Introdução:
Este
texto é autobiográfico. Salomão esta falando de si mesmo e de suas experiências
e vivencias. Ele começou sua vida tendo ricas experiências com Deus,
posteriormente, porém, se afastou de Deus e “O Senhor se indignou contra Salomão
pois desviara o seu coração do Senhor, Deus de Israel”(1 Rs 11.9). Longe de Deus,
ele registrou o vazio de sua experiência humana, revelando que apesar de toda
riqueza, poder, fama, sexo, sua alma tornou-se vazia e sem sentido, e ele
experimentou o pessimismo e o ceticismo decorrentes de uma vida sem Deus.
Neste
texto, o último capítulo de Eclesiastes, ele faz um relato dramático desta
situação, agora, sem saúde e alegria, fala da velhice, das sensações que
experimenta, por isto a recomendação do primeiro versículo é saudosista e bem
hedonista. É uma pessoa idosa fazendo recomendações aos jovens.
“Alegra-te jovem na tua mocidade, e
recreie-se o teu coração nos dias da tua juventude;
remove da tua carne o
desgosto e a amargura, sabe, porém, que de todas
estas coisas Deus te pedirá
contas” (Ec 11.1).
Salomão vê a velhice, como uma época de falta de
prazer – “Antes que venham os maus dias nos quais dirás: não tenho neles prazer”
(Ec 12.1).
Salomão
era uma pessoa vaidosa. Talvez a vaidade tenha sido a principal causa de seu
vazio existencial. Ele tinha obsessão pela imagem, sempre buscou afirmação social,
reconhecimento político, por isto se casou com a filha de Faraó, apesar da
ordem explicita de Deus, para que os filhos de Israel não se casassem com
pessoas pagãs, porque Faraó era importante e dava glamour ao seu reinado e
trazia apreciação das outras pessoas, as pessoas de oposição e outros reinos ao
redor de Israel.
Salomão
era dominado pela vaidade. Ele teve que calçar os sapatos de seu pai que era um
herói e assumiu o trono em meio a tensões familiares e muitas disputas. Ele era
novo e inexperiente em questões políticas e pesava sobre seus ombros o fato de ter
nascido de uma relação adulterina. Apesar de ter sido chamado por Deus para
construir o templo, o projeto já havia sido feito pelo seu pai e ele desejava
fazer bem mais que seu pai. Sua vida se
tornou uma tentativa de afirmação (Ec 2.9-10). Tornou-se maior na sua mente que
em sua vida. Taxou severamente seus súditos ao ponto de exaustão por causa de
seus caprichos e decidiu se casar com mulheres gentias para ampliar seu reino,
apesar da ordem clara do Senhor (Dt 17.16-17). Sua imagem era mais importante
que obediência. Na meia idade encontrou-se com seu lado negro.
Na
velhice, teve que lidar com sua decadência física, e com a dura realidade de
que “a juventude e a primavera da vida são vaidade”. Ele construiu sua vida
sobre estes pressupostos de virilidade, conquistador, charme, e agora percebe
que sua vida era vazia e sem sentido algum. Ele vivera numa bolha de sabão.
Salomão
seria no nosso dia o que chamamos de um homem midiático. O holofote, a mídia, e
a imprensa, são algumas das coisas mais tentadoras da vida e que mais
facilmente pervertem o coração do homem. Scott Peck afirma que Satanás é um ser
de penumbra e das sombras, por onde transita muito bem, mas se revela e é
descoberto por um simples detalhe: ele gosta de se mostrar, afinal, “vaidade é
seu pecado predileto”. Quando o ser humano projeta todo prazer na beleza ou na performance,
num determinado momento, perde o prazer na vida, porque não encontrou em Deus o
que realmente importa.
É
certo que a velhice impõe limites, e quando isto acontece, precisamos encontrar
prazer em outras realidades: na vida com Deus, na família, em relacionamentos.
Envelhecer é uma arte e uma benção. Lamentavelmente, nem todos sabem desfrutá-la.
Salomão deixa claro sua agonia agora com a velhice. Pensamento semelhante teve
Jorge Amado, um escritor desbocado que chega ao final de sua vida e se depara
com a dura realidade da velhice e não tem outro prazer senão na boemia. Por isto
sua afirmação agressiva de que “a velhice é uma ______”.
