sábado, 31 de outubro de 2020

Ex 16 A Provisão de Deus



 

 

Introdução

 

Uma das maiores ansiedades do homem sempre foi a questão de seu sustento e manutenção. Jesus percebe a ansiedade no coração dos seus discípulos quanto a estas coisas: “Por isso vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida quanto ao que haveis de comer ou beber, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo, mas do que as vestes.. Portanto, não vos inquieteis dizendo: Que comeremos, que beberemos ou com que nos vestiremos?”(Mt 6.25,31). 

 

Certa senhora de 90 anos andava muito preocupada com seu futuro financeiro, apesar de ter uma boa aposentadoria e bens. Seu filho percebeu que ela andava inquieta e foi conversar com ela, descobrindo que o que a estava deixando tão preocupada tinha a ver com seu sustento na velhice, então, cuidadosamente mostrou-lhe que ela poderia viver bem por mais de 15 anos, com as condições atuais que ela tinha. Ao ouvir a explanação do filho ela disse: “mas, e depois disto?”

 

Narração

Neste texto vemos o povo de Deus ansioso quanto ao seu futuro. Murmurando. Qual era o problema? Insegurança quanto ao sustento e a provisão: “Disseram-lhes os filhos de Israel: quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do  Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão.”(Ex 16.3). O povo de Israel achava que ia morrer de fome no deserto. O povo está amedrontado e assustado com a possibilidade de lhes faltar o que era necessário.

 

Não é exatamente assim que tantos sentem?

Este texto nos fala exatamente do cuidado e da provisão de Deus. 

 

O que podemos aprender:


  1. A provisão vem dos céus. Deus  é quem generosamente a dá – Ele dá continua e abundantemente (Sl 145.15-16; At 14.17; Jr 31.35). 

 

O que Deus fez ao ouvir a preocupação do povo de Israel?

Deus mandou o maná dos céus. O maná era fino, semelhante a escamas, como uma fina geada que caia da terra. O povo recolhia este maná diariamente, cerca de 1.5 kg daqueles pequenos flocos, e fazia bolo e pães, e as mulheres logo aprenderam a fazer diversas receitas com o maná, começaram a ensinar umas às outras como era mais gostoso, e todos tinham o que era necessário.

 

Deus mandou este maná por quarenta anos. Curiosamente, ele deixou de cair quando o povo entrou na terra prometida. Agora eles viveriam de suas plantações e colheitas, dos frutos que a terra oferecia. Deus nunca deixou faltar o alimento.

 

Quando pesquisadores analisam a situação da fome no mundo chegam a um dado alarmante. Estima-se que 800 milhões de pessoas passem fome diariamente. Curiosamente, porém, há uma outra estatística curiosa. A terra atualmente produz quatro vezes mais do que a humanidade inteira necessita. O problema da fome no mundo é econômico, político e social, e não ausência de alimento. O problema tem a ver com a concentração de renda, com a distribuição igualitária dos bens, o trágico desperdício de comidas, as guerras, a logística, e não carência de alimentos. Estima-se que, apenas no Brasil 30% da produção de grãos se perde entre a colheita e a distribuição final, e que mais da metade se perde no consumo caseiro, com comida que é jogada fora. 

 

No Brasil, por questão de higiene, e em outros países também, uma comida que é servida numa mesa e que sobra, não pode ser servida novamente, nem doada por questão de higiene e saúde. Então, restaurantes e hotéis pegam a maioria da comida que sobra e joga no lixo. Verifica-se, desta forma, que o problema não é com a produção. Deus é sempre abundantemente generoso. Deus manda a chuva e as estações para que tenhamos fartura de alimentos. Dispõe a natureza para ser pródiga e abençoadora.

 

A provisão de Deus silencia a boca dos murmuradores que estavam no deserto, e nos leva a admiração ainda hoje, quando percebemos e recebemos o cuidado de Deus nas nossas vidas. Já viram como em tempos de escassez Deus multiplica os recursos? O apóstolo Paulo afirma: “O meu Deus, segundo a sua riqueza e glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.13). Deus é Jeová Jiré, o Deus da provisão.

 

  1. A generosidade do Senhor se revela diariamente – “Então, disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não”(Ex 16.4) O texto da ênfase no fato de que isto acontece “diariamente”. Deus vai dar dia a dia. Por isto Paulo afirma: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8). 

