domingo, 30 de agosto de 2015

Jr 39.1-10 O Perigo das brechas



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Introdução:



No filme "O Advogado do diabo", que recomendo muito, há uma cena na qual o advogado (Keanus Reaves)  e o próprio "coisa ruim" - Al Pacino (usando uma linguagem de C.S.Lewis), estão andando de metrô em New York, e indaga: "Por que você sempre anda de metrô?". E ele responde ironicamente: "Nós andamos nas brechas!"

Durante dois anos, do nono até o 11o. Ano de Zedequias, Jerusalém ficou sitiada.
Imagine o terror e a angústia daqueles que se encontravam dentro de Jerusalém, o rufar dos tambores, a movimentação do exército dos caldeus do lado de fora. Era apenas uma questão de tempo. Eles seriam trucidados pelos caldeus, a menos que Deus interviesse nada poderia ser feito. Neste caso, isto não aconteceria, ja que o próprio Deus havia afirmado que ele mesmo havia suscitado os caldeus para esta invasão (Hab 1.1-7).
A situação das pessoas dentro dos muros era angustiante, porque a comida estava acabando, as pessoas faziam qualquer negócio por um bocado de trigo. Finalmente o exército inimigo conseguiu fazer uma brecha, e a cidade é tomada.
A afirmação do vs 2 é veemente: “Era o undécimo ano de Zedequias, no quarto mês, aos nove do mês, quando se fez uma brecha na cidade, então entraram todos os principies do rei da Babilênia” (Jr 39.2,3a).

Este é um texto com profunda similaridade na vida cristã. A cidade ruiu quando a brecha se formou. A vida se fragiliza quando permite brechas.
A fortaleza de nossa vida, a estrutura da casa, se mantém firme, quando não existem brechas. A partir deste momento, tudo é frágil. Brechas espirituais sao uma das grandes tragédias da vida cristã.

Como se formam as brechas?

1. Brechas se abrem quando necessidades e impulsos primais não são resolvidos – (Jr 52.5-6)

A cidade de Jerusalém foi tomada quando a situação se tornou caótica.
As mãos da mulheres outrora compassivas cozeram seus próprios filhos; estes lhes serviram de alimento” (Lam 4.10). Na linguagem do profeta jeremias, “os meninos e as crianças de peito desfalecem pelas ruas da cidade, dizendo às suas mães: Onde há pão e vinho?”

O problema, na verdade, é que quando não se resolve internamente a questão do coração, abre-se possibilidades para a queda. Não é a sedução o maior problema, e sim a atração daquele que é seduzido. Não é a comida o problema, é a fome que leva ao desespero. Não é a tentação o problema, mas a luxúria da alma. A Bíblia diz: “Cada um é tentado segundo a sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1.14).

Jerusalém caiu quando não havia mais força interna para lutar.

2. Brechas se abrem quando a força do inimigo de fora torna-se mais forte que a interna.

Foi isto que aconteceu com Jerusalém. Os caldeus estavam fortalecidos, os judeus enfraquecidos. Se os judeus tivessem força suficiente, eles teriam resistido, mas o poder do inimigo era mais forte. Sua insistência e constância em usar os arrietes contra a muralha, foram recompensados. Finalmente encontraram um lugar onde não era possível sustentar a força mortal do inimigo.

Funciona como um vírus. Geralmente somos devastados por eles, quando o sistema imunológico do corpo está fraco. Não havendo força interna, o inimigo se torna mortal.

O câncer normalmente aflora depois de períodos de grande tristeza ou frustração. Os oncologistas afirmam que todo corpo humano possui certa predisposição cancerígena, mas quando a auto imunidade está baixa, torna-se presa fácil para o seu desenvolvimento. O vírus estava lá, mas não aparecia, e talvez nunca surgisse, mas vindo a debilidade física, ele se manifesta.

3. Brechas se abrem pelo ponto mais frágil da muralha – Inimigos são atentos e persistentes. Os caldeus devem ter tentado usar suas máquinas de guerra para por abaixo a muralha de Jerusalém, até que, finalmente, descobriram uma área por onde seria possível abrir uma pequena brecha. Depois da brecha aberta, não há mais resistência.

O mesmo se dá conosco. Todos temos áreas sensíveis, mesmo os heróis. Na mitologia grega, Aquiles tinha o ponto frágil no seu calcanhar. Ele era herói na Grécia e foi um dos participantes da Guerra de Tróia, o maior guerreiro e o personagem principal da Ilíada, de Homero. Era o mais bonito dos heróis e o melhor deles, invulnerável em todos o seu corpo. Nada o atingia, exceto seu calcanhar. Sua morte teria sido causada por uma flecha envenenada que atingiu exatamente este ponto frágil.

Assim foi com Sansão.

Grande e forte guerreiro judeu. Sua força residia nos seus cabelos, mas se formos atentos veremos que na verdade, sua fraqueza estava na luxúria. Sansão, o imbatível, era presa fácil de amores tóxicos, de relacionamentos complicados, e ele era facilmente seduzido e envolvido nestas tramas que o enfraqueciam. Sua sexualidade mal direcionada, se tornou uma tragédia na sua vida e o levou à morte.

Qual é o seu ponto frágil?
Quais são suas áreas de vulnerabilidade?
Se o inimigo tiver acesso a estas áreas, ou se elas estiverem desprotegidas, você pode ser destruído: Uma paixão, uma sedução, uma proposta financeira, indecente mas “irrecusável”, o poder, o glamour, a fama.

Existem ainda outras coisas sutis. Por exemplo, a reputação, a auto estima, auto imagem, finanças, tristeza, ansiedade. Estas coisas relativamente boas podem se tornar idolátricas e nos destruir.

Reputação.
Todos queremos ter um nome respeitável e desejamos ser admirados por nossa integridade, mas eventualmente nos tornamos hipersensíveis ou até mesmo negamos pecados que deveriam ser abandonados, porque desejamos a reputação, mesmo quando ela já não existe. Quando Saul se viu abandonado por Deus por causa de sua rebeldia, ele disse a Samuel. “Pequei, agora, honra-me perante os anciãos” (1 Sm 15.30). Que honra ele queria? Dos homens? De Deus? Ele não estava se preocupado em arrepender, mas em manter a aparência.

Auto estima.
Somos tão desejosos da aprovação dos outros que eventualmente nos tornamos vítimas das circunstâncias ou pessoas. É Nossa fragilidade interior. Não descobrimos ainda que nosso valor e identidade estão em Deus, tentamos a todo tempo ficar provar diante dos homens quão responsáveis, íntegros e justos somos, e quando algum ponto é colocado em xeque, nos irritamos profundamente, nos deprimimos, porque nosso valor não está em Deus, mas no reconhecimento e aplauso humano.

