sábado, 24 de outubro de 2020

1. O que é Evangelização?



Se quiser assistir a esta palestra, acesse o link 

https://www.youtube.com/watch?v=IeDEBiEVHmQ&t=72s

 

No livro, A Missão Cristã no Mundo Moderno[1], John Stott afirma que, “euangelizomai” significa trazer ou anunciar o “euangelion”, as boas novas. A palavra é usada uma vez ou duas no Novo Testamento para dar notícias comuns (Lc 1.19; 1Ts 3.6). mas seu uso regular relaciona-se às boas novas cristãs. 

 

A partir desta proposição, Stott expõe o que não é evangelismo.

 

1.     Evangelismo não deve ser definido a partir dos receptores do evangelho. Portanto, independentemente do público, seja ele de uma nação considerada cristã ou não, todos os que não nasceram em Cristo, e até mesmo pessoas já batizados precisam ser “evangelizadas”.

 

2.     Evangelismo não deve ser definido a partir dos resultados. Na sua própria natureza, evangelização é a proclamação, portanto crer creiam ou não, precisam ouvir as boas novas do evangelho. Nem sempre as pessoas criam na mensagem do evangelho, mas os apóstolos anunciavam a salvação em Cristo Jesus.  O termo “evangelizar” no Novo Testamento não significa ganhar convertidos, mas era o anúncio das boas novas, independente dos resultados.

 

Desta forma, evangelização não pode ser confundida com resultados. Muitas vezes nos frustramos pela ausência de conversão, e até mesmo pensamos que a evangelização não aconteceu, contudo, a evangelização não pode ser definida em termos de resultados, mas em termos de fidelidade à mensagem anunciada.

 

3.     Evangelismo não pode ser definido em termos de métodos. Evangelizar é anunciar as boas novas, inde­pendente de como esse anúncio é feito. É trazer as boas novas por meio de quaisquer meios. Em diferentes categorias, podemos evangelizar por meio de palavras. por meio de impressos, mídias, por meio das boas obras de amor (Mt 5.16). Entretanto, porque o evangelismo é fundamentalmente um anúncio, alguma verbalização é necessária se quisermos que o conteúdo das boas novas seja comunicado com precisão.

 

Evangelização é a ação e o efeito de evangelizar. Vem do grego evangelion, e refere-se ao ato de pregar a obra de Cristo aos pecadores. É contar a outros as boas novas acerca do que Jesus Cristo fez para salvar pecadores. Em Atos dos Apóstolos, há ocasiões em que os apóstolos pregaram o evangelho e ao invés de ter aceitação da palavra, ouve rejeição e até mesmo perseguição, mas ainda assim a mensagem do evangelho foi pregada. Não devemos concluir que o fato de as pessoas rejeitarem o evangelho significa que não houve evangelização.

 

A evangelização consiste em alguns conceitos centrais: 

 

1.     Deus é santo (1Jo 1.5), portanto, a única forma de agradá-lo é sendo como ele é (Mt 5.48). Por causa da nossa natureza pecaminosa jamais conseguimos preencher os requisitos morais e espirituais de Deus. Portanto, os nossos pecados fazem separação entre nós e nosso Deus.

 

2.     O homem é pecador e merece a ira justa e eterna de Deus (Rm 3.10-19; Mc 9.48). “O Salário do pecado é a morte”. Todos nós somos, “por natureza, filhos da ira”(Ef 2.1). Nossa condição é de um condenado por causa de nossas transgressões.

 

3.     Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus morreu na cruz para satisfazer a ira de Deus, nos redimindo da nossa condição de condenados e nos dando perdão e restaurando nossa natureza diante de Deus. (Jo 1.1; 1Tm 2.5; Hb 7.26; Rm 3.21-26). Jesus Cristo não veio para pregar o evangelho, mas veio para que houvesse um evangelho a ser pregado. Não raramente minimizamos a compreensão de quem Cristo é e o que ele fez.  

 

4.     O único modo de alguém ser salvo da punição eterna e ser reconciliado com Deus é arrepender-se do pecado e confiar em Jesus Cristo para a salvação (Mc 1.15; At 20.21). Precisamos nos arrepender não apenas de nossos pecados, mas também de nossa justiça própria, da falsa compreensão de que, pelos nossos méritos somos capazes de agradar a Deus. 

