“Antes, santificai a Cristo nos vossos corações, estando
preparadas para responder a todo aquele que vos pedir
razão da esperança que há em vós”(1 Pe 3.15).
Introdução:
A geografia da batalha espiritual é a mente.
Não é sem razão que Paulo ao falar das armas de guerra afirma que precisamos colocar o capacete da salvação. É fundamental ter uma mente protegida espiritualmente. “Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef 6.17). A ordem é: Proteja a mente!
A Bíblia também afirma que nossas armas não são carnais, mas poderosas em Deus para destruir fortalezas, anulando sofismas (2 Co 10.4-5). É interessante pensar que as armas espirituais “anulam sofismas”, um termo claramente ligado à filosofia e a maiêutica de Sócrates. Nossa luta espiritual é, antes de tudo, apologética. Se não nos estivermos convencidos que a fé cristã é intelectualmente razoável e coerente, nunca nos tornaremos bons cristãos.
“Para o crente, salvação é parte da armadura defensiva que é essencial à sua segurança na luta...sem a confiança de resgate do cativeiro passado, o cristão pode ser ferido mortalmente no conflito”. (Foulkes, Francis- Efésios, São Paulo, Ed Mundo Cristão, 1963, pg 146).
Se não nos convencermos de que a fé cristã e suas implicações lógicas e éticas, possuem implicações sensatas e coerentes, nunca seremos firmes na fé. É necessário estar convencido das verdades do evangelho, crer que os fundamentos e valores da fé são validados pela filosofia e pela experiência. Nunca seremos capazes de disponibilizar talentos, recursos, tempo e dinheiro para uma causa se não estivermos convencidos de que vale a pena defendê-la, viver e até morrer por ela.
Certa vez falava do evangelho a um jovem cineasta no Rio, que depois de ouvir minhas razões, cinicamente respondeu: “Eu daria tudo para crer nas tolices que você acredita!” E eu me voltei para ele e disse: “Se eu soubesse que isto que prego é tolice, eu não gastaria um minuto da minha vida. Não estaria disposto a crer e viver fundamentado em mentiras”. Os Guiness afirma que “toda verdade é verdade de Deus”. Seja de onde ela for dita, se é verdade, é sagrada. Por isto não podemos ter medo da verdade nem fugir da verdade. Jesus afirmou que “a verdade liberta”. Se adotamos a mentira como parâmetro, certamente nos perderemos. Mentira é engano, falsidade e o diabo é o Pai da mentira (Jo 8.44).
James Meeks fala de um homem que durante três anos frequentou a igreja, até que o pastor lhe indagou: “você tem vindo na igreja já por vários anos, mas nunca assumiu sua fé por Jesus, nunca quis se batizar.” E ele respondeu: “eu não creio em nada do que você prega!”. O pastor, curioso perguntou: “você quer me dizer que por três anos você frequenta esta igreja mas não crê em nada do que eu prego?”. Ele disse. “Exato, eu não creio em nada do que você prega!” E o pastor, sem entender a situação contra argumentou: “Então, qual é a razão de você continuar vindo à igreja se não crê em nada do que pregamos?” E o homem respondeu: “Eu não creio em nada, mas sei que você crê e gosto de ouvir pessoas que falam com convicção daquilo que creem”.
O que é apologética?
O termo apologética vem do grego “defesa”. Durante muitos anos o cristianismo teve que lutar com as heresias, doutrinas e pensamentos contrários à doutrina. Por isto Paulo fala da “boa doutrina”, “sã doutrina” e “doutrina pura”. Se falamos da “boa”, é porque existe a má, se existe a “sã”, existe a “má doutrina”. Se tem a “pura”, existe a adulterada, falsificada. Quando nos referimos à apologética cristã, estamos nos referindo à defesa de fé do cristianismo.
