sábado, 24 de outubro de 2020

Gn 3 O Problema do Mal




 

 

 

Introdução:

 

O Problema do Mal


Quando lemos este texto nos assustamos:

  • de onde vem esta serpente?
  • O que a serpente está fazendo no Éden?



assume o cenário de forma assustadora e a partir daí o mal se estabelece. 

 

Quando estudamos o livro de Gênesis, já nos primórdios, já antes da queda, mas principalmente depois do pecado, percebemos uma dimensão problemática, dura e enigmática que é a realidade do mal. 


-De onde o mal surgiu? 

-Como Deus permitiu o mal se ele poderia impedir? 

-Se nossos primeiros humanos moravam no paraíso, num lugar onde havia plena harmonia e comunhão com Deus, de onde brotou esta ambiciosa e maligna atitude de se rebelar contra o seu Criador?

 

Percebemos assim que, embora o mal fosse apenas um conceito, porque ele ainda não estivesse presente na sua forma e dimensão visível, ele potencialmente existia, de tal forma que os Adão e Eva, puderam lançar mão e acioná-lo, assim que desejaram. O mal era uma possibilidade, não uma realidade, mas ele já existia como conceito filosófico (ou teológico, se o preferirem). Os seres humanos optaram por trazer o mal para dentro de sua história, e o mal penetrou no seu aspecto mais severo e trágico, pois imediatamente vemos Caim matando seu irmão, depois de saírem da igreja (eles estavam prestando um culto a Deus e a inveja assumiu o coração de Caim, durante a oferenda). O mal em sua pior roupagem se tornou visível.

 

Numa palestra proferida na Harvard University em 2001, Dr Billy Graham, falou dos grandes mistérios que perduram na humanidade apesar da conquista tecnológica e do avanço da ciência. Ele afirmou que existem três problemas filosóficos que o homem contemporâneo ainda não consegue resolver: 

O problema da morte, 

           da dor 

              ...e do mal.

 

Graham afirma que tais problemas não podem ser resolvidos intelectualmente,  e que só a  espiritualidade pode trazer respostas plausíveis nesta área, mesmo admitindo que muitas explicações são marcadas pela crendice, superstição, mentira e engano. Algumas religiões pagãs, chegam a afirmar que o mal é uma ilusão e irreal, mas a Bíblia e a vida não tratam o mal de forma romântica. Os personagens bíblicos são marcados por angústias, aflições, perdas e conflitos. O mal sempre manifesta seu lado pesado na vida dos homens de Deus. Além do mais, o nosso Salvador é chamado de “homem de dores”, que enfrentou de forma pesada sua caminhada para a cruz.

 

A realidade do mal é tão real que não precisamos buscar argumentos nas civilizações bárbaras, sanguinolentas do passado. Um olhar rápido no Século XX, já nos revela a sua presença acachapante.

 

·       Como explicar que apesar do grande avanço da ciência e da tecnologia, duas grandes guerras mundiais tenham eclodido num período moderno no curto espaço de 30 anos?

·       Como entender o genocídio praticado em guerras tribais e imperialistas ainda em nossos dias?

·       Que resposta podemos dar para um mundo tão contraditório e repleto de tragédias com terremotos e tsunamis? Como lidamos com desastres naturais que ceifam a vida de tantas pessoas indiscriminadamente?

·       Como explicar o mal que tem em seu poder a capacidade de mudar o rumo da história e dos sonhos da humanidade e de nossas vidas particulares com um crime hediondo ou a morte trágica de um ente querido ainda na sua juventude, vítima de uma doença congênita ou adquirida?

.seriados como “ problemas não resolvidos” mostram a severidade do mal.

 

Tentando equacionar a questão do mal, Santo Agostinho afirmou: "Deus, soberanamente bom, não permitiria de modo algum a existência de qualquer mal em suas obras, se não fosse poderoso e bom a tal ponto de poder fazer o bem a partir do próprio mal".

 

A questão do mal é um grande desafio filosófico para pensadores cristãos ou ateus. 


