domingo, 30 de agosto de 2015

Jr 39.1-10 O Perigo das brechas



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Introdução:



No filme "O Advogado do diabo", que recomendo muito, há uma cena na qual o advogado (Keanus Reaves)  e o próprio "coisa ruim" - Al Pacino (usando uma linguagem de C.S.Lewis), estão andando de metrô em New York, e indaga: "Por que você sempre anda de metrô?". E ele responde ironicamente: "Nós andamos nas brechas!"

Durante dois anos, do nono até o 11o. Ano de Zedequias, Jerusalém ficou sitiada.
Imagine o terror e a angústia daqueles que se encontravam dentro de Jerusalém, o rufar dos tambores, a movimentação do exército dos caldeus do lado de fora. Era apenas uma questão de tempo. Eles seriam trucidados pelos caldeus, a menos que Deus interviesse nada poderia ser feito. Neste caso, isto não aconteceria, ja que o próprio Deus havia afirmado que ele mesmo havia suscitado os caldeus para esta invasão (Hab 1.1-7).
A situação das pessoas dentro dos muros era angustiante, porque a comida estava acabando, as pessoas faziam qualquer negócio por um bocado de trigo. Finalmente o exército inimigo conseguiu fazer uma brecha, e a cidade é tomada.
A afirmação do vs 2 é veemente: “Era o undécimo ano de Zedequias, no quarto mês, aos nove do mês, quando se fez uma brecha na cidade, então entraram todos os principies do rei da Babilênia” (Jr 39.2,3a).

Este é um texto com profunda similaridade na vida cristã. A cidade ruiu quando a brecha se formou. A vida se fragiliza quando permite brechas.
A fortaleza de nossa vida, a estrutura da casa, se mantém firme, quando não existem brechas. A partir deste momento, tudo é frágil. Brechas espirituais sao uma das grandes tragédias da vida cristã.

Como se formam as brechas?

1. Brechas se abrem quando necessidades e impulsos primais não são resolvidos – (Jr 52.5-6)

A cidade de Jerusalém foi tomada quando a situação se tornou caótica.
As mãos da mulheres outrora compassivas cozeram seus próprios filhos; estes lhes serviram de alimento” (Lam 4.10). Na linguagem do profeta jeremias, “os meninos e as crianças de peito desfalecem pelas ruas da cidade, dizendo às suas mães: Onde há pão e vinho?”

O problema, na verdade, é que quando não se resolve internamente a questão do coração, abre-se possibilidades para a queda. Não é a sedução o maior problema, e sim a atração daquele que é seduzido. Não é a comida o problema, é a fome que leva ao desespero. Não é a tentação o problema, mas a luxúria da alma. A Bíblia diz: “Cada um é tentado segundo a sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1.14).

Jerusalém caiu quando não havia mais força interna para lutar.

2. Brechas se abrem quando a força do inimigo de fora torna-se mais forte que a interna.

Foi isto que aconteceu com Jerusalém. Os caldeus estavam fortalecidos, os judeus enfraquecidos. Se os judeus tivessem força suficiente, eles teriam resistido, mas o poder do inimigo era mais forte. Sua insistência e constância em usar os arrietes contra a muralha, foram recompensados. Finalmente encontraram um lugar onde não era possível sustentar a força mortal do inimigo.

Funciona como um vírus. Geralmente somos devastados por eles, quando o sistema imunológico do corpo está fraco. Não havendo força interna, o inimigo se torna mortal.

O câncer normalmente aflora depois de períodos de grande tristeza ou frustração. Os oncologistas afirmam que todo corpo humano possui certa predisposição cancerígena, mas quando a auto imunidade está baixa, torna-se presa fácil para o seu desenvolvimento. O vírus estava lá, mas não aparecia, e talvez nunca surgisse, mas vindo a debilidade física, ele se manifesta.

3. Brechas se abrem pelo ponto mais frágil da muralha – Inimigos são atentos e persistentes. Os caldeus devem ter tentado usar suas máquinas de guerra para por abaixo a muralha de Jerusalém, até que, finalmente, descobriram uma área por onde seria possível abrir uma pequena brecha. Depois da brecha aberta, não há mais resistência.