Eu nunca seria um bom cristão se intelectualmente a fé cristã não fosse filosoficamente razoável para minha mente. A apologética, ou defesa da fé, é fundamental na evangelização. Nenhuma pessoa se tornará um crente convicto se ele não estiver convencido de que a sua fé, levada a última instância, faz sentido. Por isto John Stott afirma que “crer é também pensar[1]”.
O uso da Apologética na Bíblia
Na Bíblia encontramos várias vezes o termo “apologetikein”, de forma mais clara nos escritos paulinos. Veja quantas vezes ele usa este termo:
At 22.1 – “Pais e irmãos, ouvi agora a minha “defesa” (apologética)”.
At 25.16 – “...e possa defender-se (apologética) da acusação “.
1 Co 9.3- “A minha defesa (apologética) perante os que me interpelam é esta
Fp 1.7 – .”... seja na defesa (apologética) e confirmação do evangelho.
Fp 1.16 - .”... estou incumbido da defesa (apologética) do evangelho”.
2 Tm 4.16 – “Na minha primeira defesa (apologética) ninguém foi a meu favor.
O apóstolo Pedro, também usa a ideia, embora o termo “apologética” não apareça nos seus escritos, ao afirmar:
1 Pe 3.15 – “Antes, santificai a Cristo nos vossos corações, estando preparadas para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15). Pedro fala da importância da fé vir acompanhada de razão. Ele afirma que o preparo em santidade pode nos ajudar a mostrar as pessoas a coerência de nossa fé.
As várias terminologias para evangelização no livro de Atos: No livro de Atos, vários termos são usados para pregação:
§ Afirmar: “E logo pregava nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus” (At 9.20)
§ Demonstrar: “Saulo, porém, mais e mais se fortalecia... demonstrando que Jesus é o Cristo” (At 9.22). Alguns afirmam que “demonstrar é mais que apologética. É uma mensagem acompanhada de evidências sobrenaturais. At 9.22; 17.3
§ Ensinar: “E ai permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (At 18.11).
§ Pregar: “pregava a Jesus a e ressurreição”. (At 17.18). Neste mesmo versículo encontramos a expressão: “E alguns filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele” (At 17.18), dando a ideia de uma acalorada discussão intelectual, que certamente envolve o uso da apologética. O termo “pregação (kerigma)”, também aparece em At 9.28 e 28.31.
§ Dissertar: o termo “dissertando” aparece várias vezes: “Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali” (At 17.17). Este termo dá ideia de debate amplo e profundo sobre as temáticas religiosas. (At 19.8; 24.25).
§ Persuadir: “Durante três meses, Paulo frequentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e persuadindo com respeito ao reino de Deus” (At 19.8). ver At 13.43; 18.4; 28.23.
§ Anunciar: “Onde anunciaram o evangelho” (At 14.7)
§ Arrazoar: “Paulo, segundo o seu costume, foi procura-los e por três sábados, arrazoou com eles, acerca das Escrituras”(At 17.2).
§ Convencer: “Porque, com grande poder, convencia publicamente os judeus, provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus” (At 18.28).
Em todo esforço evangelístico dos apóstolos podemos observar como lutavam para tornar a mensagem da salvação, compreensível, lógica e relevante aos seus ouvintes. Alguns termos, na verdade, são bem enfáticos, como “arrazoar”, que significa argumentar, averiguar a validade das argumentações. “Convencer”, que denota um esforço para que a mente entenda a realidade. “Persuadir” é um termo que tem a ver com todo esforço da logica para a mente que indaga e questiona.
Podemos afirmar que evangelizar demanda um esforço de lógica e mente. Não é possível ter uma evangelização coerente se a mente não for empregada. Por isto, é fundamental o uso da apologética na evangelização. Nosso papel é convencer, arrazoar, demonstrar, a fim que o homem possa se aproximar das verdades do evangelho. Não temos a tarefa, nem o poder de converter alguém, mas devemos utilizar todo esforço possível na tarefa do convencimento.
Objetivos da Apologética
A mente é o alvo do diabo. Como afirmamos anteriormente, Se não entendermos que o cristianismo é lógico, coerente, nunca seremos bons cristãos.
