domingo, 9 de agosto de 2015

Ec 12.9-14 Em síntese...



Introdução:

Estamos chegando ao final do livro de Eclesiastes, e o autor, depois de todas as afirmações ambíguas, cínicas, pessimistas, eventualmente sábias e práticas, faz uma síntese do seu pensamento, baseado em alguns princípios. Leio isto como se fosse uma espécie de um post scriptum que as pessoas costumavam colocar no final das cartas, como uma forma de lembrete. Era uma forma de ressaltar algum ponto mais importante, que não deveria ser desconsiderado ou esquecido. 

1.       O conhecimento humano é ilimitado“Demais, filho meu, atenta: não há limites para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne” (Ec 12.12).

Certo autor chegou a fazer a seguinte afirmação: “Desisti de escrever, depois que percebi que sempre alguém já escreveu sobre o assunto antes”. A verdade é que “a originalidade é a arte de esconder as fontes”.

É comum quando se está fazendo uma monografia, sermos orientados a delimitar o tema, o máximo possível. Se abrirmos demais, o leque será tão grande que no final será difícil fazer um desfecho adequado. São milhares de artigos, temas, pesquisas publicados mensalmente, e a pauta não se esgota. Quando a monografia está praticamente concluída, os orientadores pedem a seus orientados para que não leiam mais, apenas organize os dados para fazer um fechamento. Se insistir na leitura, vai querer enxertar cada vez mais dados e assim perdeu o fio da meada. Afirma-se que “copiar um autor é plágio, copiar muitos é pesquisa”.

O profeta Daniel afirma que nos últimos tempos “o saber se multiplicará” (Dn 12.4). Já pensaram em quantas informações temos nas bibliotecas do mundo? E nas redes sociais? Qualquer tema, sobe qualquer assunto, por mais bizarro que seja, vai ter uma gama imensa de artigos, publicações, reflexões, discussões. Qualquer tema é quase ilimitado. Se você não afunilar o tema, vai aparecer mais de um milhão de artigos sobre ele. Quanto mais você estuda, mais tem a percepção de como seu conhecimento é limitado.

  1. O conhecimento é incapaz de satisfazer a alma humana – “Muito estudar é enfado da carne”. Esta é um dos versículos preferidos de alunos preguiçosos. Paulo afirma que “o saber ensoberbece, mas o amor edifica” (1 Co 8.1).
Outra tradução afirma que “o saber incha”. Apesar da amplitude do saber e do conhecimento, o pregador afirma que ele é insuficiente para satisfazer a alma humana. O conhecimento não traz satisfação, nem contentamento, nem alegria, nem sentido. Alguns dos homens mais tristes, céticos e cínicos que li e conheci são homens profundamente conhecedores e pesquisadores. O conhecimento não traz resposta a alma humana. Quando muito traz orgulho e vaidade, como bem afirmou o apóstolo Paulo: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica” (1 Co 8.1)

É curioso que as nações com maior índice de educação, como a Noruega, Suécia e Finlândia, apresentam as mais altas de suicídio. Foram efetivos no combate à criminalidade e a marginalidade, com poucos números de homicídios, mas não resolvem o problema da falta de sentido no coração.

Salomão foi um homem com muito conhecimento e informação. Suas atividades foram surpreendentes: “Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente e do que toda sabedoria dos egípcios. Era mais sábio do que todos os homens, mas sábio do que Etã, esraíta, e do que Hemã, Calcol e Darda, filhos de Maol; e correu a sua fama por todas as nações em redor. Compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que brota do muro; também falou dos animais e das aves, dos repteis e dos peixes. De todos os povos vinha gente a ouvir a sabedoria de Salomão, e também enviados de todos os reis da terra que tinham ouvido de sua sabedoria” (1 Rs 4.30-34).

Apesar disto, o que este conhecimento trouxe à sua alma? Ele afirmava que tudo quanto desejaram seus olhos ele não negou, mas isto só lhe trouxe enfado e fadiga e esta era a recompensa de todas as suas conquistas (Ec 2.10-11). Chegou à conclusão que a vida era apenas vaidade, e que “muito estudar é enfado da carne”, é só canseira, obsessão e tolice. Ele discorreu sobre botânica, repteis, fauna, peixes, mas sentiu-se enfadado com a quantidade de informações que possuía.

Vivemos dias de muita informação, mas isto não resolve a questão básica do ser humano que é o sentido e propósito de viver. Salomão estudou, escreveu, ensinou – mas seu conhecimento não trouxe sentido à sua alma. Esta é a grande e dolorida conclusão. O conhecimento humano é ilimitado, mas insuficiente para dar propósito a alma humana.

3.       Só o temor a Deus pode reorientar a vida humana – “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda seus mandamentos, pois é dever de todos os homens” (Ec 12.13).