O mesmo se dá conosco. Todos temos áreas sensíveis, mesmo os heróis. Na mitologia grega, Aquiles tinha o ponto frágil no seu calcanhar. Ele era herói na Grécia e foi um dos participantes da Guerra de Tróia, o maior guerreiro e o personagem principal da Ilíada, de Homero. Era o mais bonito dos heróis e o melhor deles, invulnerável em todos o seu corpo. Nada o atingia, exceto seu calcanhar. Sua morte teria sido causada por uma flecha envenenada que atingiu exatamente este ponto frágil.

Assim foi com Sansão.

Grande e forte guerreiro judeu. Sua força residia nos seus cabelos, mas se formos atentos veremos que na verdade, sua fraqueza estava na luxúria. Sansão, o imbatível, era presa fácil de amores tóxicos, de relacionamentos complicados, e ele era facilmente seduzido e envolvido nestas tramas que o enfraqueciam. Sua sexualidade mal direcionada, se tornou uma tragédia na sua vida e o levou à morte.

Qual é o seu ponto frágil?
Quais são suas áreas de vulnerabilidade?
Se o inimigo tiver acesso a estas áreas, ou se elas estiverem desprotegidas, você pode ser destruído: Uma paixão, uma sedução, uma proposta financeira, indecente mas “irrecusável”, o poder, o glamour, a fama.

Existem ainda outras coisas sutis. Por exemplo, a reputação, a auto estima, auto imagem, finanças, tristeza, ansiedade. Estas coisas relativamente boas podem se tornar idolátricas e nos destruir.

Reputação.
Todos queremos ter um nome respeitável e desejamos ser admirados por nossa integridade, mas eventualmente nos tornamos hipersensíveis ou até mesmo negamos pecados que deveriam ser abandonados, porque desejamos a reputação, mesmo quando ela já não existe. Quando Saul se viu abandonado por Deus por causa de sua rebeldia, ele disse a Samuel. “Pequei, agora, honra-me perante os anciãos” (1 Sm 15.30). Que honra ele queria? Dos homens? De Deus? Ele não estava se preocupado em arrepender, mas em manter a aparência.

Auto estima.
Somos tão desejosos da aprovação dos outros que eventualmente nos tornamos vítimas das circunstâncias ou pessoas. É Nossa fragilidade interior. Não descobrimos ainda que nosso valor e identidade estão em Deus, tentamos a todo tempo ficar provar diante dos homens quão responsáveis, íntegros e justos somos, e quando algum ponto é colocado em xeque, nos irritamos profundamente, nos deprimimos, porque nosso valor não está em Deus, mas no reconhecimento e aplauso humano.

Auto imagem.
Queremos manter imagem de pessoa bonita, sair bem na fotografia, ser admirado pelos outros. Narciso nos engole e achamos isto respeitável, qualquer variação da balança para cima pode nos destruir, porque não podemos deixar de ser auto enamorado. Como somos sedentos de aprovação e elogios. Se alguma observação negativa é feita quanto à imagem, sentimo-nos destruídos, porque o ídolo, que sou eu mesmo, se quebra. Você se esqueceu que seu valor está em Deus, e não nas plásticas e cosméticos usados.

Finanças
O mesmo se dá com o dinheiro. Tudo tem que estar sob controle e quando alguma coisa se esvai, você se desespera. Por que? O valor está na conta bancária, nos recursos adquiridos, e não em Deus.

Basileia Schlink afirma:
“Geralmente dizemos, embora com aparência piedosa: Estou desesperado. O que deveríamos fazer é admitir que estamos nos rebelando... estamos insultando a Deus... como podemos recusar confiar no seu amor? ... dissimulamos nosso ressentimento quando coisas amargas nos sucedem, dizendo: Não consigo mais crer no amor de Deus. Com esta descrença, não apenas impedimos Deus de operar em nós, como deixamos de oferecer aos outros nosso testemunho de fé”
(Nunca mais serás o mesmo, Editora Co-Lab, Umuarama-PR, 1972, pg 73,74).