Em Ef 6.10,11, as Escrituras Sagradas fazem referência às “ciladas” (grego: methodia); “estratégias” (AB). Este mesmo termo “methodia” aparece em 2 Co 2.10-11: “Não ignoramos seus “esquemas” (methodia)”. A tradução RA fala “seus desígnios”. A Batalha espiritual se concentra completamente na mente das pessoas (2 Co 4.3-4). Satanás luta com todas as forças para ridicularizar as verdades de Deus, como fez com Adão e Eva, ainda no Éden. A tentação se dá no campo do entendimento. Em 2 Co 10.3-5 podemos observar que a batalha espiritual é orientada para a mente: “pensamentos”. Nossa mente é a base de operações. O campo da batalha.
Por isto, a estratégia da evangelização é dupla:
A. Destruir fortalezas. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas” (2 Co 10.4). A obra do diabo consiste em construir blocos mentais, verdadeiros bunkers, para que a verdade do evangelho não alcance a mente do homem.
B. Anular sofismas: Sofismas são estratégias mentais e argumentos intelectuais que são usados pelo diabo para enfraquecer a mente humana. Este método foi usado pelo processo da maiêutica de Sócrates.
Eis alguns sofismas atuais:
i. Cada um opta pelo sexo que quer - (homossexualismo). Quando isto é dito, parece ser verdade, mas a verdade é que ninguém opta pelo sexo. Você pode optar por preferencia sexual, mas sua sexualidade biologicamente é definida deste o nascimento.
ii. Todos caminhos levam a Deus (pluralismo). Da mesma forma, é um argumento popularmente aceito, que não importa o que você crê, o que importa é crer. Este princípio tem sido cada vez mais encorajado no meio de uma geração relativista. Mas se compararmos o que cada caminho ensina, veremos que as rotas são totalmente divergentes, e ninguém pode sair de Brasília em direção a São Paulo esperando ir para Salvador. São caminhos diferentes.
iii. Não podemos discriminar (leia-se, temos que aceitar tudo, ser inclusivista). A sociedade moderna acredita que se você discorda, você é radical e preconceituoso, quando na verdade, cada um precisa ter valores e conceitos claros em relação a todas as áreas da vida.
iv. A mulher faz o que quer com seu corpo – (aborto). O argumento que usamos é: a mulher pode cortar seu braço ou arrancar sua orelha, mas a criança, que está dentro dela, não é o seu corpo. É outro ser.
v. Mentira branca não faz mal - (relativismo). Toda mentira é oposta a Deus, pois o diabo mente desde o princípio, e ele é o pai da mentira. Portanto, meia verdade é uma mentira inteira.
vi. Cada um tem a sua verdade (subjetivismo). Mais uma vez. Se A (verdade) é diferente de B (mentira), os dois não podem ser verdadeiros. Apenas a mente hegeliana acredita que é possível encontrar síntese em pontos de vistas divergentes e opostos.
vii. Sexo pré conjugal é positivo para que os parceiros se conheçam. Na verdade, o conhecimento é uma experiência para quem se casa, e não para quem quer se casar. Por isto, o ato do casamento implica e envolve intimidade.
Em todos estes pontos, podemos observar que o diabo cria pensamentos a ideia de que a mentira pode se transformar em verdade. Por isto a apologética cristã é tão necessária. Ela procura desmascarar falsos pressupostos para que seja estabelecida a verdade de Deus.
Já observaram como Satanás tem usado a mente para desviar o coração dos homens de Deus? Basta considerar quatro grandes linhas filosóficas presentes hoje na cultura ocidental, para percebermos como há uma grande orquestração maligna para impedir que os homens creiam nas verdades de Deus. Todas estas correntes filosóficas surgiram na virada do Século XIX para o Século XX. É interessante observar como estes quatro sistemas filosóficos encontra popularidade e aceitação intelectual, e todos eles são opostos, na sua essência, aos valores cristãos:
i. Marxismo – (Campo Social) Sistema elaborada sobre a teoria da luta de classes, que vê a religião como elemento de alienação social, que impediria o crescimento das pessoas, sendo um empecilho a crítica às forças históricas que interagem no âmbito social.