 

Sabe por que Deus dá assim, em conta gotas, diariamente? Por que nossas necessidades são diárias e sempre surgem necessidades não previstas, não planejadas. Deus não pode se “distrair”. Nosso Deus “não cochila, nem dorme”. Todos esperam o sustento de Deus. E Deus cuida, não apenas dos seres humanos, mas age num perfeito ecossistema que permite que todos tenham alimentação e cuidado necessários. 


Na oração dominical, já prestaram atenção que Jesus ensina seus discípulos a orar apenas pelo pão diário: "O Pão nosso de cada dia nos dá hoje". O Pai celeste cuidará de cada um de nós, diariamente. 

 

Jesus convida seus discípulos a “observar as aves dos céus e os lírios do campo”. A natureza é didática. Pedagogicamente nos ensina quando nós atentamos para isto. Observar é olhar com atenção, considerar, refletir. Num período de férias na fazenda durante esta pandemia, isto se tornou nítido para mim. Nós, dos centros urbanos aflitos, com medo da Covid-19, mantendo isolamento social, atentos aos cuidados higiênicos e preocupados, mas a natureza seguia seu fluxo natural e normal. a fauna e a flora continuavam sua vida ignorando a ansiedade humana. Existe uma razão óbvia para isto: Determinados passarinhos comem o equivalente a 4 vezes seu peso, diariamente. Se um homem de 70 kg comesse proporcionalmente ele teria que devorar 280 kg de comida diariamente...

 

E como Deus faz isto? Diariamente. Ele dará o que é necessário. 

 

O Salmo 104.27-35 afirma: “Todos esperam de ti que lhes dês o sustento a seu tempo. Tu lho dás, e eles o recolhem; abres a tua mão, e eles se fartam de bens.

 

3. Deus quer, através do sustento, nos levar à dependência – “Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte.” (Ex 16.19). 


Deus podia dar um produto que fosse estocado em despensas, entretanto, o maná era diário, o povo precisava confiar que Deus o enviaria no outro dia. Alguns tentaram ser “providentes e espertos”, guardando o alimento para o outro dia (Ex 16.18-20), porém o maná se estragava e ficava cheio de bichos. Apenas na sexta feira podiam recolher o dobro, porque no sábado eles deveriam descansar.

 

Paulo Elias, um colega de seminário certa feita afirmou: “A segurança que nossas igrejas nos dá, retira de nós a capacidade de aprender dependência de Deus”. Watchmann Nee, conhecido pregador chinês, escreveu: “Se você tem um chamado do senhor, não deveria se preocupar com o sustento...”

 

Por que muitos de nós somos tão acumuladores e pouco generosos com nossos recursos? Porque preferimos contar com nossos recursos que depender dos recursos de Deus. Não sabemos se realmente podemos confiar em Deus. Não vou dar, porque pode faltar... Não sei se é possível confiar na provisão e no sustento de Deus. Uma coisa que podemos aprender nas Escrituras Sagradas é que quando você dá a responsabilidade pelo seu sustento de Deus deixa de ser sua, e passa a ser de Deus. Doar é um ato de generosidade e de confiança no caráter de Deus que providencia todas as coisas. Deus quer nos ensinar a depender dele, diariamente... 

 

  1. Deus quer, através de sua provisão, nos ensinar que ele de fato é Deus - “À tarde, sabereis que foi o Senhor quem vos tirou da terra do Egito” (Ex 16.6).

 

Quando Deus nos dá o sustento, aprendemos de onde vem a provisão. Percebemos que Deus é Deus. Como é que o povo saberia disto? Vendo a manifestação e o cuidado de Deus. Será que não e isto que precisamos aprender?


O fato de sermos abastados e vivermos em um ambiente tão confortável, retira de nós a dependência. Por que precisamos depender de Deus se nossos investimentos são tão lucrativos e ganhamos tão bem? Se nunca tivemos que enfrentar situações de carência e necessidade. Por termos muito, raramente consideramos seriamente que Deus é quem provê e cuida de nossas necessidades. Passamos a confiar no nosso esforço, trabalho, esperteza, investimentos, mas não consideramos a graça de Deus nas coisas que recebemos. Por não dependermos de Deus, também não temos coração grato a Deus.