Os ateus acham que a existência do mal nega a existência de Deus. Augustus Nicodemus afirma que “um dos argumentos usados contra a existência de Deus - geralmente pelos ateus - é mais ou menos o seguinte: '


“É impossível admitir a existência de um Deus que seja todo-poderoso e bom e que se cala, se omite, fica impotente diante da realidade do mal no mundo. O mal existe. Ele está aí. Traz sofrimento, dor, mortes, desgraças e, se Deus é Deus conforme o cristianismo diz, por que o mal existe?"

 

A existência do mal parece contradizer a existência de um Deus bondoso e poderoso, 


Entretanto, muitos respondem que um Deus perfeito pode ainda permitir um certo mal, para que surja um bem maior. Neste sentido, os atributos divinos seriam consistentes com a existência do mal, mas isto não significa que o mal derive de Deus, ou que seja possível explicar filosoficamente as razões pelas quais o mal existe ou ocorre. 


A presença do mal no mundo, é uma das principais razões pelas quais os céticos rejeitam a existência de Deus. Eles argumentam que se existisse um Deus perfeito, Ele não criaria um mundo em que o mal existe. 


Para o cristão o problema do mal é posto de maneira complexa. Muitos fazem perguntas para tentar embaraçar os cristãos.


§  Por que existe o mal se há um Deus?


§  Por que Deus não faz nada para acabar com o mal?


§  Se Deus é bom e poderoso, porque permite a existência do mal?


Homens de Deus reconheceram, sem explicar, o problema do mal:


Jó: Por que se concede luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados?" (Jó 3.23)


 Davi: "Não têm conta os males que me cercam" (Salmo 40.12).

             

Paulo: "Toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora" (Romanos 8.22).


Para C. S. Lewis, “existem dois erros iguais e opostos quando se discute a questão do maligno. Um é a descrença na sua existência. O outro é crer e sentir um interesse excessivo e patológico sobre eles. Os demônios de deleitam em ambos os erros, tanto na visão materialista quanto na mágica”[1]


O Surgimento do Mal

Apesar do mal ser uma realidade em nosso mundo, as Escrituras deixam claro que Deus não criou o mundo no atual estado em que se encontra. O mal veio como resultado da queda do homem. 


A Bíblia diz que Deus é puro e criou a raça humana para que O amasse. Ao permitir que o homem e a mulher pudessem escolher entre o bem e o mal, o mal se tornou real. Ao desobedecer a Deus, Adão e Eva não escolheram algo que Deus criou, mas por sua livre escolha, eles trouxeram o mal para o mundo. Foi o egoísmo e o narcisismo do homem que trouxeram o mal para o mundo.


Esta hipótese, porém, revela que o mal já existia como possibilidade no mundo. 


A Queda não inventou o mal, mas o evidenciou. 


Após a queda, o mundo foi afetado no seu eixo central, e as coisas deixaram de ser como deveriam. O pecado trouxe problemas nos relacionamentos: 


             Do homem com Deus (separação, fuga, medo), 

                     consigo mesmo (desequilíbrio emocional, culpa, angústia), 

             com o próximo (acusação e manipulação)  

             e com a natureza (maldição - até a natureza e os animais às vezes são inimigos do homem). 



Surgem também as guerras e doenças. 


O perfeição da criação foi desfeita pelo pecado. Embora a Bíblia não nos informe porque Deus permitiu o mal, ela nos mostra como e porque o mal entrou no mundo. Deus é infinitamente sábio e seus propósitos estão além da nossa compreensão.



A Bíblia nos ensina que o universo foi criado de forma perfeita e harmoniosa, e que Deus considerou que tudo que havia feito era muito bom, mas o pecado entrou no mundo por causa do orgulho, rebeldia e das escolhas morais feitas pelo homem. A dor e o mal vieram como consequência, não faziam parte do plano original de Deus. 


“Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.29).


O mal, a dor e a morte não fazem parte do propósito original de Deus, mas são resultantes de conflitos morais e decisões erradas do ser humano. Se formos honestos, veremos que muitos dos males que sofremos resultam da atitude tola das escolhas que fazemos e na escolha de erradas prioridades.

 

Jesus, contudo, não considerou o sofrimento de uma forma normal. 


