O ipê é uma das árvores mais fascinantes que existe. Para quem mora no Centro Oeste do Brasil, ela se transforma em um símbolo de esperança. É conhecida por sua beleza e exuberância das folhas, que, quando caem, são gradualmente substituídas por cachos de flores de formato afunilado e cores intensas.
Uma das características marcantes dos ipês é que gostam de calor e sol. Suas flores têm forma de funil e têm cores variadas: amarelo, roxo, roso, branco e até verde. Eles florescem entre junho e novembro e não duram muito. Caem no decorrer de uma semana, cobrindo o chão com sua cor, mas a beleza revelada neste curto espaço de tempo é suficiente para encantar a todos.
As flores do ipê parecem conspirar contra a secura do cerrado. Curiosamente, elas escolhem mostrar-se em toda a sua exuberância exatamente na época mais feia do ano, no meio da seca que normalmente dura entre três e quatro meses. Quando tudo está sem verdor, quando a natureza se sente ameaçada pelas queimadas, nestas horas, de forma mágica, o ipê mostra a sua estonteante coloração para a surpresa e admiração de todos os amantes da natureza.
O ipê parece falar de pessoas que se recusam a reconhecer o calor e não deixam que a temperatura e as condições externas determinem suas vidas. Conheço pessoas assim! Parece que quanto mais são ameaçadas, quanto mais quente o solo, mais desabrocham para uma intensidade artística e de vida.
Uma das mulheres cuja biografia me impressionou foi Cora Coralina. Seu pai não queria que ela estudasse, pois isso não era coisa de mulheres. Ela não apenas aprendeu a ler e a escrever, como aprendeu a fazer maravilhosas poesias. Decidiu casar cedo para fugir de casa e encontrou um marido igualmente severo no trato, que a proibia de escrever. Certa vez, ele chegou a rasgar um caderno de poesias, que se perdeu na história.
Proibida de escrever, decidiu fazer um jardim em casae toda a sua arte foi deslocada para as suas flores. Fizeram um concurso na cidade de Goiás para escolher o jardim mais bonito e ela foi vencedora. Sabendo disso, seu marido disse que ela queria aparecer e então cortou todas as suas plantas. Aos 64 anos, viúva, finalmente pode dar ao mundo a sua riqueza literária que não poderia se esconder.
A Bíblia fala daqueles que “ao passar pelo vale árido, faz dele um manancial, de bênçãos o cobre a primeira chuva” (Sl 84.6). Homens e mulheres que agem como o ipê recusam-se a permitir que a secura ao redor retire deles a beleza interior, notória no exterior; e por conta disso, brotam esplendorosos, belos e imponentes no meio da seca. É a conspiração do ipê!
Nenhum comentário:
Postar um comentário