciúmes- (1 Co 3.3)
3. Uma Igreja com pecados grosseiros, inclusive com um líder tendo relações sexuais com sua madrasta (1 Co 5.1)
4. Uma Igreja com graves acusações de uns para com outros, que não raras vezes iam parar em tribunais seculares – (1 Co 6.1)
5. Uma Igreja questionando o salário dos seus pastores e com fortíssima suspeita sobre a vida de um pastor como Paulo- (1 Co 9.1)
6. Um grupo de mulheres com graves problemas culturais: Um dos primeiros movimentos feministas da história surgiram naquela igreja. Mulheres reivindicando o direito de não usarem véus e causando escândalo na sociedade (1 Co 11.1).
7. Uma igreja com problema doutrinário acerca da Santa Ceia. (1 Co 11)
8. Uma Igreja com sérios problemas a respeito dos dons espirituais. Paulo teve que escrever dois longos capítulos para dar algumas instruções gerais sobre o assunto (1 Co 12 e 14)
9. Uma Igreja com um grupo de irmãos negando a ressurreição, um dos pilares da fé cristã (1 Co 15) e alguns “batizando em favor dos mortos”. (1 Co 15.29).
Na igreja Tessalônica, surgiram irmãos negligentes no trabalho e com graves crises comportamentais, Paulo precisou ser direto e duro no tratamento desta questão: “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10). Em Éfeso Timóteo precisou disciplinar algumas pessoas com atitudes pecaminosas. Em Creta Tito tem que lidar com os ventres preguiçosos, pessoas frívolas na comunidade, gente ensinando na igreja por torpe ganancia (Tt 1.10-11). Na igreja de Tiatira, uma mulher que se auto denominou profetisa e vivia um estilo de vida pecaminoso, levando membros da igreja à prostituição (Ap 2.20). Escândalos morais, pecados grosseiros, atitudes pecaminosas não faltaram no meio da igreja.
Então, o segundo princípio na revitalização é a volta à pureza moral, à vida de santidade, a rejeição ao pecado.
Terceiro, Foco na mensagem do Evangelho e não na tradição
Um dos grandes problemas das Igrejas neo testamentárias foi estabelecer a diferença entre revelado e histórico, tradição e verdades eternas, temporal com eterno, essência com acidente.
A Igreja neo testamentária teve que romper com vários ensinamentos associados à tradição, que alguns líderes julgavam serem verdades eternas.
A. O sentimento nacionalista judaico: Que excluía os gentios no projeto da graça. João Batista questiona veemente este comportamento: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Lc 3.8). Jesus teve que desmistificar esta ideia: “Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão.” (Jo 8.39). Paulo vai afirmar que o verdadeiro Israel é o povo redimido: “Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.” (Gl 6.15,16).
B. A questão da circuncisão. Em Atos 15, a Igreja Primitiva interrompeu o avanço missionário para discutir se os gentios deveriam ou não se submeter a este rito. A liderança da igreja deliberou e instruiu sobre o assunto: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?” (At 15.10).
Entretanto, o problema voltaria com veemência no livro de Gálatas e Paulo replica: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.” E ainda: “De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor.”Gl 5.2-6).
C. A Questão do Sábado – Paulo precisa tratar deste assunto diretamente em duas cartas. Aos Gálatas escreve: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco.”(Gl 4.10,11), e aos Colossenses: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.” (Co 2.16,17).
A questão da tradição sempre foi um problema para uma igreja que estava tentando assumir uma identidade desvinculada do judaísmo.
Podemos estar certos que, da mesma forma, ainda hoje, um dos grandes problemas de igrejas frias, que perderam seu vigor e relevância, tem a ver com o fato de considerarem o método mais importante que os fins; e estar apegada às tradições, achando que o velho é sempre sinônimo de coisa melhor e que o novo é sempre heresia. Não se adaptar aos novos desafios metodológicos torna-se sempre um grande problema para igrejas que deixam de ser relevantes e significativas para o seu tempo.
Quarto, Liderança fiel e comprometida com a doutrina.