Por onde o inimigo vai atacar?

Pela área mais frágil. O ponto no qual somos mais facilmente atingidos: ansiedade, luxúria, angustia, medo. Qual é a área que o inimigo tem conseguido obter vitória? Este é o ponto crítico.
Jerusalém foi tomada “quando se fez uma brecha na cidade”. O inimigo descobriu o ponto mais vulnerável e ali concentrou todo seu poderio bélico. Jerusalém não resistiu e caiu. Não tenha dúvidas, esta é a sua história!

4. Brechas são formadas quando insistimos em viver uma vida de pecado - Durante anos os profetas vinham advertindo os líderes de Israel que a vida de pecado, rebelião e idolatria atrairiam a ira de Deus sobre a nação. Eles, contudo, ignoram a Palavra de Deus e vivem do seu jeito.
No caso de Jerusalém, vemos que as brechas foram apenas o ápice dos resíduos pecaminosos gerados pela desobediência de uma nação que se recusa a andar no conselho do Senhor. Brechas tornam-se este "ponto visível", este "momento", em que se revelam a maldade e a obstinação. Brechas não acontecem de uma hora para a outra, mas levam anos para se manifestarem.
Em Gn 15.16 Deus afirma que daria a terra de Canaã ao seu povo, quando seu juízo fosse exercido sobre os amorreus. Abraão e seus descendentes iriam para o Egito, ficariam 400 anos, até que "se enchesse a medida da iniquidade dos amorreus", e então seriam julgados.
O mesmo se deu com Israel. Deus é longânimo. Não tem pressa em exercer sua ira. Mas ele julgará, no seu tempo, na hora certa.
Vida de pecado abre brechas históricas, e eventualmente estas brechas demoram a se manifestar. O povo judeu estava agora experimentando o julgamento, que eles acreditavam que nunca viria sobre sua vida.

Quais são os efeitos da brecha?

1. Ela nos deixa desprotegido – Quando deixamos brechas na nossa vida nos tornamos frágeis e vulneráveis.

Jerusalém não esboça nenhuma reação. No dia em que se abriu a brecha, a cidade foi tomada. Brechas morais nos destroem.

Pense em Davi.

Um homem segundo o coração de Deus. A partir do momento em que ele se envolveu num romance hollydiano com Bate-seba, trouxe para dentro de sua casa desgraça e morte. A brecha estava aberta.
Satanás quer encontrar apenas uma brecha pela qual ele possa entrar com seu poderio bélico.
Certa vez visitei o Sr.Marinho Salviano, na cidade de Cachoeiro do Itapemirim. Ele sempre trabalhou com mármore e granito, produzindo valioso material para exportação. Ele me ensinou como se fazia antigamente para retirar um bloco de pedra que seria transportado. Havia homens na região que eram peritos em olhar para uma pedra e descobrir onde ela seria facilmente rachada. Nesta área mais sensível da rocha, colocavam uma cunha, no outro dia voltavam e batiam novamente a marreta naquela cunha, e lentamente a pedra ia rachando. Esta é uma boa analogia da obra de satanás em nossa vida. Lentamente ele vai dilapidando valores. Por isto que a Bíblia afirma que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). Paulo não fala de maus hábitos, e más condutas. São apenas conversas, sugestões. No contexto em que ele se referia tinha a ver com alguns irmãos que ensinavam não haver ressurreição. Esta conversa herética, ia se repetindo e dentro de pouco o tempo, passava a ser considerada verdadeira. Uma pequena brecha. Uma dialogo aparentemente incipiente e inofensivo, e de repente, abria-se um grande buraco.

2. Brechas causam dispersão e fuga – “Todos os homens de guerra fugiram, e de noite saíram da cidade”(Jr 39.4). Se havia alguma possibilidade de resistência, agora não mais.

Todos os homens que poderiam resistir ao inimigo, agora se transformam em coelhos assustados fugindo de uma ave de rapina. Ela enfraquece a resistência, gera desespero. Não há lugar para fugir, mas todos querem tentar escapar do inimigo. Não há lugar seguro, nem fortaleza onde se ocultar.