Auto imagem.
Queremos manter imagem de pessoa bonita, sair bem na fotografia, ser admirado pelos outros. Narciso nos engole e achamos isto respeitável, qualquer variação da balança para cima pode nos destruir, porque não podemos deixar de ser auto enamorado. Como somos sedentos de aprovação e elogios. Se alguma observação negativa é feita quanto à imagem, sentimo-nos destruídos, porque o ídolo, que sou eu mesmo, se quebra. Você se esqueceu que seu valor está em Deus, e não nas plásticas e cosméticos usados.

Finanças
O mesmo se dá com o dinheiro. Tudo tem que estar sob controle e quando alguma coisa se esvai, você se desespera. Por que? O valor está na conta bancária, nos recursos adquiridos, e não em Deus.

Basileia Schlink afirma:
“Geralmente dizemos, embora com aparência piedosa: Estou desesperado. O que deveríamos fazer é admitir que estamos nos rebelando... estamos insultando a Deus... como podemos recusar confiar no seu amor? ... dissimulamos nosso ressentimento quando coisas amargas nos sucedem, dizendo: Não consigo mais crer no amor de Deus. Com esta descrença, não apenas impedimos Deus de operar em nós, como deixamos de oferecer aos outros nosso testemunho de fé”
(Nunca mais serás o mesmo, Editora Co-Lab, Umuarama-PR, 1972, pg 73,74).

Por onde o inimigo vai atacar?

Pela área mais frágil. O ponto no qual somos mais facilmente atingidos: ansiedade, luxúria, angustia, medo. Qual é a área que o inimigo tem conseguido obter vitória? Este é o ponto crítico.
Jerusalém foi tomada “quando se fez uma brecha na cidade”. O inimigo descobriu o ponto mais vulnerável e ali concentrou todo seu poderio bélico. Jerusalém não resistiu e caiu. Não tenha dúvidas, esta é a sua história!

4. Brechas são formadas quando insistimos em viver uma vida de pecado - Durante anos os profetas vinham advertindo os líderes de Israel que a vida de pecado, rebelião e idolatria atrairiam a ira de Deus sobre a nação. Eles, contudo, ignoram a Palavra de Deus e vivem do seu jeito.
No caso de Jerusalém, vemos que as brechas foram apenas o ápice dos resíduos pecaminosos gerados pela desobediência de uma nação que se recusa a andar no conselho do Senhor. Brechas tornam-se este "ponto visível", este "momento", em que se revelam a maldade e a obstinação. Brechas não acontecem de uma hora para a outra, mas levam anos para se manifestarem.
Em Gn 15.16 Deus afirma que daria a terra de Canaã ao seu povo, quando seu juízo fosse exercido sobre os amorreus. Abraão e seus descendentes iriam para o Egito, ficariam 400 anos, até que "se enchesse a medida da iniquidade dos amorreus", e então seriam julgados.
O mesmo se deu com Israel. Deus é longânimo. Não tem pressa em exercer sua ira. Mas ele julgará, no seu tempo, na hora certa.
Vida de pecado abre brechas históricas, e eventualmente estas brechas demoram a se manifestar. O povo judeu estava agora experimentando o julgamento, que eles acreditavam que nunca viria sobre sua vida.

Quais são os efeitos da brecha?

1. Ela nos deixa desprotegido – Quando deixamos brechas na nossa vida nos tornamos frágeis e vulneráveis.

Jerusalém não esboça nenhuma reação. No dia em que se abriu a brecha, a cidade foi tomada. Brechas morais nos destroem.

Pense em Davi.

Um homem segundo o coração de Deus. A partir do momento em que ele se envolveu num romance hollydiano com Bate-seba, trouxe para dentro de sua casa desgraça e morte. A brecha estava aberta.
Satanás quer encontrar apenas uma brecha pela qual ele possa entrar com seu poderio bélico.
Certa vez visitei o Sr.Marinho Salviano, na cidade de Cachoeiro do Itapemirim. Ele sempre trabalhou com mármore e granito, produzindo valioso material para exportação. Ele me ensinou como se fazia antigamente para retirar um bloco de pedra que seria transportado. Havia homens na região que eram peritos em olhar para uma pedra e descobrir onde ela seria facilmente rachada. Nesta área mais sensível da rocha, colocavam uma cunha, no outro dia voltavam e batiam novamente a marreta naquela cunha, e lentamente a pedra ia rachando. Esta é uma boa analogia da obra de satanás em nossa vida. Lentamente ele vai dilapidando valores. Por isto que a Bíblia afirma que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). Paulo não fala de maus hábitos, e más condutas. São apenas conversas, sugestões. No contexto em que ele se referia tinha a ver com alguns irmãos que ensinavam não haver ressurreição. Esta conversa herética, ia se repetindo e dentro de pouco o tempo, passava a ser considerada verdadeira. Uma pequena brecha. Uma dialogo aparentemente incipiente e inofensivo, e de repente, abria-se um grande buraco.

2. Brechas causam dispersão e fuga – “Todos os homens de guerra fugiram, e de noite saíram da cidade”(Jr 39.4). Se havia alguma possibilidade de resistência, agora não mais.

Todos os homens que poderiam resistir ao inimigo, agora se transformam em coelhos assustados fugindo de uma ave de rapina. Ela enfraquece a resistência, gera desespero. Não há lugar para fugir, mas todos querem tentar escapar do inimigo. Não há lugar seguro, nem fortaleza onde se ocultar.

3. Brechas causam destruição e morte – A situação de Jerusalém se escancara. Jeremias descreve a trágica situação: “Os meus filhinhos tiveram que ir para o exilio, na frente do adversário” (Lam 1.5). “Jazem por terra pelas ruas o moço e o velho; as minhas virgens e os meus jovens vieram a cair à espada” (Lam 2.21).

Brechas são sinais para que a dor, a vergonha, a tristeza, a derrota nos atinja. Em Jr 39.6-7 a sentença é dada: “O rei da Babilônia mandou matar, em Ribla, os filhos de Zedequias à vista deste; também matou a todos os príncipes de Judá. Vazou os olhos a Zedequias e o atou com duas cadeias de bronze, para o levar à Babilônia. Os caldeus queimaram a casa do rei e as casas do povo e derribaram os muros de Jerusalém”.

4. Vergonha e humilhação para o nome de Deus – “No décimo dia do quinto mês, do ano décimo nono de Nabudonozor, rei da Babilônia, Neburazadã, o chefe da guarda derribou todos os muros em redor de Jerusalém. E queimou a Casa do Senhor e a casa do rei, como também todas as casas de Jerusalém; também entregou às chamas todos os edifícios importantes” (Lm 52.12-14).

O templo simbolizava a presença de Deus no meio do povo. A vitória sobre um povo significa a derrota deste Deus. Isto, aos olhos das nações vizinhas e do próprio povo, representava que o Deus de Israel era um Deus sem poder, sem capacidade de livrar e salvar o seu próprio povo.


