Introdução
Uma das maiores ansiedades do homem sempre foi a questão de seu sustento e manutenção. Jesus percebe a ansiedade no coração dos seus discípulos quanto a estas coisas: “Por isso vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida quanto ao que haveis de comer ou beber, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo, mas do que as vestes.. Portanto, não vos inquieteis dizendo: Que comeremos, que beberemos ou com que nos vestiremos?”(Mt 6.25,31).
Certa senhora de 90 anos andava muito preocupada com seu futuro financeiro, apesar de ter uma boa aposentadoria e bens. Seu filho percebeu que ela andava inquieta e foi conversar com ela, descobrindo que o que a estava deixando tão preocupada tinha a ver com seu sustento na velhice, então, cuidadosamente mostrou-lhe que ela poderia viver bem por mais de 15 anos, com as condições atuais que ela tinha. Ao ouvir a explanação do filho ela disse: “mas, e depois disto?”
Narração
Neste texto vemos o povo de Deus ansioso quanto ao seu futuro. Murmurando. Qual era o problema? Insegurança quanto ao sustento e a provisão: “Disseram-lhes os filhos de Israel: quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão.”(Ex 16.3). O povo de Israel achava que ia morrer de fome no deserto. O povo está amedrontado e assustado com a possibilidade de lhes faltar o que era necessário.
Não é exatamente assim que tantos sentem?
Este texto nos fala exatamente do cuidado e da provisão de Deus.
O que podemos aprender:
- A provisão vem dos céus. Deus é quem generosamente a dá – Ele dá continua e abundantemente (Sl 145.15-16; At 14.17; Jr 31.35).
O que Deus fez ao ouvir a preocupação do povo de Israel?
Deus mandou o maná dos céus. O maná era fino, semelhante a escamas, como uma fina geada que caia da terra. O povo recolhia este maná diariamente, cerca de 1.5 kg daqueles pequenos flocos, e fazia bolo e pães, e as mulheres logo aprenderam a fazer diversas receitas com o maná, começaram a ensinar umas às outras como era mais gostoso, e todos tinham o que era necessário.
Deus mandou este maná por quarenta anos. Curiosamente, ele deixou de cair quando o povo entrou na terra prometida. Agora eles viveriam de suas plantações e colheitas, dos frutos que a terra oferecia. Deus nunca deixou faltar o alimento.
Quando pesquisadores analisam a situação da fome no mundo chegam a um dado alarmante. Estima-se que 800 milhões de pessoas passem fome diariamente. Curiosamente, porém, há uma outra estatística curiosa. A terra atualmente produz quatro vezes mais do que a humanidade inteira necessita. O problema da fome no mundo é econômico, político e social, e não ausência de alimento. O problema tem a ver com a concentração de renda, com a distribuição igualitária dos bens, o trágico desperdício de comidas, as guerras, a logística, e não carência de alimentos. Estima-se que, apenas no Brasil 30% da produção de grãos se perde entre a colheita e a distribuição final, e que mais da metade se perde no consumo caseiro, com comida que é jogada fora.
No Brasil, por questão de higiene, e em outros países também, uma comida que é servida numa mesa e que sobra, não pode ser servida novamente, nem doada por questão de higiene e saúde. Então, restaurantes e hotéis pegam a maioria da comida que sobra e joga no lixo. Verifica-se, desta forma, que o problema não é com a produção. Deus é sempre abundantemente generoso. Deus manda a chuva e as estações para que tenhamos fartura de alimentos. Dispõe a natureza para ser pródiga e abençoadora.
A provisão de Deus silencia a boca dos murmuradores que estavam no deserto, e nos leva a admiração ainda hoje, quando percebemos e recebemos o cuidado de Deus nas nossas vidas. Já viram como em tempos de escassez Deus multiplica os recursos? O apóstolo Paulo afirma: “O meu Deus, segundo a sua riqueza e glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.13). Deus é Jeová Jiré, o Deus da provisão.
- A generosidade do Senhor se revela diariamente – “Então, disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não”(Ex 16.4) O texto da ênfase no fato de que isto acontece “diariamente”. Deus vai dar dia a dia. Por isto Paulo afirma: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8).
Sabe por que Deus dá assim, em conta gotas, diariamente? Por que nossas necessidades são diárias e sempre surgem necessidades não previstas, não planejadas. Deus não pode se “distrair”. Nosso Deus “não cochila, nem dorme”. Todos esperam o sustento de Deus. E Deus cuida, não apenas dos seres humanos, mas age num perfeito ecossistema que permite que todos tenham alimentação e cuidado necessários.
Na oração dominical, já prestaram atenção que Jesus ensina seus discípulos a orar apenas pelo pão diário: "O Pão nosso de cada dia nos dá hoje". O Pai celeste cuidará de cada um de nós, diariamente.