O marxismo está fundamentado na teoria do materialismo dialético elaborado por Hegel. Nele não se vê nenhum ato de Deus, as forças são meramente humanas. Marx chegou a afirmar que a religião é o ópio do povo. Os líderes religiosos usariam estrategicamente a religião para neutralizar a capacidade de reação dos pobres. Ópio é um narcótico, que rouba o poder de crítica dos homens e os impossibilita de agirem diante da opressão social.
ii. Existencialismo – (Campo Filosófico). Entre os seus precursores encontramos Nietzsche, Camus e Sartre.
Afirma que a vida deve ser vivida aqui e agora, que a história não tem sentido, que vivemos no meio do caos, não existe nenhum significado por detrás da tola e fútil vida humana, que somos apenas uma folha solta ao vento. Não sabemos de onde viemos, porque vivemos e nem para onde vamos. No meio desta insustentável leveza do ser, só resta ao homem, viver cada dia da forma mais intensamente apaixonada possível. O que importa é o agora.
Não existe Deus, não existe juízo, não existe certo e errado, tudo é relativo. Talvez a melhor frase para sintetizar seu pensamento filosófico tenha sido expresso por Sartre: “O mundo é um caos, absurdo. Deus dá ordem ao absurdo, mas Deus não existe”.
iii. Freudianismo - (Campo Psicológico) A psicanálise foi elaborada por Freud, que hipervalorizou a sexualidade como forma de encontrar o sentido para o viver humano.
Freud via a repressão sexual, como o fator de maior conflitividade para o ser humano. A liberação sexual, ou a não repressão aliviaria esta carga neurótica presente no ser humano. Freud via a religião como uma neurose obsessiva compulsiva. Critica fortemente a religião no seu livro “O mal estar da civilização” e ainda hoje exerce enorme influência no campo da psicologia.
Embora não possamos negar sua valiosa contribuição, nem como a dos outros autores acima citados para o campo literário, é assustador a influência quase massiva que exerce sobre a psiquiatria e na pesquisa da psicologia humana.
iv. Darwinismo – (Campo Científico e antropológico) Se o existencialismo exerce grande influência na filosofia, o marxismo no campo sociológico e a psicanálise no campo psicológico, o Darwinismo vai criar uma corrente que causa furor e controvérsia no campo da ciência.
Darwin via o surgimento das espécies como fruto do acaso, não de um Deus sábio e providente. Isto é chamado de Geração Espontânea. As coisas surgiram como resultado da obra evolutiva e não haveria nenhuma mente inteligente ou criadora por detrás. Embora normalmente nossa grande controvérsia ocupe a questão da teoria sobre a origem das espécies, acredito que como cristão, a grande controvérsia deveria ir numa dimensão mais profunda, isto é, no fato de Deus ter sido retirado da criação e da providência do universo.
Esta teoria científica afirma que a história da humanidade está entregue a uma força cega e impessoal, entregue a si mesma, sem nenhuma ação de um Deus Poderoso e pessoal, que criou os céus e a terra e sustenta todas as coisas pela palavra de seu Poder. Para eles, a ideia de Deus pode ser facilmente suprimida dos cosmos.
A natureza das armas
Paulo afirma que nossas armas espirituais possuem três características:
A. São espirituais, não carnais (2 Co 10.4).
B. São poderosas, não débeis - 10:4
i. São poderosas para desmascarar e derrotar o diabo;
ii. São poderosas para desfazer o engano e a mentira das trevas;
iii. São poderosas para restaurar o pecador;
iv. São poderosas para erguer lares desmoronados;
v. São poderosas para dar esperança;
VI. São poderosas para trazer salvação.
C. São capazes de cativar o pensamento à obediência. (2 Co 10.5) - No evangelho, “mente liberal”, “mente livre”, é uma farsa. Só existe um tipo de mentalidade que Deus deseja: obediente! Lembre-se de Eva: satanás levanta uma dúvida intelectual que tinha repercussões emocionais. Satanás lhe disse: Você precisa ter a mente mais aberta para ver as coisas.