5. Brechas trazem danos e graves consequências às gerações futuras. O efeito não é apenas imediato. Tem implicações históricas. (Gn 52.28-30). Os profetas demonstram quanto isto duraria: setenta anos de cativeiro, orfandade, abandono da terra, templo.

O profeta Jeremias descreve a sua dor:
“Como jaz solitária a cidade outrora populosa! Tornou-se como viúva a que foi grande entre as nações; província entre as províncias, ficou sujeita a trabalhos forçados!” (Lam 1.1).

Isto é facilmente percebido na história de Ló.
Seu envolvimento com suas filhas formou dois povos: Amonitas e Moabitas. As crianças que nasceram deste nascimento incestuoso se tornaram um povo eternamente envolvido com bruxarias e prostituição. O pecado de Ló trouxe esta situação caótica para sua própria família.
Paul Meyers afirma: 
“Tudo o que deixamos, de bom ou ruim, é o nosso legado”. 
Integridade gera efeitos positivos para as futuras gerações, mas pecados abrem possibilidades para a força do mal, para ação das trevas, para que o inimigo penetre sorrateiramente na história.

Conclusão
Quem é capaz de se proteger completamente de suas fraquezas e brechas? Paulo pergunta de forma retórica: "Quem é suficiente para estas coisas?" (2 Co 2.16), para depois responder: "A nossa suficiência vem de Cristo" (2 Co 3.5).
Precisamos do poder do Espirito Santo
Precisamos da cobertura do sangue do Cordeiro.
Precisamos nos aproximar da luz, para que sejamos iluminados interiormente pela sua poderosa graça. Para sermos purificados da culpa do pecado e do pecado com sua natureza devastadora.
No livro de Neemias 6.1 há uma declaração de vitória, quando os restauradores do muro percebem que "já não havia nenhuma brecha". Que benção quando sabemos que a obra de Cristo nos edifica e constrói completamente uma nova identidade, nos dá um novo nome.
Davi contemplou esta maravilhosa graça do perdão que Deus dá. Ele conheceu antecipadamente o que o Evangelho anuncia.
"Bem aventurado o homem a quem Deus não atribui iniquidade" .
Ele não faz menção a alguém que não havia cometido pecado, pelo contrário, ele sabia quão condenado estaria sem a maravilhosa graça e restauração divina não o tivesse redimido. Deus imputou justiça, e não atribuiu iniquidade. O seu pecado fora perdoado. Agora ele estava limpo aos olhos de Deus, e sua amarra de consciência estava liberta.
Aleluia!!!

Jr 38.1-13; 39.15-18 O Bom uso da Profissão





Introdução:

Um dos grandes desafios que o povo de Deus tem é penetrar na cultura e se imiscuir no mundo da arte, música e política de um país, fazendo bom uso destas poderosas ferramentas para dar sinais do Reino de Deus entre os homens. Uma pessoa apenas, usando corretamente os recursos históricos, certamente não fará surgir a primavera, mas pode plantar flores, talvez não consiga gerar uma revolução, mas pode ser um valioso instrumento nas mãos de Deus para salvação de muitas vidas e promoção do ser humano.

Os teólogos chamam isto de “Mandato cultural”. Quando Deus colocou o homem no Éden, ele não apenas o criou para relacionar-se com ele próprio, mas para cuidar e guardar o jardim. Ele deveria olhar para tudo que acontecia e administrar estas coisas com os olhos de Deus. Pois bem, todos sabemos que o homem falhou, mas esta ordem nunca foi retirada. Deus nos colocou no mundo para cuidar de tudo aquilo que nos contingencia.

Na época da Reforma Protestante no Século XX, outra doutrina foi resgatada: O Sacerdócio Universal dos crentes. Todos somos chamados para a obra de Deus, seja qual for a nossa profissão e tarefa. A vocação clerical não é mais importante que a “secular”. Todas é importante para Deus. Portanto, um jurista, professor, mecânico, enfermeiro, deve se perceber como agente de transformação no mundo que o rodeia.

A história de Ebede-Meleque

Neste texto temos a narrativa de um homem que é citado apenas neste livro da Bíblia. Ele não era alguém importante, e nem mesmo judeu, vivendo em dias maus, no meio de um sistema corrupto e de grave crise política fez enorme diferença, mas apesar de sua humildade, há quase um capitulo inteiro na Bíblia falando sobre ele.

Ele era um eunuco procedente da Etiópia, e isto já fala muito da sua história. Eunucos geralmente eram escravos trazidos ainda jovens e castrados, para servirem nos palácios. Foi o que fizeram com Daniel, Hananias, Misael e Azarias, que também foram trazidos da Judeia e colocados à serviço do rei da Babilônia no tempo do exílio do povo de Israel (Dn 1.1-7).

Jeremias estava insistentemente profetizando que Jerusalém seria invadida pelos caldeus, por causa da desobediência e rebeldia daquela cidade contra Deus. O Povo judeu, porém, tinha alguns pressupostos que levavam a ignorar as advertências. Um deles era que, por ser a cidade onde estava o templo do Senhor, ele interviria na hora certa e o livramento aconteceria; outro, eram as falsas profecias. Jeremias está constantemente advertindo contra os falsos profetas trazendo falsas mensagens de esperança da parte de Deus. Existem embates notáveis neste livro entre os falsos profetas e os profetas de Iahweh, dentre eles, Jeremias.

Jeremias adverte contra estas mensagens falsas: “Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: paz, paz; quando não há paz” (Jr 8.11). Todo o capitulo 23 de Jeremias é dedicado a advertir contra os falsos profetas, “que entre vós profetizam e falam as visões do seu coração, não a que vem da boca do Senhor” (Jr 23.16). Apesar de tudo, o povo não queria ouvir a Palavra do Senhor, antes aquilo que lhes trazia mais prazer e satisfacao imediata.

Colocando seu cargo a serviço do Reino

Pela insistência de Jeremias em anunciar a Palavra do Senhor, carregada de juízo contra a cidade infiel, alguns homens foram até o rei dizer que com tal mensagem, o profeta desencorajava o povo, porque ele falava: “Assim diz o Senhor: O que ficar nesta cidade morrerá à espada, à fome e de peste; mas o que passar para os caldeus viverá; porque a vida lhe será como despojo, e viverá” (Jr 38.2). Estando a cidade cercada pelos inimigos, esta palavra era desanimadora. Quem quer lutar numa guerra sabendo de antemão que vai perdê-la? O problema foi levado ao rei, que deu ordem aos homens para que fizessem com Jeremias o que achassem melhor. Então, tomaram a Jeremias e o lançaram na cisterna de Malquias, filho do rei. Uma cisterna lamacenta na qual aquele velho profeta teria que ficar, atolado de barro até a cintura.

Neste momento é que Ebede-Meleque entra em cena.