Muitas vezes se sentiu indignado e entristecido diante do desprezo humano em relação à vida. Por duas vezes tentou tirar dos discípulos uma cosmovisão equivocada e cultural que associava a dor a um pecado específico (Lc 13.1-5; Jo 9.1-4). 


Ao ministrar sobre este assunto, deixou claro que, o mal, nem sempre, é resultado de escolhas morais. 


Ele considerou o mal como algo anormal, e por isto não aceitou resignadamente a brutalidade e violência da vida. Chorou diante da morte, reagiu diante de atitudes de lideranças que impunham sofrimento aos seus liderados, curou leprosos, cegos e coxos, conspirando contra a angústia presente na vida humana. 


Ele mesmo experimentou o mal na sua forma mais aguda, ao ser condenado por religiosos inescrupulosos e ser vítima de um julgamento brutal e iniquo, que o declara justo: “eu não vejo nele crime algum”, mas que por motivos políticos o entrega para ser executado.

 

A dor, o mal e a morte ainda continuam sendo filosoficamente desafiadores, às vezes ficamos perplexos diante de notícias estarrecedoras.

 

Não podemos justificar o problema do mal afirmando que foi Deus quem decretou o pecado. Se Deus tivesse decretado todas as coisas, Ele seria o autor do pecado e do mal e isto não está de acordo com o que a Bíblia diz.

 

Como lidar com o Mal?

 

Primeiro, entendendo que Deus não é o autor do mal moral.

 

O que significa isto?


Se entendermos o mal como qualquer forma de sofrimento, podemos afirmar que sim. Deus é o autor do mal.  


Agostinho respondeu a questão do mal, negando que Deus fosse seu autor, apesar de defender que, embora tenha criado tudo o que existe, ele não criou o mal porque o mal não é algo, mas a falta ou a deficiência de algo. 


Por exemplo, o mal que um cego sofre é a ausência da visão. 


O mal surge quando o homem, livremente, se afasta de Deus pelo desejo de ser tornar igual a Deus. Deus cria o homem para o bem, mas o homem fez mal-uso da liberdade concedida pelo Criador, tomando suas decisões não segundo a razão iluminada pela fé, mas segundo suas paixões, e assim, abusou da liberdade que lhe foi dada; logo, o pecado provém de uma atitude fundamentada não na razão, mas nas paixões.

 

A verdade, porém, é que Deus é autor do mal, no sentido de que ele permite que coisas ruins aconteçam, para seu plano é propósito.


Vários textos bíblicos afirmam isto:


“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Is 45.7).


“Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá algum mal na cidade, sem que o Senhor o tenha feito?”(Am 3.6)


“Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?” (Lm 3.38)

 

O que significa isto?

Precisamos estabelecer a diferença entre Mal moral e Mal natural


O mal moral é algo totalmente contrário à perfeição divina, já que o mal é algo imperfeito. Neste sentido, Deus jamais poderia ser o agente do mal, porque comprometeria seu caráter justo e santo. “Pois tu não és Deus que se agrade com a iniquidade, e contigo não subsiste o mal.”(Sl 5.4)

 

Entretanto, podemos entender que Deus pode permitir calamidades com propósitos redentivos (Ap 3.19) ou mesmo punitivos (Ap 21.8). 


Neste caso podemos afirmar que Deus é o autor do mal natural, embora saibamos que nem todo mal natural é proveniente de Deus. Muitas vezes sofremos por causa da maldade dos seres humanos, com a opressão, injustiça, traição e violência.

 

O termo “mal” que aparece em Is 45.7 é originalmente ‘ra (hebraico) e refere-se, a calamidades. Deus estava afirmando que permitiria a invasão babilônica sobre seu povo por não terem se arrependido dos seus pecados

 

Vejam:

 

“Pelo que sobre ti virá o mal que por encantamentos não saberás conjurar; tal calamidade cairá sobre ti, da qual por expiação não te poderás livrar; porque sobre ti, de repente, virá tamanha desolação, como não imaginavas.” (Is 47.11)

 

Deus está afirmando que seu povo seria julgado pelos seus pecados, e isto implicava em sofrimento. (que é uma forma de mal). O mal que Deus suscitaria seria resultante da consequência do pecado que os próprios seres humanos causaram ou buscaram.