Elementos essenciais na Apologética cristã
a. A necessidade de uma mente lúcida. Schaeffer afirma que “não é lícito nem honesto dizer: creia somente.” Por esta razão, precisamos “dar razão da esperança” através do evangelho de Cristo.
b. Fé sem razão torna-se superficial, razão sem fé enlouquece (1 Co 8.1). Razão e fé são aliadas, não inimigas.
c. Razão sem santificação perde coerência e impacto. Por esta razão, o apóstolo Pedro afirma: ““Antes, santificai a Cristo nos vossos corações, estando preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”(1 Pe 3.15).
d. Não existe conversão sem mudança de mente. Aliás, o termo conversão na Bíblia vem grego “metanoia”, cuja raiz é “nous”, ou “mente”. Sem mudança da mente não há mudança de vida. Paulo afirma: “...e se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo”. (2 Co 5.16).
Objetivos da apologética cristã
a. Remover barreira intelectual dos descrentes – Antes de mais nada, a apologética cristã entende que Deus fez o homem com capacidade de raciocínio, lógica e entendimento. Por isto, a fé, embora não se firme na razão, não pode dispensar a razão.
Por que o fundamento da fé não é a razão? Porque existem coisas que transcendem a nossa compreensão, e se encaixam na categoria do sobrenatural e do mistério. Nem tudo que é transcendente pode ser entendido pela lógica humana. Paulo chega a afirmar que “certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1 Co 1.18). Embora a fé não se sustente pela lógica, ao mesmo tempo não podemos acreditar que fé é suicídio intelectual. Por isto é que as armas que temos em Deus são poderosas para destruir fortalezas intelectuais e destruir sofismas, argumentos falaciosos.
A mente é fundamental para uma fé vigorosa. John Stott conta a história de uma mulher que o procurou e disse que quando vinha à igreja, ela deixava a mente em casa, era só coração. E ele replicou: “da próxima vez que a senhora vier, traga sua mente também”.
b. Fortalecer a própria fé – A apologética cristã é fundamental também para sustentar nossa fé.
Schaeffer afirma que a fé cristã, quando levada às ultimas consequências, sempre faz sentido e pode ser averiguada. Uma das suas clássicas frases é: “Obrigado por me dar mais motivos para adorar o meu Deus“. Satanás fará de tudo para que você fique com dúvidas sobre as verdades bíblicas. E se ele te convencer, sua fé vai ruir. Se as mentiras que ele ensina fizerem sentido ao seu coração, sua fé nunca mais será sólida.
Muitos cristãos acham que a fé é oposta à razão e não buscam as “razões da esperança”(1 Pe 3.15). Este é o perigo do anti-intelectualismo. Stott vê nisto “rotas de fuga para evitar a nossa responsabilidade dada por Deus de usar a mente de forma cristã, fazendo surgir um cristianismo tolo, com pregações rasas e superficiais, que leva a comunidade a busca de experiências místicas e sentimentalismo barato.
Para combater os irmãos de Corinto que davam muito valor às experiências estáticas, se perdendo nas experiências místicas, Paulo recomenda os irmãos a buscarem um equilíbrio fundamental na fé: “Que farei, pois? Orarei com o espirito e também orarei com a mente; cantarei com o espirito, mas também cantarei com a mente” (1 Co 12.15).