Ao ouvir o que havia acontecido ao profeta, o eunuco saiu da casa do rei, vai até a Porta de Benjamin para lutar a favor de sua vida. O rei havia autorizado outros líderes que fizessem o que bem quisessem com Jeremias, mesmo assim, ele não hesitou em sair da defesa de um homem que considerava inocente, e obteve favor do rei, que o autorizou a remover Jeremias daquele lugar lúgubre e frio, e salvar a sua vida.

O que este homem fez de especial é o que podemos fazer ainda hoje. Algumas lições aqui são muito importantes:

Primeiro, ele colocou sua função em prol da vida.

Lamentavelmente todas as civilizações tem uma característica em comum: Elas desvalorizavam a vida humana. Eventualmente religiões, mitos e tabus se juntam nesta tarefa insana. Vejamos alguns exemplos:

As parteiras do Egito

Nos dias de Moisés, em nome de uma defesa do estado, houve um decreto para que se matasse todas as crianças do sexo masculino que nascessem. As parteiras foram instruídas a verificar o sexo das crianças, e se fosse homem, deveriam matá-lo. Moisés nasce nos dias em que este decreto fora dado. Sua mãe, Joquebede, se esforça para manter a integridade do seu filho e Deus lhe concede favor, no entanto, a realidade brutal não era assim tão romântica quanto costumamos ensinar às crianças na Escola Dominical. Centenas, talvez, milhares de crianças foram executadas. A vida se tornou um martírio. Ali, no meio de um decreto desumano, porém, um grupo de mulheres se levantou em prol da vida, com risco de morrerem por causa disto. A Bíblia diz que elas “temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito; antes, deixaram viver os meninos” (Ex 1.17). “Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou forte” (Ex 1.20).

Obadias

Outro exemplo bíblico notável foi o de Obadias (apesar da similaridade com o nome, ele não o profeta bíblico). Este era o mordomo de um dos reis mais perversos de Israel, Acabe, que era casado com uma rainha cruel, Jezabel, e eram dias muito difíceis em todos os aspectos: Econômico e político/religioso. A Bíblia diz que “a fome era extrema em Samaria” (1 Rs 18.2), e Jezabel exterminava intencional e cruelmente, os profetas do Senhor (1 Rs 18.4). Neste contexto tão maligno, Obadias se atreveu a esconder 100 profetas, e os mantinha em dois grupos separados em uma cova, alimentando-os num longo período de pão e água. A logística tinha que ser perfeita, qualquer denúncia seria fatal para sua vida e para a vida daqueles homens, no entanto, Deus o preservou.

Ebede-Meleque

Neste texto encontramos mais um personagem que coloca sua função pública, a benefício da vida. Este etíope, portanto um gentio; escravo, portanto sem muita influência; e eunuco, uma pessoa com todo background necessário para ser um homem cruel em razão da violência sofrida, é aquele que se desponta neste texto para proteger uma pessoa em situação de sofrimento e exclusão. Ele luta pela vida de Jeremias. Muito provavelmente eles sequer se conheciam, mas este homem sai do palácio, onde exercia sua função, e vai até o local onde se encontrava o rei, na Porta de Benjamin, uma das entradas da cidade, para denunciar os maus tratos contra Jeremias e pedir benevolência do rei. O rei não apenas atende seu pedido, como destaca um grupo de 30 homens para ajudar na operação de resgate em favor do profeta. Com humanidade, ele vai até a tesouraria do rei, encontra roupas velhas e farrapos, e pede para o frágil profeta colocá-las debaixo do braço e o puxa novamente para fora.

Estes três casos: As parteiras do Egito, Obadias, o mordomo de Acabe; e Ebede-Meleque, são pessoas que colocam suas funções em defesa da vida humana.

Segundo, 
não temeu a própria vida nem a possibilidade da perda dos privilégios de sua função

Em todos estes casos acima, existe uma linha clara de pessoas que correm risco, sem se importarem com as consequências de seus atos corajosos e humanitários. Se ficarmos com muito medo do que pode nos acontecer, não poderemos lutar pelos que se perdem, são injustiçados, perseguidos e massacrados.

As parteiras do Egito seriam executadas sumariamente se fossem pegas, os risco e as suspeitas eram enormes, elas chegaram, inclusive, a serem chamadas para se explicar diante das autoridades constituídas por faraó. “Por que fizestes isso e deixastes viver os meninos?” (Ex 1.19). O grau de periculosidade era imenso...

Para Obadias, o mordomo, a situação também não era fácil. Como enviar comida para 100 homens, diariamente? Como providenciar o pão e água necessários? Quem levaria estas comidas sem ser percebido? Quantas pessoas realmente eram confiáveis para participar deste plano digno do FBI? Se seu plano fosse descoberto, ele estaria morto.

Infelizmente temos muito medo de perder não a nossa vida, mas a posição, a função, o status. A preocupação com a segurança torna-se mais importante que a glória de Deus, o valor da vida, a integridade. Preferimos nos silenciar diante da morte. Martin Luther King Jr disse que “Deus vai julgar não apenas a maldade dos maus, mas o silêncio dos bons”. Muitas vezes poderiam ser poupadas, muitos esquemas de corrupção poderiam ser desmantelados, se tivéssemos mais pessoas com menos medo de perderem privilégios.

A Bíblia fala ainda de outro personagem. Ester (ou Hadassa, nome judeu). Ela se tornou rainha num episódio no qual houve um levante dos machos contra o primeiro movimento feminista da história. Aquela menina pobre, órfã, exilada, é colocada na função de rainha de todo um vasto império. Na posição política que ocupa, é desafiada a lutar pelo seu povo, e ela, visivelmente, teme. Seu tio Mordecai, mentor e conselheiro, contudo, manda um recado direto e duro para ela. “Não imagines que, por estares na casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal conjuntura como esta é que foste elevada à rainha?” (Et 4.13-14).

Ester resolve falar com o rei, mas seu “atrevimento”, poderia custar-lhe a vida. Nenhuma mulher poderia se aproximar do rei sem ser convidada. Na lei dos persos e médios, esta atitude poderia custar a vida. No entanto, ela ora, jejua, convoca o seu povo também a fazer o mesmo, e Deus concede favor. O povo judeu é libertado do decreto de morte que havia sido emitido.

Não há confrontação sem risco. Milhares de pessoas como Schindler, Corrie Ten Boom, o rei da Dinamarca, fizeram o mesmo diante do holocausto judeu impetrado pelos alemães na II Guerra Mundial. É necessário ter coragem e ousadia, para não temer nada, a não ser o seu próprio medo, e lutar em favor daqueles que são explorados e desumanizados. Lutar a favor da vida, dispondo a sua própria vida para isto.

Terceiro, espere bênçãos de Deus, e não benesses humanas.

Em todos estes casos citados, uma verdade se manifesta: Todas estas pessoas foram honradas por Deus, e libertas. No entanto, a história nem sempre nos mostra a mesma coisa. Muitos morreram exatamente por serem fieis, e por não temeram perder a própria vida porque temiam a Deus. Nestes se aplicava a compreensão das palavras de Cristo. “Não temam os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28).

