Introdução:
Robert Clinton no livro on becoming a leader, afirma que 2/3 dos
líderes cristãos da Bíblia terminaram mal.
Esta é uma estatística assustadora. Personagens como Saul, Salomão, e
muitos outros, começaram seus ministérios com muitos acertos e terminaram suas
vidas provocando o Senhor e em grave processo de rebeldia.
Nossa alma corre perigo.
Saul começou seu reinado com um chamado e
unção especial (1 Sm 9.27), depois teve experiências carismáticas profetizando
no meio de um grupo de profetas, e isto pareceu tão estranho entre o povo,
porque Saul não era exatamente este “rapaz espiritual”, que se tornou
proverbial em Israel, quando alguma coisa não ia bem, afirmar o seguinte: “Também
Saul entre os profetas?”, um tipo de afirmação de um provérbio brasileiro que
afirma: “macacos me mordam!”
Saul teve o privilégio de estruturar Israel
em torno de um conceito monárquico, criar as estruturas e cargos, construir palácios,
criar um exército, consolidar uma liderança. Infelizmente, as sombras de sua
alma foram devorando sua vida e terminou seus anos de forma patética, longe de
Deus, invocando médiuns e espiritas para sua própria condenação (1 Sm 28).
Duas questões tem matado líderes?
Uma externa: Paixões do coração. Quando um
líder despreza a Palavra de Deus, dá ouvidos ao seu próprio coração, nega sua
fé, fere sua família, afasta-se da comunhão da igreja e gera escândalos na
comunidade. Não é uma cena muito difícil de se ver. Lamentavelmente.
Outra interna: Pessoas que nunca causam escândalo,
contudo, seus corações estão frios e apáticos em relação às realidades
espirituais. Sua alma corre sério perigo. Vão sendo consumidos pela apatia. Como Clarice Lispector afirmou no seu poema "Não sentir": "O hábito tem-lhe amortecido as quedas, mas sentindo menos dor, perdeu a vantagem da dor como aviso e sintoma. Hoje em dia vive incomparavelmente mais sereno, porem em grande perigo de vida; pode estar a um passo de estar morrendo, a um passo de já ter morrido, e sem o benefício de seu próprio aviso prévio" (A descoberta do mundo, Rio, Ed. Rocco, 1999, pg 32).
Certamente trata-se de uma cilada envolvente:
O acadêmico Jean Restand foi o primeiro a perceber que se colocasse uma rã numa
vasilha com água quente, ela reagia violentamente e pulava para fora, mas se a
água fosse aquecida lentamente, a rã ficaria entorpecida e morreria queimada.
As tentações e reflexos morais também tendem paulatinamente a perder seu bom
funcionamento quando nos acostumamos com o mal, até que a consciência se torna
completamente entorpecida.
O grande desafio não é ser para fora,
mas ser para Deus. Por isto, nossas motivações, intenções e razões do coração
são escrutinadas por Deus.
Este texto nos fala de Saul, e como seu
coração era capaz de lhe trair.
Eis algumas atitudes refletidas no seu
caráter que devem nos levar a considerar o nosso próprio coração:
- Fazer o que
dá conforto e popularidade ao invés de fazer o que Deus manda – (1 Sm
15.11)
O que Deus mandou ele fazer? O que ele
fez?
Este texto nos fala de alguns perigos:
ó Quando ambientes
e circunstâncias se tornam mais relevantes que princípios. “Forçado pelas circunstâncias” (1 Sm
13.12).
Isto nos leva a pensar que, se não houvesse
pressão, e se as pessoas não tivessem tais expectativas sobre ele, sua reação seria
diferente. Um antigo ditado diz que as pessoas são como saquinhos de chá, nunca
se sabe o que tem dentro até que se derrame água fervendo sobre elas. Salomão cedeu
à pressão das circunstâncias. Os homens são o passatempo preferido das circunstâncias.
ó Quando as
pessoas se tornam mais importantes que Deus. “Pequei... porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz” (1 Sm
15.24).
Quantos de nós não fomos pressionados
pelas pessoas que estão ao nosso redor. O que vão dizer, o que pensarão a nosso
respeito? Popularidade e aceitação pública é um dos grandes riscos de nossa
alma. Precisamos de prudência e graça.
ó Quando as ambições
são maiores que pessoas.
Saul não tinha escrúpulos em usar as
pessoas para conseguir alcançar seus alvos políticos. Ele instrumentalizou sua
filha Mical, entregando-a a Davi para ser esposa, sem perguntar se era isto que
lhe interessava. Posteriormente Mical o enganaria, revelando como a relação dos
dois era complexa. Mais tarde, Saul volta à carga e quando Davi foge do palácio,
para punir o genro, entrega-a a outro homem. Futuramente um incidente chocante
atingiria Israel quando Davi pede de volta a sua esposa.
- Preocupação
com a auto-promoção ao invés da glória de Deus – Salomão,
ao contrário de outros homens piedosos da Bíblia, nunca se preocupou em
promover o nome do Senhor no meio de seu povo. O primeiro altar que
levantou para o Senhor, demorou cerca de sete anos (1 Sm 15.12).
No entanto, ele era muito rápido em relação
a auto-promoção. Ele era um bom marqueteiro. Ele era rápido para chamar atenção
sobre si e construir monumentos para perpetuar seu nome, no entanto, demorado
em glorificar a Deus (1 Sm 14.35).