Jesus convida seus discípulos a “observar as aves dos céus e os lírios do campo”. A natureza é didática. Pedagogicamente nos ensina quando nós atentamos para isto. Observar é olhar com atenção, considerar, refletir. Num período de férias na fazenda durante esta pandemia, isto se tornou nítido para mim. Nós, dos centros urbanos aflitos, com medo da Covid-19, mantendo isolamento social, atentos aos cuidados higiênicos e preocupados, mas a natureza seguia seu fluxo natural e normal. a fauna e a flora continuavam sua vida ignorando a ansiedade humana. Existe uma razão óbvia para isto: Determinados passarinhos comem o equivalente a 4 vezes seu peso, diariamente. Se um homem de 70 kg comesse proporcionalmente ele teria que devorar 280 kg de comida diariamente...
E como Deus faz isto? Diariamente. Ele dará o que é necessário.
O Salmo 104.27-35 afirma: “Todos esperam de ti que lhes dês o sustento a seu tempo. Tu lho dás, e eles o recolhem; abres a tua mão, e eles se fartam de bens.”
3. Deus quer, através do sustento, nos levar à dependência – “Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte.” (Ex 16.19).
Deus podia dar um produto que fosse estocado em despensas, entretanto, o maná era diário, o povo precisava confiar que Deus o enviaria no outro dia. Alguns tentaram ser “providentes e espertos”, guardando o alimento para o outro dia (Ex 16.18-20), porém o maná se estragava e ficava cheio de bichos. Apenas na sexta feira podiam recolher o dobro, porque no sábado eles deveriam descansar.
Paulo Elias, um colega de seminário certa feita afirmou: “A segurança que nossas igrejas nos dá, retira de nós a capacidade de aprender dependência de Deus”. Watchmann Nee, conhecido pregador chinês, escreveu: “Se você tem um chamado do senhor, não deveria se preocupar com o sustento...”
Por que muitos de nós somos tão acumuladores e pouco generosos com nossos recursos? Porque preferimos contar com nossos recursos que depender dos recursos de Deus. Não sabemos se realmente podemos confiar em Deus. Não vou dar, porque pode faltar... Não sei se é possível confiar na provisão e no sustento de Deus. Uma coisa que podemos aprender nas Escrituras Sagradas é que quando você dá a responsabilidade pelo seu sustento de Deus deixa de ser sua, e passa a ser de Deus. Doar é um ato de generosidade e de confiança no caráter de Deus que providencia todas as coisas. Deus quer nos ensinar a depender dele, diariamente...
- Deus quer, através de sua provisão, nos ensinar que ele de fato é Deus - “À tarde, sabereis que foi o Senhor quem vos tirou da terra do Egito” (Ex 16.6).
Quando Deus nos dá o sustento, aprendemos de onde vem a provisão. Percebemos que Deus é Deus. Como é que o povo saberia disto? Vendo a manifestação e o cuidado de Deus. Será que não e isto que precisamos aprender?
O fato de sermos abastados e vivermos em um ambiente tão confortável, retira de nós a dependência. Por que precisamos depender de Deus se nossos investimentos são tão lucrativos e ganhamos tão bem? Se nunca tivemos que enfrentar situações de carência e necessidade. Por termos muito, raramente consideramos seriamente que Deus é quem provê e cuida de nossas necessidades. Passamos a confiar no nosso esforço, trabalho, esperteza, investimentos, mas não consideramos a graça de Deus nas coisas que recebemos. Por não dependermos de Deus, também não temos coração grato a Deus.
Quando consideramos a provisão de Deus, aprendemos que Ele é Deus.
- A provisão é sempre mais que suficiente. “Eis o que o Senhor vos ordenou: Colhei disso cada um segundo o que pode comer, um gômer por cabeça, segundo o número de vossas pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda.” (Ex 16.16).
Uma coisa maravilhosa da provisão de Deus é que ele dá o que é necessário. Criteriosamente o faz. Os recursos aparecem para o que é necessário. Esta é sua forma de agir e dar a provisão. "O Nosso Deus, em Ceisto Jesus suprirá cada uma de nossas necessidades". Preste atenção: A Bíblia diz que Deus proverá "necessidades", e não "desejos". Deus não promete suprir seus desejos, e todos os temos. Deus pode até nos conceder determinados presentes na sua infinita graça, mas Deus promete suprir aquilo que lhe é necessário. Não vai faltar.