A igreja primitiva enfrentou grandes ameaças pelos falsos mestres infiltrados na comunidade, ensinando coisas contrárias ao evangelho simples da graça de Deus. Para que a igreja tivesse vitalidade, era necessário ao apego a sã doutrina e à fé que de uma vez por todas fora dada aos santos.
A carta de Judas e a 2 Epistola de Pedro foram quase totalmente devotadas a esta grande ameaça que pairava sobre a igreja e poderia enfraquecer seu testemunho e afetar profundamente as próximas gerações.
“Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo... Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores. Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre... São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.” (Jd 1.4,8,12,13,19).
O apóstolo Pedro não trata a questão da liderança infiel de forma diferente. Suas observações são pesadas e carregadas de temor:
“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme...Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos,
recebendo injustiça por salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos”. (2 Pe 2.1,3,12-14)
Para manter a vitalidade, a igreja não poderia se descuidar dos ensinos e atitudes dos novos lideres. Paulo fala de “lobos vorazes” que não poupariam o rebanho (At 20.29) e por isto apresenta minuciosos detalhes sobre a qualificação de lideres nas igrejas que estavam sendo plantadas.
Valdeci da Silva Santos, professor do Andrew Jumper afirma que “uma liderança inadequada parece ser uma das principais características de uma igreja estagnada ou enferma. A importância da liderança no processo de revitalização de igrejas é comumente destacada nas obras sobre esse tema. Alguns partem do clichê de que “tudo se ergue ou desmorona a partir da liderança”, mas o fato é que a maioria dos pesquisadores reconhece que “o fator número um a contribuir para que igrejas experimentassem revitalização foi a liderança”. Reeder é enfático ao defender que “os líderes exercem tal impacto sobre as pessoas que uma igreja não pode ser revitalizada sem bons líderes”. Artigo: “Sua Igreja Necessita de Revitalização? Como Saber?”[1]
A Infidelidade da liderança, certamente é um dos fatores principais para a derrocada da igreja. Thom Rainer, afirma que uma liderança deficiente é caracterizada por “ignorância doutrinária, apatia evangelística, irrelevância ministerial e comunhão fraternal fragmentada.” Entre estes fatores encontra-se o mau testemunho de vida, a luta pelo poder e ensinos equivocados e anti bíblicos. A igreja local tem saúde quando possui liderança fiel à palavra de Deus.
É muito importante considerar isto, porque nenhuma igreja vai além de sua liderança. Se quisermos envolvimento da igreja, os líderes precisam estar pagando o preço do compromisso com a comunidade. Muitas igrejas não são generosas com seus recursos, e muitas vezes, a razão encontra-se na falta de modelos e exemplos daqueles que lideram as comunidades.
Quinto, compreensão da ação do maligno contra a igreja.
A igreja primitiva tinha uma clara compreensão da oposição das trevas à obra do Senhor. Este é um fator de revitalização constante das igrejas. Paulo afirma: “para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios.”(2 Co 2.11). Esta percepção da ação do diabo livra-nos da desatenção e da indolência. A vitalidade da igreja primitiva era mantida pela visão correta de quem era o diabo.
C. S Lewis afirma que Satanás obtém vitória sobre a igreja em duas situações: (a). Quando supervaloriza e dá ênfase demais ao diabo; (b)- Quando ignora a realidade do diabo. A obsessão pelo diabo adoece. Muitos por causa disto passaram a explicar todos comportamentos pela ação do diabo ainda que o diabo não seja responsável por tudo que acontece de mal. A tríade maligna que conspira contra a santidade é a carne, o mundo e o diabo, e não apenas o diabo. Quando começamos a potencializar o mal, adoecemos psicológica e espiritualmente.
Por outro lado, ignorar as obras das trevas é prejudicial. Satanás é descrito na Bíblia com um ser real e poderoso. Ele se opõe a Cristo e ao seu povo, ao avanço missionário e o crescimento da igreja. Ele arranca a palavra de Deus dos corações das pessoas e sufoca a fé.