As parteiras foram abençoadas a Deus por terem defendido a vida das crianças diante da ordem do poderoso Egípcio. A Bíblia afirma que Deus as abençoou, e, apesar de serem estéreis, Deus as tornou prósperas mães de filhos. Ester obteve a benevolência do rei e a vitória a favor do povo judeu. Esta vitória foi tão grande que ainda hoje os judeus celebram o dia de Purim, uma referência à libertação e intervenção maravilhosa de Deus a favor deste povo. Obadias, posteriormente se encontra com Elias, e foi poupado por causa de sua piedade conhecida no meio dos profetas de Israel. Ebede-Meleque conseguiu escapar da tragédia que se deu em Jerusalém depois da invasão dos caldeus, destruição esta que veio no ano 607 a.C., quando os judeus foram levados para a Babilônia.

Deus deu uma palavra específica a Jeremias, a favor deste homem: “Vai e fala a Ebede-Meleque, o etíope, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: eis que eu trarei as minhas palavras sobre esta cidade para mal e não para bem; e se cumprirão diante de ti, naquele dia. A ti, porém, eu livrarei, naquele dia, diz o Senhor, e não serás entregue nas mãos dos homens a quem temes. Pois certamente te salvarei, e não cairás à espada, porque a tua vida te será como despojo, porquanto confiaste em mim” (Jr 39.18). Maior do que o livramento da própria vida, é receber a afirmação de que Deus nos conhece, sabe o que fazemos, sabe dos nossos medos. Ter a graça de Deus, nos chamando pelo nosso nome, que conhece a nossa história, é, certamente, o maior de todos os troféus.

Quarto, o exemplo de Cristo

Concluímos com o exemplo de Cristo. Jesus nunca considerou sua vida como preciosa a si mesmo. Sua vida era holocausto, oferenda e oferta a Deus. Não era para ser preservada, mas repartida. “Quem quiser preservar sua vida, perdê-la-á, mas quem quiser perder a sua vida por minha causa, achá-la-á”. A vida dada por Deus, não é para preservação a todo custo, mas para doação a todo custo.

Assim ele segue para a cruz. Cordeiro de Deus para ser imolado. “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). Foi levado como uma ovelha muda perante seus tosquiadores, oprimido e humilhado, mas ele não abriu a sua boca.

Sua missão era clara: A vida como doação.

Hoje ocupamos cargos públicos: Professores, psicólogos, médicos, oficiais de justiça, magistrados, juízes, advogados, procuradores, conselheiros, funções políticas, e somos desafiados a defender a causa da vida, seja esta pessoa de que raça for, independentemente de sua cor, religião, opção sexual. A vida é preciosa.

Onde houver movimentos em favor da vida, contra a morte, eutanásia, aborto, ou sistemas opressivos que massacram, machucam e ferem as pessoas, devemos colocar nossos dons, posições, funções, a serviço do Senhor e da obra do Mestre. Imitando a Jesus, sua luta contra as pessoas marginalizadas e sofridas, a favor de prostitutas, dos marginalizados da Galileia, de leprosos e cegos, ali estava Jesus, salvando, curando, redimindo, promovendo a vida, anunciando a Deus, trazendo redenção e cura.

Nosso chamado é para seguir o exemplo de Cristo. Isto eventualmente vai custar nossa vida, cargos e benesses. Mas nosso medo não deve ser dos que podem nos matar e perseguir, mas de perecer no inferno, tanto a alma como o corpo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Gn 28.10-22 Eu não sabia!



Introdução:

Um dos graves problemas da nossa vida é a ignorância e desconhecimento dos fatos, falta de compreensão de verdades e princípios. Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Oséias afirma: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6). Mesmo quando “sabemos”, ou temos determinadas informações sobre a vida ou sobre Deus, ainda assim podemos ser incapazes de trazer tais informações e aplicá-las à vida. Parece ter sido este o problema de Jacó ao declarar: “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!” (Gn 28.16).

Jacó sai de sua casa numa complexa situação. As coisas não estavam bem. Depois dos incidentes envolvendo Esaú, a situação se torna tensa, incluindo ameaças de morte. Seus relacionamentos estavam estremecidos. Esaú jurando vingança. Tanto Rebeca quanto Isaque se mostram preocupados (Gn 27.42-47). Ele sai de casa furtivamente, sabendo que provavelmente nunca mais veria seus pais. O texto parece sugerir esta improvisação já que não há registros de pessoas acompanhando-o, mesmo sabendo que tal viagem era sempre arriscada.

Segue para o deserto em direção a Mesopotâmia e no deserto, ao chegar à noite, para num ermo para dormir, e usa uma pedra como travesseiro. Isto aponta para esta idéia de improvisação. Ali Jacó tem um sonho, no qual o Senhor estava perto dele e havia uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam sobre ela. Deus reafirma seu chamado para seu Pai Isaque e avô Abraão e que estaria com ele e o guardaria por onde andassem e que aquela terra, seria dada á sua geração.

Ao acordar, Jacó faz uma maravilhosa afirmação: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). Deus estava perto, sua presença era real, mas Jacó ignorava esta realidade. A visão de Jacó mostra o interesse de Deus por ele. “A condescendência da graça divina. Jacó não estava de coração voltado para Deus, e sim Deus para Jacó” (Shedd). Aquele rapaz, vindo de um lar cristão, com uma ética leniente e superficial, que sai corrido de casa por ter se envolvido em atitudes pouco recomendáveis, agora faz uma descoberta maravilhosa. O Senhor estava com ele. É o triunfo da graça! Deus o alcança de forma inesperada.

Quão facilmente Deus pode estar perto sem que tenhamos consciência de sua realidade. Deus estava perto de Abraão quando ele levantou o cutelo para sacrificar seu filho: “Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças” (Gn 22.12). Deus estava tão perto, embora provavelmente Abraão não tenha sido capaz de percebê-lo... Deus estava por perto quando Hagar enfrenta o abandono, a rejeição e a exclusão e sai desatinada para o deserto, sem rumo certo, tendo que enfrentar a solidão terrível: “Que tens Hagar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino daí onde está” (Gn 21.17) e Hagar percebe que Deus “estava com o rapaz” (Gn 21.20). Quantas vezes ignoramos a presença de Deus entre nós, ou não a percebemos.

Num dos filmes da série Nárnia, Lucia pergunta: “Vou vê-lo novamente?” e Aslam responde: “Eu sempre estarei por perto, basta estarem atentos, vocês me perceberão”.

Quando Jacó diz: “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16), ele usa no hebraico o termo Iadá,  que significa penetrar. Esta frase, então, poderia ser traduzida da seguinte forma: “na verdade o Senhor está neste lugar e eu não o penetrava” (Chouraqui). Não era que Deus estava ausente, mas a percepção falha de Jacó o impedia de se conectar e se aprofundar nos mistérios de Deus ao seu redor.