No
entanto, aos olhos de Deus, a velhice é sinal de benção. Quando o Senhor amaldiçoou
a Eli e sua casa, proferiu uma dura palavra contra sua família. “...Para que não haja velho nenhum em tua casa”
(1 Sm 2.31) e, “todos os descendentes de
sua casa morrerão na flor da idade” (1 Sm 2.35) Este juízo e maldição de Deus
foram decorrentes da atitude dos filhos de Eli, que sendo sacerdotes no templo,
tratavam as coisas espirituais e os sacrifícios trazidos a Deus com desprezo. Certamente
este texto profético é uma alerta séria aos sacerdotes, pastores e bispos que
atualmente lidam com descaso ou em benefício pessoal com as ofertas que o povo
de Deus traz para adoração.
Velhice
é benção. Não ter idosos em uma casa... maldição. Entretanto, Salomão não consegue ter esta percepção
da velhice. Ele afirma que não tinha prazer na velhice. Não experimentar esta
alegria é um padrão comum? É isto que nos aguarda quando envelhecemos? É
possível encontrar prazer na velhice? A Bíblia garante que sim.
Veja a oração, cujo título é “suplicas de um ancião”,
descrita no Salmo 71: “Em ti, Senhor, me refugio; não seja eu jamais
envergonhado...Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade; e até agora
tenho anunciado as tuas maravilhas. Não me desampares, pois, ó Deus, até a
minha velhice e às cãs; até que eu tenha declarado à presente geração a tua
força, e ás vindouras o teu poder” (Sl 71.1,17-18). Não é esta uma oração carregada
de expectativa e anseios divinos no coração? Não deveria ser esta realidade de
um servo de Deus? Continuar glorificando a Deus e dando testemunho de sua
bondade?
Quando participamos de um aniversário de uma pessoa
com oitenta, noventa anos, não é este um motivo de júbilo e louvor? O autor
deste Salmo é uma pessoa idosa, que continuava anunciando as maravilhas de Deus
e que gostaria de poder, na sua velhice, continuar declarando à presente
geração a força e o poder de Deus às vindouras gerações. Seu coração está cheio
de louvor, o seu prazer está certamente centrado em Deus. Ele continua
bendizendo e glorificando o Senhor.
Para Salomão, contudo, a velhice é vivida sem
expectativa, e a descrição que ele faz é pessimista e cínica. Não há nada de
bom.
a. Ele fala da falta de visão – Ec 12.2
b. Ele fala da falta de vigor nos braços – Ec 12.3
c.
Ele considera a
falta de firmeza e as fraquezas das pernas – Ec 12.3
d. Ele fala da dificuldade de mastigar – Ec 12.3
e.
Ele fala da
perda da voz – Ec 12.4
f.
Ele fala da
perda da audição – Ec 12.4
g. Ele fala dos temores próprios da velhice – Ec 12.5
h. Ele fala da falta de apetite – Ec 12.5
i.
Ele fala da
sensação da morte se aproximando – “porque
veias à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça” – Ec 12.5
Ele percebe as pessoas preocupadas com sua saúde, comentando em sussurro sobre
seu estado físico, e os pranteadores por perto, carpideiras que chorarão a sua
morte. Cenário fúnebre.
j.
Ele fala da
realidade da morte – Ec 12.6,7 “E o pó
volte a terra que era, e o espírito volte à Deus que o deu”.
E
conclui finalmente, afirmando e reiterando que, tudo é vaidade, vazio e sem
sentido. A vida é um chiste; a morte, uma brincadeira de mau gosto.
Salomão
não consegue encontrar na vida e na velhice, algo que lhe plenifique, que dê
sentido. Não é assim que vemos outros homens da Bíblia, pelo contrario, podemos
citar quatro pessoas, duas do Antigo e duas do Novo Testamento, expressando a
confiança e percebendo o cuidado de Deus em sua velhice.
A.
Abraão – a Bíblia
fala que ele morreu “em ditosa velhice”.
“Expirou Abraão; morreu em ditosa velhice, avançado em anos, e foi reunido ao
seu povo” (Gn 25.8).
B.
Calebe – Aos 80
anos, o encontramos cheio de expectativa sobre a vida, fazendo planos e
sentindo-se fortalecido em Deus (Js 14.10,11).
C.
Profetisa Ana –
Uma mulher idosa, cheia de piedade. “Não
deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejum e orações”. Gente que
encontra sentido em orar, adorar, interceder e esperar no Senhor – (Lc 2.36-38).
D.
Simeão – Homem
idoso, justo e piedoso, que “esperava a
consolação de Israel, e o Espirito Santo estava sobre ele”. Era idoso, mas
encharcado da santa expectativa messiânica e da obra de Deus. Frágil
fisicamente, mas forte em espírito e fé. (Lc 2.25-35).
