sábado, 24 de outubro de 2020

7. O Espírito Santo e a Evangelização


 

 

Richard Bowie, Professor no Haggai Instituto/Singapura afirma: 

"Ninguém pode ser tolo ao pensar que nós poderíamos salvar almas pelo nosso próprio intelecto ou outros poderes. Somente o Espírito Santo pode trazer "revelação" e novo nascimento" 

 

O Espírito Santo na regeneração

 

É impossível conceber que o maior milagre na vida do ser humano, que é ser nova criatura, regenerado para Deus, ocorra sem uma intervenção sobrenatural. Em 1 Co 12.3 lemos: “Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.” Portanto, se você realmente crê de coração que Jesus é Senhor, é porque o Espírito Santo já trabalhou em sua vida, de outra forma, você jamais poderia crer, porque “ninguém” pode dizer Senhor Jesus, que realmente Jesus é senhor de sua vida, senão pelo Espírito Santo.

 

Portanto, ao evangelizar, nunca podemos prescindir do Espírito Santo. Porque nossa pregação será sem sentido e infrutífera. O ser humano encontra-se em rebelião contra Deus, por isto, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Co 2.14). Só quando o Espírito agir, e se ele desejar agir, veremos conversões autênticas. 

 

O homem encontra-se morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1), e a não ser que o Espírito Santo o ressuscite espiritualmente ele continuará em seu processo de decomposição e putrefação espiritual. Jesus afirmou que “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44), é a obra do Espírito Santo é quem realiza isto no homem. 

 

O homem sem a ação do Espírito Santo encontra-se cego espiritualmente: “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.”(2 Co 4.4). E “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3), ou “entrar no reino de Deus” (Jo 3.5). Mas como nascer de novo? “Se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3.5).

 

A nossa conversão só se dá “porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Rm 5.5). Fomos convertidos a Deus, “não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).

 

O Poder de “convencimento” do Espírito Santo

 

Ao falar da vinda do “outro consolador”, o parakletos, Jesus afirmou que o Espírito Santo teria uma função tríplice em relação ao homem. “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais;do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.”  (Jo 16.7-11). 

 

1.     O Espírito Santo traz convencimento em três aspectos fundamentais.

 

ü  Do pecado - Isto nos liberta do pressuposto equivocado de que não existem absolutos. Se existe pecado (um termo espiritual que aponta para o erro moral) é porque existe o certo. O Espírito denuncia nossa inadequação espiritual diante do Pai, nossa distancia do criador. Só quem reconhece seu pecado sente necessidade de um salvador e compreende o significado da morte de Cristo. 

 

Sem que sejamos convencidos do pecado, da nossa condição miserável e pecadora diante de Deus, nunca seremos resgatados do abismo que nos separa de Deus. O Espírito Santo precisa nos convencer do pecado, do risco da moralidade e da justiça própria. Ele nos convence. Em geral as pessoas se acham boas e integras, moralmente corretas, então, no processo da conversão, elas precisam tomar consciência de sua condição espiritual diante de Deus. Esta é uma tarefa do Espírito Santo.

 

“O Espírito Santo é quem convence o homem do seu pecado. O homem natural sabe que é pecador, porém apenas com a intervenção do Espírito ele passa a se sentir perdido. Portanto em toda a apresentação do evangelho, se o Espírito Santo não convencer o homem do pecado e do juízo, nossa exposição da verdade de Cristo não passará de uma apologia humana (1Ts 1.5).” (Ronaldo Lidório).[1]

 

ü  Da justiça-  Se é necessário compreender o sentido do pecado, é necessário saber como a justiça de Deus é estabelecida. 

 

A Bíblia nos diz que Deus propôs, por meio do sangue de Jesus, que a justiça dele fosse imputada a nós. Uma vez que ninguém será justificado diante de Deus por obras humanas (Rm 3.20), A justiça de Deus nos é imputada pela obra perfeita de Cristo (Rm 3.21-28). Sua justiça, perfeição e beleza nos foi atribuída pelo seu sacrifício perfeito. Agora, somente o Espírito Santo pode aplicar isto aos nossos corações. Ele precisa nos convencer da obra de Cristo a nosso favor. O pregador pode anunciar esta verdade, mas só o Espírito Santo pode aplicar esta verdade.

 

Francis Shaeffer falava da diferença entre a consciência de pecado e a consciência de resgate. Todo ser humano possui uma consciência moral de erro. Ele expõe que a consciência de imperfeição é inerente ao homem, e aceita pelo mesmo. Isto, por outro lado, não o leva a se sentir perdido e necessitado de ser resgatado. Sem a intervenção e o trabalho do Espírito, o homem natural não busca Deus e não sente a necessidade de salvação ou perdão. Ele não sente necessidade da justiça de Deus em Cristo Jesus, porque ele imagina que pode ser resgatado do seu pecado e da sua condenação por si próprio. O Espírito Santo precisa convencer o homem da justiça de Deus, por meio de Cristo. 

 

ü  Do juízo  - Nos livra do pressuposto que não existe juízo moral. Que afirma que o universo é moralmente cego, que não existe um fator moral. 

 

A Justiça precisa se firmar diante da injustiça. Existe algo a ser avaliado do ponto de vista da ética. Nos livra ainda da idéia de que não existe uma mente moral por detrás da natureza, que afirma que não haverá juízo final, nem julgamento. Esta foi a insinuação da serpente do no Éden ao dizer: "É certo que não morrereis". Esta afirmação levou Eva a crer que podia pecar que não haveria juízo. 