 

Quando consideramos a provisão de Deus, aprendemos que Ele é Deus.

 

  1. A provisão é sempre mais que suficiente. “Eis o que o Senhor vos ordenou: Colhei disso cada um segundo o que pode comer, um gômer por cabeça, segundo o número de vossas pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda.” (Ex 16.16). 

 

Uma coisa maravilhosa da provisão de Deus é que ele dá o que é necessário. Criteriosamente o faz. Os recursos aparecem para o que é necessário. Esta é sua forma de agir e dar a provisão. "O Nosso Deus, em Ceisto Jesus suprirá cada uma de nossas necessidades". Preste atenção: A Bíblia diz que Deus proverá "necessidades", e não "desejos". Deus não promete suprir seus desejos, e todos os temos. Deus pode até nos conceder determinados presentes na sua infinita graça, mas Deus promete suprir aquilo que lhe é necessário. Não vai faltar. 

 

O Salmista afirma: “As divisas caíram para mim em lugares agradáveis: Tenho uma bela herança!” (Sl 16.6). Deus estabelece divisas para cada um de nós, mas estes limites, estas cercas, são confortáveis. Você se sente seguro e grato dentro destes limites. Pessoas simples não são menos felizes que pessoas ricas e abastadas. Porque o espaço que elas tem é suficiente para que tenham alegria ali, mesmo tendo limites, o que é natural para todos nós. É como a definição de beleza que ouvi: “Beleza é você se sentir confortável dentro de sua pele”. Surge gratidão em nosso coração, quando, dentro daquilo que temos, dentro dos nossos limites, estamos felizes e gratos. Não tem a ver com muito ou pouco, mas tem a ver com contentamento. Experimentar a graça de Deus naquilo que possuímos.

 

Por isto gosto muito dos princípios financeiros estabelecidos por Charles Stanley sobre finanças. Talvez este seja o melhor de todos os princípios que já ouvi, e são facilmente memorizados por qualquer um. Tire um tempo e reflita sobre isto:


  1. Ganhe honestamente
  2. Aplique sabiamente
  3. Doe generosamente
  4. Desfrute abundantemente 

 

  1. Deus nos sustenta, para que cesse a murmuração e a reclamação –Deus ouve nossa gratidão, por isto a Palavra nos exorta a que sejamos gratos. Mas Deus ouve também nossa murmuração.  “O Senhor ouviu as vossas murmurações” (Ex 16.9).

 

O propósito de Deus ao nos dar todas as coisas é gerar uma atitude de louvor ao seu nome. Quando entendemos tudo que Deus nos dá ficamos gratos. A generosidade de Deus deve nos levar a adorar o seu nome. Quem não compreende torna-se murmurador. Este texto nos ensina que reclamação e maledicência são essencialmente contra Deus. “As vossas murmurações não são contra nós, e sim contra o Senhor”(Ex 16.8). 

 

Se você está reclamando e vive descontente, certamente o faz porque não tem conseguido apreciar o amor de Deus por sua vida. 

 

Conclusão: O maná de Deus 

 

Há uma coisa sobre o maná, que não pode passar desapercebido por nós ao lermos a Bíblia. A provisão de Deus é sempre exaltada na Bíblia, mas Jesus a toma para dar um sentido muito mais amplo, mais profundo, mais belo que apenas a provisão física, o alimento, que o povo recebia  de Deus. 

 

Veja o que Jesus diz em Jo.31-33:

 

“Os nossos antepassados comeram o maná no deserto; como está escrito: ‘Ele lhes dei a comer pão do céu’". Declarou-lhes Jesus: "Digo-lhes a verdade: Não foi Moisés quem lhes deu pão do céu, mas é meu Pai quem lhes dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo". Disseram eles: "Senhor, dá-nos sempre desse pão! " Então Jesus declarou: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”. 

 

Jesus afirma que o maná no deserto, na verdade, era uma referência de algo muito maior. Falava de sua vinda. Ele era o maná verdadeiro, que desceu do céu e dá vida ao mundo. 

