segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ec 12.1 O que todo idoso deveria lembrar...


Introdução:

Este texto é autobiográfico. Salomão esta falando de si mesmo e de suas experiências e vivencias. Ele começou sua vida tendo ricas experiências com Deus, posteriormente, porém, se afastou de Deus e “O Senhor se indignou contra Salomão pois desviara o seu coração do Senhor, Deus de Israel”(1 Rs 11.9). Longe de Deus, ele registrou o vazio de sua experiência humana, revelando que apesar de toda riqueza, poder, fama, sexo, sua alma tornou-se vazia e sem sentido, e ele experimentou o pessimismo e o ceticismo decorrentes de uma vida sem Deus.

Neste texto, o último capítulo de Eclesiastes, ele faz um relato dramático desta situação, agora, sem saúde e alegria, fala da velhice, das sensações que experimenta, por isto a recomendação do primeiro versículo é saudosista e bem hedonista. É uma pessoa idosa fazendo recomendações aos jovens.

Alegra-te jovem na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua juventude; 
remove da tua carne o desgosto e a amargura, sabe, porém, que de todas 
estas coisas Deus te pedirá contas” (Ec  11.1).

Salomão vê a velhice, como uma época de falta de prazer – “Antes que venham os maus dias nos quais dirás: não tenho neles prazer” (Ec 12.1).

Salomão era uma pessoa vaidosa. Talvez a vaidade tenha sido a principal causa de seu vazio existencial. Ele tinha obsessão pela imagem, sempre buscou afirmação social, reconhecimento político, por isto se casou com a filha de Faraó, apesar da ordem explicita de Deus, para que os filhos de Israel não se casassem com pessoas pagãs, porque Faraó era importante e dava glamour ao seu reinado e trazia apreciação das outras pessoas, as pessoas de oposição e outros reinos ao redor de Israel.

Salomão era dominado pela vaidade. Ele teve que calçar os sapatos de seu pai que era um herói e assumiu o trono em meio a tensões familiares e muitas disputas. Ele era novo e inexperiente em questões políticas e pesava sobre seus ombros o fato de ter nascido de uma relação adulterina. Apesar de ter sido chamado por Deus para construir o templo, o projeto já havia sido feito pelo seu pai e ele desejava fazer bem mais que seu pai.  Sua vida se tornou uma tentativa de afirmação (Ec 2.9-10). Tornou-se maior na sua mente que em sua vida. Taxou severamente seus súditos ao ponto de exaustão por causa de seus caprichos e decidiu se casar com mulheres gentias para ampliar seu reino, apesar da ordem clara do Senhor (Dt 17.16-17). Sua imagem era mais importante que obediência. Na meia idade encontrou-se com seu lado negro.

Na velhice, teve que lidar com sua decadência física, e com a dura realidade de que “a juventude e a primavera da vida são vaidade”. Ele construiu sua vida sobre estes pressupostos de virilidade, conquistador, charme, e agora percebe que sua vida era vazia e sem sentido algum. Ele vivera numa bolha de sabão.

Salomão seria no nosso dia o que chamamos de um homem midiático. O holofote, a mídia, e a imprensa, são algumas das coisas mais tentadoras da vida e que mais facilmente pervertem o coração do homem. Scott Peck afirma que Satanás é um ser de penumbra e das sombras, por onde transita muito bem, mas se revela e é descoberto por um simples detalhe: ele gosta de se mostrar, afinal, “vaidade é seu pecado predileto”. Quando o ser humano projeta todo prazer na beleza ou na performance, num determinado momento, perde o prazer na vida, porque não encontrou em Deus o que realmente importa.

É certo que a velhice impõe limites, e quando isto acontece, precisamos encontrar prazer em outras realidades: na vida com Deus, na família, em relacionamentos. Envelhecer é uma arte e uma benção. Lamentavelmente, nem todos sabem desfrutá-la. Salomão deixa claro sua agonia agora com a velhice. Pensamento semelhante teve Jorge Amado, um escritor desbocado que chega ao final de sua vida e se depara com a dura realidade da velhice e não tem outro prazer senão na boemia. Por isto sua afirmação agressiva de que “a velhice é uma ______”.