 

O homem natural pode até ter um senso vago de juízo de Deus, mas ele jamais chegará, por si próprio, à compreensão de sua grave situação diante de Deus. O Espírito o convence do juízo eterno de Deus contra os pecadores, da trágica situação de morrer sem Jesus.


O Espírito Santo prepara o coração do homem

 

Quando anunciamos a Palavra de Deus, precisamos crer na operação do Espírito Santo. O Espírito Santo se antecipa ao missionário no campo. Antes de chegarmos com a mensagem, ele está trabalhando no coração das pessoas. Esta é uma encorajadora notícia para os pregadores, missionários e plantadores de igreja. Deus está no campo antes de lá chegarmos e só chegamos ali porque ele nos enviou.

 

Quando Paulo estava pregando em Corinto, muitas ameaças e conflitos surgiram. “Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade.” (At 18.9,10). O que a Palavra de Deus afirma é o que deveríamos saber. Deus chegou primeiro àquele lugar pagão, portanto, não Paulo deveria ser ousado e pregar. Não poderia se calar. Deus tem os seus eleitos naquele lugar. Ele não sabia quem eram nem onde estavam, mas Deus os conhecia. Como ele não sabia quem era, devo pregar a todos. Com santa expectativa de que as pessoas chamadas por Deus responderiam à mensagem da salvação. 


” Muito do nosso "medo-evangelístico" acabará se entendermos que o Espírito Santo "prepara" o caminho antes de falarmos ou irmos.” (Jorge Barros). 

 

O Espírito Santo na Conversão

 

Em todos os processos da salvação, ou da “ordo salutis”[2], veremos que não é possível desenvolver a fé cristã sem a intervenção direta do Espírito Santo. Deixe-me enumerar estes processos. Veja como o Espírito Santo está presente no processo de nos levar a Deus.

 

Predestinação

Rm 8.29-30; 9.1-25; Ef 1.3-14; 2 Ts 2.12-13

 

Chamado Eficaz (Regeneração)

Jo 1.12-13; 3.1-10; 6.44, 45, 63-65; Ef 2.1-5; Rm 8.30

Fé-Arrependimento

At 20.21; Ef 2.8-9; At 13.48; 16.14; 18.27

 

Justificação (Declaração Legal)

At 10.43; Rm 3.21;4.8; 5.1-2, 12-18; Rm 8.32; Gl 2.16; 3.1-13; 2 Co 5.21

Adoção

Rm 8.15-17, 23-25; Gl 4.1-5; Jo 1.12-13; 1 Jo 3.1-2

Santificação Definitiva

Jo 10.26-30; Rm 6; 1 Co 1.2; 6-9-12

Santificação Progressiva

Mt 5.44; Fp 2.1-13; Ef 1.6; 1 Pe 1.15-16; 

 

Perseverança dos Santos
Jo 6.37-40; 10.26-30; Rm 8.30; 1 Jo 3.9

Glorificação

1 Ts 4.13; 2 Co 5.1-8; Fp 1.23; 3.20-21; 1 Jo 3.1-3

 

O Espírito conduz à Evangelização

 

Em missiologia afirmamos que o axioma número um de missões é que Deus é o iniciador da obra missionária. Evangelização e missões são parceiras, se complementam. Não há missão sem evangelização, sem o anúncio das boas obras, porque “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10.14,15). A obra missionária implica em pregação. As pessoas não crerão se não houver quem pregue. É necessário pregar!

 

Entretanto, aprendemos também que as pessoas não pregarão se não forem enviadas. O envio não é um ato da igreja local. A Bíblia não está falando de uma instituição ou agência missionária que envia, mas está se referindo a obra de Deus, que envia aqueles que ele mesmo chama, para pregar o evangelho. As pessoas vão porque o Espírito as impulsiona, vocaciona e as envia a pregar. Não basta ter talento, precisa ser chamado. Não são suficientes as qualificações humanas e pessoais, ou talentos, é necessário que o Espírito envie.

 

Jesus ensina isto claramente aos seus discípulos. “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. (Lc 24.48). No livro de Atos vemos o seu comissionamento aos discípulos. “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” (At 1.8). 


É o Espírito Santo quem nos dá dons para servir (1 Co 12), e nos envia. “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.” (At 13.1,2). Ele é o autor de missões. Ele chama e envia para Evangelizar. A Igreja de Antioquia estava sossegada, exercendo seus dons e ministérios, anunciando a palavra na região e o Espírito age para separar, vocacionar, capacitar e enviar. 

 

 

 



[2] Ordo salutis (latim: "A ordem da salvação") refere-se a uma série de passos conceituais dentro da doutrina de salvação cristã. Tem sido definida como "um termo técnico da dogmática protestante para designar as etapas consecutivas no trabalho do Espírito Santo, na apropriação da salvação."[1] Embora haja dentro da teologia cristã um certo senso nas fases da salvação sejam sequenciais (romanos 8:29-30),[2] alguns elementos ocorrem de forma progressiva e outros instantâneamente.[3] Além disso, algumas etapas na ordem da salvação "são objetivas, realizadas exclusivamente por Deus, enquanto outras são subjetivas, envolvendo humanidade. Cristãos antes da Reforma, embora não utilizassem a frase exata, procuraram ordenar os elementos da salvação.[4] O termo "Ordo salutis" foi usado pela primeira vez por teólogos luteranos em meados de 1720.[5]https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordo_salutis

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