Sempre é possível que ocorra este “desequilíbrio”. De um lado, as pessoas intelectualizam sua fé e perdem a dimensão do mistério; de outro, pessoas buscam experiências e se esquecem de dosá-la com coerência e entendimento. Os dois extremos se tornam perigosos. É fácil o fanático se passar por profeta, como adverte jeremias (Jr 29.26), assim como é, se empanturrar de conhecimento e nos tornarmos envaidecidos. “O saber ensoberbece, mas o amor edifica (1 Co 8.1).
c. Fortalecer a fé dos irmãos
É muito comum encontrarmos pessoas fracas na fé porque, por alguma razão a bíblia lhes parece sem sentido ou mesmo anacrônica. Quando a fé não parece fazer sentido, quando as Escrituras parecem fábulas, a fé está prestes a ruir. Foi assim com Adão e Eva. As sugestões luciféricas fizeram todo sentido. Afinal, não parecia lógico que Deus estava mentindo para eles? Que Deus estava governando o universo em cima de mentiras? Que Deus não estava bem intencionado e lhes privava do conhecimento porque não queria competidores?
Stott destaca seis aspectos da vida cristã que se tornam impossíveis sem o uso da mente: adoração, fé, santidade, orientação, evangelismo e o ministério cristãos. Isto traz quatro implicações:
Nossa adoração deve ser racional. “Em espírito e em verdade’ (Jo 4.24), e nosso amor a Deus deve “com todo entendimento” (Lc 10.27). O livro de Salmos nos ensina a louvar com arte e com júbilo (Sl 33.3). E nos convida a“dar ao Senhor a glória devida ao seu nome”. Para louvar precisamos saber porque o louvamos e isto é possível pelo estudo da Palavra, usando a mente.
Deus se revela a nós através da natureza e das Escrituras. Nossa mente deve estar comprometida com a verdade de forma integral.
A fé e a razão não são opostas, ao contrário, são compatíveis. A fé é reflexiva; não consiste em sentarmos em um banco esperando que coisas incríveis aconteçam conosco. Nossa fé é fundamentada no conhecimento que temos sobre as verdades de Deus e nosso evangelismo deve ser uma mensagem sólida e reflexiva, para que os ouvintes possam ter fé.
Stott procura lembrar do lugar da mente e da razão na vida cristã. A fé não é um assunto apenas do coração. As experiências e emoções não são mais importantes que o conhecimento intelectual. A fé não desconhece as razões do coração, embora não haja espaço para um cristianismo intelectual e frio.
Larry Crabb afirma que aconselhar, é “colocar a mente no lugar”. Em geral a pessoa se desequilibra quando passa a pensar de forma diferente daquilo que a Bíblia recomenda. O papel do conselheiro cristão é ajudar a pessoa a pensar com os valores e princípios cristãos.
d. Apologética não substitui a oração, nem o Espírito Santo.
Este é último aspecto que precisa ser mencionado. É fácil se perder nas “contradições do saber” (1 Tm 6.20) e se satisfazer com uma fé fria e meramente intelectual, que passa a acreditar no poder de convencimento para levar o pecador ao arrependimento.
A verdade é que, evangelização envolve batalha espiritual. Jesus narrou na parábola do semeador, que “enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles” (Mc 4.15), e que a palavra não frutifica em muitos porque eles “não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no coração” (Mt 13.19). Jesus procura demonstrar aos seus discípulos que pregação envolve uma grande luta espiritual.
As pessoas não se convertem porque somos intelectualmente capazes de pregar, e fazemos correto uso da apologética, se assim fosse, bastaria que os seminários aprofundassem cada vez mais na apologética para que os frutos da conversão aconteçam. Entretanto, por mais que nos esforcemos, sem a operação do Espírito Santo na vida dos pecadores, eles não se converterão, eles não crerão e não serão salvos. Por isto a apologética não substitui a oração nem a maravilhosa intervenção do Espírito Santo.
João Wesley narra que por muitos anos ele pregou o evangelho, mas depois de uma gloriosa visitação de Deus em sua vida, seu ministério mudou radicalmente. Ele afirma que pregava os mesmos sermões, usava as mesmas ilustrações, seguia os mesmos raciocínios anteriores, mas algo de especial estava agora acontecendo enquanto ele anunciava as verdades do Evangelho.
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