Isto pode revelar atitudes espirituais
com corações carnais
- Tentativa
inconsciente (ou não) de “enrolar” a Deus. Quando
Samuel questiona sua rebeldia e desobediência, ele se justifica. “Para
sacrificar” (1 Sm 15.13,15).
É a velha tendência de nosso coração de
tentar trazer rosas e presentes à esposa, quando deveríamos pedir perdão e
admitir o erro. Não adianta encher o altar de Deus de ofertas e sacrifícios, se
não houver demonstração de arrependimento. Há um grande risco no ser humano de
tornar-se religioso o suficiente para não ser quebrantado.
Esta estratégia é antiga, mas nunca
funcionou.
Quando Deus procurou Adão, depois dele
ter pecado. Ele não apenas se justificou, mas acusou a deus de estar invadindo
a sua privacidade. Afinal, ele estava nu e se escondeu por esta razão. Por que
Deus não “respeitou” sua individualidade? Deus, porém, não se deixou enrolar
pelos seus discursos filosóficos e psicológicos. Adão precisava de
arrependimento, mas ele quis convencer a Deus de que alguma coisa estava errada
em Deus, e não nele mesmo.
- Relacionamento
“terceirizado” com Deus – O texto é muito claro em
demonstrar como Saul via o Senhor. Ele não fala de Deus como um ser de
relacionamento pessoal, mas refere-se ao Senhor como o Deus de Samuel. O
pronome pessoal aqui mostra claramente seu sentimento. “O Senhor, Teu Deus” (1 Sm 15.15,21,30).
Ele estava distanciado de deus.
Algum tempo atrás visitei uma missão,
cujo pastor tinha um grupo de pessoas, que eram remuneradas para se dedicar a oração
pela missão. Achei a ideia interessante. É maravilhoso ter pessoas que
intercedem dia e noite por nós, e aquele grupo era de fato envolvido neste
processo. No entanto, corre-se o risco de deixar que os outros orem, e que
recebamos apenas as bençãos de suas orações, mas nós mesmos não termos maiores
compromissos espirituais com Deus.
Existe ainda o perigo de termos um relacionamento
impessoal, meramente institucionalizado, nos tornarmos pessoas religiosas, e “igrejadas”.
- Não se
quebrantar diante da verdade, mas insistir em atitudes externas diante do
Deus que não olha para forma, mas para o coração.
Saul reconhece que pecou gravemente
contra Deus. O que fazer agora? Voltar-se para o Senhor em quebrantamento, afinal,
“coração quebrantado e compungido Deus não desprezará”. A coisa mais importante
de sua vida agora era a restauração de sua comunhão com Deus. No entanto, o que
faz Saul? Ele implora a Samuel que o acompanhe no culto, para que não deixasse
de ser honrado perante os anciãos. Isto certamente não era adoração, mas
auto-exaltação (1 Sm 15.30). que glória pode haver quando estamos sendo
inquiridos e confrontados pelo próprio Deus?
Vejo esta atitude muitas vezes em concílios,
quando líderes caem em pecado.
Eles querem manter a reputação, ocultar
as provas, não perderem o nome. Para isto usam de todas as exceções jurídicas possíveis,
reúnem dados mentirosos, criam um processo de mentira, para manter as aparências.
Eles querem se proteger. De quem? Que nome devo ter quando estou diante de Deus?
Que reputação? O mais sério aconteceu, e eu preciso de perdão e restauração, e não
de álibis.“O que confessa e deixa alcança misericórdia, mas o que endurece o
seu coração cairá no mal.
Conclusão
Wayne Cordeiro, na sua mensagem, “líderes
mortos, porém correndo”, fala de sua experiência quando resolveu fazer um
programa ao ar livre, e contratou uma grande equipe para montar uma tenda ao ar
livro para um evento da sua comunidade. No entanto, a chuva caiu torrencialmente.
Apesar de orar pedindo a Deus que impedisse a chuva, ela veio implacavelmente.
Sentindo-se abandonado por Deus, ele
fica chateado, e Deus lhe diz o seguinte: “Wayne, em nenhum momento, você pediu
para que eu estivesse presente. A sensação é que, se não houvesse chovido, e eu
não estivesse presente, estaria tudo certo”.
Assim é que, muitas vezes, diante de sérios
perigos de alma, continuamos agindo como se a nossa vida estivesse numa
aeronave que segue tranquilamente seu curso.
Nossa alma corre perigo.
Precisamos estar alerta! Pedir a benção
e a misericórdia de Deus para viver uma vida de santa piedade e temor.
Questões
para discussão:
- Por
que tão facilmente nossa relação se torna institucionalizada e não
pessoal? Você já passou por situação semelhante? Gostaria de compartilhar
com o grupo?
- Como
você lida com a questão da popularidade? Você já passou (ou passa) por
situação na qual você tem dificuldade de testemunhar sua fé por
necessidade de aprovação pública?
- Você
já fraquejou na fé por causa das circunstâncias? Alguém disse que “as
pessoas são o passatempo das circunstâncias”. O que pensa disto?
- Qual
é mais fácil: fazer um sacrifício pessoal ou admitir o erro?
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