 

Com isto Jesus aponta para o fato de que, por detrás da ansiedade do homem, da sua insegurança, há um anseio por um alimento muito mais profundo. O nosso descontentamento só pode ser saciado com o pão da vida. Podemos ter abundância e ainda assim estarmos vazios, podemos ter muito e não sermos saciados, porque a fome que temos é de algo maior, mais profundo. É o desejo por sentido, por significado, propósito. É fome pelo eterno, por uma angústia não resolvida na alma, a solidão cósmica e o nihilismo que nos devora avidamente.


Jesus disse: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”. Nada, além de Jesus, poderá saciar nossa fome. Nada satisfaz, nem sacia, senão este pão da vida que desceu dos céus. Podemos ter muito, e ainda estarmos vazios. Podemos ter abundância de bens mas ausência de algo espiritual. Jesus preenche este vazio. Ele é o pão vivo que desceu dos céus.


Quando Jesus fez esta declaração, as pessoas que o ouviam disseram: Disseram eles: "Senhor, dá-nos sempre desse pão!" Aquelas pessoas dos dias de Jesus também tinham esta necessidade porque ela é antropológica, existencial. Então Jesus declarou:"Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”. 

 

Você olha para sua vida sem sentido, sem nenhuma razão real para viver. Olhando para sua idade chegando, vendo as rusgas do rosto, e perguntando: E Dai? Para onde me levará esta vida de comer, beber, dormir, envelhecer e morrer? Este seu vazio não é de pão, sua mesa está farta, mas este vazio é do coração. O homem tem um vazio no coração em forma de Deus, como afirmou Blaise Pascal. Sua murmuração tem um motivo  mais profundo. Ela não tem causa no seu estômago, mas no seu coração. 


Este maná aponta para Cristo. Ele é o pão vivo que desceu dos céus.

 

O pão da vida, que desceu dos céus, Cristo, ele dá vida ao mundo, ele sacia nossa fome e desejo por coisas muito mais profundas, que desconhecemos. Tratamos de nossas crises perifericamente, mas precisamos aprofundar esta inquietação da qual temos sido vitimados. 

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Ex 13.17-22 Riscos do caminho mais curto




“Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus,

posto que mais perto, mas disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa,

vendo a guerra, e torne ao Egito”  (Ex 13.17).

 

 

 

Introdução 

 

Este texto nos relata que ao sair do Egito, Deus não levou seu povo pelo caminho mais perto, mas os conduziu pelo caminho mais longo. Isto suscita uma questão em nossa mente: Por que Deus nem sempre deseja que passemos pelo caminho mais curto? Parece mais lógico, a logística mais interessante, entretanto, Deus decidiu levar o povo pelo caminho mais longo.

 

Em outras palavras, eles poderiam ter ido pela rota mais utilizada. Ao sair de Goshem (ou Gosen), no Egito, o caminho mais direito era pela rota do Mediterrâneo, por onde os mercadores passavam. Era também o caminho que o exército do Egito tomava quando lutava contra as potências da Assíria que ficavam no Norte. Se fossem por Refidim, o caminho mais curto, mesmo com todos animais, crianças, e idosos, a viagem não duraria mais que seis meses, indo muito devagar. Mercadores podiam fazer este trajeto em 40 dias. Entretanto, Deus os conduziu para o Sul, chegando até o Monte Sinai, que fica entre o Canal de Suez e o Golfo de Acabã. A viagem, como sabemos, durou 40 anos...

 

Por que Deus não deixou seu povo ir pelo caminho mais curto? 

A mesma pergunta podemos fazer ainda hoje: Por que Deus muitas vezes, nos leva não pelo caminho mais simples e curto, mas nos leva a fazer longos percursos, na penosa rota do deserto?

 

Este texto nos aponta para três motivos:

 

1.     Deus os leva por caminhos mais longos, para que não caíssem em armadilhas. O que o povo enfrentaria, se fosse pelo caminho mais curto?

 

O texto sagrado afirma: “Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto...”

 

Era mais perto, mas teriam que enfrentar os filisteus.

Os filisteus habitavam ao Sul de Israel, exatamente no ponto em que deveriam atravessar. Como sabemos pelas Escrituras, passar pelos moabitas já foi um grande desafio (os moabitas não permitiram que eles atravessassem suas terras e Deus não permitiu que seu povo lutasse contra eles porque eram descendentes de Esaú), imagine então, enfrentar com crianças e animais, os filisteus, povo acostumado com guerrilha, saques e invasões? 