No entanto, aos olhos de Deus, a velhice é sinal de benção. Quando o Senhor amaldiçoou a Eli e sua casa, proferiu uma dura palavra contra sua família. “...Para que não haja velho nenhum em tua casa” (1 Sm 2.31) e, “todos os descendentes de sua casa morrerão na flor da idade” (1 Sm 2.35) Este juízo e maldição de Deus foram decorrentes da atitude dos filhos de Eli, que sendo sacerdotes no templo, tratavam as coisas espirituais e os sacrifícios trazidos a Deus com desprezo. Certamente este texto profético é uma alerta séria aos sacerdotes, pastores e bispos que atualmente lidam com descaso ou em benefício pessoal com as ofertas que o povo de Deus traz para adoração.

Velhice é benção. Não ter idosos em uma casa... maldição.  Entretanto, Salomão não consegue ter esta percepção da velhice. Ele afirma que não tinha prazer na velhice. Não experimentar esta alegria é um padrão comum? É isto que nos aguarda quando envelhecemos? É possível encontrar prazer na velhice? A Bíblia garante que sim.

Veja a oração, cujo título é “suplicas de um ancião”, descrita no Salmo 71: “Em ti, Senhor, me refugio; não seja eu jamais envergonhado...Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade; e até agora tenho anunciado as tuas maravilhas. Não me desampares, pois, ó Deus, até a minha velhice e às cãs; até que eu tenha declarado à presente geração a tua força, e ás vindouras o teu poder” (Sl 71.1,17-18). Não é esta uma oração carregada de expectativa e anseios divinos no coração? Não deveria ser esta realidade de um servo de Deus? Continuar glorificando a Deus e dando testemunho de sua bondade?

Quando participamos de um aniversário de uma pessoa com oitenta, noventa anos, não é este um motivo de júbilo e louvor? O autor deste Salmo é uma pessoa idosa, que continuava anunciando as maravilhas de Deus e que gostaria de poder, na sua velhice, continuar declarando à presente geração a força e o poder de Deus às vindouras gerações. Seu coração está cheio de louvor, o seu prazer está certamente centrado em Deus. Ele continua bendizendo e glorificando o Senhor.
Para Salomão, contudo, a velhice é vivida sem expectativa, e a descrição que ele faz é pessimista e cínica. Não há nada de bom.
a.       Ele fala da falta de visão – Ec 12.2
b.       Ele fala da falta de vigor nos braços – Ec 12.3
c.        Ele considera a falta de firmeza e as fraquezas das pernas – Ec 12.3
d.       Ele fala da dificuldade de mastigar – Ec 12.3
e.        Ele fala da perda da voz – Ec 12.4
f.         Ele fala da perda da audição – Ec 12.4
g.       Ele fala dos temores próprios da velhice – Ec 12.5
h.       Ele fala da falta de apetite – Ec 12.5
i.         Ele fala da sensação da morte se aproximando – “porque veias à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça” – Ec 12.5 Ele percebe as pessoas preocupadas com sua saúde, comentando em sussurro sobre seu estado físico, e os pranteadores por perto, carpideiras que chorarão a sua morte. Cenário fúnebre.
j.         Ele fala da realidade da morte – Ec 12.6,7 “E o pó volte a terra que era, e o espírito volte à Deus que o deu”.

E conclui finalmente, afirmando e reiterando que, tudo é vaidade, vazio e sem sentido. A vida é um chiste; a morte, uma brincadeira de mau gosto.

Salomão não consegue encontrar na vida e na velhice, algo que lhe plenifique, que dê sentido. Não é assim que vemos outros homens da Bíblia, pelo contrario, podemos citar quatro pessoas, duas do Antigo e duas do Novo Testamento, expressando a confiança e percebendo o cuidado de Deus em sua velhice.

A.                   Abraão – a Bíblia fala que ele morreu “em ditosa velhice”. “Expirou Abraão; morreu em ditosa velhice, avançado em anos, e foi reunido ao seu povo” (Gn 25.8).
B.                   Calebe – Aos 80 anos, o encontramos cheio de expectativa sobre a vida, fazendo planos e sentindo-se fortalecido em Deus (Js 14.10,11).
C.                   Profetisa Ana – Uma mulher idosa, cheia de piedade. “Não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejum e orações”. Gente que encontra sentido em orar, adorar, interceder e esperar no Senhor – (Lc 2.36-38).
D.                   Simeão – Homem idoso, justo e piedoso, que “esperava a consolação de Israel, e o Espirito Santo estava sobre ele”. Era idoso, mas encharcado da santa expectativa messiânica e da obra de Deus. Frágil fisicamente, mas forte em espírito e fé. (Lc 2.25-35).