Esta é a nossa angustiante realidade – Estamos desconectados do Eterno, e não o “penetramos”, nem o percebemos. Falta-nos a capacidade de aprofundar na sacralidade de um Deus que sempre está presente. “Invoca-me e te responderei, anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes” (Jr 33.3). Este é um dos grandes problemas, a dificuldade de perceber Deus na história, no dia a dia. Você tem percebido Deus em sua história?
A experiência de Jacó traz temor e gera adoração (Gn 28.17). Ele constrói uma coluna e sobre ela derrama azeite.

Apesar desta grandiosa experiência, a contraproposta de Jacó e os votos que passa a fazer revelam suas limitações. O que ele propõe a Deus são grandes equívocos, marcados por condicionantes na relação que ele julgava que deveria ter com o Senhor.

  1. Condiciona sua fidelidade à benção – “Então Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus estiver comigo, cuidar de mim nesta viagem que estou fazendo, prover-me de comida e roupa, e levar-me de volta em segurança à casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus” (Gn 28.20-21). Sua atitude é completamente distinta da resposta de Abraão que “partiu sem saber aonde ia” (Hb 11.8).
O Senhor será meu Deus se me abençoar. Muitos agem assim em relação a Deus. Julgam-se no direito de estabelecer as condições do discipulado, e estabelecem condicionantes. “Se Deus fizer isto, então agirei assim...” ou “se isto acontecer, agirei desta forma”. Este relacionamento com base contratual não compreende a graça de Deus e se torna um relacionamento no qual o Senhor torna-se servo. As ofertas deixam de ser uma forma de adoração e louvor e tornam-se barganha para conseguir de Deus bençãos e favores. No entanto, a graça de Deus não é meritória, nem funciona à base de troca. O convite da fé é para a rendição e confiança irrestrita no seu caráter.

  1. Relaciona Deus com um local sagrado – Jacó afirma “Quão temível é este lugar! É  a casa de Deus, a porta dos céus" (Gn 28.17). Cerca de 30 anos depois, Jacó repete este voto solene no mesmo lugar (Gn 35.14), mas Deus deixa claro que ele queria que Jacó entendesse que ele seria o Deus por todos os lugares que ele fosse. “Te guardarei onde quer que fores” (Gn 28.15). Com isto Deus queria desvincular sua fé de um lugar sagrado. Idéia bem diferente das divindades pagãs que sempre se associaram a certas localidades.
Por causa de pensamentos que limitam Deus a determinados símbolos, objetos e locais, existe uma tradição de que a pedra de Jacó foi depois trazida para Jerusalém, mais tarde para a Espanha, depois para a Irlanda e finalmente para a Escócia. Os reis da Escócia costumavam se assentar nesta pedra. Eduardo I a levou para Londres, e a colocou em Westminster sob o trono no qual os reis da Inglaterra eram coroados (Bíblia anotada de Dake).

Posteriormente Deus se comunica com Jacó, e se apresenta como “o Deus da casa de Deus” (Gn 31.13). Não o Deus de um lugar, mas Deus.

  1. Condiciona sua liberalidade no dízimo à prosperidade pessoal – Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo e me der pão para comer e roupa que me vista (...) de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo” (Gn 28.20,22). Sua oferta e liberalidade estavam condicionadas. “Se Deus...me der pão para comer e roupa...darei o dízimo”.
Ingenuamente pressupomos que podemos agora ter o controle de Deus. “Seremos... se”. A verdade, porém, é que Deus não se submete a estes tipos de relacionamentos nos quais acreditamos que somos credores e determinamos como ele fará. Muitos acreditam que possuem credenciais para exigir de Deus. Seu dízimo torna-se moeda de troca e garantia de que Deus agora não vai poder falhar.

Mas na Bíblia, Deus não falha. Ele é fiel, bondoso, generoso, abundante nas suas graças porque isto faz parte de sua natureza graciosa. Muitos “sequestram” o texto de Malaquias 3.10 que fala do dízimo crendo que, fazendo assim, Deus não vai poder “furar nem falhar” com eles. Na verdade Deus é fiel a ele mesmo, antes de ser fiel a nós. “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.13).

Relacionamentos meritórios, ou de pessoas que julgam ter “credenciais” para exigir de Deus, são sempre falsos e anti-bíblicos, porque Deus “não lançamos as nossas suplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias” (Dn 9.18).  Tais atitudes revelam profunda desconfiança sobre quem Deus é, e nos dão uma falsa ideia de que podemos construir um portfólio de saldos espirituais e performance religiosa. Esta é a ideia de religiões que se fundamentam na bondade do homem e não na graça abundante e livre de um Deus misericordioso.

Conclusão:

Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). 

A presença de Deus era real, mas Jacó ignorava sua realidade.
Precisamos reconhecer que Deus está aqui!

Nem sempre estamos conscientes de sua presença. Muitas vezes ele nos parece um Deus frio, silencioso e distante. Jacó se surpreendeu quando percebeu quão próximo dele estava o Senhor. “Este lugar é temível!”. A presença de Deus lhe causa assombro e perplexidade, e o motiva a adorar, a construir altares, a derramar óleo sobre a pedra.


Talvez nossa atitude diária deveria ser: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não sei” Ter consciência da presença de Deus é uma das descobertas mais fascinantes que o ser humano pode fazer.

Introdução e paradoxos de Eclesiastes


Introdução ao “Koheleth

Eclesiastes é um dos livros que apresenta as maiores dificuldades hermenêuticas desde os pressupostos éticos até Escatologia. Com muita propriedade o Pr. Ari Veloso afirmava: “Ou você ensina este livro à Igreja, ou o diabo o ensina de forma deturpada”.

Eclesiastes chega a negar determinados pressupostos cristãos essenciais, como a visão de Deus, o sentido da existência, o conceito de justiça, trabalho, existência e valores.

Para se ler Eclesiastes, torna-se mister resgatar a sua chave hermenêutica.

Este livro, incluído no cânon, tornou-se objeto de grande discussão e chegou a ser duramente criticado nos conílios das igrejas e estudiosos, no andar da história. Cremos que Deus agiu na própria seleção do cânon escriturístico, orientando os homens para que tais livros fôssem aceitos e passassem a fazer parte do todo bíblico. Afinal “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, repreensão, correção, a gim de que todo homem seja educado na justiça”. Sendo este livro tão controvertido, por que Deus permitiu que ele fosse anexado aos demais livros, fazendo parte do cânon?