 

Muitas vezes caminhos curtos se transformam em cruéis armadilhas. Existe um blog preparado para caminhoneiros, que os orienta na escolha da rota que devem pegar. Uma das coisas que eles aconselham é que os caminhoneiros planejem a viagem com antecedência, mesmo quando a rota já é conhecida. Eles afirmam o seguinte: “O ideal é ir além e pensar no trajeto que será percorrido e a qualidade das vias que serão utilizadas, vale sempre lembrar que nem sempre o melhor caminho é o mais conhecido ou o mais confortável. Usar uma rota diferenciada pode ser sinônimo de evitar estradas muito afeitadas por ações de criminosos e diminuição de desvios”. 

 

Deus não levou o povo pelo caminho dos filisteus, posto que mais curto. Existe muito atalho na vida que nos leva para as mãos do inimigo. O caminho mais curto pode comprometer a saúde física, a integridade pessoal e a consciência. 

 

Esaú é um bom exemplo de como o caminho mais curto pode ser um desastre. Ele era um rapaz despreocupado com as coisas espirituais apesar de ter nascido num lar cristão. Um dia chega de viagem, cansado, faminto, vê seu irmão preparando sopa de lentilhas. Ele só tem um pensamento: mitigar sua fome. E nesta hora, Jacó ardilosamente diz: “Se você me der o seu direito de primogenitura, eu te dou a comida”. Ele respondeu: “de que me vale o direito de primogenitura se estou aqui morrendo de fome”, e assim, ele desprezou a sua honra e os direitos que possuía.

 

Esta é a tentação do imediato, de atender a satisfação imediata dos desejos. Esaú está com fome, possui necessidades não satisfeitas, tem necessidades físicas. Jacó está com o prato pronto, um cozinhado de lentilha. Isto é sopa no mel. Jacó consegue fazê-lo jurar: Uma decisão que vai durar a vida inteira e Esaú, levianamente, não titubeia, esquece-se que opções erradas trazem implicações para toda vida.

 

Somos uma geração ansiosa por resultados imediatos. Queremos vitória sem esforço, queremos privilégios sem responsabilidade, vivemos no ápice da geração “fast-food”, geração micro-wave. Tudo tem que ser resolvido e rápido, não temos paciência com processos. Diante de tentações, o importante é satisfazer imediatamente os desejos, pois aprendemos a não esperar.

 

Somos a geração dos desejos imediatos: Queremos a benção sem pagar o preço. Vive-mos a atração irresistível em busca de homens e mulheres ungidos, que possam de uma forma imediata resolver problemas que foram construídos ao longo dos anos de resistência e rebeldia, queremos unção por osmose sem passar pela cruz. Considere as lutas de pessoas realmente santas: Horas de devoção, clamor, jejuns, noites passadas em claro em busca de graça, verdadeiras batalhas de intercessão. Somos uma geração buscando experiências novas e imediatas. 

 

Satanás sempre usa a estratégia do imediatismo e da satisfação imediata dos desejos. Ele usa conosco a mesma abordagem que usou com Jesus: “Se tem fome, coma! Manda que estas pedras se transformem em pães, absolutize seus desejos!

 

No texto que estamos estudando, Deus conduziu seu povo pelo caminho mais longo. Não o deixou seguir pela rota mais curta. Se lermos um pouquinho adiante, entrando no capitulo 14 de Êxodo, veremos algo ainda mais surpreendente: Deus faz o povo retroceder. “Disse o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel que retrocedam e se acampem defronte de Pi-Hairote” (Ex 14.1,2). Deus não apenas os leva pelo caminho mais longo, mas ainda os faz retroceder. 

 

Isto nos leva a considerar que Deus não se sente pressionado pelo senso de urgência que temos. Afinal, “quem tem pressa come cru”, como diz o ditado popular.  

 

Na Bíblia vemos como Deus nem sempre anda pelo caminho mais curto para realizar seu plano. Israel viveu 400 anos no Egito, antes de receber a herança da terra prometida. Moisés vive 40 anos no palácio, depois Deus o leva por 40 anos no deserto, e somente depois desta longa jornada é chamado por Deus para liderar o seu povo libertando-o do cativeiro.