 

Concluímos que Deus não é o autor do mal moral, mas permite que calamidades sobrevenham a pessoas, grupos ou nações. Assim como há calamidades naturais: secas, enchentes, terremotos.

 

Segundo, toda atitude de Deus é marcada por sua santidade


Einstein afirmava que “Deus não joga dados”. Podemos dizer que Deus não brinca com a dor de ninguém, nem é arbitrário. 


Ele é longânimo, não se ira com facilidade e não reage às provocações com ira emocional, embora exerça julgamento sobre o pecado, ele não age irracionalmente, sua ira demora a ser aplicada sobre os pecados humanos.

 

Nem sempre saberemos o motivo de nos ter sobrevindo o mal, ou dele ocorrer em determinado lugar ou momento, ou atingir nossa vida. Não sabemos os propósitos de Deus, nem os mistérios de seus atos. Ele é soberano. 


Quando tivermos que enfrentar a dor e a tragédia, devemos fazer como Jó:  “O Senhor o deu, o Senhor o tomou; bendito seja o nome do SENHOR.” (Jó 1.21) Martinho Lutero dizia: “Que Deus seja Deus”. Jó sabia quem Deus era, e se recusou a amaldiçoá-lo, como sua mulher chegou a sugerir.

 

Terceiro, precisamos entender que vivemos num mundo caído.

O mal entrou no mundo por uma atitude deliberada do ser humano. O mal, como dissemos, até então, existia como uma ideia, mas agora ele se torna uma realidade, quando o homem desobedeceu a Deus.

 

Eclesiastes afirma: “Eis o que tão somente achei; Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”. (Ec 7.29). 


O pecado desvirtuou o plano de Deus para a humanidade. O mal é uma realidade por causa do pecado. A criação também vive debaixo desta opressão gerada pelo pecado. “Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angustias até agora” (Rm 8.22). Até que Cristo retorne lidaremos com as calamidades e enfermidades que nos atingem. O mal é real, mas não é definitivo.

 

Jesus e o Mal

 

Como Jesus lidou com o mal?

Ele conheceu de forma direta a questão do mal, tanto na forma de injustiça, como no enfrentamento direto com o diabo e suas hostes.

 

1.     Jesus rejeitou a relação causa/efeito do mal como consequência do pecado. Dois textos são fundamentais para isto: Lc 13.1-5 e Jó 9.1-4.

 

Os amigos de Jó cometeram um erro muito comum em todas as religiões: acreditar que as pessoas sofrem por causa de um pecado que tenham cometido. Que existe uma relação causa/efeito na raiz do sofrimento. Eles disseram a Jó: “Lembra-te: acaso, já pereceu algum inocente? E onde foram os retos destruídos?” (Jó 4.6). A lógica de Elifaz é que se estamos sofrendo, então fizemos algum mal e somos merecedores do castigo. Doença é castigo!

 

Esta visão de que pessoas boas não sofrem, estava presente na mente dos discípulos de Cristo. Ele teve que desfazer esta visão nas suas mente.

 

Nos dias de Jesus uma tragédia chocou a nação judaica. Galileus estavam num culto judaico, oferecendo sacrifícios, e os soldados de Pilatos os trucidaram no meio da cerimônia religiosa. O sangue deles se misturou com o sangue dos animais que haviam sido oferecidos em holocaustos. Uma cena triste. Jesus aproveitou este momento para ensinar aos seus discípulos: “Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” (Lc 13.1-3)

 

Jesus procura desta maneira, desvincular a perversa relação que facilmente construímos: homens bons não adoecem, não sofrem; só pessoas más. Ou ainda, nada de mal acontecerá a pessoas que amam a Deus... O que acontece quando fazemos tal leitura? Acrescentamos dor, à dor já existente. Quando olhamos a enfermidade por este prisma, a pessoa precisa lidar com duas situações que trazem ainda mais sofrimento. Uma, é a dor real da enfermidade em si; outra, é a dor emocional ou espiritual da culpa. Se estou doente ou sofri o mal deve ter sido por causa do meu pecado. O que fiz de errado? Por que Deus está me punindo?