 

I. Perspectiva em Evangelismo:

A. O que não é:

1.     Um evento "especial" da Igreja. Muitas igrejas realizam cultos especiais de evangelização. 

 

Antes de criticar os que agem assim, queria dizer que é melhor fazer algo que não fazer nada. Entretanto, isto pode dar a falsa sensação de que a evangelização acontece em determinados eventos, e não se trata de um “estilo de vida da igreja”, permanente. 

 

Quando Jesus deu a grande comissão aos seus discípulos, ele disse: “Toda autoridade me foi dada nos céus e na terra, portanto, ide (indo), fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.18-19). O texto não é um imperativo (ide), mas gerúndio (indo). Não é algo que se faz, mas é algo presente.

 

Podemos observar isto na igreja de Jerusalém: “Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo povo, enquanto isso, acrescentava-se-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”. (At 2.42). O estilo de vida da igreja redundava em evangelização. Não era um evento, mas uma forma de ser.

 

Alguém afirmou que crente precisa ser como um carro velho: onde para, prega!

 

2.     Cristianização. 

 

Outro grave risco quando se trata da evangelização é confundir pregação com cristianização. Quando os jesuítas chegaram ao Brasil, eles queriam impor sua religião, e acreditavam que se os indígenas colocassem um crucifixo no pescoço e fossem batizados, eram agora cristãos. Isto gerou uma deformação grave na compreensão teológica no Brasil. Somos o maior pais católico do mundo, mas isto não significa que as pessoas entenderam a obra de Cristo. Elas foram cristianizadas, mas não foram evangelizadas. Não tiveram um novo nascimento.

 

3.     Evangelização não é proselitismo ou imposição da verdade. Não podemos forçar  ninguém a aceitar o evangelho. Evangelização envolve a proclamação das boas-novas com exatidão. Não conseguimos transformar alguém em cristão ou converter uma pessoa. 

 

4.     Evangelização não é apologética, ou defesa da fé, quando respondemos às objeções dos céticos. A apologética pode ajudar e levar à evangelização, mas se Cristo não for apresentado como a única provisão de Deus para o pecado do homem o exercício será meramente acadêmico e cognitivo, e as pessoas ainda continuarem na sua condenação (1 Co 2.1-5).

 

5.     Uma responsabilidade dos obreiros remunerados da Igreja. A evangelização na igreja primitiva não foi deixado aos apóstolos. Todo evangelizavam e havia uma forte propensão à propagação da mensagem.

 

Quando Filipe saiu de Jerusalém por causa da perseguição à igreja, em Atos 8 o vemos pregando o evangelho. Ele fora eleito para ser diácono, cuidar da mesa e da distribuição de alimento para os pobres, mas quando saiu  de Jerusalém, o vemos na tarefa de evangelizar Samaria. 

 

6.     Evangelização implica em anúncio, portanto, não pode ser confundido apenas com o testemunho pessoal. Nossa vida é uma forma de pré-evangelização, como afirmou Francis Schaeffer, mas não devemos pensar que as pessoas crerão sem ouvirem. Afinal: “como crerão se não há quem pregue? A fé vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus”. O testemunho pessoal pode ser muito subjetivo e não desembocar na pregação da mensagem salvadora.

 

“Evangelização significa apresentar- -lhes Cristo Jesus como sua única esperança neste mundo ou no vindouro. Evangelização significa exortar os pecadores a aceitarem a Cristo Jesus como o seu Salvador, fazendo-os reconhecer que, sem ele, estarão, no sentido mais extremo e abrangente, literalmente perdidos[2]. (Packer).

 

7.     Responsabilidade de uma comissão da Igreja. Quando criamos um ministério de evangelização na igreja, podemos mandar uma mensagem de que agora, um grupo da igreja, será responsável pela a evangelização, e assim, reforçamos ainda mais a ideia de que apenas um grupo é responsável pela tarefa da pregação. 

 

Deus tem nos dado uma abundante colheita na nossa igreja e muitos perguntam como é o nosso programa de evangelização, e a resposta é sempre a mesma: “Não temos programa de evangelização na igreja”. Entretanto, pessoas tem se convertido em um número significativo, porque?