3. Brechas causam destruição e morte – A situação de Jerusalém se escancara. Jeremias descreve a trágica situação: “Os meus filhinhos tiveram que ir para o exilio, na frente do adversário” (Lam 1.5). “Jazem por terra pelas ruas o moço e o velho; as minhas virgens e os meus jovens vieram a cair à espada” (Lam 2.21).

Brechas são sinais para que a dor, a vergonha, a tristeza, a derrota nos atinja. Em Jr 39.6-7 a sentença é dada: “O rei da Babilônia mandou matar, em Ribla, os filhos de Zedequias à vista deste; também matou a todos os príncipes de Judá. Vazou os olhos a Zedequias e o atou com duas cadeias de bronze, para o levar à Babilônia. Os caldeus queimaram a casa do rei e as casas do povo e derribaram os muros de Jerusalém”.

4. Vergonha e humilhação para o nome de Deus – “No décimo dia do quinto mês, do ano décimo nono de Nabudonozor, rei da Babilônia, Neburazadã, o chefe da guarda derribou todos os muros em redor de Jerusalém. E queimou a Casa do Senhor e a casa do rei, como também todas as casas de Jerusalém; também entregou às chamas todos os edifícios importantes” (Lm 52.12-14).

O templo simbolizava a presença de Deus no meio do povo. A vitória sobre um povo significa a derrota deste Deus. Isto, aos olhos das nações vizinhas e do próprio povo, representava que o Deus de Israel era um Deus sem poder, sem capacidade de livrar e salvar o seu próprio povo.


5. Brechas trazem danos e graves consequências às gerações futuras. O efeito não é apenas imediato. Tem implicações históricas. (Gn 52.28-30). Os profetas demonstram quanto isto duraria: setenta anos de cativeiro, orfandade, abandono da terra, templo.

O profeta Jeremias descreve a sua dor:
“Como jaz solitária a cidade outrora populosa! Tornou-se como viúva a que foi grande entre as nações; província entre as províncias, ficou sujeita a trabalhos forçados!” (Lam 1.1).

Isto é facilmente percebido na história de Ló.
Seu envolvimento com suas filhas formou dois povos: Amonitas e Moabitas. As crianças que nasceram deste nascimento incestuoso se tornaram um povo eternamente envolvido com bruxarias e prostituição. O pecado de Ló trouxe esta situação caótica para sua própria família.
Paul Meyers afirma: 
“Tudo o que deixamos, de bom ou ruim, é o nosso legado”. 
Integridade gera efeitos positivos para as futuras gerações, mas pecados abrem possibilidades para a força do mal, para ação das trevas, para que o inimigo penetre sorrateiramente na história.

Conclusão
Quem é capaz de se proteger completamente de suas fraquezas e brechas? Paulo pergunta de forma retórica: "Quem é suficiente para estas coisas?" (2 Co 2.16), para depois responder: "A nossa suficiência vem de Cristo" (2 Co 3.5).
Precisamos do poder do Espirito Santo
Precisamos da cobertura do sangue do Cordeiro.
Precisamos nos aproximar da luz, para que sejamos iluminados interiormente pela sua poderosa graça. Para sermos purificados da culpa do pecado e do pecado com sua natureza devastadora.
No livro de Neemias 6.1 há uma declaração de vitória, quando os restauradores do muro percebem que "já não havia nenhuma brecha". Que benção quando sabemos que a obra de Cristo nos edifica e constrói completamente uma nova identidade, nos dá um novo nome.
Davi contemplou esta maravilhosa graça do perdão que Deus dá. Ele conheceu antecipadamente o que o Evangelho anuncia.
"Bem aventurado o homem a quem Deus não atribui iniquidade" .
Ele não faz menção a alguém que não havia cometido pecado, pelo contrário, ele sabia quão condenado estaria sem a maravilhosa graça e restauração divina não o tivesse redimido. Deus imputou justiça, e não atribuiu iniquidade. O seu pecado fora perdoado. Agora ele estava limpo aos olhos de Deus, e sua amarra de consciência estava liberta.
Aleluia!!!

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