Eclesiastes certamente foi escrito por Salomão. Salomão foi um homem profundamente comprometido com o Senhor, até o tempo em que seu coração se desviou, após sua desobediência e poligamia (2 Rs 11.3), e seu coração foi consumido pela vaidade e desejo de reconhecimento e aclamação público. Seus casamentos mistos trouxeram novas concepções pagãs para sua mente, chegando a oferecer sacrifícios para Moloque, um Deus que exigia sacrifícios de pessoas, conforme o relato de 2 Rs 11.4-8

No período em que esteve afastado de Deus, Salomão escreveu este texto. O livro é uma reflexão do homem longe dos caminhos de Deus, refletindo sobre sua existência humana. Portanto, a ideia básica do texto é que, embora este livro seja inspirado por Deus, não transmite o pensamento de Deus, e sim o do homem secular, desesperadamente tentando encontrar sentido para sua vida. No caso de Salomão, ele sintetizou a vida afirmando que se tratava apenas de uma bolha de sabão, a palavra “hebhel”, que traduzimos por vaidade, tem exatamente esta ideia do ponto de vista etimológico. Deus permitiu que este livro viesse até nós, para que percebéssemos o que acontece ao homem sem Deus: O desespero, a angústia, a monotonia, o vazio e o despropósito da existência.

Sendo um livro profundamente existencial, sua reflexão gira em torno de coisas que acontecem “debaixo do sol”, expressão que surge 29 vezes no texto. Obviamente, o homem sem Deus possui reflexões positivas sobre a vida, assume determinados princípios éticos que são universalmente aceitos, e faz declarações que são verdadeiras e se identificam com a cosmovisão cristã em alguns pontos. Portanto, mesmo no meio deste deste caos interior, ele recebe a revelação “natural”, que lhe permite ter ensaios éticos e filosóficos positivos, já que nem tudo que é humano é diabólico. Muito do que Salomão escreve ainda que sem discernimento espiritual, como um homem natural, reflete o pensamento de Deus. Para missiólogos, isto é chamado de “a semente do verbo”, ou como Don Richardson preferiu: “O fator Melquisedeque”. Determinados aspectos de culturas distintas refletem parciais revelações de Deus para a humanidade, fruto da graça natural de Deus. Ou seja, há homens ímpios que não são perversos, a há homens perversos que não são ímpios (alguns deles são até religiosos).

Qual a razão disto? Os homens, por mais embrutecidos e ignorantes acerca das coisas de Deus. Paulo parece apontar nesta direção ao afirmar que tais homens, secularizados e mesmo pagãos “...mostram a norma da lei, gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se”  (Rm 1.15)

Este é o caso do escritor de Eclesiastes.

Há princípios morais, éticos e até declarações religiosas neste texto que são verdadeiras na perspectiva hebraico-cristã, ao passo que outras são verdadeiras aberrações - Não traduzem o pensamento de Deus, e sim do homem sem Deus.

Por trazer o pensamento do homem sem Deus, este é o melhor livro para que entendamos o homem sem Deus e como ele pensa, sendo portanto, forte ferramenta para a evangelização. Se este livro cair nas mãos de um incrédulo, ele vai certamente vai se identificar com seu dialético discurso, e se identificar com ele. Este livro, sem dúvida é proto-existencialista. É o documento mais remoto que existe e que trata das contradições humanas. Poderia ter sido escrito por Camus, Jaspers ou até mesmo Sartre.

Machado de Assis, escritor brasileiro era existencialista e pessimista ao extremo com a humanidade, crítico de Deus e da religião, no entanto, todos os dias após o almoço, deleitava-se com porções deste texto das Escrituras sagradas.

Outro ponto a se considerar é que tudo que na Bíblia outrora foi escrita serve para nos ensinar, a ter confiança, paz e esperança em Deus, nos educar na justiça, repreender, educar. Portanto, este livro tem muito a nos ensinar nos dias de hoje.

Eis alguns tópicos que são suspeitos neste livro, depois tentaremos dar algumas pistas de leitura e ferramentas para interpretação deste texto:

Falsos Conceitos em Eclesiastes

1. Falso conceito de existência – (Ec 1.2)
            .Vida sem sentido - – (Ec 1.2)
            .A morte trazendo coerência - – (Ec 7.1)

2. Falso conceito de trabalho -
            .Vida é um peso- – (Ec 1.8; 2.23)
            .Vida é contraditória – (Ec 2.21)
            .Falta de objetivo – (Ec 2.18,21 e 5.16
            .Fadiga e enfado – (Ec 1.14; 2.11)
            .Castigo de Deus – Ec 2.26; 3.9-10)
            .Monotonia – (Ec 1.3-7)-
ð  O eterno retorno de Niestzsche
ð  O mito de Sísifo - Camus
            .O vazio da vida – (Ec 1.2

3. Falso conceito da História – (Ec 1.9; 3.15)
            .Teoria cíclica: “correr atrás do vento” (Ec 1.14,17)
            .Canseira e falta de propósito (Ec 1.8)
            .O enfado da vida (Ec 2.17,23)

4. Falso conceito de Deus – (Ec 1.13).
            .A limitação do homem (Ec 3.14)
            .O deísmo latente – (Ec 5.2(. Deus distante. Elohim, não Iahweh
            .Fatalismo – (Ec 2.1)

5. O prazer como resposta filosófica -
            .Do existencialismo ao epicurismo – (Ec 2.23-24)
            .Sem opção, exceto a fuga – (Ec 3..3,12 e 9.7)
            .O vazio do lazer (Ec 2.10-12)
5.     A perda do sobrenatural - Secularismo e positivismo  (Ec 3.18-21)

7. Falsos conceitos de escatologia – (Ec 6.6,12; 9.2; 7.14)
            .O futuro está oculto? (Ec 9.1)
            .Justos e perversos indiferenciados? (Ec 9.2)
            .Só há esperança para os vivos? (Ec 9.4)
            .Nao há projetos no além? (Ec 9.10)
            .Nossa vida depende do acaso? (Ec 9.11)
            . Morte é o fim? (Ec 8.10; 9.2-3; 9.10)


8. A relatividade moral
            .A solucao hedonista: (Ec 2.24)
            .Sexo: Uma alternativa (Ec 2.8)
            .Universalismo soteriológico (Ec 2.24; 3.20)

           
Fatores determinantes da Cosmovisão Secularizada

1. Perda da relação com o Deus pessoal
a)- Provavelmente este texto foi escrito por Salomão (Ec 1.1,12) no período em que esteve afastado do Deus de Israel (1 Rs 11.1-13). Isto certamente gerou uma profunda falta de sentido na sua existência: Separado de Deus, quem pode comer ou alegrar-se?”

b)-  Ausência de relação pessoal com Deus - Em nenhum texto de Eclesiastes aparece o nome Iahweh, que é o Deus pessoal dos judeus, o Deus das alianças. Em contrapartida surge o nome Elohim, um nome mais genérico para Deus, que pode ser uma referência a “deuses”,  ou o Deus criador. Conceito muito próximo do deísmo. Provavelmente a ideia que o autor tinha de Deus era de alguém distante, ainda que poderoso.