 

Deus dá sonho para José quando ele é ainda um adolescente. Mas antes do sonho se cumprir, ele é enviado como escravo para o Egito, é obrigado a viver numa condição sub-humana, experimenta as agruras da escravidão, de não ter sem nome, direitos, família e identidade. Por longos 15 anos, no Egito ele ainda é traído, injustiçado, colocado em masmorras, esquecido, até que o projeto de Deus se cumpre na sua vida.

 

O mesmo se dá com Davi. Deus o unge rei sobre Israel na frente de seus irmãos. Sabe o que acontece depois disto? Ele volta para as mesmas funções que exercia anteriormente: cuidar das ovelhas nos desertos da Judeia. Trabalho irrelevante aparentemente para alguém que será um rei. Depois passa um perido ao lado de Saul, um rei paranóico e doente, atormentado por sentimentos persecutórios e por opressão maligna, obcecado pela ideia de que Davi era contra ele. Davi espera o tempo e os processos de Deus, não tem desejos de atropelar as oportunidades nem tomar atalhos. Aguardou a hora, sem quer pegar atalhos.

 

Então, a primeira razão porque Deus não deixou seu povo ir pelo caminho mais curto? É para que não caíamos em tentações e armadilhas. 

 

2.     Para proteger o seu povo. Esta é a segunda razão que encontramos para que tenhamos que andar um caminho mais longo.

 

““Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto...para que, porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e torne ao Egito” (Ex 13.17).

 

O texto deixa claro o propósito de Deus. Veja a expressão “para que”. Este é o motivo. 

O caminho mais curto pode impedir que os grandes sonhos se cumpram. Existe um princípio em liderança que diz: “Pense grande, comece pequeno”; outro similar a este afirma: “Pense globalmente, aja localmente”. Muitas vezes perdemos a “big Picture”, a grande visão, porque esbarramos nos eventos imediatos. Deixamos de ver a longo prazo e nos assustamos a curto prazo.

 

Por exemplo, estatística simples, Jordan Peterson afirma que cada vez que lemos 600 páginas, acontece um gatilho na mente humano e ele dá um salto em termos de conhecimento. É necessário esforço, “não existe almoço grátis!”

 

Muitas vezes o caminho mais curto é uma grande ameaça. Pessoas que fazem sucesso rapidamente, ou ganham dinheiro rapidamente, ou se tornam famosos, sejam eles atletas, artistas. Como lidar com o poder? A fama?

 

Deus faz o seu povo caminhar um longo caminho, para protegê-los. Para que, porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e torne ao Egito”(Ex 13.17). Se tivessem que lidar com grandes conflitos imediatamente, enfrentar grandes oposições de cara, eles não estavam preparados para isto, eles eram escravos, recém libertos. Precisam aprender a lidar com armas para obter vitórias. 

 

O mesmo acontece conosco. Deus dá tempo para que haja um amadurecimento para lidar com situações. Então, toda vez que você estiver impaciente com o processo, pergunte a Deus porque ele está interrompendo um projeto que você acha que poderia acontecer agora. Tente ouvir o sussurro de Deus na sua trajetória. Não faça atalhos, não se desespere com o processo. Deus a seu tempo, faz todas as coisas bonitas.

 

3.     Deus faz seu povo caminhar por uma estrada mais longa, mas sempre vai à frente. “O Senhor ia adiante deles, durante o dia, numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho; durante a noite, numa coluna de fogo, para os alumiar” (Ex 13.21).

 

O texto afirma que Deus ia numa coluna de nuvem, para os proteger do sol do deserto, trazer conforto à viagem, e para guiá-los pelo caminho, e à noite, numa coluna de fogo para os alumiar.  Deus estava com eles todo o tempo, dia e noite. As pessoas olhavam para o céu e sabiam que Deus estava com eles. A viagem demorou, mas Deus nunca se ausentou. Portanto, não fique assustado se o caminho for mais longo, mas se assuste se, ao olhar adiante você não enxergar os sinais de Deus. 

 

O próprio Moisés teve uma experiência muito interessante com Deus. A ira de Deus veio sobre o povo de Israel depois de terem feito um bezerro de ouro para adorar enquanto Moisés estava no monte recebendo as tábuas da lei. Então Deus disse a Moisés que não iria mais com o povo, mas enviaria seu anjo com eles. Veja a resposta de Moisés. 