O Salmista afirma: “As divisas caíram para mim em lugares agradáveis: Tenho uma bela herança!” (Sl 16.6). Deus estabelece divisas para cada um de nós, mas estes limites, estas cercas, são confortáveis. Você se sente seguro e grato dentro destes limites. Pessoas simples não são menos felizes que pessoas ricas e abastadas. Porque o espaço que elas tem é suficiente para que tenham alegria ali, mesmo tendo limites, o que é natural para todos nós. É como a definição de beleza que ouvi: “Beleza é você se sentir confortável dentro de sua pele”. Surge gratidão em nosso coração, quando, dentro daquilo que temos, dentro dos nossos limites, estamos felizes e gratos. Não tem a ver com muito ou pouco, mas tem a ver com contentamento. Experimentar a graça de Deus naquilo que possuímos.
Por isto gosto muito dos princípios financeiros estabelecidos por Charles Stanley sobre finanças. Talvez este seja o melhor de todos os princípios que já ouvi, e são facilmente memorizados por qualquer um. Tire um tempo e reflita sobre isto:
- Ganhe honestamente
- Aplique sabiamente
- Doe generosamente
- Desfrute abundantemente
- Deus nos sustenta, para que cesse a murmuração e a reclamação –Deus ouve nossa gratidão, por isto a Palavra nos exorta a que sejamos gratos. Mas Deus ouve também nossa murmuração. “O Senhor ouviu as vossas murmurações” (Ex 16.9).
O propósito de Deus ao nos dar todas as coisas é gerar uma atitude de louvor ao seu nome. Quando entendemos tudo que Deus nos dá ficamos gratos. A generosidade de Deus deve nos levar a adorar o seu nome. Quem não compreende torna-se murmurador. Este texto nos ensina que reclamação e maledicência são essencialmente contra Deus. “As vossas murmurações não são contra nós, e sim contra o Senhor”(Ex 16.8).
Se você está reclamando e vive descontente, certamente o faz porque não tem conseguido apreciar o amor de Deus por sua vida.
Conclusão: O maná de Deus
Há uma coisa sobre o maná, que não pode passar desapercebido por nós ao lermos a Bíblia. A provisão de Deus é sempre exaltada na Bíblia, mas Jesus a toma para dar um sentido muito mais amplo, mais profundo, mais belo que apenas a provisão física, o alimento, que o povo recebia de Deus.
Veja o que Jesus diz em Jo.31-33:
“Os nossos antepassados comeram o maná no deserto; como está escrito: ‘Ele lhes dei a comer pão do céu’". Declarou-lhes Jesus: "Digo-lhes a verdade: Não foi Moisés quem lhes deu pão do céu, mas é meu Pai quem lhes dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo". Disseram eles: "Senhor, dá-nos sempre desse pão! " Então Jesus declarou: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”.
Jesus afirma que o maná no deserto, na verdade, era uma referência de algo muito maior. Falava de sua vinda. Ele era o maná verdadeiro, que desceu do céu e dá vida ao mundo.
Com isto Jesus aponta para o fato de que, por detrás da ansiedade do homem, da sua insegurança, há um anseio por um alimento muito mais profundo. O nosso descontentamento só pode ser saciado com o pão da vida. Podemos ter abundância e ainda assim estarmos vazios, podemos ter muito e não sermos saciados, porque a fome que temos é de algo maior, mais profundo. É o desejo por sentido, por significado, propósito. É fome pelo eterno, por uma angústia não resolvida na alma, a solidão cósmica e o nihilismo que nos devora avidamente.
Jesus disse: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”. Nada, além de Jesus, poderá saciar nossa fome. Nada satisfaz, nem sacia, senão este pão da vida que desceu dos céus. Podemos ter muito, e ainda estarmos vazios. Podemos ter abundância de bens mas ausência de algo espiritual. Jesus preenche este vazio. Ele é o pão vivo que desceu dos céus.
Quando Jesus fez esta declaração, as pessoas que o ouviam disseram: Disseram eles: "Senhor, dá-nos sempre desse pão!" Aquelas pessoas dos dias de Jesus também tinham esta necessidade porque ela é antropológica, existencial. Então Jesus declarou:"Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”.
Você olha para sua vida sem sentido, sem nenhuma razão real para viver. Olhando para sua idade chegando, vendo as rusgas do rosto, e perguntando: E Dai? Para onde me levará esta vida de comer, beber, dormir, envelhecer e morrer? Este seu vazio não é de pão, sua mesa está farta, mas este vazio é do coração. O homem tem um vazio no coração em forma de Deus, como afirmou Blaise Pascal. Sua murmuração tem um motivo mais profundo. Ela não tem causa no seu estômago, mas no seu coração.
Este maná aponta para Cristo. Ele é o pão vivo que desceu dos céus.
O pão da vida, que desceu dos céus, Cristo, ele dá vida ao mundo, ele sacia nossa fome e desejo por coisas muito mais profundas, que desconhecemos. Tratamos de nossas crises perifericamente, mas precisamos aprofundar esta inquietação da qual temos sido vitimados.