Sendo Eclesiastes um livro tão ambíguo, por que ele encontra-se no cânon das Escrituras?
  1. Por ser um dos livros que mais nos ensina a refletir sobre a maneira como o homem sem Deus vive e pensa, isto se torna muito marcante diante do positivismo e existencialismo do séc. XX;

  1. Porque embora não traduzindo o pensamento de Deus, mas sim o do homem debaixo do sol, expressão que aparece 29 vezes, abre-nos uma porta para anunciarmos o Evangelho pelo sentimento mais avassalador do homem de hoje: “ O vazio” (vaidade, do hebraico, hebhel, lit. significa “Bolha de sabão”.

  1. Eclesiastes é um livro que precisa ser exposto pelos pastores e analisado peos cristãos para que não seja exposto por liberais e heresias tão bem identificadas com tais conceitos como o arianismo (testemunha de Jeová), e epicurismo;

  1. Tudo o que se encontra nas Escrituras serve para nos ensinar, pois toda Escritura é inspirada por Deus – (2 Tm 3.16)

O que contribuiu para que estas conclusões teológicas e éticas senão as contradições que o autor experimentou na sua própria experiência? Como reagimos ao nos depararmos com fatos ambíguos como:

a. Eternidade no coração e inacessibilidade aos mistérios – (Ec 3.11)
            -A limitação - (Ec 8.17)
            -A impotência - (Ec 8.8)

b. A aparente indiferenciação homem/animal - (Ec 3.18-21). Homens e animais parecem ter o mesmo fôlego de vida. Ambos morrem abrupta e estupidamente – contrasta com Hb 1.13-14

c. A falta de justiça imediata - (Ec 4.1)
O caótico estado de coisa gera insensibilidade e agnosticismo. Se Deus é poderoso parece não ser bom, se ele é bom, parece não ser poderoso:
            -Justos morrendo e perversos tendo sua vida prolongada;
            -A falta de justiça que estimula atividades sociais desumanas - (Ec 8.11)

d. A opressão como meio de relação - (Ec 4.1; 5.8; 7.7)
O pregador percebe como a opressão é amplamente usada, mas o cotidiano parece indiferente a tais realidades. O universo torna-se assim, frio e silencioso (Sl 73.3-13)

e. A aparente falta de sentido no viver -

Justos sofrendo e perversos sendo celebrados – (Ec 8.10-14). Jó, no seu sofrimento questionou profundamente a “ausência de Deus” (Jó 24.1-12), e na sua angústia chegou a acreditar que Deus não considerava “anormal” a perversidade do homem (Jó 21.1-16; 24.13). 

O Conceito de "hebhel" em Eclesiastes







TUDO É VAIDADE









I. FASCÍNIO E CRISE - A experiência filosófica do viver
1.1.  O falso brilho da existência: “Bolha de sabão”
1.2. A leveza do viver insustentável - “Correndo atrás do vento” (Ec 1.14,17; 2.11, 17, 26;  4.4; 6.16)
A fadiga - (Ec 2.10, 11; 9.9)
O aborrecimento - (Ec 2.17)
Dores - (Ec 2.23)
Enfado e monotonia -  (Ec 5.7)

3. O NADA COMO REALIDADE EXISTENCIAL - (Ec 6.11) “Tudo é vaidade”.
A finitude da existência - (Ec 8.7; 6.12)
O homem como ser meramente biológico - (Ec 3.18-21)
O paradoxo da existência - (Ec 8.10; 7.17; 8.14)
A impotência da humanidade – (8.8; 8.17)

3.1.O SER E O NADA - A angústia existencial do nihilismo
O pessimismo - 2:24; 8:15; 9: 7
A falta de propósito nas realizações (Ec 2.11-12)
A loucura do riso (Ec 2,1,2; 7.2-4)
O despropósito da alegria - (Ec 2.2)

3.2. O KOHELETH E A DOR DO VAZIO
O vazio da natureza - (Ec 1.5-7)
O vazio da história - (Ec 1.48-11; 3.15)
O vazio do saber - (Ec 1.18, 13; 2.15; 6.8; 12.12)

4. EM BUSCA DE UMA SIGNIFICATIVA EXISTÊNCIA -
A loucura como opção existencial - (Ec 2.3)
O fascínio do ter - (Ec 2.4-8; 6.2; 10-13)
O fascínio do sexo - (Ec 2.8; 7.28)
O fascínio do poder - (Ec 2.9; 4.15, 16; 4.14-16)
O fascínio do conhecimento - (Ec 2.9,15)
O vazio pede passagem - (Ec 6.11)

5. DESESPERO E ESPERANÇA
A completa impossibilidade de sentido
“Tudo”  é Hebhel – (Ec 1.2; 2.17; 11.8; 12.8)
A alternativa – (Ec 12.13; 5.7)
Conciliando o inteiramente outro na realidade existencial – 2.24-26; 6.19



domingo, 16 de agosto de 2015

Um esboço de Eclesiastes à luz do Existencialismo

TUDO É VAIDADE

O CONCEITO DE “HEBHEL” EM ECLESIASTES

I. FASCÍNIO E CRISE - A experiência filosófica do viver

1.1.  O BRILHO DA EXISTÊNCIA - "Bolha de sabão"

2. 2. A LEVEZA DO VIVER INSUSTENTÁVEL - 
          “Correndo atrás do vento” 1:14,17; 2:11, 17, 26;  4:4; 6:16
A fadiga - 2:10, 11; 9:9
O aborrecimento - 2:17
Dores - 2:23
Enfado - 5:7

3. O NADA COMO REALIDADE EXISTENCIAL - 6:11 “Tudo é vaidade”.
A finitude da existência - 8:7; 6:12
O homem como ser meramente biológico - 3:18-21
O paradoxo da existência - 8:10; 7:17; 8:14
A impotência da humanidade - 8:8; 8:17

3.1.O SER E O NADA - A angústia existencial do nihilismo
O pessimismo - 2:24; 8:15; 9: 7
A falta de propósito nas realizações - O trabalho
A impossível experiência do riso - 2:1,2; 7:2-4
A loucura do riso - 2:2
O despropósito da alegria - 2:2

3.2. O KOHELETH E A DOR DO VAZIO
O vazio da natureza - 1:5-7
O vazio da história - 1:48-11; 3:15
O vazio do saber - 1;18, 13; 2:15; 6:8; 12:12;

4. EM BUSCA DE UMA SIGNIFICATIVA EXISTÊNCIA -
A loucura como opção existencial - 2:3
O fascínio do ter - 2:4-8; 6:2; 10-13
O fascínio do sexo - 2:8; 7:28
O fascínio do poder - 2:9; 4:15, 16; 4:14-16
O fascínio do conhecimento - 2:9,15
O vazio pede passagem - 6:11

5. DESESPERO E ESPERANÇA
A completa impossibilidade de sentido:
“Tudo”  é Hebhel - 1:2; 2:17; 11:8; 12:8
A alternativa - 12:13; 5:7
Tentando conciliar o inteiramente outro na realidade existencial - 2:24-26; 6:19