Disse Moisés ao Senhor: Tu me dizes: Faze subir este povo, porém não me deste saber a quem has de enviar comigo; contudo, disseste: conheço-te pelo teu nome, também achaste graça aos meus olhos... Se a tua presença não vai comigo, não nos faca subir deste lugar” (Ex 33.12-15). Então Deus lhe respondeu, e só então ele teve paz: “Respondeu-lhe: A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso” (Ex 33.14).

 

Eu era ainda um jovem pastor, na Igreja Presbiteriana de Brasília, quando recebi o convite para ser pastor da Igreja da Gávea, no Rio. Eu era pastor auxiliar em Brasília, e era muito respeitado pelo Rev. Adail Sandoval e pelo conselho da igreja. Eu estava feliz na igreja, mas de repente este convite da Gávea começou a fazer um enorme sentido na minha vida. Quando eu tenho que tomar uma decisão como esta, eu experimento muita angústia. Não é fácil decidir. Meu organismo se desequilibra, e o que eu mais queria saber nesta hora era o seguinte: “O Senhor quer que eu saia de Brasília? O Senhor está orientando minha decisão para o Rio. Esta é a tua vontade”? Eu não queria saber nada além disto, porque nada realmente era mais importante que discernir a vontade de Deus. Nestes dias de intensa oração e angústia, eu li exatamente este texto. “Se a tua presença não vai comigo, não nos faca subir deste lugar”. Nada mais, realmente importava para mim.

 

A questão não é se o caminho adiante é longo ou curto. Cheio de percalços ou sereno, se tem precipícios ou não. A questão é saber: Deus vai adiante?

 

O Salmo 23 diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo. A tua vara e teu cajado me consolam”. Já pensaram seriamente neste texto? Vale da sombra da morte? Caminho das trevas e de angústias? Estas são rotas difíceis, são tempos de angústias. Entretanto, se o bom pastor vai conosco, ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum”. que nos faz andar seguro em tais situações? A presença do bom pastor. Sua vara e seu cajado nos consolam. 

 

Conclusão 

 

Deus sempre usa rotas alternativas, sempre que julgar que elas são necessárias para nossa proteção e direção. 

 

Um dos textos que me chama a atenção é o encontro de Jesus com a mulher samaritana. Quando Jesus saiu da Judeia em direção à Galileia, o texto afirma: “E era-lhe necessário atravessar a província da Samaria” (Jo 4.4). Quando estudamos a geografia da terra santa, observamos que geograficamente era possível fazer uma rota diferente. Não era “necessário” passar por Samaria. Por que então o texto diz que “era necessário?” Por uma razão simples. Deus tinha propósitos ao adentrar este território negligenciado pelos judeus, para se encontrar com uma mulher desorientada e que precisava de salvação. Era necessário não geograficamente, mas era necessário dentro dos propósitos divinos.

 

Jesus preferiu usar uma rota que os judeus quase nunca usavam, para se encontrar com aquela mulher e lhe oferecer a água da vida para sua salvação. 

 

Mas certamente, a rota mais longa que Deus resolveu fazer foi a rota do Calvário. Deus preferiu um longo caminho. Satanás ofereceu um caminho curto. “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares”. Satanás oferece a Jesus o caminho mais curto. Da auto glorificação, auto promoção, um caminho que se esquivava da cruz, mas a cruz era necessária. 

 

Nos Evangelhos Jesus tenta comunicar o significado de sua morte na cruz aos seus discípulos, sabe o que Jesus lhes disse: “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos, que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado ao terceiro dia” (Mt 16.21)

 

O que vemos no texto? Era necessário!

A cruz era uma necessidade.

O caminho mais longo era necessário. Este penoso caminho do martírio, da solidão, do abandono de Deus e da morte cruel. O caminho mais longo ele percorreu por nós, ao levar sobre si toda ira de Deus pelos nossos pecados. Ao nos substituir.

 

Como respondemos a isto? Em arrependimento e fé.

O caminho mais longo ele percorreu por nós, para que nossa estrada pudesse nos levar livremente a Deus.