 

Porque em todos os ministérios da igreja, as pessoas são encorajadas a uma tomada de decisão quanto à sua fé. Você vai encontrar isto no grupo de crianças, adolescentes e jovens. Nos púlpitos e nos pequenos grupos. Desta forma, a evangelização é alcançada. 

 

8.     Evangelização não é ação social. Podemos humanizar as pessoas, ajudá-las no seu progresso material e ainda assim não comunicarmos a mensagem da libertação. A evangelização tem relação com o destino eterno das pessoas; A maior necessidade do ser humano é a graça salvadora de Jesus Cristo. Uma evangelização eficaz inclui a pregação correta da mensagem da cruz ( 1Co 15.3-4). 

 

9.     Adesismo religioso. Membresia de igreja. Para muitos o alvo na pregação é tornar as pessoas membros da sua organização. Definimos evangelização em termos de membresia. Entretanto, evangelização deve ser definida em termos do compromisso de vida que as pessoas assumem na tarefa de se tornarem verdadeiros discípulos e seguidores de Cristo.

 

B. O que é:

1.     Um estilo de vida. "Indo, pregai o Evangelho". Dionísio Pape escreveu um livro no qual tenta infundir a ideia de que evangelização é um estilo de vida.[3]  É é exatamente isto que precisamos entender. 

 

2.     Uma resposta ao amor de Deus – Paulo afirma que o amor de Cristo o constrange (Rm 5.5). Já se sentiu assim? Noutro lugar afirma que ele se sente devedor em relação à tudo que recebeu de Deus (1 Co 9.16-18), e isto é uma forma de gratidão a Deus por todos os benefícios recebidos.

 

3.     Evangelização é o projeto de Deus para salvar os perdidos – Deus não escolheu nenhum outro programa. Ele deu a tarefa da pregação ao seu povo. (Rm 10.13-15). Pedro afirmou que ele nos libertou das trevas para que pudéssemos proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz (1 Pe 2.10).

 

4.     Deus se antecipa ao missionário na pregação do Evangelho. Precisamos entender que, muito antes de pregarmos a mensagem, Deus já preparou aqueles que compreenderão a mensagem e se converterão a ela. 

 

Em Atos 13.48 lemos: “Creram todos os que foram destinados à vida eterna”. Paulo escrve a Tito dizendo: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, para despertar a fé que é dos eleitos” (Tt 1.1). Existe um povo preparado por Deus para receber a mensagem da salvação. 

 

II. Construindo um clima que produz Evangelização

A.                   Não pregue um sermão que não anuncie a cruz, nem apele à salvação. Nosso púlpito precisa ser evangélico, no sentido de que prega o evangelho. Lutero afirma que se pregamos a Palavra de Deus e não chegamos na cruz, estamos negando o evangelho

 

Lamentavelmente há um esvaziamento da mensagem da cruz em nossos púlpitos. Pregamos boas mensagens de auto ajuda, de encorajamento, de princípios e valores, mas não anunciamos a obra maravilhosa de Deus em Cristo Jesus. 

 

B.                    Não faça um programa sem considerar o perdido – Qual a razão da igreja existir? Muitas igrejas são muito tímidas ou ensimesmadas. Seus programas são apenas de manutenção, com pouca preocupação para os que são de fora. Precisamos ter programas intencionalmente preparados para alcançar as pessoas que ainda não entenderam a obra de Cristo. 

 

C.                    Motive a igreja a ser "aberta" aos visitantes. Muitas igrejas não são acolhedoras, nem amáveis, nem simpáticas. Algumas são mesmas hostis aos visitantes. Não se preocupam e até acham que aqueles que visitam estão causando certo desconforto à ordem. 

 

D.                   Pense na liturgia em termos dos perdidos. Ao preparar o culto considere: E se um visitante estiver presente, como estes cânticos e o programa do culto, o tempo e duração do culto, a densidade do sermão e a abordagem prática estarão presentes? 