 

Jesus ainda ensina aos discípulos em outra situação. Ao se depararem com um homem cego de nascença, os  discípulos perguntaram: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego?” (Jo 9.2). Nesta pergunta não está implícita a visão dos discípulos de que, se alguém está doente isto é causado pelo pecado? Jesus responde a esta questão da seguinte forma: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” (Jo 9.3). Jesus desvincula a relação causal, a equação perversa: Doença é resultado do pecado! Uma enfermidade pode ser dada, não por causa do pecado, mas pelo misterioso projeto de Deus, que ao nos dar a doença quer manifestar seu poder e glória em nós.

 

2.     Jesus lidou de forma misericordiosa com o mal. Seu ministério foi voltado para os cativos do diabo, para os que sofriam. Os milagres eram uma forma de redenção. Deus estava trazendo a vida à normalidade.

 

Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas , porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não tem pastor” (Mt 9.36). 

-Jesus se compadece das pessoas aflitas com as quais se encontrava. 

-Teve profunda compaixão de Maria e Marta, que estavam enlutadas pela morte de Lázaro (Jo 11.35). 

-É clara a sua tristeza diante do homem que traz seu filho endemoninhado (Mc 9.14-29). 

-É visível sua dor diante da viúva de Naim, que perdeu o seu filho. “Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores!” (Lc 7.13).

 

O mal opõe-se ao projeto de vida para sua criação. Por isto vemos Jesus curando, libertando, trazendo graça, alívio, redenção, a tantas pessoas no seu ministério terreno. Jesus lidou de forma misericordiosa com o mal.

 

3.     Jesus nunca tentou filosofar sobre o mal. Mal não se enfrenta com filosofia, mas como resposta de amor ao que sofre, e com adoração a Deus diante do mistério da dor.

 

Você não encontrará em nenhum momento do ministério, Jesus se perdendo em divagações sobre o mal, nem em densas reflexões sobre a razão do mal, mas você o verá, sempre, envolvido com a dor das pessoas, lidando com o sofrimento. 


Por isto Jesus toca as pessoas. “E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe dizendo: quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra” (Mt 8.3). Os intocáveis leprosos recebem mais que a cura desejada, recebem simpatia pelo seu distanciamento social e abandono. Assim também faz com o cego em Betsaida. “Então, novamente lhe pôs as mãos nos olhos” (Mt 8.24).

 

Vemos sua tristeza e enfrentamento do mal ao curar uma mulher, que por dezoito anos estava presa pelo diabo. “Então, lhe impôs as mãos; e imediatamente ela se endireitou e louvava a Deus” (Lc 13.13). Jesus não fica discutindo sobre as origens e etiologia do mal, mas estava sempre pronto a trazer liberdade, redenção e alegria aos que sofriam pela implacável ação do mal.

 

4.     Jesus demonstrou na sua vida que o mal pode ser transformado em redenção. Sua profunda dor, seu sofrimento, desembocou na salvação.

 

Uma das cenas mais impressionantes de Jesus se dá quando, no ato de partir o pão e distribuir o cálice, ele dá graças (Lc 22.17,19). Como agradecer a Deus se aquilo representa seu sofrimento? 


Jesus assim o faz porque para ele, sofrimento não era mero sofrimento e dor não era mera dor. Quando ele considerou todo o mal na perspectiva de Deus, ele pôde se regozijar, não pelo mal em si, mas pela dimensão redentiva que se projetava além da dor. O mal (a cruz, a humilhação, a morte), são percebidos na dimensão da eternidade. Possuem propósitos sacramentais. Sinais concretos de algo muito maior. O perdão do pecado e a reconciliação do pecador diante do Pai.

 

“Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”(Is 53.5).

 

O mal nunca tem a palavra final. O sofrimento nunca é definitivo. Mesmo este mundo caído, dominado pelo mal, pelas catástrofes, pela maldade humana, um dia terá outra dimensão, com o maravilhoso evento de “um novo céu e uma nova terra, nos quais habita justiça”.

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