Existe uma discussão hermenêutica sobre este texto.
Seria ele um sinal de que Salomão se mostra arrependido de todo o seu desatino e afastamento de Deus? Se isto é verdade, vemos aqui um relato de um retorno a Deus. E isto é bom. Salomão está retomando o caminho de sua distração e afastamento. Nos livros dos reis e das crônicas, não existem registros de um retorno espiritual de Salomão. Ele começou bem, mas terminou mal, ao contrário de Manasses que começou de forma terrível, mas no final da vida se arrependeu e voltou ao Senhor.

O que Salomão está dizendo?

Você pode ter o que quiser, conquistar tudo o que for possível, sobrepujar em poder e dinheiro a todos outros homens, escrever muitos livros, compor provérbios, pesquisar, fazer PhD. Ou até mesmo ser um pregador, mas se não tiver o temor do Senhor, nada será consistente.

Em síntese: o resumo, a soma, a suma de tudo é uma só. Em última instância só isto é essencial e fundamental: teme a Deus!

A Bíblia diz que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 1.7). É isto que Salomão afirma: “o temor do Senhor é a essência da existência”. Só o conhecimento, a riqueza, o poder, sem o temor de Deus, não dará aquilo que é essencial. Por isto a Bíblia afirma: “Feliz o homem que teme o Senhor e anda no seu caminho, do trabalho de suas mãos comeras, feliz serás e tudo te irá bem; sua esposa no interior de sua casa será como a videira frutífera, teus filhos como rebentos da oliveira. Eis como será abençoado o homem que teme o Senhor!” (Sl 128.1-4). Jó afirma que “o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal, o entendimento” (Jó 28.28).

4.       O juízo de Deus deve nortear a vida – “Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec 12.14)

Vivemos numa época que clama por leis mais justas, uma justiça mais rápida, eficiente e integra, com a execução imediata da lei, quando nos referimos às leis humanas, no entanto, temos um conceito popular que afirma subliminarmente que Deus é amor, mas não é justiça, e não pode aplicar justiça.

A Bíblia declara que Deus é amor, mas é também justiça.

No livro de Apocalipse há muito louvor ao Cordeiro de Deus, que foi morto, mas curiosamente, fala também de uma figura paradoxal: a Ira do Cordeiro. É o Cordeiro que abre os selos que pronunciam o juízo sobre todas as nações (Ap 6.1-17) e por temerem a Ira de Deus e do Cordeiro, os reis da terra se escondem de Deus e do Cordeiro, afligidos pelo pavor de encarar sua face (Ap 6.17).

Não é esta uma figura estranha? Cordeiro é um animal frágil e indefeso, mas aqui se apresenta como aquele que exerce juízo sobre todos os poderosos da terra.

Salomão tenta sintetizar todo o seu pregresso ceticismo expresso em alguns textos de
Eclesiastes, reafirmando a ideia da eternidade e do juízo de Deus. Foi ele mesmo quem disse que o mesmo sucede a todos, justos e perversos, bons e maus (Ec 9.2-3), mas agora reafirma esta doutrina clara nas Escrituras, de que Deus exerce justiça e julga os povos com equidade (Sl 94.9-10). Deus vai julgar atos e intenções, coisas conhecidas e desconhecidas, fatos bons e maus, “porque importa que todos compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo” (2 Co 5.10). Diante de Deus não se esconde nada, de bom ou de ruim. Todos os fatos serão conhecidos e julgados.

Porque um dia compareceremos diante do tribunal de um Deus justo, diante do qual não se existe nada de bom ou de ruim, precisamos estar preparados para este encontro. “Porque ele vem, vem julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e os povos consoante sua equidade”. Precisamos de Jesus.

O Livro de Apocalipse nos fala de um grande número de pessoas comparecendo diante de Deus, com as cabeças erguidas, e um dos anciãos lhe pergunta: “Estes, de vestes brancas, quem são e de onde vieram?” E a resposta é: “Estes são os que lavaram suas vestiduras no sangue do Cordeiro. Razão pela qual se apresentam diante de Deus”. Para estar em pé diante de Deus, no dia do juízo, precisamos de Jesus, nosso representante legal diante de Deus, nosso substituto.

Em síntese, temos aqui quatro princípios eternos:

A. O conhecimento humano é ilimitado – “Demais, filho meu, atenta: não há limites para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne” (Ec 12.12).

2.       O saber é insuficiente para satisfaz os anseios mais profundos da alma

3.       Só o temor a Deus pode reorientar a vida humana – “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda seus mandamentos, pois é dever de todos os homens” (Ec 12.13).

4.       O juízo de Deus deve nortear a vida – “Porque Deus há de trazer...” (Ec 12.14)

Tudo o mais é vaidade, névoa, bolha de sabão, nulidade, falta de sentido, fadiga, cansaço, especulação, ceticismo, pessimismo e cinismo.

A suma de tudo é: “Teme a Deus e guarda seus mandamentos, porque isto é dever de todos os homens”.

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