A
vida destes homens de fé revelam como a piedade e a vida de adoração são
fundamentais na forma como encaramos a velhice. Sabemos que todo o relato de Salomão
é verdadeiro, quanto aos limites físicos, mas esta limitação não pode retirar o
entusiasmo na vida de uma pessoa que ama a Deus.
A realidade e os limites
Ao
revelar toda a fragilidade da vida e da idade, este texto nos ensina a entender
que a velhice traz, de fato, muitos percalços, e não precisamos ignorar isto. Perde-se
o prazer em várias coisas: No olfato, paladar, audição (Ec 12.1,2,5). Determinados
medos parecem se aguçar: perna frágil, braços fraquejam, olhos tornam-se embaçados,
perda do vigor e autoridade, irritabilidade e impaciência, pequenos problemas
para superlativos, até o gafanhoto parece ameaçar. São as limitações que a
idade impõe.
Além
de todos estes limites, a realidade da morte torna-se mais presente. Qualquer pessoa
pode morrer, a qualquer hora, mas para uma pessoa de 80 anos ela se torna muito
mais presente (ou consciente), afinal, quantos conseguem romper a barreira de
80? E se rompem, quantos chegam a 90?
Billy
Graham afirma que “a igreja ensina as pessoas sobre a morte, mas não sobre a
velhice”. Por esta razão, não raramente, mesmo pessoas que amam a Deus
encontram certa dificuldade em desfrutar e descobrir dentro dos limites da
idade, o plano que o Senhor tem para o seu povo.
Existe
um texto na Bíblia que particularmente não gosto. Eu sei que ele é verdadeiro,
quem o proferiu foi o próprio Senhor Jesus, mas ele fala de realidades e
limites pesados. “Em verdade, em verdade
te digo, que quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde
querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e
te levará para onde não queres ir” (Jo 21.18). O ato de “cingir-se”, é o
simples ato de poder colocar a roupa que quiser, amarrá-la bem, já que se
usavam grandes roupões, e sair andando pela estrada. Jesus está afirmando que o
direito de se vestir, de ir e vir, não será possível, já que estenderemos a mão
às pessoas que nos levarão “para onde não queremos”. Eu não aprecio a ideia de
ser levado para onde não quero. Eu quero ter meus direitos de ir e vir, minha independência
e minha liberdade. Mas dependendo da minha idade e às condições de minha saúde,
até este direito me será tirado. Outros vão me vestir? Eu não quero ninguém me
vestindo... Outros me levarão para onde não quero? Eu não gosto de ir para onde
eu não quero ir... Estes são os limites da idade – Esta é a realidade da
velhice.
As promessas
Por
outro lado, as promessas de Deus para a velhice são abundantes de graça: “Coroa
e honra são as cãs (os cabelos brancos), quando se acham no caminho da justiça”
(Pv 16.31); “Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e verdor” (Sl
92.14); “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu
Espirito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos
jovens terão visões, e sonharão vossos velhos” (At 2.17). Sempre associamos
sonhos aos jovens, mas Deus está afirmando que ele ainda nos dará a benção de
sonhar na velhice. Que promessa fantástica”!
Conclusão: O que devemos lembrar?
- A vida passa rápido – Não perca oportunidade de fazer aquilo que você só poderá fazer
agora. Dance enquanto pode, viaje enquanto tem saúde, coma e durma bem, não
entregue os pontos antes da hora, se o corpo tá doendo, esforce-se
enquanto ainda é possível. Esta é a hora!
- Devemos nos preparar para morrer – Isto implica em ter certas coisas claras quanto à
realidade e os limites da idade. Envelhecer precisa ser uma arte,
precisamos aprender que vamos nos deparar com os limites próprios de cada
idade, mas celebrar até mesmo os limites em cada uma destas estações da
vida. Quando não puder visitar os outros, poderei orar. Quando não conseguir
correr 1 Km, vou andar. Entender os limites nos ajuda a não ficarmos
ansiosos por aquilo que não temos mais, nem morrermos de saudosismo.
- Precisamos nos preparar para morrer – “E o pó
volte à terra como o era, e o espirito volte à Deus, que o deu” (Ec
12.7). Seu corpo é pó, vai se desintegrar. Sua vida é transitório – vai
passar. Mas seu espirito é imortal e vai voltar a Deus. Você é eterno, sua
história não se encerra numa lápide. Por isto a exortação bíblica: “Prepara-te, oh Israel, para te encontrares
com o teu Deus”.
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