A vida destes homens de fé revelam como a piedade e a vida de adoração são fundamentais na forma como encaramos a velhice. Sabemos que todo o relato de Salomão é verdadeiro, quanto aos limites físicos, mas esta limitação não pode retirar o entusiasmo na vida de uma pessoa que ama a Deus.

A realidade e os limites

Ao revelar toda a fragilidade da vida e da idade, este texto nos ensina a entender que a velhice traz, de fato, muitos percalços, e não precisamos ignorar isto. Perde-se o prazer em várias coisas: No olfato, paladar, audição (Ec 12.1,2,5). Determinados medos parecem se aguçar: perna frágil, braços fraquejam, olhos tornam-se embaçados, perda do vigor e autoridade, irritabilidade e impaciência, pequenos problemas para superlativos, até o gafanhoto parece ameaçar. São as limitações que a idade impõe.

Além de todos estes limites, a realidade da morte torna-se mais presente. Qualquer pessoa pode morrer, a qualquer hora, mas para uma pessoa de 80 anos ela se torna muito mais presente (ou consciente), afinal, quantos conseguem romper a barreira de 80? E se rompem, quantos chegam a 90?

Billy Graham afirma que “a igreja ensina as pessoas sobre a morte, mas não sobre a velhice”. Por esta razão, não raramente, mesmo pessoas que amam a Deus encontram certa dificuldade em desfrutar e descobrir dentro dos limites da idade, o plano que o Senhor tem para o seu povo.

Existe um texto na Bíblia que particularmente não gosto. Eu sei que ele é verdadeiro, quem o proferiu foi o próprio Senhor Jesus, mas ele fala de realidades e limites pesados. “Em verdade, em verdade te digo, que quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir” (Jo 21.18). O ato de “cingir-se”, é o simples ato de poder colocar a roupa que quiser, amarrá-la bem, já que se usavam grandes roupões, e sair andando pela estrada. Jesus está afirmando que o direito de se vestir, de ir e vir, não será possível, já que estenderemos a mão às pessoas que nos levarão “para onde não queremos”. Eu não aprecio a ideia de ser levado para onde não quero. Eu quero ter meus direitos de ir e vir, minha independência e minha liberdade. Mas dependendo da minha idade e às condições de minha saúde, até este direito me será tirado. Outros vão me vestir? Eu não quero ninguém me vestindo... Outros me levarão para onde não quero? Eu não gosto de ir para onde eu não quero ir... Estes são os limites da idade – Esta é a realidade da velhice.

As promessas

Por outro lado, as promessas de Deus para a velhice são abundantes de graça: “Coroa e honra são as cãs (os cabelos brancos), quando se acham no caminho da justiça” (Pv 16.31); “Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e verdor” (Sl 92.14); “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espirito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos” (At 2.17). Sempre associamos sonhos aos jovens, mas Deus está afirmando que ele ainda nos dará a benção de sonhar na velhice. Que promessa fantástica”!

Conclusão: O que devemos lembrar?


  1. A vida passa rápido – Não perca oportunidade de fazer aquilo que você só poderá fazer agora. Dance enquanto pode, viaje enquanto tem saúde, coma e durma bem, não entregue os pontos antes da hora, se o corpo tá doendo, esforce-se enquanto ainda é possível. Esta é a hora!

  2. Devemos nos preparar para morrer – Isto implica em ter certas coisas claras quanto à realidade e os limites da idade. Envelhecer precisa ser uma arte, precisamos aprender que vamos nos deparar com os limites próprios de cada idade, mas celebrar até mesmo os limites em cada uma destas estações da vida. Quando não puder visitar os outros, poderei orar. Quando não conseguir correr 1 Km, vou andar. Entender os limites nos ajuda a não ficarmos ansiosos por aquilo que não temos mais, nem morrermos de saudosismo.

  3. Precisamos nos preparar para morrer – “E o pó volte à terra como o era, e o espirito volte à Deus, que o deu” (Ec 12.7). Seu corpo é pó, vai se desintegrar. Sua vida é transitório – vai passar. Mas seu espirito é imortal e vai voltar a Deus. Você é eterno, sua história não se encerra numa lápide. Por isto a exortação bíblica: “Prepara-te, oh Israel, para te encontrares com o teu Deus”. 

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