Na Parábola do semeador em Marcos 4.1-9, Jesus afirma que Satanás arranca a palavra enquanto ela é semeada “São estes os da beira do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles.” (Mc 4.15). Por saber como Satanás se opõe à palavra de Deus, Paulo expressa sua preocupação com a fé dos tessalonicenses “Foi por isso que, já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o Tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor.” (1 Ts 3.5). Satanás sufoca a fé das pessoas para não guardarem a palavra em seus corações.
Da mesma forma, Satanás luta contra os planos de missionários. “Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho.”( 1 Ts 2.18). Até hoje não sabemos claramente como Satanás conseguiu impedir a ação missionaria, mas Paulo faz questão de registrar como isto se tornou um empecilho ao avanço da obra. Os planos missionários foram frustrados porque Satanás barrou o caminho. Ele se opõe a palavra, o evangelismo e o discipulado, e criará todo obstáculo possível no caminho dos missionários e no avanço da obra do Senhor no mundo.
Sexto, dependência do Espírito Santo
Não é possível pensar na vitalidade da igreja primitiva sem a operação do Espírito Santo. Alguns estudiosos afirmam que o Livro de Atos dos Apóstolos deveria ser chamado de “Atos do Espírito Santo”, pois, do começo ao fim, ele é o registro de seu derramamento e da forma como se relacionava com a igreja e com a obra missionária. Em Atos a vida cristã pulsando pela manifestação poderosa do Espírito Santo, conferindo poder aos discípulos de Cristo para realizar a obra. O Espírito usou instrumentos improváveis, em condições inusitadas, empregando métodos não convencionais para que a expansão do evangelho se revelasse até a Macedônia. Sem o Espírito Santo não existe obra missionária, e não há vida na igreja.
A igreja primitiva era dependente da orientação do Espírito Santo. Alguns textos são maravilhosos e revelam a forma como a igreja esperava que Deus direcionasse seu povo: “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.” (At 13.2-4).
Esta igreja era primeiramente marcada por uma vida de piedade e devoção. A liderança estava preocupada em ter intimidade com Deus. A verdade é que não precisamos de mais programas e estratégias, mas precisamos de mais devoção e santidade. O texto demonstra que eram os líderes que antes de tudo, estavam empenhados no projeto de adorar e servir ao Senhor com fidelidade. Tinham vida piedosa, de oração e serviço.
Mas o que mais impressiona na Igreja de Antioquia, era a capacidade de discernir a voz de Deus. Sua vida de oração os capacita a ouvirem a Deus. Eles não apenas discernem, mas obedecem. Eles teriam que ceder dois de seus melhores líderes, mas não passaram por crise neste processo. Era Deus quem mandava, e Deus supriria a necessidade do rebanho. É na igreja sensível à direção do Espírito que veremos comunidades cheios de vida.
Outro texto surpreendente encontra-se na reunião do Concílio de Jerusalém para discutir a relação que teriam com os gentios a partir de então. A decisão deles é embasada num poderoso princípio: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais:” (At 15.28). A Igreja é direcionada pelo Espírito Santo. Eles sabem que estas questões, antes de mais nada, foram trazidas pelo Espírito Santo, para desfazer as errôneas compreensões relacionadas ao verdadeiro espírito da igreja de Cristo.
“Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais” . O texto não diz: “pareceu bem a nós e ao Espírito”. O Espírito tem primazia, vem em primeiro lugar. Não era um parecer da igreja, para ser chancelado pelo Espírito, mas do Espírito, que direcionava a igreja. O que a liderança decide não pode vir em primeiro lugar, e sim o que Deus decide.
Conclusão:
Estes seis pontos descritos, revelam ainda que parcialmente, a perspectiva neotestamentária na revitalização de igrejas. São eles:
Retorno constante à centralidade do Evangelho
Santidade inegociável
Foco na mensagem do Evangelho e não na tradição
Liderança fiel e comprometida com a doutrina.
Compreensão da ação do maligno contra a igreja.
Dependência do Espírito Santo
Estes pontos são a base da Igreja Primitiva, e certamente continuam sendo a essência de uma igreja revitalizada pelo poder de Deus.
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