 

E.                    Entenda a natureza da batalha espiritual na Evangelização e ore pelos perdidos! 

 

F.                     Seja intencional e consistentemente orientado ao crescimento mais do que à manutenção da Igreja.

 

III. Estratégias para Evangelização no contexto Urbano

A.   Crie uma mentalidade evangelística na igreja

1.     Mensagem: Responda às perguntas que estão na mente do homem secularizado.

2.     Recepção: Sua igreja está preparada para receber visitantes? Pense a partir da lógica do visitante.

3.     Louvor e adoração preparados para seu público alvo 

4.     Pense o programa de culto a partir da lógica do visitante.

 

B. Compreenda as formas como as igrejas evangelizam.

1.     Técnica do arrastão – trazendo pessoas à igreja.

2.     Técnica da invasão – Indo onde as pessoas estão. (escolas, hospitais, casas, etc.)

3.     Técnica do Evento – conferências, "louvorzão", teatro, etc.

4.     Técnica da amizade – visitação, pequenos grupos, etc.

Qual é o modelo mais adequado?

 

C. Desenvolva um programa evangelístico consistente com a filosofia de ministério de sua igreja. Alguns eventos geram impacto significativo, mas os frutos não permanecem, porque a igreja não está interessada em acolher os que chegam. A questão não é fazer um programa intensivo de emagrecimento, mas fazer uma mudança de hábitos. Lembre-se, porém: 

1.     Alguma coisa é melhor do que nada!

2.     Faça poucas coisas bem feitas!

3.     Não existe almoço grátis!

4.     Não faça sozinho! 

 

"A evangelização aparece como uma atividade esporádica tão desligada da vida normal de muitas igrejas, como da realidade do mundo onde elas estão. Às vezes a evangelização aparece como só mais uma das muitas coisas boas que a Igreja deve fazer"[4]. (Guilherme Cook)

 

"O melhor argumento para o cristianismo São os cristãos; sua alegria, certeza, plenitude. Mas o argumento mais forte contra o cristianismo São também os cristãos - quando melancólicos, quando São farisaicos e presunçosos em complacente consagração, rigorosos e repressivos, fazendo com que o cristianismo desfaleça". 

(Sheldon Vanauken, citado por Joseph Aldrich).

 

 

A Motivação da Evangelização

 

  1. A Glória de Deus – O objetivo principal não é a salvação de vida. Nem sempre a mensagem leva os homens à conversão, mas sempre glorifica a Deus. “Foram salvos todos quantos foram destinados à vida eterna”(At 13.48)

 

ü  A fé é um milagre da graça dentro daqueles que já foram salvos, nunca podemos saber quem foi eleito por Deus para a vida eterna (At 13:48).

 

ü  “Somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos, como nos que se perdem” (2 Co 2.15)

 

ü  Embora o objetivo principal seja a glória de Deus, este objetivo é percebido, de forma mais clara, na salvação de vidas, no entanto, evangelização não pode ser avaliada em termos de resultados nem pela resposta positiva dada à mensagem.

 

  1. Gratidão – A evangelização é resultado de um coração que é agradecido a Deus por tudo o que lhe aconteceu.

ü  Este viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). Ver ainda 1 Jo 4.11,14

 

ü  O amor de Deus – Jo 3.16 

 

ü  Amor aos perdidos – (2 Co 5.11; Rm 10.1,2). Compaixão enche de paixão a alma de um evangelista. Apatia é um grande perigo. Pecadores sem conversão estão perdidos em direção ao inferno. 

 

Muitos jovens moravianos se tornaram escravos para terem oportunidade de compartilhar o evangelho com os escravos no Caribe, porque esta era a única forma de se aproximar deles. 

 

3.     Obediência – (Mc 16.15-16). Não apenas porque queremos e gostamos, mas porque ausência de evangelização é desobediência (Is 6.8). “Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho (1 Co 9.16).

 

Trata-se, portanto, de um dever cristão, todos somos responsáveis por este grande desafio. Anunciar a Cristo é um privilégio, mas também uma grande desafio. Na história da igreja, cristãos se entregaram ao martírio por causa do amor aos perdidos e pelo senso de responsabilidade que sentiram em proclamar o evangelho de Cristo. 

 

 



[1] Stott, John R. W. A Missão Cristã no Mundo Moderno. Viçosa, Ed. Ultimato, 2002. 

[2] Packer, J. I. Evangelização e a soberania de Deus, São Paulo, Ed Cultura Cristã, 1998, p. 22

[3] Pape, Dionísio – Evangelização: Um estilo de vida., São Paulo, ABU Editora, 1994

 

[4] Cook, Guilherme, Evangelização e Comunicação, Venda Nova, Ed. Betânia, 1996 p. 16.

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